«… No teu dia, meu Deus, caminharei em tua direção… Caminharei em tua direção, meu Deus […] e com o meu sonho mais desvairado: levar para ti o mundo em meus braços». Com esta citação do teólogo Jacques Leclercq, Jesús Morán, copresidente do Movimento dos Focolares, inicia o seu discurso por ocasião do evento “A grande atração do tempo presente”: «Ainda hoje estamos perplexos com a profecia social desta mulher extraordinária que, com o seu ideal do «ut omnes» (Jo 17,21), a partir da sua Trento, chegou ao mundo inteiro». A partir da história do protagonista de uma fábula, que convive com outros personagens imaginados mas depois descartados pelos autores da narração, destinados a morar em outro planeta, Morán reflete sobre o papel dos profetas: «Eles são grandes tanto quanto são pequenos ou se fazem assim aos olhos dos homens. Descartados pelos homens, ridicularizados, muitas vezes assassinados, são escolhidos por Deus para realizar o que ninguém mais é capaz de fazer. Os profetas são, de fato, os pequeninos de Deus: aqui está a grandeza deles; mesmo se muitas vezes parecem viver “em outro planeta”. Como sabemos, a palavra “profeta” vem do grego e indica não tanto aquele que prevê o futuro, mas o porta-voz, o mensageiro de Deus. Na Bíblia também encontramos profetisas. Os profetas de Israel falam ao povo em nome de Deus; e tudo pode ser objeto das suas palavras, porque a palavra de Deus não tem limites. […] A vida de Chiara Lubich também tem um aroma de profecia. Mas não podemos compreender o caráter profético da pessoa de Chiara prescindindo do contexto histórico em que nasceu e viveu e da sua participação dos destinos da humanidade: o nascimento na região Trentina, na época uma periferia existencial de grande significado histórico e social, a experiência da pobreza, os dramas das guerras mundiais. Em meio às vicissitudes de seu tempo – que recordam, justamente, a história dos profetas, mas também a sabedoria bíblica e a apocalíptica – eis que se manifesta nela, um carisma particular, o da unidade, que a levou a almejar clara e decididamente a fraternidade universal». Em algumas das suas anotações de dezembro de 1946, evidencia Morán, «podemos perceber os pontos fundamentais da profecia social de Chiara Lubich. Chiara, de fato, não foi uma reformadora social, como Jesus também não foi. Efetivamente, o sonho de Chiara mira mais no alto e mais em profundidade, ou seja, no fundamento antropológico e teológico de toda reforma social: a fraternidade universal e a unidade, como a imaginou o homem-Deus, Jesus». «A pequena comunidade de Trento que, aos poucos, foi se formando ao redor da fundadora dos Focolares e que crescia, mês após mês, vivendo integralmente as palavras dos Atos dos Apóstolos (At 2, 42-48), é a primeira obra social realizada pelo primeiro grupo de focolarinas. A comunidade, explica Morán, «vivia a comunhão radical dos bens e se prodigalizava em acudir os pobres e a multidão de sofredores que o conflito havia deixado atrás de si. Esta raiz nunca se perdeu, aliás, é a fonte inspiradora de todas as operações e projetos sociais que ela e todos aqueles que a seguiram, que assumiram para si o Ideal da unidade, ativaram em todos esses anos. Em tudo isso, se evidencia o gênio humano e eclesial de Chiara». Também nós, continua Morán, «temos uma história diante de nós. Chiara é aquela autora que nos resgatou do anonimato para nos tornar protagonistas de um sonho; todos protagonistas, ninguém excluído». Citando Guislain Lafont, o grande teólogo dominicano que, sintetizando a filosofia prática do papa Francisco fala do “princípio da pequenez” (“a salvação vem antes de baixo do que do alto”), Jesús Morán conclui: «Chiara soube interpretar magistralmente este “princípio da pequenez” no empenho de uma verdadeira renovação social que ela conseguiu desencadear com e a partir do paradigma da unidade. Essa é a sua grandeza».
Colocar em prática o amor
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