Movimento dos Focolares

Chiara Lubich: entre a história e a cultura, um carisma

Mar 15, 2013

Mais de 600 pessoas, entre professores e estudiosos, na Aula Magna da Universidade La Sapienza de Roma, recordaram a figura da fundadora dos Focolares, percorrendo os desenvolvimentos e as atualizações da sua doutrina espiritual.

“Você deve pensar que tudo o que faz é em função dos outros” – conta Micaela Gliozzi, farmacêutica pesquisadora, da Calábria (Itália) – “Em meu trabalho com pesquisa pré-clínica, portanto, não estou voltada apenas aos resultados do trabalho em si, mas sempre projetada no significado que eles têm para quem está diante de mim”.

Felipe Matos Miller, filósofo de Porto Alegre: “Sou grato a Chiara Lubich por ter doado o seu carisma que me inspirou a desenvolver dentro da minha disciplina, a epistemologia, uma nova pista de pesquisa sobre a dimensão relacional e social do conhecimento”.

Lina O’Bankien, da Índia, da área da economia, com frequência trata de questões com o governo. O problema da corrupção não é uma surpresa, mas “descobri que eu também posso contribuir na realização de um mundo melhor, junto com os outros, não sozinha”.

Portanto, da epistemologia aos efeitos das doenças cardiovasculares, à luta contra a corrupção: o que interliga essas três vozes? Pertencem a alguns dos pesquisadores, doutorandos, estudantes, professores, provenientes de todas as partes do mundo, participantes do congresso internacional “Chiara Lubich: Carisma História Cultura”, que se realizou em Roma, dia 14 de março,, no 5º aniversário do falecimento de Chiara Lubich, continuando em Castelgandolfo no dia 15. Eles têm em comum a descoberta de uma espiritualidade que pode animar qualquer profissão e pensamento.

Eram mais de 600 os presentes no Congresso, marcado pela notícia da eleição do novo papa. Foi recordado o seu apelo à fraternidade, um termo familiar aos focolarinos pela afinidade com a missão própria deles, a fraternidade contida no “que todos sejam um de Jesus (Jo 17,21), agente inspirador do Movimento dos Focolares. Através de mensagens se fizeram presentes, o presidente da República Italiana, Giorgio Napolitano, e o cardeal Gianfranco Ravasi.

Chiara possuía uma grande paixão: o estudo que havia deixado – foi relembrado – “colocando os livros no sótão”, para seguir a Deus e ao Movimento nascente. Mas o carisma confiado a ela era destinado a florescer também no aspecto cultural, como demonstram não apenas os numerosos doutorados que recebeu, mas precisamente as centenas de estudiosos presentes. Como declararam os organizadores do Centro de Estudos do Movimento, a Escola Abbà, embora este aprofundamento esteja ainda no início, já começam a ser vistos os reflexos sobre o saber contemporâneo. Questão ambiental, economia no tempo dos bens comuns, a lei e os nós da política, foram os âmbitos escolhidos para este momento de avaliação.

As reflexões apresentadas neste dia certamente têm suas raízes em uma dimensão teológica e filosófica, que foram amplamente tratadas nas relações do professor Piero Coda e da socióloga Vera Araújo. Em especial, Coda enfrentou o “centro” da doutrina de Chiara Lubich: o olhar a Jesus Abandonado, “a chaga que naqueles anos [o terror da Segunda Guerra Mundial e dos totalitarismos, ndr] secretamente havia atraído a ânsia de verdade e justiça de homens e mulheres (Bonhoeffer, Stein, Weil), que experimentaram em toda a sua declarada crueza as consequências trágicas daquela morte de Deus…”.

dscf1566Maria Voce falou com uma certa emoção. Foi, de fato, entre as salas dessa universidade que ela teve o primeiro contato com o ideal de Chiara, pelo qual decidiu colocar em jogo toda a sua vida, e agora retorna como presidente do Movimento dos Focolares, a primeira a suceder a fundadora. Falou da “cultura da ressurreição”, definição amada por Chiara de uma cultura fruto da busca do homem contemporâneo, “busca por vezes sofrida e obscura, semelhante a uma noite histórica e coletiva, da qual ela mesma participou na última parte da sua existência terrena. Mas, ao mesmo tempo, busca na qual Chiara sempre soube ver fendas abertas, que faziam prever o surgimento de uma cultura permeada pela luz que, de forma misteriosa mas real, brota da passagem através da morte, para a Vida”.

Uma impressão sobre este dia tão rico foi deixada por Brendam Leahy, irlandês, recém-nomeado bispo de Limerick, e membro da Escola Abbà para o âmbito da eclesiologia. “Hoje somos muitos que refletimos sobre a vida e a doutrina de uma mulher que teve um carisma cuja profundidade talvez só agora começamos a entender.  Voltando a escutar, neste contexto, coisas que Chiara disse no decorrer dos anos, pudemos colher as suas implicações e quanto seja atual a sua mensagem sobre a ‘chave da unidade’, aquele mistério de Jesus Abandonado que descerra Deus, descerra o homem para nós. O negativo existe e é preciso reconhecê-lo, mas não é e última palavra”.

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