Movimento dos Focolares

A sinodalidade na América Latina

Jan 13, 2022

A Igreja na América Latina fez uma experiência inédita na realização da Assembleia Eclesial: um caminho feito por todo o Povo de Deus, num processo que teve seu ponto forte no final de novembro passado, e que agora continua para atuar as orientações pastorais evidenciadas.

A Igreja na América Latina fez uma experiência inédita na realização da Assembleia Eclesial: um caminho feito por todo o Povo de Deus, num processo que teve seu ponto forte no final de novembro passado, e que agora continua para atuar as orientações pastorais evidenciadas. “Vivemos uma verdadeira experiência de sinodalidade, na escuta recíproca e no discernimento comunitário daquilo que o Espírito Santo deseja dizer à sua Igreja. Caminhamos juntos reconhecendo a nossa poliédrica diversidade, mas, principalmente, aquilo que nos une e, no diálogo, o nosso coração de discípulos olhou para a realidade que o continente vive, nos seus sofrimentos e esperanças”. Assim afirmaram os 885 membros da Assembleia Eclesial da América Latina e Caribe, realizada de 21 a 28 de novembro, de modo virtual e presencial, no México, com representantes de todos os países do continente americano. “No dia 24 de janeiro de 2021 – diz Susana Nuim, focolarina uruguaia, coordenadora do Cebitepal, órgão da Conselho Episcopal da América Latina e Caribe (CELAM) que se dedica à formação – o Papa Francisco abriu o processo desta primeira assembleia eclesial, com a indicação de que tomasse parte todo o Santo Povo de Deus, isto é, cardeais, bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas, leigos e leigas, incluindo todas as gerações e todas as culturas”. Um caminho que envolveu todas as dioceses, as paróquias, as comunidades e os movimentos em um tempo de “escuta”. Chegaram 70 mil respostas coletivas ou individuais que serão reunidas em um livro. Deste material saíram as grandes linhas sobre as quais trabalhou-se nos vários grupos. “Na minha opinião – continua Susana Naim – os grupos constituíram um espaço muito interessante, pelo compromisso e o interesse dos participantes. Trabalhávamos durante três horas seguidas, com muita liberdade de expressão, com vontade de mudança”. “Para mim foi uma verdadeira experiência de sinodalidade – intervêm Sandra Ferreira Ribeiro, focolarina brasileira, corresponsável no Centro Uno, a secretaria para o diálogo entre cristãos de diferentes Igrejas do Movimento dos Focolares -. Todo dia, nos trabalhos de grupo, havia uma nova pergunta a ser respondida com base na temática vista na primeira parte do dia. No nosso grupo éramos 14 pessoas de vários países, vocações e idades, todos conectados via Zoom. Inicialmente ouvíamos o pensamento de cada um, depois procurávamos identificar uma prioridade naquilo que viera em relevo, fazendo uma síntese”. Um trabalho intenso e fecundo, com breves pausas de intervalo que às vezes eram até deixadas de lado para continuar o diálogo, e assim enviar à equipe de coordenação alguma reflexão pessoal. Os recursos online permitiram uma participação maior, ainda que isso tenha representado um limite no conhecimento mútuo, aquele que nasce espontaneamente “nos corredores”, nos intervalos e que faz também parte da sinodalidade. Os momentos de oração, muito bem preparados especialmente pelas religiosas e religiosos, exprimiram as contribuições culturais com símbolos e expressões musicais, sempre fundamentados na Palavra. Como em qualquer caminho sinodal houve inclusive espaço para a discordância, para a troca entre pontos de vista às vezes divergentes, mas que nunca levaram a confrontos ou rupturas. De maneira expressa decidiu-se não redigir um documento final, porque há ainda muito o que colocar em prática no Documento de Aparecida (2007). Além disso, esta Assembleia é apenas um passo no caminho iniciado que deve continuar, e continuará. A decisão foi lançar uma mensagem a todo o Povo de Deus da América Latina e Caribe, que contém os desafios e as orientações pastorais prioritárias, que vão do novo impulso enquanto Igreja em saída ao protagonismo dos jovens e das mulheres; da promoção da vida humana, da concepção à morte natural, à formação à sinodalidade. Desafios que incluem a escuta e o acompanhamento dos pobres, excluídos e descartados, com a finalidade de redescobrir o valor dos povos originários, a inculturação e a interculturalidade; prioridade em colocar em prática os sonhos de “Querida Amazônia”1 pela defesa da vida, da terra e das culturas originárias e afrodescendentes. E, não por último, dar cuidadosa atenção às vítimas de abusos ocorridos no contexto eclesial, e trabalhar para a prevenção. Entre os convidados, estavam presentes o cardeal Marc Ouelet, prefeito da Congregação para os Bispos e presidente da Pontifícia Comissão para a América Latina; o cardeal Mario Grech, secretário geral do Sínodo dos Bispos; representantes das conferências episcopais regionais, que acompanharam os trabalhos com grande interesse. “Foi um momento privilegiado para poder encontrar a Igreja da América Latina – conclui Sandra Ferreira Ribeiro -. No meu grupo havia bispos, sacerdotes, religiosos, leigos. Reencontrei a Igreja justamente nos seus membros, nas pessoas que exprimiam as próprias ansiedades e preocupações. Foi emocionante ver a Igreja latino-americana viva, dinâmica, e o seu desejo de levar a fraternidade, o Reino de Deus. O desejo de levar, verdadeiramente, Jesus a todos”.

Carlos Mana

 Para baixar a mensagem final: https://www.cec.org.co/sites/default/files/MENSAJE%20FINAL-Asamblea-Eclesial.pdf 1 “Querida Amazônia” é uma exortação apostólica pós-sinodal de 2020, do Papa Francisco, em resposta ao Sínodo dos Bispos da região Pan-Amazônica, realizado em Roma, em outubro de 2019.

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