Movimento dos Focolares
Empresários contracorrente

Empresários contracorrente

A Letizia Mombelli e o seu marido são proprietários de uma empresa da região de Brescia (Itália). Nos últimos anos, passaram por momentos de crise enfrentando tudo com confiança em Deus e na sua providência, entregando a Ele as preocupações e as decisões. Começaram a atividade com uma pequena empresa mecânica com poucos dependentes, mas a falta de trabalho, a burocracia e a decisão de recusar todas as tentativas de corrupção provocaram uma grande perda de capital. A escolha dolorosa de licenciar boa parte dos dependentes foi inevitável, bem como aquela de vender os maquinários para garantir aos trabalhadores tudo o que a lei prevê. Antes do desligamento completo esperaram que cada um tivesse encontrado um outro emprego. “Vivemos tudo isso como um fracasso – lembra Letizia – mas não desistimos. Ao nosso redor a família do Movimento dos Focolares sustentou-nos com a oração e confiamos tudo a Deus para que nos guiasse em todas as escolhas, procurando ter relacionamentos corretos com os clientes, os fornecedores, os representantes ou qualquer pessoa que entrasse na nossa empresa. A providência de Deus não demorou para chegar”. Depois daquele momento de dificuldades, enfrentado com escolhas corajosas, chega a oportunidade de mudar de setor. Familiares, outros empresários e fornecedores oferecem a ajuda concreta que permite à empresa de reenguer-se. “O fruto mais bonito daquele período – continua – é que os nossos filhos maiores demonstram valorizar as coisas importantes como a escolha de uma vida sóbria e de poter experimentar o amor de Deus através de tantos pequenos e importantes sinais. Tudo isso reforçou o elo de união da nossa família”. Porém, em 2009 a crise econômica mundial não poupa a empresa de Letizia, que não recebe mais pedidos. Também desta vez a família confia em Deus na oração e, em pouco tempo, chegam dezenas de encomendas. Em 2016 chega um pedido com promessa de continuidade, de modo a garantir à empresa a tranquilidade econômica por longo tempo. Todavia, apenas depois da primeira entrega Letizia descobre que aqueles produtos seriam destinados à indústria de armas. Diante das imagens de desespero de tantos refugiados em fuga das guerras, a Letizia e a sua família decidem renunciar àquele trabalho. “A escolha foi tomada com uma certa apreensão, mas eu e o meu marido não tivemos dúvidas e o nosso filho, que tinha começado a trabalhar conosco, foi totalmente de acordo”, afirma. A seguir veio uma outra crise que levou outra vez a empresa quase ao fechamento. A Letizia e a sua família confiam também desta vez à providência e chega um pedido de trabalho como não acontecia há muitos anos. “Verdadeiramente sinto que Deus caminha ao nosso lado”, confessa a Letizia, dirigindo o seu pensamento também à fundadora dos Focolares. “Agradeço a Chiara Lubich que, como luz no meu caminho, ajudou-nos sempre a fazer escolhas coerentes, baseadas nos valores da pessoa humana, pondo em segundo plano o lucro e a segurança econômica”, conclui. Chiara Favotti

Educar na periferia de Paris

Um semblante sereno e um tom de voz tranquilizador, Maria, mãe de dois adolescentes, casada com um francês, ensina língua italiana numa escola “difícil” da periferia norte de Paris. É uma daquelas escolas onde raramente os professores ficam. É preciso grande determinação, coragem e ardor para atuar numa região economicamente carente e marcada por um alto índice de “tráfico de entorpecentes, tráfico de armas, rackett”, com traficantes na frente das escolas e alunos de culturas e proveniências diferentes. “Para mim trata-se de responder a um chamado, o de trabalhar pela igualdade de possibilidades, para propor e preservar uma oferta de formação ambiciosa, e levar o amor de Cristo aonde aparentemente não existe”, ela diz. Maria explica como ter conhecido Chiara Lubich, ainda criança, a fez nutrir esta aspiração e mantê-la na sua vida adulta. “O meu modo de ver e o meu comportamento, graças à vida de unidade com quem compartilha do mesmo ideal, renova-se cada dia, apesar das dificuldades”. Com efeito, não foi fácil, principalmente no início, compreender como relacionar-se de maneira construtiva com os estudantes, como reagir às agressões verbais e aos atos de vandalismo. Logo se tornou claro que a ajuda a eles passava pelo envolvimento das famílias, e que também os novos colegas precisavam de apoio para decifrar aquela realidade complexa. Aliás, era precisamente a sinergia entre os colegas que podia dar aos alunos um exemplo construtivo: “Do ponto de vista didático desenvolvo o meu trabalho com projetos culturais interdisciplinares – explica a professora -, a organização de um projeto permite trabalhar em equipe, procurar viver a fraternidade entre colegas para depois propor aos jovens um modelo crível”. Projetos que muitas vezes se concluem com um passeio à Itália, que motiva os estudantes ao aprendizado da língua e favorece um intercambio cultural com jovens italianos: novos relacionamentos para fazer uma experiência de fraternidade. Além disso – explica ainda Maria – “Um projeto como este permite-nos envolver as famílias na vida escolar, instaurar uma relação de confiança para, juntos, encontrar soluções, a fim de que não existam dificuldades financeiras para nenhuma aluno”. Em outras palavras, o objetivo de Maria é criar uma rede educacional que envolva famílias e docentes, todos comprometidos com o crescimento humano e cultural destes jovens em situação de risco. E aos poucos se colhem os frutos. Aïcha atrapalha a turma, mas é suficiente explicar a ela, com calma e firmeza, que “para viver em harmonia cada um deve fazer a sua parte”, e ela escreve numa folha de papel: “Sinto muito pelo meu comportamento na sexta-feira, não era digno de mim. Não acontecerá mais. A senhora é uma grande pessoa, inteligente e sábia, que transmite para nós, alunos, os valores justos e a vontade de conseguir. Jamais a esquecerei”. Também o cuidado e o respeito por Yanis, em geral muito passivo, permitem que ele se abra e manifeste o seu interesse pela arte e a história. A chave para as relações, em todos os casos, é a atenção, o cuidado, a promoção da pessoa, cada um com sua história e sua sensibilidade. “Aprendi a não esperar resultados imediatos – conclui Maria -. Mesmo quando um jovem não muda, o importante é continuar a acreditar nele, e acompanhá-lo, não parar naquilo que não vai bem, mas tirar todo o positivo que existe nele, valorizando-o e gratificando-o. O desafio de cada dia é encontrar a coragem e a força de cultivar a esperança com atos concretos de interação”.

Loppiano espera pelo Papa Francisco

Loppiano espera pelo Papa Francisco

Como foi recebida, em Loppiano, a notícia da visita do Papa? “Um segundo depois que a presidente, Maria Voce, tinha divulgado a notícia, nas nossas redes sociais e entre os grupos dos moradores houve uma chuva de postagens de alegria e surpresa”. Para o senhor, enquanto habitante de Loppiano, o que representa este evento? “Já o Papa João Paulo II, em 2000, devia vir aqui. Quatro dias antes, por uma mudança de programa imprevista, a visita foi cancelada. Tinha ficado em todos nós, moradores daquele tempo, o desejo de uma visita do Papa, e o mesmo desejo existe nos habitantes de hoje. Para quem não conhece Loppiano, o que caracteriza este lugar: “É um dos lugares onde pode-se experimentar, de forma mais concreta, o carisma da unidade que Chiara Lubich recebeu de Deus e sobre o qual nasceu e se desenvolveu o Movimento dos Focolares: a unidade, à qual se chega construindo relações de fraternidade, vivendo o testamento de Jesus “Que todos sejam um”. Em Loppiano moram cerca de mil pessoal de 65 nações, com culturas, religiões, formações, condições sociais diferentes. Aqui aprendem a ser, antes de mais nada, uma comunidade. O que as une é o desejo de viver a lei que fundamenta a Mariápolis: o amor mútuo. Isto faz de Loppiano um lugar de fraternidade”. Como se desenrola a vida na Mariápolis: “Há várias atividades econômicas, 11 escolas de formação, um instituto universitário, um grande santuário que receberá o Papa, muitas habitações e campos cultivados. Aqui estudamos, trabalhamos, nos socializamos, vivemos a vida normal de todas as cidades, só que procuramos fazê-lo vivendo a lei do amor recíproco”. O Papa irá a Loppiano depois de visitar Nomadelfia. Que relacionamento existe entre as duas cidades? “Há muitos pontos em comum, ainda que com histórias e carismas completamente diferentes: ambos são lugares de fraternidade, que consideram os últimos e tem como lei o Evangelho. Tivemos várias ocasiões de encontro, inclusive recentes. Por isso estamos felizes porque o Papa chegará aqui trazendo no coração o que ele irá receber em Nomadelfia. Será recebido com o mesmo amor e entusiasmo”. Aonde o Papa vai acendem-se os refletores da mídia mundial. Como explicar a opção de visitar Loppiano? “Penso que por trás deste desejo exista, antes de tudo, o amor pela dádiva do carisma da unidade, que Deus fez por meio de Chiara Lubich. Bergoglio conheceu o Movimento na Argentina, porém, mais ainda como Pontífice. Loppiano é o lugar onde este carisma tem maior visibilidade”. De que maneira vocês estão se preparando para a visita? “O que Maria Voce disse tornou-se o nosso imperativo. Nestes cem dias nos empenhamos em intensificar a vida do amor e da unidade enraizada no Evangelho, de modo que o Papa possa encontrar a realidade de “Onde dois ou mais estão reunidos no meu nome (Mt 18,20), ou seja, a presença de Jesus entre nós”. O Papa fará uma oração no Santuário Maria Theotokos, aonde existe uma capela dedicada aos cristãos de outras confissões. Que significado tem esse lugar? “Chiara quis que o Santuário estivesse justamente no centro geográfico de Loppiano, para que fosse um ponto de unidade de toda a Mariápolis. É o lugar onde nós, habitantes, nos encontramos todos os dias para rezar, mas é uma referência também para toda a vizinhança. É o símbolo da Mariápolis”. É também um modo para salientar a centralidade da figura de Maria no Movimento: “Certamente. Não por acaso foi dedicado a Maria Theotokos, Maria Mãe de Deus, para sublinhar a característica fortemente mariana do carisma e do Movimento dos Focolares. E, justamente porque Maria é Mãe de Deus e, portanto, da humanidade, o Santuário é aberto também a pessoas de outras confissões cristãs, de outras religiões e convicções, e dentro dele existem diversos locais aonde cada um pode rezar, encontrar abrigo e recolhimento”. A visita do Papa acontece no 10º aniversário da morte de Chiara Lubich. Uma coincidência? “Creio que podemos receber essa visita como um dom de Deus, como uma carícia, um sinal do Seu amor pela Obra de Maria. E esperamos para escutar o que Papa desejará nos dizer”.

Páscoa ortodoxa

Christos anesti! Alithos anesti! Христос воскресе!Christ is Risen! Indeed He is risen! Khrishti unjal! Vertet unjal! Hristos voskrese! Vo istina voskrese! Khrystos uvaskros! Sapraudy uvaskros! Le Christ est ressuscité! En verité il est ressuscité! Kriste ahzdkhah! Chezdmaridet! Christus ist erstanden! Er ist wahrhaftig erstanden! Cristo è risorto! Veramente è risorto! Cristos a inviat! Adevarat a inviat! Khristos voskrese! Voistinu voskrese! Cristos vaskres! Vaistinu vaskres!

Christ is risen from the dead, trampling down death by death, and on those in the tombs bestowing life!Христос воскресе из мертвых, смертию смерть поправ, и сущим во гробех живот даровав!

Páscoa também em Saigon

Páscoa também em Saigon

«A Páscoa já passou, hoje é a Segunda-feira de Páscoa, um dia de trabalho normal. Está muito calor e a chuva já ameaça. Somente os cristãos ainda festejam. Aqui e ali podem ser ouvidos os brindes e os “aleluias” que ecoam das casas. No entanto, estamos num país comunista. Aqui, as ruas, as saídas das igrejas, ficam incrivelmente cheias de motos, congestionando o trânsito. Na frente da catedral os policiais devem organizar o trânsito. Para assistir a uma das funções do Tríduo Pascal é preciso chegar ao menos 30 minutos antes, para pegar um lugar. Dentro da igreja deixo a minha bolsa no banco, e ninguém a toca. Olho às pessoas, muitas crianças, jovens, casais também idosos, com semblantes recolhidos e sorridentes. Penso na Europa, nas igrejas quase vazias até mesmo nos dias de festa. Por esses lados, mesmo às cinco da manhã de um dia qualquer, até crianças pequenas, junto com os adultos, estão cantando nas primeiras filas. Aqui todos sabem de cor as orações e os cantos. Em Saigon pulula uma vida desregrada, quase selvagem, em cada ângulo. E mesmo assim há muita fé, talvez como em nenhuma outra cidade da Ásia. Porque aqui a fé “custa”. Tudo custa no Vietnam. Tempos atrás fiz uma viagem de ônibus, cinco horas no meio da multidão, no calor. Num certo local, algumas sacas de trigo foram carregadas entre os viajantes, embaixo de seus pés, no bagageiro. As pessoas começaram a gritar enquanto o motorista e seu ajudante, por sua vez, gritavam para que se calassem. Uma senhora ao meu lado, envergonhada por me ver naquela confusão, disse-me: “A vida aqui é dura. Não esqueça disso se quer viver aqui”. Não sei o nome daquela mulher e talvez nunca mais a veja. Mas aquelas palavras abriram uma dimensão nova dentro de mim. A vida, a vida deles como a minha, deve passar pelo sofrimento, o cansaço, a dor, para desembocar na alegria. Eu a entendi assim. A partir daquele dia tudo em mim foi simplificado. Como todos experimento alegrias, mas também sofrimentos e cansaço. Sou um deles. Nem mesmo enquanto estrangeiro eu sou especial. Sou um entre tantos. A história daquele Homem pregado na cruz, semelhante a de tantos homens que encontro cada dia, recordou-me a palavras daquela mulher. Posso encontrá-la em quem é pobre e não tem nada, em quem tem um tumor e não dinheiro para se tratar, com os ossos que saem da pele. Ou na história da Dona Giau, 64 anos, pobre, mas que “adotou” uma menina down, literalmente jogada fora pelos pais. E é Páscoa. Também em meio aos refugiados Rohingya, entre Mianmar e Bangladesh. É Páscoa na Coreia do Norte, que quer a paz depois de ter disparado mísseis. É Páscoa entre as tropas aliadas que estão preparando mais um exercício de guerra. É Páscoa para as crianças de Xang Cut, na região do delta do rio Mekong, com a água ainda infectada pelo agente químico Orange, descarregado ali pelos aliados, 40 anos atrás. E é Páscoa também para as crianças de Saigon, pegas nas ruas e instruídas pelas professoras do Pho Cap. Terão algo para comer, graças ao seu amor heroico. Aqui, também em meio aos tantos desafios, aos perigos, ao excesso de poluição e à opressão, alguém continuará a sorrir porque é amado e cuidado por uma mão amiga. Isto é Páscoa: assumir o cuidado com o outro, sanar suas dores, compartilhar o seu pranto. O mundo, o outro, me pertence. E a minha felicidade passa pela felicidade dos outros, de muitos outros».