Movimento dos Focolares

Julho de 2002

Jun 30, 2002

«Pois a quem tem será dado ainda mais, e terá em abundância; mas a quem não tem será tirado até o pouco que tem.» (Mt 13,12)

Estas palavras de Jesus são tão importantes que o Evangelho de Mateus as menciona duas vezes. Elas mostram claramente que a economia de Deus não é igual à nossa. Os seus cálculos são sempre diferentes dos nossos, como, por exemplo, quando dá ao “operário da última hora” a mesma diária paga àquele que trabalhou desde a primeira hora.
Jesus pronunciou estas palavras para responder aos discípulos que lhe perguntavam por qual motivo falava a eles abertamente, enquanto que aos outros se dirigia em parábolas, de maneira velada. Jesus doava aos seus discípulos a plenitude da verdade, a luz, justamente porque eles o seguiam, porque para eles Jesus era tudo. A eles, que tinham aberto o próprio coração a Cristo, que estavam plenamente dispostos a acolhê-lo, que já tinham Jesus (“a quem tem…”), ele se dá em plenitude (“…será dado ainda mais, e terá em abundância”).
Para compreender este modo de agir do Mestre, pode ser útil lembrar outra frase semelhante, citada pelo Evangelho de Lucas: “Dai e vos será dado. Uma medida boa, socada, sacudida e transbordante será colocada no vosso regaço”. Nas duas frases, de acordo com a lógica de Jesus, ter (“a quem tem será dado”) equivale a dar (“a quem dá será dado”).
Tenho a certeza de que também você já experimentou esta verdade do Evangelho. Quando você socorreu uma pessoa doente, quando consolou alguém que estava triste, quando confortou com sua presença alguém que se sentia só, você não experimentou uma alegria e uma paz que não se sabe de onde vêm? É a lógica do amor. Quanto mais alguém se doa, tanto mais se sente enriquecido.
Então poderíamos traduzir da seguinte maneira a Palavra de Vida deste mês: a quem tem amor, a quem vive no amor, Deus dá a capacidade de amar ainda mais, dá a plenitude do amor até o ponto de fazê-lo ser como ele que é o Amor.

«Pois a quem tem será dado ainda mais, e terá em abundância; mas a quem não tem será tirado até o pouco que tem.»

Sim, é o amor que nos faz ser. Nós existimos porque amamos. Se não amamos – e cada vez que não amamos – não somos, não existimos (“será tirado até o pouco que tem”).
Então nada nos resta senão amar, sem reservas. Só assim Deus poderá se entregar a nós. E com ele virá a plenitude dos seus dons.
Vamos doar concretamente a quem está perto de nós, na certeza de que, fazendo assim, estamos doando a Deus. Doemos sempre: um sorriso, a nossa compreensão, o perdão, a escuta; podemos doar a nossa inteligência, a nossa disponibilidade; doar o nosso tempo, os nossos talentos, as nossas idéias, a nossa atividade; doar as experiências, as capacidades, os bens, partilhando-os com os outros, de modo que nada se acumule e tudo circule. O nosso doar abre as mãos de Deus que, na sua providência, nos plenifica de maneira superabundante para que possamos continuar doando – doando sempre mais – e continuar recebendo; assim poderemos responder às imensas necessidades de muitos.

«Pois a quem tem será dado ainda mais, e terá em abundância; mas a quem não tem será tirado até o pouco que tem.»

O maior dom que Jesus quer nos fazer é a sua própria presença: ele deseja estar sempre em nosso meio. Esta é a plenitude de vida, a abundância com a qual ele nos quer preencher. Jesus se entrega aos seus discípulos quando estes o seguem unidos. Esta Palavra de Vida, portanto, nos lembra também a dimensão comunitária da nossa espiritualidade. Podemos fazer desta Palavra a seguinte leitura: todos aqueles que tiverem o amor recíproco, todos os que viverem a unidade, terão a presença do próprio Jesus entre eles.
E receberemos ainda mais. Aquele que tem – quem tiver vivido no amor e, portanto, tiver recebido o cêntuplo nesta vida -, receberá ainda por cima o prêmio: o Paraíso. E terá em abundância.
Aquele que não tem – quem não tiver recebido o cêntuplo, por não ter vivido no amor – nem sequer poderá desfrutar futuramente do bem e dos bens (parentes, propriedades) que tiver tido na terra, porque, no inferno, outra coisa não haverá a não ser sofrimento.
Portanto, amemos. Amemos a todos. Amemos a tal ponto que também o outro, por sua vez, se ponha a amar e o amor se torne recíproco. Então teremos a plenitude da vida.

Chiara Lubich

 

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