Muitas vezes as famílias se desagregam porque não sabemos nos perdoar. Ódios antigos dão continuidade à divisão entre parentes, entre grupos sociais, entre povos. Às vezes até encontramos pessoas que ensinam a não esquecer as injustiças sofridas, a cultivar sentimentos de vingança… E um rancor surdo envenena a alma e corrói o coração. Há quem pense que o perdão é uma fraqueza. Não. Ele é a expressão de uma coragem extrema; é amor verdadeiro, o mais autêntico por ser o mais desinteressado. “Se amais somente aqueles que vos amam, que recompensa tereis?” – diz Jesus. Isso todos sabem fazer. Mas vós, “amai os vossos inimigos” (cf. Mt 5,43-48). Também a nós Ele pede que, aprendendo dele, tenhamos um amor de pai, um amor de mãe, um amor de misericórdia para com todos os que encontramos no nosso dia, sobretudo para com aqueles que erram. E àqueles, então, que são chamados a viver uma espiritualidade de comunhão, ou seja, a espiritualidade cristã, o Novo Testamento pede ainda mais: “Perdoai-vos mutuamente” (cf. Cl 3,13). O amor mútuo exige, de certo modo, um pacto entre nós: estarmos sempre prontos a nos perdoarmos um ao outro. Só assim poderemos contribuir para criar a fraternidade universal. “Perdoa ao próximo que te prejudicou: assim, quando orares, teus pecados serão perdoados.” Estas palavras não só nos convidam a perdoar, mas nos recordam que o perdão é a condição necessária para que também nós possamos ser perdoados. Deus nos ouve e nos perdoa na medida em que soubermos perdoar. O próprio Jesus nos exorta: “A mesma medida que usardes para os outros servirá para vós” (Mt 7,2). “Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mt 5,7). De fato, se o coração estiver endurecido pelo ódio, também não será capaz de reconhecer e de acolher o amor misericordioso de Deus. Como, então, podemos viver esta Palavra de Vida? Certamente perdoando de imediato, se existir alguém com quem ainda não nos tivermos reconciliado. Mas isso não basta. Será necessário remexer nos recantos mais escondidos do nosso coração e eliminar até mesmo a simples indiferença, a falta de benevolência, toda atitude de superioridade, de negligência, com relação a quem quer que passe ao nosso lado. Ainda mais. Torna-se necessária uma ação de prevenção: assim, a cada dia vejo com um novo olhar a todos os que encontro, na família, na escola, no trabalho, na loja, pronto a não fazer caso daquilo que não me agrada no seu modo de agir, disposto a não julgar, a dar-lhes confiança, a esperar sempre, a acreditar sempre. E me aproximo de cada pessoa com essa anistia completa no coração, com esse perdão universal. Não me lembro mais, absolutamente, de seus defeitos, para encobrir tudo com o amor. E, ao longo do dia, se eu cometi uma grosseria ou tive um ímpeto de impaciência, então procuro remediar com um pedido de desculpa ou um gesto de amizade. A uma atitude de rejeição instintiva do outro, faço seguir uma atitude de plena acolhida, de misericórdia sem limite, de perdão completo, de partilha, de atenção para com as suas necessidades. Então também eu, quando elevar minha oração ao Pai, sobretudo quando lhe pedir perdão pelos meus erros, verei o meu pedido ser atendido. Poderei dizer com plena confiança: “Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido” (cf. Mt 6,12).
Chiara Lubich
Este comentário à Palavra de Vida foi publicado originalmente em setembro de 2002.
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