Na atual crise da representatividade política, as ideias e as práxis de Igino Giordani e Tommaso Sorgi encorajam a trabalhar em todos os níveis para reconduzir a democracia à sua essência que é o “nós”.
Dois recentes simpósios sobre Igino Giordani e sobre Tommaso Sorgi que se realizaram na Itália, respectivamente em Cremona e em Téramo, repropuseram a figura do político como aquele que põe no centro o bem comum, não só da própria comunidade e nação, mas da humanidade inteira. Um conceito e uma prática pouco populares hoje, numa época de reivindicações nacionalistas e de localismos exasperados. Sobre a atualidade do pensamento dos dois políticos, dirigimos duas perguntas a Alberto Lo Presti, docente de Doutrina Social da Igreja na LUMSA e presidente do Centro Igino Giordani e a Letizia De Torre, ex deputada no Parlamento italiano e coordenadora internacional do Movimento Político pela unidade. O que têm a nos dizer hoje duas figuras como Giordani e Sorgi, numa época em que o bem comum parece que seja redefinido segundo os princípios dos vários nacionalismos e protecionismos regionais? Alberto Lo Presti: Temos uma grande necessidade de nos sintonizarmos com figuras como Igino Giordani e Tommaso Sorgi. Viveram em épocas marcadas por divisões dilacerantes, aparentemente insanáveis. Mas acreditaram na amizade entre os povos quando toda a história parecia se dirigir para o pior, fortes por uma visão do mundo autenticamente cristã. Giordani viveu pessoalmente a tragédia das duas guerras mundiais, alinhado entre os partidários da paz e da justiça social, pagando pessoalmente pelas escolhas de liberdade e solidariedade. Sorgi foi artífice da reconstrução da Itália no segundo pós-guerra, pondo-se como elemento de diálogo construtivo entre as forças políticas antagonistas no clima ideológico marcado pela Guerra Fria. Hoje nos ensinam que cada esforço empregado para a paz e a cooperação é uma pedrinha de mosaico, decisiva para edificar uma ordem civil fundamentada no bem comum e ficariam por demais surpresos de como se pode, no século XXI, avançar teses neossoberanistas e nacionalistas, tendo experimentado pessoalmente a destruição que tais perspectivas políticas trazem. Obviamente, cabe a nós não tornar vão o testemunho deles. Ambos deram grande peso à qualidade da relação entre cidadãos e quem é chamado a governar, tanto que Sorgi formulou o assim chamado “pacto político”. É ainda atual e praticável? Letizia De Torre: Igino Giordani, para quem “a política é caridade em ação, serva e não patroa”, não poderia nem pretender nem praticar a política como prepotência e engano para com os cidadãos para obter deles consenso e riqueza pessoal. Os cidadãos, para ele, eram os ‘patrões’, que era chamado a servir. Assim também para o deputado Tommaso Sorgi, a quem coube assistir aos escândalos da corrupção e dos seus efeitos devastadores, e até agora presentes, na Itália. Foi então que, após muitos confrontos com políticos e administradores públicos, redigiu as linhas de um pacto vinculante entre eleitos e eleitores, de natureza ética, programática e participativa. Foi uma genial intuição, de extrema atualidade na crise democrática mundial. Vivemos uma época ‘pós-representativa’ onde os políticos não representam as nossas sociedades supercomplexas e os cidadãos querem e sabem influir coletiva e diretamente. É preciso superar a longa deriva individualista e reconduzir a democracia à sua essência que é o “nós”. Por isso, durante o próximo simpósio internacional ‘Co-Governance, corresponsabilidade na cidade hoje’ (17-20 de janeiro de 2019, Castelgandolfo – Roma, Itália) construiremos, em modalidade participativa, as linhas de um ‘Pacto pela Cidade’, que não é outra coisa senão a atualização da política entendida como caridade de Giordani e da visão profética do ‘pacto’ de Sorgi.
Stefania Tanesini
0 Comments