Mar 6, 2024 | Sem categoria
NetOne, associação internacional de profissionais de mídia e do cinema, de operadores de tecnologias da informação, juntamente com New Humanity, uma Organização Não Governamental (ONG), realidades fundadas no espírito e nos valores que animam o Movimento dos Focolares, em colaboração com a Missão da Santa Sé junto às Nações Unidas, lançou a iniciativa ” IA: uma via para a paz global e/o desenvolvimento humano integral”, uma reflexão sobre a ética da inteligência artificial e suas implicações. Na quarta-feira, 21 de fevereiro, NetOne juntamente à ONG New Humanity, em colaboração com a Missão da Santa Sé nas Nações Unidas, organizou a iniciativa “AI: A Pathwayto Global Peace and Integral HumanDevelopment” (AI: uma comunidade para a paz global e desenvolvimento humano integral), que aconteceu em Nova Iorque, UNHQ, ConferenceRoom 6, das 13:15 às 14:45 e foi seguida online em diversas partes do mundo. A saudação de abertura de Vossa Excelência Reverendíssima Arcebispo Gabriele Caccia, observador permanente da Santa Sé nas Nações Unidas, deu o tom das reflexões: “Estamos à beira de uma revolução tecnológica sem precedentes na história da humanidade. A emergência da IA está remodelando o nosso mundo de modo profundo e sem precedentes. Da revolução das indústrias à transformação do nosso modo de viver, trabalhar e interagir, a IA tornou-se uma força motriz de mudança no século 21”. Nos últimos anos, o progresso digital trouxe oportunidades e desafios significativos, com graves implicações em todos os âmbitos da sociedade. Nessa época, as rápidas mudanças tecnológicas, a Inteligência Artificial (IA) emergiu como um dos instrumentos mais potentes, com o potencial de transformar a sociedade, de promover a paz e alcançar o desenvolvimento sustentável. Todavia, as suas implicações éticas permanecem objeto de um intenso debate. MaddalenaMaltese, jornalista e representante da ONG New Humanity, moderadora da mesa redonda do evento, recordou que “em 1º de janeiro passado, o Papa Francisco, na sua mensagem para o Dia Internacional da Paz, levantou questões urgentes sobre a IA: “Quais serão as consequências, a médio e longo prazo, dessas novas tecnologias digitais? E quais impactos terão sobre os indivíduos e sobre a sociedade, assim como sobre a estabilidade e sobre a paz internacional?” Ele também colocou em evidência que o secretário geral António Guterres, discutindo as prioridades para 2024, sublinhou que a IA será de interesse de toda a humanidade, reiterando a necessidade de uma abordagem universal para encará-la. A mesa redonda, por meio do diálogo entre as diversas partes interessadas sobre os desafios éticos apresentados pela IA e pelas estratégias, discutiu a interação entre considerações técnicas, éticas, políticas, legais e econômicas. Padre Philip Larrey, professor de Filosofia no Boston College, decano de Filosofia da Pontifícia Universidade Lateranense, presidente do Humanity 2.0, expôs uma série de questões urgentes com base no tema da paz. “ChatGPT ou Gemini podem escrever um perfeito plano de paz, olhando para as situações que estamos vivendo, mas estaremos dispostos a seguir essas indicações?”, disse Larrey ao enfatizar o fator humano como decisivo nas decisões a serem tomadas, também quando se trata de armas letais. Outro tema central do seu discurso foi aquele da empatia que podemos demonstrar às máquinas e que, às vezes, têm preferência sobre o elemento humano. “Os seres humanos compreendem o significado. As máquinas não, embora elas estejam se tornando muito boas em simular o que consideramos significativo”, insistiu o professor do Boston College, alertando contra o desafio, sempre mais difícil, de discernir o que pertence ao homem e o que pertence à tecnologia, com máquinas que no futuro poderão ser também programadas para ter sentimentos. Laura Gherlone, pesquisadora em Semiótica pelo Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas da Argentina e docente na Universidade Católica da Argentina, membro da Comissão Internacional de NetOne, falou da Inteligência Artificial e, de forma geral, das tecnologias digitais à luz do pensamento da deocolonização digital. Ela sustentou que “hoje, os contextos pós-coloniais se encontram em uma encruzilhada: retroceder ou alcançar. Eles são forçados a acelerar drasticamente alguns processos que hoje incorporam um modelo de consciência tecnocêntrica, presumivelmente universal: a digitalização e a implementação de sistemas de inteligência artificial estão entre esses processos”. Ela afirma que esse processo “tem sempre um custo alto, em pelo menos três níveis: em nível econômico e técnico-estruturante, em nível social e, enfim, a adoção acelerada e forçada do progresso tecnológico como percurso até um modelo universal de consciência”. Gherlone sugere que “o debate ético sobre IA poderia ser notavelmente enriquecido por uma reflexão deocolonial, integrada, por exemplo, ao trabalho daqueles movimentos coletivos empenhados em repensar e redesenhar a arquitetura técnica ‘do Sul’, ou soluções teórico-metodológicas e práticas que, muitas vezes, são deixadas de lado porque distantes das lógicas do lucro”. No encerramento do evento, duas boas práticas da sociedade civil. Marianne Najm, engenheira de comunicações com sede em Beirute, se concentrou sobre a ética de IA e sobre o conceito de juramento digital para os engenheiros e para quem quer que seja ativo no mundo digital. O projeto foi iniciado em 2019 inspirando-se no juramento de Hipócrates, o juramento que a maior parte dos médicos e médicas fazem ao final de seu percurso acadêmico. Assim como o juramento de Hipócrates tem como objetivo visa despertar a obrigação humana dos atores digitais, direcionando o seu trabalho para um projeto eticamente centrado no homem. Marcelle Momha, camaronesa que vive nos Estados Unidos, analista das políticas e pesquisas tecnológicas especializadas em inteligência artificial, tecnologias emergentes e cyber segurança, preparou uma intervenção sobre a comunidade AI 2030, que para o momento não foi possível ilustrar, mas que está disponível nesse link. “AI 2030 é uma vivaz comunidade de líder empresários, cientistas de dados, profissionais de tecnologia da informação e pesquisadores pioneiros dedicados a estruturar o poder de transformação da inteligência artificial em benefício da humanidade reduzindo ao mínimo o potencial impacto negativo”, explica Marcelle sobre o seu tema. Na sua mensagem para o Dia Mundial da Paz, o Santo Padre recordou que “os progressos tecnológicos que não levam a uma melhora da qualidade de vida de toda a humanidade, mas, ao contrário, agravam as desigualdades e os conflitos, não podem jamais serem considerados um verdadeiro progresso”. Como organizações da sociedade civil, queremos acompanhar os esforços das Nações Unidas e de todos aquelas instituições que estão trabalhando por um empenho ético no campo da tecnologia que apoiam os progressos digitais como contribuição à promoção dos princípios humanos de paz e fraternidade. Para rever a transmissão em direto, pode aceder a esta ligação: https://webtv.un.org/en/asset/k1h/ Para reler os discursos e obter mais informações, aceda a: https://www.net-one.org/ia-una-via-per-la-pace-globale-e-lo-sviluppo-umano-integrale/
Fonte: https://www.net-one.org
Mar 4, 2024 | Sem categoria
Uma semana de mobilização e oração contra o tráfico de seres humanos, nos dias 2 a 8 de fevereiro de 2024. Em Roma (Itália) reuniram-se 50 jovens de todos os continentes, entre estes alguns do Movimento dos Focolares. O tráfico humano é o processo pelo qual as pessoas são constrangidas ou atraídas por falsas promessas, recrutadas, transferidas e forçadas a trabalhar e viver em condições de exploração ou abuso. É um fenômeno, como denunciam os recentes informativos da ONU, em constante e dramática evolução. De 2 a 8 de fevereiro de 2014 realizou-se a semana de oração contra o tráfico humano. Instituída pelo Papa Francisco em 2015, a semana inclui sempre o dia 8 de fevereiro, festa de Santa Bakhita, uma religiosa sudanesa que ainda jovem foi escravizada, foi vendida e maltratada, vítima de tráfico, e é símbolo universal de luta contra esta chaga da humanidade. O tema deste ano foi “Caminhar pela dignidade. Escutar, sonhar e agir”. Milhares de pessoas, no mundo inteiro, reuniram-se para refletir, rezar e compartilhar a própria experiência de compromisso contra este fenômeno global. Em Roma, muitos jovens provenientes de diversos países – Quênia, Japão, Estados Unidos, Tailândia, Albânia, Canadá, México, França, Itália – participaram de conferências, flash mob, momentos de oração sobre este tema, e também do Ângelus e da audiência com o Papa Francisco. Entre eles alguns eram Gen 2, jovens do Movimento dos Focolares. Prisque Dipinda, da República Democrática do Congo contou: “O evento mais significativo para mim foi a oração vigil of prayer na Igreja de Santa Maria em Trastevere, no coração de Roma. Foi um momento importante diante de Deus, a emoção a compartilhar junto com outros jovens que levam no coração o desafio do tráfico humano. Mas também a responsabilidade de ser parte dos protagonistas contra este fenômeno. Penso que para os jovens que participaram foi útil inclusive para tomar consciência de que muitos sofrem no mundo, por vários motivos: econômicos, políticos, religiosos. Foi uma oportunidade para refletir e começar a projetar juntos algo contra o sofrimento”. Entre os Gen 2 presentes estavam Michel Haroun, franco libanês, e Miriana Dante, italiana. “Nunca me empenhei diretamente contra o tráfico humano – afirmou Michel -. Tenho alguma experiência no serviço aos migrantes que chegam na minha cidade ou nas fronteiras. Por exemplo, há alguns anos estive em Trieste, na Itália, ponto de chegada da rota balcânica, pela qual desembarcam na Itália migrantes de muitas partes do mundo devastadas por conflitos. Mas não tinha consciência de que os refugiados, antes de chegarem à Europa – mas também é válido para a América Latina, os Estados Unidos ou outras partes do mundo – sofrem violência e abuso de forma organizada. Estes dias passados em Roma, com jovens de diversos continentes, com línguas e culturas diferentes, pertencentes a várias Igrejas cristãs, foram uma experiência rica de relacionamentos pessoais que, espero, perdurem, porque no final enfrentaremos – e já enfrentamos – o mundo todos juntos, porque somos parte da mesma geração”. “Fiquei emocionada ao descobrir a história de Santa Bakhita – comenta Miriana -. Foi escrava, foi vendida. Mais tarde enfrentou com coragem tudo o que havia vivido no passado, lançando mensagens contra o tráfico de seres humanos. Eu me perguntei onde ela teria encontrado tanta força. Foi muito bom para mim encontrar muitos jovens como eu que se comprometem com estas situações. Não pessoas adultas, com uma longa experiência nas costas, mas jovens da minha idade, vindos do mundo inteiro, que tem sonhos e esperanças num futuro melhor. Nós não sentimos a diferença cultural, porque estávamos ligados pela unidade entre nós graças ao objetivo comum: lutar contra o tráfico humano”.
Lorenzo Russo
Mar 1, 2024 | Centro internazionale, Sem categoria, Tutela minori
O Movimento dos Focolares publica o relatório sobre as atividades realizadas para a proteção da pessoa e os dados relativos aos casos de abuso em 2023. Entrevista com Catherine Belzung, professora de Neurociências e coordenadora da Cátedra UNESCO sobre maus-tratos infantis. O segundo relatório anual do Movimento dos Focolares sobre as atividades e dados relativos aos casos de abuso sexual de crianças, adolescentes, adultos em situação de vulnerabilidade, abusos de consciência, abusos espirituais e de autoridade será divulgado no dia 1º de março. Pedimos a Catherine Belzung uma leitura e avaliação do documento. Professora universitária titular de Neurociências na França, membro sênior do Institut Universitaire de France (2014) e presidente do centro de pesquisa multidisciplinar iBrain, desde 2022 é coordenadora da Cátedra UNESCO sobre maus-tratos infantis, criada por uma parceria de Universidades e instituições de 16 países do mundo. É também corresponsável pelo Centro Internacional para o Diálogo com a Cultura Contemporânea do Movimento dos Focolares. Desde 2023, o Movimento dos Focolares optou por publicar um relatório anual sobre o tema dos abusos sexuais de crianças, adolescentes e sobre abusos de consciência, espirituais e de autoridade. Do seu ponto de observação internacional, qual é a sua opinião sobre essa escolha? Qual a sua avaliação sobre esse segundo relatório? Acredito que esse relatório representa um verdadeiro passo em frente. Na verdade, o relatório de 2023 foi criticado, sobretudo porque os locais e as datas dos abusos sexuais não foram mencionados. O novo relatório diz respeito aos casos notificados nos últimos 10 anos e acrescenta estes esclarecimentos: constata-se que os abusos sexuais foram perpetrados nos 5 continentes (cerca de vinte países), com um pico de casos entre 1990 e 1999, bem como na década anterior e na seguinte. Os fatos por vezes se repetem durante várias décadas, sugerindo que se trata de perpetradores reincidentes, cuja sucessão de abusos não foi interrompida. Aconteceram alguns fatos e foram tratados por volta de 2020, o que indica que as vítimas conseguiram denunciar abusos quase em tempo real, o que é um progresso. Todos os abusos sexuais relatados foram perpetrados por homens. Acontece o contrário em relação aos abusos de autoridade, em que 77% dos casos são cometidos por mulheres, o que pode estar relacionado ao fato de que as pessoas que fazem parte do Movimento, em sua maioria, são mulheres. O relatório contém ainda uma seção detalhada e clara sobre as medidas atuadas durante o ano, sobretudo no que diz respeito à formação. Resta compreender quais são as causas profundas desses abusos: além das medidas de prevenção e das sanções, será preciso dedicar-se a identificar as causas sistêmicas que poderão explicar tais cifras, a fim de instaurar uma estratégia que permita eliminar isso. Nesse segundo relatório, os autores são identificados com base em critérios precisos, estabelecidos pela Política de Comunicação publicada recentemente pelo Movimento dos Focolares. Como você considera essa escolha? Trata-se de um conflito ético. Por um lado, devemos confiar na experiência das vítimas e levar a sério as denúncias que fazem e, rapidamente, tomar as medidas necessárias para protegê-las. Por outro lado, trata-se de respeitar a suposta inocência dos referidos autores, de evitar a difamação, quando ainda não foi pronunciada qualquer condenação criminal definitiva. A questão é complexa, e encontrar uma solução satisfatória exigirá, sem dúvida, muita escuta e diálogo. A Cátedra UNESCO sobre abuso de crianças e adolescentes, que você coordena, nasceu porque você mesma teve contato com um caso desse tipo de abuso, do qual conhecia tanto uma das vítimas quanto o perpetrador. Esse caso aconteceu no âmbito da Igreja Católica na França. A comunidade social ou religiosa é definida como “vítima secundária”. O que isso significa? Quais são as feridas que as pessoas sofrem, como podemos ajudar a curá-las em nível social e comunitário? Sim, de fato, essa Cátedra nasceu do contato com uma vítima, algo que me marcou profundamente. Fiquei muito tocada por esse sofrimento, e daí brotou o desejo de fazer alguma coisa. O abuso afeta primeiramente a vítima, que muitas vezes sofrerá consequências psicológicas duradouras. Às vezes, a revelação dos fatos pode abrir uma janela de grande vulnerabilidade na pessoa, o que requer um acompanhamento específico. Em consequência, afeta os familiares da vítima, como o cônjuge, os filhos, mas também os pais, que se sentem responsáveis por terem confiado o próprio filho a uma instituição que não o protegeu. Os efeitos devastadores afetam também a comunidade, pois muitas vezes os membros não sabem que nela se esconde um predador reincidente, com quem talvez tivessem um vínculo de proximidade, de amizade. Surge a pergunta: por que não percebi nada? Outro aspecto diz respeito ao vínculo com a instituição que pode ter protegido o agressor, por vezes em boa-fé, despertando sentimentos de traição e desconfiança. Por fim, dependendo das análises divergentes entre si, a comunidade também pode ficar dividida entre aqueles que se refugiam na negação e aqueles que querem lutar para evitar que isso aconteça novamente. Remediar toda essa situação requer um vasto conjunto de medidas: é fundamental assumir a responsabilidade pelo acompanhamento das vítimas e dos seus familiares, mas é também necessário restaurar a confiança na instituição que se revelou deficiente, quando esta demonstra uma vontade sincera de aprender com os erros passados. Para fazer isso, é importante agir: a instituição deve promover a transparência, comunicando informações bem precisas, deve instaurar procedimentos claros, criar locais de escuta, estabelecer procedimentos de reparação e, para as comunidades, criar espaços de diálogo nos quais possam ser partilhadas opiniões conflitantes. O Movimento dos Focolares é uma organização mundial, cujos membros são de diferentes culturas e religiões, sujeitos a vários sistemas jurídicos e adotam os mais diversos estilos de vida. Como é possível atuar práticas contra os abusos em um ambiente caracterizado por um multiculturalismo e diversidade tão vastos? Em primeiro lugar, as consequências do abuso sexual que envolve crianças e adolescentes existem em todas as culturas e são universais. Além das sequelas psicológicas e sociais, as vítimas podem apresentar sequelas biológicas, como aumento dos hormônios do estresse, alteração na expressão de determinados genes, bem como na morfologia e no funcionamento cerebral: essas disfunções persistem ao longo da existência do sobrevivente e podem ser transmitidas para a próxima geração. Portanto, não se pode dizer que existem variações culturais na gravidade das consequências para as vítimas, que existem culturas em que as vítimas sofrem menos: é devastador sempre e em toda parte. Portanto, é necessário colocar em prática medidas preventivas, mas também corretivas no mundo inteiro. Nota-se que a consciência da gravidade dessas situações está crescendo: por exemplo, na Igreja Católica foram criadas comissões nacionais de investigação em muitos países da Europa, América do Norte, América Latina, mas também na Austrália, Índia e África do Sul. O sofrimento existe sempre, em toda parte. Aquilo que pode variar é a resistência em denunciar os fatos e a capacidade de tomar medidas de proteção e reparação. Isso pode estar relacionado ao fato que, em algumas culturas, é um tabu falar sobre sexualidade. O primeiro passo é sensibilizar as populações para as consequências dos abusos: já existem programas promovidos por diversas associações que têm em vista a representação da sexualidade em diversas culturas. Por exemplo, sugerir que escutemos o sofrimento das vítimas que pertencem à mesma cultura pode despertar empatia e suscitar nas pessoas a vontade de agir. A prevenção também pode ser dirigida diretamente às crianças, educando-as aos seus direitos: também nesse caso existem programas que se valem, por exemplo, de canções. Outra coisa que varia é a capacidade, dos Estados e das instituições, de adotarem medidas de proteção e reparação. A estrada a ser percorrida é a de estabelecer um diálogo respeitoso e isento de incriminações com os protagonistas; isso permitirá que todos compreendam a gravidade dos abusos, mas também encontrem as formas específicas de cada cultura para a liberdade de expressão, para concretizar as reparações e formar os membros da comunidade. Tanto no Movimento dos Focolares como em outros contextos há quem expresse a convicção de que chegou o momento de ir em frente, isto é, que não se deve continuar falando apenas de abusos, mas que é preciso focar na “missão” do Movimento e em tudo aquilo de bom e positivo que a vivência desse carisma gera no mundo. Qual a sua opinião sobre o assunto? Qual é a “missão”? Não se trata talvez de caminhar rumo à fraternidade universal, a uma cultura que coloca em primeiro lugar o sofrimento dos mais fracos, a uma cultura do diálogo, de abertura e de humildade? Parece-me que a luta contra todos os tipos de abusos é precisamente uma forma de concretizar o desejo de colocar em primeiro lugar aqueles que sofrem por isso. Ajudar a curar as feridas das vítimas é precisamente um modo de avançar rumo à fraternidade universal. Isso também envolve acompanhar os autores dos abusos, a fim de evitar a reincidência. Reconhecer os próprios erros, a própria vulnerabilidade, a fim de encontrar soluções, levando em conta as opiniões dos especialistas do setor, é justamente uma forma de construir uma cultura de diálogo. Lutar com determinação contra os abusos e acompanhar as vítimas estão no centro dessa “missão”. Não há, portanto, escolha entre a luta contra os abusos e a “missão”, porque essa luta é um elemento central da “missão”. É uma prioridade dolorosa, mas necessária no contexto atual.
Stefania Tanesini
Relatório 2023: “Proteção da pessoa no Movimento dos Focolares” (Descarregar PDF)
Fev 27, 2024 | Sem categoria
O amor cristão é um “Amor” que tem uma forma específica, tangível, que pode ser tocado nas ações, das menores às maiores. É dar a vida por quem está ao nosso redor, à imagem de quem, por primeiro, deu a vida por nós, nos amando com um amor imenso.
Prova ruim
Nossa filha havia se preparado com esforço para uma prova, mas voltou para casa chorando porque não tinha ido bem. Depois de conversarmos, meu marido e eu decidimos que o jantar seria uma verdadeira festa, mais do que se a prova tivesse sido ótima. Os outros filhos também gostaram da ideia. Mas o momento realmente emocionante foi quando nós, os pais, começamos a listar os fracassos da nossa vida e como superamos esses momentos. Com as “confissões” dos outros, o jantar se transformou em uma comunhão profunda, uma oportunidade de crescermos juntos. Nossa filha ficou feliz: “Talvez esse fracasso fosse necessário não somente para mim, mas para toda a família. Nunca teria pensado que as derrotas poderiam ajudar a crescer e a entender a vida. Estou muito agradecida!”. Ao contar também para outros parentes e amigos, o episódio foi reproposto a vários deles, usando qualquer pretexto, para os próprios filhos. No fim, todos concordaram que a família precisa ir profundamente com as fragilidades de cada um para crescer no amor. (W.R. – Holanda)
Amor que vai e volta
Quando tenho tempo livre, fico como babá de duas meninas, filhas de um casal senegalês, quando precisam. Os pais ficam sempre muito agradecidos: “Sem você, estaríamos perdidos!”, dizem eles. Algumas vezes, ofereço ajuda sem esperar que peçam. Assim, há alguns dias, avisei o pai sobre a minha disponibilidade para domingo de manhã. Depois de um tempo, ele me telefonou: “Lorenza, você precisa me explicar como faz para adivinhar as nossas necessidades! Chegou no momento certo!”. E eu: “É Deus que move os corações, Tacko, é a ele que devemos agradecer porque nos fez irmãos e irmãs”. Graças ao relacionamento de família com eles, quando, por causa de uma viagem, tive que sair a uma da manhã, pedi uma carona até a estação justamente a ele, para dar a possibilidade de amar também. E, com muita atenção, ficou comigo até a chegada dos outros do meu grupo! Há alguns dias, Tacko e sua esposa vieram até a minha casa para trazer uma porção de arroz e frango preparados do modo deles. “Agora sabemos quais são os seus gostos, afinal, você também já é um pouco africana.” (Lorenza – Itália)
Colher a inspiração
Em uma reunião da empresa na qual trabalho, tive a oportunidade de ser construtor de paz, por meio do respeito e do diálogo com quem é diferente de nós, da nossa cultura ou fé. O ar estava pesado, o tom da voz estava alto e acusatório. Como contribuir para acalmar os ânimos? Falar parecia impossível e talvez contraproducente. Eu escutava quem falava, ou gritava, com um ar sereno e procurando entender as suas razões. Não era fácil. Era um esforço que me deixava exausto. No intervalo, o colega que tinha subido o tom de voz mais do que todos veio até mim me pedindo desculpas por como havia se comportado. Eu o abracei sem dizer nada. E ele, continuando seu desabafo: “Minha mulher soube ontem que está com uma doença incurável. Estou desesperado”. Então, o aconselhei a procurar um amigo médico e ele ficou muito agradecido. Concluí com a promessa de que continuaria ao seu lado. Quando voltamos para a sala, a atmosfera não estava mais como antes. O importante é o momento presente para colher a inspiração que Deus nos dá para agir. (E.J. – EUA)
por Maria Grazia Berretta (trecho de Il Vangelo del Giorno, Città Nuova, ano X– n.1° janeiro-fevereiro 2024)
Fev 22, 2024 | Sem categoria
No dia 20 de fevereiro de 2024, aconteceu em Roma a apresentação do “Balanço de Comunhão” do Movimento dos Focolares, um panorama das atividades e iniciativas promovidas no mundo no ano de 2022. Tema central: o diálogo. “Vivendo continuamente a ‘espiritualidade da unidade’ ou ‘de comunhão’, posso contribuir eficazmente para fazer da minha Igreja ‘uma casa e uma escola de comunhão’; promover, com os fiéis de outras Igrejas ou comunidades eclesiais, a unidade da Igreja; criando, com pessoas de outras religiões e culturas, espaços cada vez mais vastos de fraternidade universal”.[1] Com estas palavras, Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares, refletiu sobre a importância de agir diariamente como “apóstolos do diálogo”, gerando assim novas formas de se relacionar com os outros, de escutar e de acolher a realidade do outro na sua especificidade. Uma dimensão à qual cada um de nós parece ser chamado e que é capaz de se tornar uma experiência concreta e viva, não só capaz de ser “quantificada” em termos numéricos, mas que, para dar frutos, deve ser partilhada. Este é o foco do segundo “Balanço de Comunhão” do Movimento dos Focolares, o orçamento missionário apresentado no dia 20 de fevereiro de 2024 na Cúria Geral da Companhia de Jesus, em Roma. O documento, traduzido em cinco línguas (italiano, inglês, francês, espanhol e português), é um panorama das atividades e iniciativas promovidas pelo Movimento dos Focolares no ano de 2022, uma narração não só da partilha espontânea de bens, mas de experiências vividas e de iniciativas em nível global inspiradas, especificamente para esta publicação, por e para diálogos: entre movimentos eclesiais e novas comunidades na Igreja Católica; entre as várias Igrejas Cristãs; entre diferentes religiões, com diferentes culturas, com instituições e no compromisso com os muitos desafios globais. Entre os oradores que intervieram na coletiva de imprensa de apresentação, na presença de Margaret Karram e Jesús Morán, respectivamente Presidente e Copresidente do Movimento dos Focolares, estiveram Monsenhor Juan Fernando Usma Gómez, Chefe da Seção Ocidental do Dicastério para a Promoção da Cristã Unidade, o Dr. Giuseppe Notarstefano, presidente nacional da Ação Católica Italiana, Dra. Rita Moussallem, responsável pelo Centro de Diálogo Inter-religioso do Movimento dos Focolares, e Giancarlo Crisanti, administrador geral do Movimento dos Focolares. Conectados por internet também se pronunciaram o Monsenhor Atenágoras Fasiolo, Bispo de Terme e auxiliar da Sagrada Arquidiocese Ortodoxa da Itália, e o Prof. Stefano Zamagni, economista e professor de Economia Política na Universidade de Bolonha. A sessão, moderada pelo jornalista Alessandro de Carolis, foi uma verdadeira troca de reflexões e sublinhou como termos aparentemente opostos, como “orçamento” e “comunhão”, podem complementar-se, tendo em conta não só os números, mas também a vida. “O balanço social foi uma grande oportunidade para nós – declarou o Dr. Notarstefano, Presidente Nacional da Ação Católica, uma das primeiras entidades eclesiais a elaborar uma declaração de missão – e encorajou-nos a esta urgente conversão pastoral a que somos chamados pelo Papa. Foi também uma forma de começar a refletir sobre como melhor comunicar esta vida associativa, (…) olhar para nós mesmos, com transparência, prestar contas ao exterior, mas comunicar melhor, para partilhar”. Segundo o Dom Usma Gómez, diante do cenário atual que parece cada vez mais fragmentado, ao falar do caminho de unidade entre as Igrejas, fazer um balanço como cristãos “significa olhar para os planos de Deus, para os nossos planos, para os planos do mundo. (…) Os planos de Deus seriam preservar a unidade do espírito através do vínculo da paz – continuou – mas vemos que no mundo a guerra é o plano que se concretiza. É possível desenvolver a comunhão nas diferenças, (…) mas esta diversidade reconciliada chama-nos a fazer da paz, o coração do Ecumenismo e do Ecumenismo, o coração da paz”. Um incentivo, portanto, para promover online caminhos de fraternidade de estilo sinodal e, especificamente, à luz do tema escolhido, fazê-lo através de um “método” que possa reunir especialmente os mais incrédulos. “Fazer um balanço da comunhão de um Movimento tão aberto, tão capaz de levar os outros a compreender que o diálogo não tira, mas acrescenta, enriquece e é muito importante”, afirmou Dom Atenágoras Fasiolo, bispo de Terme e auxiliar da Sagrada Arquidiocese Ortodoxa da Itália, que, além de sublinhar o grande empenho do Movimento dos Focolares no caminho da unidade entre as diversas Igrejas, refletiu sobre o papel profético que as diferentes confissões podem ter no mundo, sem cair na armadilha da ideologias: “se como fé conseguimos ser profecia então conseguimos despertar o que há de melhor no coração do homem”. E “vida e profecia” são precisamente os dois caminhos pelos quais o Movimento dos Focolares viu avançar o caminho do diálogo inter-religioso nestes 80 anos de história, como declarou na sala a Dra. Rita Mussallem; um caminho que fez com que a realidade fundada por Lubich entrasse em contato, em muitos países, com pessoas de diversas religiões, criando, na valorização da diversidade e da reciprocidade, um terreno comum onde possamos nos relacionar com a espiritualidade da unidade, chegar a conhecer-nos e “dar – disse Moussalem – a disponibilidade para aprender uns com os outros, a partilha das dores, dos desafios, das esperanças e também o compromisso partilhado de trabalhar pela paz, pelo bem, pela fraternidade”. Num mundo dilacerado por polarizações em que as religiões são muitas vezes exploradas, quando se fala do conceito de paz, “o diálogo autêntico – continuou – é um remédio muito útil (…) porque faz descobrir e ver a humanidade do outro caso contrário, isso desarma você. A “pessoa” é, portanto, o coração pulsante de um percurso circular que deu vida, ao longo do tempo, às numerosas obras de que este texto é testemunho: “Quando falamos de “balanço” – afirmou Giancarlo Crisanti – esperamos muitos números, mas no “Balanço de Comunhão” há muito mais narrativa e faltam os números das pessoas que permitem a realização das obras”. “O Balanço – disse Crisanti – destaca como esta comunhão de bens é capaz de realizar iniciativas, projetos, obras que vão na direção do diálogo (…), que ajudam o mundo a dialogar um pouco mais”. Referindo-se à intuição da Economia de Comunhão, o Prof. Stefano Zamagni declarou que ela é também um “método para atacar as causas geradoras das situações de guerra” e, insistindo na aplicação do conceito de equidade ao conceito de justiça, afirmou que é evidente que a publicação deste “Balanço de Comunhão” hoje não pode ser apenas uma forma de informar, mas uma oportunidade a ser aproveitada para sermos verdadeiramente “apóstolos”, mensageiros de boas novas. Neste tempo “o mal atrai mais que o bem, enquanto a beleza atrai mais que a feiura e o conhecimento atrai mais que a ignorância”, afirmou Zamagni, convidando todos a “dizer o bem”, a “dizer bem” precisamente: “devemos ter cuidado para fazer conhecer, obviamente com humildade, a gratuidade com que se faz o bem. (…) esta noção de ‘Balanço de Comunhão’ significa que se narra o que foi feito, mas com vista ao futuro”.
Maria Grazia Berretta
Descarregar o Balanço de Comunhão em PDF Apresentação Balanço de Comunhão 2022 – Vídeo em italiano https://www.youtube.com/watch?v=3jizpECFoss [1] Chiara Lubich, ‘Apóstolos do diálogo’, Castel Gandolfo (Itália), 22.1.2004 em Conferência telefônica mundial.