Lucia Abignente, uma focolarina italiana, recorda Anna Fratta (Doni) com quem compartilhou parte de seus anos na Polônia. Uma vida toda “Doada”, assim como o significado do nome dado a ela por Chiara Lubich. Um “abismo de humanidade”, “uma mestra de vida”, “uma pequena grande mulher”. Estes são três fragmentos dos muitos ecos que foram suscitados, em 24 de setembro de 2021, pela notícia do retorno à casa do Pai de Anna Fratta, conhecida no Movimento dos Focolares como Doni. Talvez, ao ouvi-los, ela se sentisse quase desconfortável, tímida como era diante de elogios e comedida em suas palavras, que, essenciais, eram uma destilação de sabedoria. Seu caráter, fortalecido pelas experiências de vida, a fez assim. A mais nova de seis filhos, Doni viveu uma infância que não era de modo algum desconhecida da dimensão da dor, que se manifestou de maneira particularmente aguda com a morte de uma irmã. Profundas perguntas existenciais sobre o sentido da vida a questionavam mesmo quando criança, levando-a gradualmente a se distanciar de Deus e buscar respostas em outro lugar. Mais tarde, o estudo da Medicina, escolhido por causa desta rebelião, provou ser providencial. A Biologia a fascinou e influenciou sua jornada interior. Descobriu na natureza uma relação de reciprocidade e serviço que não conseguia explicar: uma lei de amor na raiz da qual – como ela entendeu uma noite “após uma luta interior dolorosa e dramática” – existe “um Ser que tem amor em si mesmo”. Foi um momento decisivo seguido por um encontro com Deus no carisma de Chiara Lubich. Imediatamente, Doni sentiu que Deus a estava chamando para segui-lo no caminho do focolare. Doni fez parte do grupo de médicos focolarinos que, aceitando o pedido da Igreja, foram viver por trinta anos (1962-1992), primeiro na República Democrática Alemã e depois na Polônia, trabalhando silenciosa e efetivamente para dar vida à comunidade dos Focolares, cujo caminho e crescimento ela seguiu com admiração e gratidão a Deus. Destas terras, marcadas pelo sofrimento da falta de liberdade e muitas vezes pela impossibilidade de contato com o Centro dos Focolares em Roma, ela encontrou-se mais tarde bem no centro, vivendo em Rocca di Papa (Roma-Itália), no focolare de Chiara Lubich. Compartilhou com ela anos intensos e luminosos, cheios de eventos e compromissos em nível mundial, acompanhando-a com dedicação e grande amor até ao último trecho de sua estada na Terra. O plano de Deus para ela completou-se com sua sábia contribuição como Conselheira-Geral do Movimento para o aspecto da “espiritualidade e vida de oração” que, juntamente com sua doação em acolher muitos – com Gis Calliari, Eli Folonari e outras das primeiras focolarinas – transmitiu a luz da vida cotidiana vivida com Chiara Lubich. E depois na pequena cidade de Loppiano (Itália), para onde mudou-se por causa da doença incapacitante que lentamente reduziu suas capacidades físicas. Uma profunda coerência interior vinculou suas ações: “O amor, você sabe, desarma; nosso discurso foi tal que todos puderam ouvi-lo, amigos e inimigos”, ela lembrava, consciente do cuidado particular com que, além do Muro, a Polícia Secreta os seguiu. “Amor, amor, só amor e encher as malas com este amor, esta é a única coisa que levarei comigo”, escreveu nos seus últimos anos, enquanto se preparava para a “viagem decisiva”. Não é de se admirar, então, que sua atividade profissional tenha merecido a estima das autoridades que, na República Democrática Alemã, concederam-lhe três medalhas por seu trabalho e pelo “coletivo” construído. E é ainda mais lógico que sua vida tenha transmitido claramente o amor de Deus a muitas pessoas. Talvez o segredo esteja em sua relação íntima e constante com Nossa Senhora, especialmente com ela que, desolada, abriu seu coração e seus braços à humanidade no sim do Gólgota. Dori procurou seguir o seu exemplo. Em 15 de setembro de 1962, pouco depois de atravessar o Muro de Berlim, escreveu: “Aqui você não tem nada em que se apoiar, e se você não olha sempre para Maria aos pés da Cruz, você desmorona. Há momentos em que você se sente como se estivesse sufocando, e tudo o que você pode fazer é rezar a Maria. É somente desta forma que pouco a pouco o vazio se torna plenitude e o sofrimento se transforma em paz. Estes são os momentos mais bonitos do dia, os mais preciosos, porque no sofrimento eu encontro uma relação cada vez mais profunda e íntima com Nossa Senhora, e através dela com todos os seus filhos”. Foi este o segredo da fecundidade de sua vida, toda “Doada”, expressa no nome que lhe foi dado por Chiara Lubich.
Lucia Abignente
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