“Guardava todas estas palavras, meditando-as no seu coração” (Lc 2,19). Esta frase referida por Lucas está inserida na maravilhosa descrição dos pastores em Belém, na gruta onde Jesus nasceu. Um anjo veio anunciar aos pastores o grande acontecimento: “Não temais, pois anuncio-vos uma grande alegria, que o será para todo o povo: hoje na cidade de David nasceu-vos um Salvador” (Lc 2,10-11). “Depois de terem visto, começaram a divulgar o que lhes tinham dito a respeito daquele menino; de modo que todos os que ouviam admiravam-se do que lhes diziam os pastores. Quanto a Maria, conservava todas estas coisas, ponderando-as no seu coração” (Lc 2,17-19). S.Lucas contrapõe delicadamente a admiração exterior dos outros presentes na gruta (pastores e talvez alguns habitantes da pequena cidade palestinense), ao silêncio denso de fé e de amor de Maria. As palavras daqueles simples peregrinos do primeiro santuário cristão do mundo penetram na sua alma e combinam-se com as outras revelações já havidas, fazendo com que ela compreenda cada vez melhor o mistério que se desenrola sob o seu olhar, e no qual ela participa como Mãe de Deus. Prontidão da alma de Maria para a palavra de Deus e amorosa custódia dos dons sagrados recebidos que, por muitos anos, não revelará a ninguém. Provavelmente só a Lucas é que Maria revelou pessoalmente esta atitude de alma, nos dias do nascimento do Salvador: de facto, isso era algo que só ela conhecia. Suavidade das coisas de Deus, uma virtude de que todos temos especial necessidade. Com o ritmo angustiante e invadente da vida moderna, há por vezes o perigo de querer materializar tudo, inclusive a vida do espírito. O silêncio, a humildade, a discreção, a mansidão, a paciência nas tribulações, podem parecer-nos virtudes pouco atuais e incapazes de tornar sensível a presença do cristianismo neste século. Perante a agressividade dos maus e o poder dos seus meios, tentou-se responder com a agressividade dos bons, com os seus capitais e o seu poder exterior. Faz-se mais fé nos antifalantes do que numa frase do Evangelho, acredita-se mais nos discursos dos oradores do que no silêncio meditativo das almas consagradas a Deus. É o materialismo que tenta desdenhar dos valores do espírito, procurando fazer deles meras expressões externas, que não têm peso algum no meio do ruído ensurdecedor dos rumores mais fortes que nos rodeiam. Perante o mundo unidimensional da matéria, só tem verdadeiramente valor aquilo que é fruto do espírito, aquilo que parte do nosso amor profundo e pessoal a Deus. Por isso, também hoje a humanidade deve fixar o olhar em Maria. Pasquale Foresi, “Palavras de vida”, Ed. Città Nuova, Roma 1963 – pp.15,16,17
Colocar em prática o amor
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