«A primeira reação foi de gratidão», escreve o jornal Avvenire ao introduzir a entrevista. «Na Iuvenescit Ecclesia o Movimento dos Focolares vê um convite a prosseguir o caminho que trilhou até hoje. De modo especial o chamado à “reciprocidade entre os dons hierárquicos e carismáticos”, ao aspecto “coessencial” deles, parece interpretar plenamente a experiência amadurecida pela nova realidade eclesial fundada por Chiara Lubich». A entrevista com Maria Voce faz parte do ciclo dedicado ao aprofundamento da carta da Congregação para a Doutrina da Fé. «O documento – evidencia Maria Voce – fala claro: a Igreja é “una”, é “um corpo” chamado a encarnar o mistério de comunhão da vida trinitária. Protagonista do rejuvenescimento da Igreja é o Espírito Santo que age, de maneira especial, por meio dos carismas. O documento reconhece aos movimentos algo muito importante que é a capacidade, se correspondemos à graça, de revitalizar a Igreja. E isso com um objetivo claro: contribuir para injetar a vida de Deus nas engrenagens da vida social, para que os homens e mulheres, imersos na complexidade do nosso mundo, a possam “tocar”». A propósito da afirmação de que na vida da Igreja, são coessenciais os dons hierárquicos e os dons carismáticos, como um aceno explícito ao ensinamento conciliar, Maria Voce afirmou: «Parece-me que a carta coloque um marco de notável importância doutrinal, seja ao referir-se ao Concílio Vaticano II, seja ao reconhecer uma “convergência do recente magistério eclesial” sobre tal aspecto coessencial, ou seja, a mesma origem e o mesmo fim, dos dons hierárquicos e dos dons carismáticos, tema que nestes anos não havia sido suficientemente implementado, e que aguardava um aprofundamento». Uma realidade esta, destacou o jornalista, que pertence à experiência dos Focolares… «Desde o início, o Movimento dos Focolares buscou este íntimo relacionamento com quem possuía, na Igreja, o carisma do discernimento. E isto se vê, por exemplo, na longa história da sua aprovação, buscada com determinação adamantina e total confiança, por vezes no sofrimento, por Chiara Lubich e por aqueles que, com ela, geravam esta nova criatura. Ela mesma a narra em seu livro “O Grito”. Em seguida, como se sabe, os reconhecimentos foram abundantes. Outros representantes de Igrejas cristãs desejaram explicitar o seu reconhecimento, a começar pelo patriarca ecumênico Atenágoras I, o bispo luterano Hermann Dietzfelbinger, o primaz anglicano Michael Ramsey, e tantos outros». À pergunta sobre como evitar os riscos de tornar-se auto-referenciais por um lado, e da presunção institucional, por outro, Maria Voce respondeu: «Vivendo, cada um, pelo objetivo pelo qual a Igreja existe: a humanidade inteira. Na realidade concreta e local acontece, depois, a aplicação recíproca com a riqueza de cada um. A fraternidade universal exige o compromisso de todos e pede infinitos pequenos passos. De 30 de junho a 2 de julho, por exemplo, 300 movimentos e comunidades nascidos na Igreja Católica e em muitas outras Igrejas, reuniram-se em Munique, na Alemanha. “Juntos pela Europa” é um percurso que iniciou em 1999 e que prossegue, todos juntos, pelo bem desse continente, que deve redescobrir a si próprio e tem graves deveres com o resto do mundo». «O Papa Francisco é um tanto severo com os Movimentos?», provocou o jornalista: «Não o considero severo. Encontro sintonia entre as suas palavras e gestos e o que vivem os movimentos. É um dos papas que mais entrou em contatos com eles, participando de eventos ou nas audiências. Assim foi com a Renovação Carismática, o Caminho Neocatecumenal, Comunhão e Libertação, Schoenstatt… O fez também com os Focolares, recebendo os 600 participantes da Assembleia geral de 2014. Certos esclarecimentos seus, que podem parecer repreensões à observadores externos, impulsionam os movimentos a viverem o próprio carisma, a serem mais fiéis aos Espírito Santo, para contribuírem mais com a Igreja comunhão. Foram claras as suas palavras em abril passado, na sua visita inesperada à Mariápolis de Roma, em Vila Borghese. Com uma imagem ele salientou a importância e a capacidade dos movimentos de vivificarem os vários ambientes: “transformar os desertos em floresta”». «A última parte do documento contém o convite a olhar à Maria», relembra o entrevistador, detendo-se na relação entre Maria e o Movimento dos Focolares. «Maria é a carismática por excelência», responde Maria Voce, «e isso a coloca no centro da Igreja nascente, guardiã da presença do Ressuscitado entre os apóstolos que, numa igreja que ainda não se conhecia, somente ela podia bem interpretar. “A dimensão mariana da Igreja precede a sua dimensão petrina”, escreve João Paulo II na Mulieris dignitatem, com efeito, não somos nós cristãos que “fazemos” a Igreja, mas o Ressuscitado que nos precede. Daqui a referência ao Movimento dos Focolares, chamado, pelo seu carisma específico, a gerar Jesus espiritualmente, lá onde os seus membros vivem. Uma vocação descrita nos Estatutos com palavras fortes: ser – naquilo que é possível – uma continuação de Maria, justamente na sua obra específica de dar Cristo ao mundo». E, enfim, uma pergunta sobre a atualidade: «Quais as periferias nas quais é necessário estar presentes?». «As periferias estão lá onde existe um sofrimento a mais: a perda de sentido, a deterioração das raízes cristãs numa Europa debilitada pelo consumismo, pelo hedonismo, pelo poder econômico e tecnológico, a devastação da criação, os massacres, o drama humanitário dos refugiados e as migrações de massa, os muitos conflitos armados. As periferias são infinitas. Não se trata de fazer todos a mesma coisa, mas de trabalhar juntos com o mesmo objetivo: transformar o deserto em floresta». Pdf da entrevista integral, em italiano, aos cuidados de Riccardo Maccioni – Tradução da redação web
Colocar em prática o amor
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