Simone Barlaam
«Como estão vendo pela cor dos cabelos eu já tenho alguns anos a mais do que vocês. Mas também faço parte da família do Genfest. Os Genfest de que participei quando jovem ficaram gravados dentro de mim. O que ficou daquelas experiências? Duas coisas. A primeira: para mim, que vinha de uma pequena cidade do Abruzzo (Itália) cada vez significava mergulhar numa experiência de mundialidade. A segunda:
no Genfest eu entendi que cada um é protagonista do próprio destino. O meu futuro dependia de mim. Aquele que, desde então, procurei seguir cada dia na vida, para realizar as minhas aspirações. Inclusive as mais delicadas e aparentemente impossíveis. É a mesma coisa que hoje, com a minha esposa, Claudia, estamos procurando transmitir aos nossos filhos.
Eu gosto de pensar que existe um desígnio maior para cada um de nós. Como as peças de um quebra-cabeça, as vicissitudes da vida se misturam, se entrelaçam, parece difícil encontrar a posição certa de cada uma delas, mas depois, improvisamente, as peças começam a se encaixar.
Em janeiro de 2000, Claudia e eu estávamos na Austrália, em Sydney, em viagem de lua-de-mel, e passeávamos no novo Parque Olímpico. Fazíamos programas e colocávamos os alicerces para construir a nossa família. Simão estava para chegar e nós estávamos felizes e cheios de amor. Nós nos sentíamos invencíveis.
O nascimento de Simão, pouco depois, foi conturbado. No dia em que ele nasceu descobrimos que possuía uma hipoplasia do fêmur e uma coxa vara. Uma deficiência permanente, agravada por uma fratura do fêmur. Na prática, tinha um fêmur 15 centímetros mais curto do que o outro. Frágil como um pedaço de vidro.
Com o passar dos anos Simão foi operado 12 vezes: alongamento dos membros, intervenções corretivas do quadril, transplantes ósseos para consolidar o colo do fêmur que não resistia. Doze operações acompanhadas por longos meses com um gesso que o paralisava do peito para baixo.
Nos longos períodos na cama ele aprendeu a desenhar, a única coisa que conseguia fazer deitado. Gostava muito de desenhar peixes, principalmente os tubarões, pela força e a velocidade deles. Tanto é verdade que um amigo muito querido o apelidou
“o tubarão Simão”. Quando estava engessado até o peito víamos muitas vezes o filme “Procurando Nemo”, que é ambientado na Austrália. Simão, como Nemo, tinha (e tem) uma barbatana menor que a outra. Eu me sentia como Merlin, o pai de Nemo. Ansioso pelo seu futuro. E cheio de medo por aquilo que lhe poderia acontecer. Mas, como Merlin, num certo momento
entendi que Simão podia enfrentar sozinho o seu “oceano”. Sem medo. Mesmo com a barbatana menor. Até que Simão começou a praticar esporte. O nado era o único esporte que podia fazer, para mover os músculos sem o risco de quebrar os seus ossos de cristal. Depois de um certo tempo começou a competir. Alguns anos depois começou a treinar com os rapazes da equipe nacional italiana de nado, todos os dias, depois do colégio, por duas horas e meia, que depois se tornam cinco, antes das competições mais importantes. Tanto que com 17 anos,
no último Campeonato Mundial de nado paraolímpico, que foi feito na Cidade do México em dezembro passado, Simão ganhou duas medalhas de ouro, nos 50 e nos 100 metros estilo livre, uma prata e um bronze. São as provas mais velozes no nado. Agora, exatamente 16 anos depois da nossa viagem de núpcias, Simão está na Austrália, como estudante de intercâmbio, para fazer o ensino médio e continuar os seus treinamentos de alto nível. Continua a treinar, a estudar e
compete com os melhores nadadores australianos no Centro Aquático Olímpico de Sydney, precisamente onde Claudia e eu o tínhamos levado quando estava ainda no ventre. Pois bem, se alguns anos atrás alguém me tivesse dito que um dia eu teria um filho com dois títulos de campeão do mundo eu teria respondido que era um louco.
Simão tem uma barbatana menor, mas é mais forte do que todos podiam acreditar. Teve a coragem de abri-la e de voar. Eu desejo a vocês, os convido, a abrirem também as suas asas. A ter coragem, e a aprender a voar. Sigam suas paixões. Não se deem por satisfeitos.»
Riccardo Barlaam
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