Movimento dos Focolares

Janeiro de 2009

Dez 31, 2008

“Há muitos membros e, no entanto, um só corpo.” (1Cor 12,20)

Você já visitou alguma vez uma comunidade viva de cristãos realmente autênticos? Já participou de um encontro entre eles, ou conheceu mais de perto a vida de uma comunidade assim?
Se isso aconteceu, você terá percebido que as pessoas que a compõem desempenham funções diferentes; por exemplo: há quem tem o dom de falar e lhe comunica realidades espirituais que penetram profundamente na alma; há quem tem o dom de ajudar, de atender às necessidades dos outros e deixa você maravilhado diante dos sucessos alcançados em benefício daqueles que sofrem. Há também quem ensina com tamanha sabedoria, a ponto de reforçar a fé que você já possui, ou ainda quem tem o dom de organizar ou de governar; há quem sabe entender todo próximo que encontra e é distribuidor de consolações aos necessitados.
É verdade, tudo isso você poderá experimentar; porém, aquilo que mais impressiona numa comunidade tão viva é o único espírito que a todos anima e que se tem a impressão de sentir pairar. Espírito esse que faz da comunidade uma única realidade, um só corpo.

“Há muitos membros e, no entanto, um só corpo.”

Também Paulo – e ele de um modo todo especial – se encontrou diante de comunidades cristãs vivíssimas, que nasceram justamente por causa da sua extraordinária palavra.
Uma dessas – ainda jovem – era a de Corinto, na qual o Espírito Santo tinha sido generoso em distribuir os seus dons, ou melhor, os carismas, como são chamados. Por sinal, naquele tempo se manifestavam carismas extraordinários, devido à vocação especial da Igreja nascente.
Aconteceu, porém, que depois de ter feito a maravilhosa experiência da diversidade de dons distribuídos pelo Espírito Santo, essa comunidade conheceu também rivalidades ou desordens, justamente entre aqueles que tinham sido beneficiados por esses dons.
Foi necessário, então, dirigir-se a Paulo, que estava em Éfeso, para pedir esclarecimentos.

Paulo não hesita e responde numa das suas importantes cartas, explicando como devem ser usadas essas graças especiais.
Ele explica que existe diversidade de carismas, diversidade de ministérios, como o dos apóstolos ou o dos profetas ou ainda o dos mestres, mas que um só é o Senhor do qual eles provêm. Diz ainda que, na comunidade, existem operadores de milagres e de curas, pessoas com o dom excepcional para o atendimento aos necessitados, outras para o governo, como também há quem sabe falar línguas e quem sabe interpretá-las. Mas acrescenta que um só é Deus, onde têm origem esses dons.

Portanto, como os diversos dons são expressões do mesmo Espírito Santo, que os distribui livremente, não podem deixar de estar em harmonia entre si, não podem deixar de ser complementares. Esses dons não servem para uma simples realização pessoal, não podem ser motivo de vanglória, ou de afirmação de si, mas foram dados para uma finalidade comum: construir a comunidade. A finalidade deles é o serviço. Por isso, não podem causar rivalidades ou confusão.

Paulo, mesmo pensando em dons particulares que diziam respeito diretamente à vida da comunidade, é do parecer que cada membro dessa comunidade tem a sua capacidade, o seu talento, que deve ser usado para o bem de todos, e que cada um deve ficar satisfeito com aquilo que tem.
Ele apresenta a comunidade como um corpo, e se pergunta: “Se o corpo todo fosse olho, onde estaria o ouvido? Se fosse todo ouvido, onde estaria o olfato? Realmente, Deus dispôs os membros, e cada um deles, no corpo, conforme quis. Se houvesse apenas um membro, onde estaria o corpo?” (cf. 1Cor 12,17-19) Mas, de fato,

“Há muitos membros e, no entanto, um só corpo.”

Se cada um é diferente dos outros, cada um pode então ser um dom para os outros; sendo, portanto, aquilo que deve ser e realizar o desígnio que Deus tem para ele em função dos outros.
Paulo vê na comunidade, onde os diversos dons funcionam, uma realidade à qual dá um nome esplêndido: Cristo. E com razão, pois este corpo tão original, composto pelos membros da comunidade, é realmente o Corpo de Cristo. Com efeito, Cristo continua a viver na sua Igreja, e a Igreja é o seu corpo. De fato, no batismo o Espírito Santo incorpora o batizando em Cristo, tornando-o assim membro da comunidade. Nela, todos foram transformados em Cristo, toda divisão é cancelada, toda discriminação é superada.

“Há muitos membros e, no entanto, um só corpo.”

Se o corpo é um só, os membros da comunidade cristã só atuam bem esse novo modo de viver se realizarem a unidade entre si; unidade que supõe a diversidade, o pluralismo. A comunidade não é como um bloco de matéria inerte, mas como um organismo vivo, composto por vários membros.
Para os cristãos, portanto, provocar divisões é o contrário do que devem fazer.

“Há muitos membros e, no entanto, um só corpo.”

Como, então, você viverá essa nova Palavra que a Escritura lhe propõe?
É necessário que você tenha um grande respeito pelas diversas funções, pelos dons e talentos da comunidade cristã.
Você deve abrir o seu coração para acolher toda a rica variedade da Igreja, e não só da pequena Igreja que você freqüenta e bem conhece, como a comunidade paroquial ou a associação cristã da qual participa, ou ainda o movimento eclesial do qual você é membro, mas de toda a Igreja universal, nas suas múltiplas formas e expressões.
Deve sentir que tudo lhe pertence, pois você faz parte desse único corpo.
E da mesma forma como você cuida de cada membro do seu corpo físico e o protege, deve cuidar e proteger cada membro do corpo espiritual. (…)
Você deve estimar a todos e também fazer tudo o que está ao seu alcance para que possam tornar-se úteis à Igreja do melhor modo possível. (…)
Você não deve desprezar aquilo que Deus lhe pede, no lugar em que você se encontra – por mais que o trabalho cotidiano possa lhe parecer monótono e sem grande sentido –, pois pertencemos todos a um mesmo corpo e, como membro dele, cada um participa da atividade de todo o corpo permanecendo no lugar que Deus escolheu para ele.
Além disso, o essencial é que você tenha aquele carisma – como anuncia Paulo – que supera todos os outros: o amor. O amor para com toda pessoa que você encontra, o amor para com todos os homens da terra.
Somente com o amor, com o amor recíproco, é que os muitos membros podem ser um só corpo.

Chiara Lubich

Esta Palavra de Vida foi publicada originalmente em janeiro de 1981.

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