Movimento dos Focolares
A “Porta do não retorno”

A “Porta do não retorno”

Gana, Togo e Benin são paralelos entre si, os três na vertical voltados ao Golfo da Guiné. Célebres pela variedade e riqueza de suas paisagens, estes três países da África ocidental conservam antigas tradições culturais e traços de história, por exemplo nas construções da época colonial, em Gana, testemunho do comércio dos escravos, ou nos assentamentos de barro e nos bazares do Togo, ou ainda nos palácios reais de Abomey, hoje museu de história, no Benin. Na Mariápolis organizada no Benin, para este grande território «as pessoas vindas do Benin e do Togo chegaram na maioria vestidas com o mesmo tecido, como aqui é de costume nas festas, mas, desta vez, todas de branco», escrevem Bernadette, Mariluz e Flora. Grande alegria receber o arcebispo de Cotonou, D. Roger Houngbédji, pela primeira vez em um encontro dos Focolares. Os participantes eram 120, entre os quais numerosos adolescentes e crianças, todos inseridos em oficinas voltadas à prática do ideal da unidade na vida diária, como estímulo para melhorar a própria vida e incidir no social: economia, relacionamento entre pais e filhos, educação, afetividade e sexualidade, gestão do stress. «As crianças brincaram “de cidade”, assumindo vários papeis, no hospital ou no mercado, na academia ou no restaurante. Os jovens também expuseram, com sinceridade, os próprios desafios. A manhã destinada, com a autorização do prefeito, à limpeza do mercado público, muito sujo com os sacos plásticos jogados no chão, deixou um sinal de beleza e harmonia». Da cidade de Ouidah os escravos partiam para o “novo mundo”. Depois de terem sido vendidos e comprados pelos brancos, atravessavam o oceano acorrentados nos porões dos navios. A última etapa em sua terra natal era a passagem pela “porta do não retorno”, além da qual não eram mais considerados homens, mas mercadoria. «Sobre as suas pegadas, nós também percorremos, em oração, e mesma “via crucis”. Na “porta” pedimos que não exista mais nenhum tipo de escravidão, agradecendo a Deus pela vida dos missionários que, em seguida, trouxeram à África a mensagem cristã». Mais em direção ao oeste, no Senegal, Ngazobil, a 110 quilômetros da capital Dakar, recebeu a Mariápolis com 94 participantes do Senegal, Mali e Burkina Faso, países localizados na margem sul do deserto do Sahel e tocados por ameaças cada vez mais graves à segurança de seus habitantes. «Chegar não foi fácil. Dois dias de ônibus para quem vinha de Mali, e três de Burkina Faso, muito cansativo para as crianças, às vezes muito pequenas, e para os idosos, alguns usando bengalas». Uma viagem incômoda e em condições difíceis, à custa de participar de uma Mariápolis definida “oásis”, “cidade da paz”, demonstrando “a grande sede e busca de Deus que existe no nosso povo”». Escreve Aurora: «Uma linda experiência de comunhão apesar dos desafios logísticos, com a presença do bispo emérito, D. Jean Noel Diouf. Nana, um jovem muçulmano de Burkina Faso, comentou no final: “Sendo o único muçulmano, estes quatro dias reforçaram a minha fé e fizeram-me ver a beleza da religião do outro”. E a Sra. Diouf Monique, do Senegal: “Entendi como comportar-me com as pessoas de outras Igrejas e com os muçulmanos”». Também no centro-sul do continente, em Zâmbia, definido por muitos como “a verdadeira joia da África” pela sua paisagem rica de maravilhas naturais ainda intactas, como as célebres Cascatas Vitória, realizou-se uma Mariápolis. «O tema escolhido, “Maria, mãe da unidade”, não poderia ser mais adequado, vista a grande divisão existente neste momento na nossa sociedade. Entendemos melhor que é Ela, a Mãe por excelência, o nosso modelo». Entre os participantes, pessoas de todas as categorias: «Um momento de reflexão e mudança (Jane). Aprendi o que significa amar, cuidar dos outros, perdoar (Chanda Chiara). Encontrei irmãos e irmãs do meu país (Celestino)».

Gen Verde na JMJ do Panamá

Gen Verde na JMJ do Panamá

Entre as mais de 400 propostas, a banda internacional Gen Verde foi uma das escolhidas para participar do Festival que acontecerá no Panamá, em janeiro de 2019, durante a Jornada Mundial da Juventude. «É uma honra para nós – comentou a porta-voz do grupo – mas estamos felizes principalmente por estar presentes num momento tão importante, numa “terra ponte”, onde o coração da Igreja e o dos jovens batem juntos. A América Latina está amplamente representada no “planeta Gen Verde” e não queríamos faltar neste encontro marcado». Além de apresentar o espetáculo “Start Now” no Festival, que acontecerá antes e durante a JMJ com eventos, shows e exposições em todo o país, de 22 a 27 de janeiro, a banda dará as boas-vindas aos peregrinos da diocese de Chitré, capital da província de Herrera, no Golfo do Panamá, e participará do festival local de Colón, capital da homônima província, no norte do país, na entrada do Canal do Panamá.

Uma flor no bairro Vescovado

Uma flor no bairro Vescovado

«Olhar ao redor, ver o que há de positivo e divulgá-lo, graças ao amor mútuo e para com todos, especialmente com as periferias, indo ao encontro dos mais pobres. Era este o desejo da comunidade dos Focolares nesta cidade. E nós vimos e escutamos muitos pobres. No primeiro dia nos esperavam cinquenta crianças, reunidas pelo pároco, frei Michele Floriano, na paróquia de São José. Um alegre “assédio”, que abraçamos abandonando-nos com confiança aos planos de Deus». Nocera Inferiore é uma cidade antiquíssima, que na década de 1970 foi ferida pela criminalidade e por um desenvolvimento habitacional descontrolado. Em 1980, um violento terremoto atingiu toda a província, destruindo vilas inteiras e causando, também aqui, vítimas e desabamentos. Há quase 40 anos famílias inteiras do bairro Vescovado moram em casas pré-fabricadas e insalubres, esperando ainda por uma moradia digna, prometida e sempre adiada. Durante três dias, de 21 a 23 de junho passado, o acampamento “Homem Mundo” (como outros semelhantes realizados em muitos países deve o seu nome ao trabalho de quem sonha com um mundo mais justo e unido); para os voluntários que entraram no jogo, jovens e adultos, foi uma verdadeira experiência de “Igreja em saída”, segundo o convite do Papa Francisco. Muitas eram também as pessoas atrás dos bastidores, na verdade em suas próprias casas, preparando almoços e jantares. «O bairro Calenda, vizinho a Vescovado e parte da mesma paróquia – escrevem Felice a Romilda, da cidade limítrofe de Angri – mobilizou o próprio “Círculo de amigos”. Além disso, várias associações atuaram no Acampamento, dando a própria contribuição. “Homem Mundo” foi fruto de uma rede, e o resultado foi um evento que superou todos. Por aqui a marginalidade ameaça fazer com que se esqueça a própria identidade. Nós entendemos isso quando perguntamos a uma menina: “Onde você mora?”, e a resposta foi “Lote 3”». “Bairro Vescovado, pior que Scampia”, está escrito em caracteres enormes no muro atrás de um pré-fabricado pesado. Uma competição de rebaixamento com referência ao bairro de Nápoles, tristemente conhecido pela delinquência e o tráfico de drogas. Diante do prédio há um amplo espaço aberto, onde foram organizados os jogos para as crianças. «As mães, e às vezes as avós e alguma bisavó, desciam para vigiar e conversavam conosco, “aliviando-se” das próprias angústias». «De manhã, após um momento de oração e meditação, depois de lançar o “Dado do amor, as crianças tinham à disposição a área ao lado da paróquia. Os jovens, conduzidos por especialistas, trabalhavam em laboratórios artísticos, musicais, em atividades ecológicas e visitas ao departamento pediátrico de um hospital próximo. Em várias ocasiões percebemos a intervenção pontual de Deus que nos sustentava, fazendo chegar, no momento certo, as pessoas que podiam nos ajudar. Um exemplo. No terceiro dia, estávamos em dificuldade para organizar os jogos quando chegou um telefonema: era uma pessoa especializada em lazer para crianças que se colocava à disposição imediatamente. Todos contribuíram, também os adolescentes que se ocuparam das crianças menores, limparam o bairro do mato e plantaram flores, para deixar um toque de beleza e de amor num ambiente degradado. Tocante para os jovens foi o testemunho de Roberto, 49 anos, saído de uma longa e dolorosa internação no hospital, vivida como experiência de “dor transformada em amor”». “Homem Mundo” terminou no bairro Calenda, onde o Círculo preparou para todos um jantar ao aberto, marcado pela fraternidade e a amizade, com a apresentação final dos participantes do laboratório de música.

Todos na escola?

No hemisfério onde o verão está deixando o passo para o outono, de repente muitas cidades mudaram de ritmo, tendo que, em parte, se uniformar aos tempos de início e final das aulas, causa de tráfego matutino, engarrafamentos, ou da formação de grupinhos de pessoas na saída das escolas. Mas se voltar a entrar na sala de aula com uma mochila nas costas, encontrar os professores, os colegas, uma carteira e uma cadeira são coisas descontadas para muitíssimas crianças e adolescentes, em outras partes do mundo, atingidas por dolorosas situações de guerra ou pobreza, ir à escola, manter-se nos estudos ou fazer as lições de casa é empresa árdua. Destes problemas se ocupa, desde 1986, a AMU, Ação por um Mundo Unido – Onlus, Organização Não Governamental de Desenvolvimento que, se inspirando na espiritualidade de Chiara Lubich, trabalha pra difundir uma cultura do diálogo e da unidade entre os povos através de projetos de desenvolvimento em diversas partes do mundo. Assim na Síria, por exemplo. Hoje, terminados os choques armados mais duros, mas não a emergência, o país se encontra fazendo as contas com a destruição de muitas infraestruturas e edifícios escolares, a migração de capitais para o exterior, o embargo econômico. Em Homs, a mudança de muitíssimas pessoas de alguns bairros bombardeados para outros considerados “seguros” e a diminuição do número de professores, emigrados para o exterior, levou a uma superlotação das escolas e, portanto, à falta de um acompanhamento adequado para cada estudante. Por outro lado, os custos para frequentar uma escola privada se tornou para a maioria um ônus insustentável. O empenho da AMU é o de oferecer um maior cuidado e atenção pelas crianças desalojadas, acompanhando-as com um apoio educativo e escolar. Em Damasco, ao invés, no antigo bairro de Tabbale, o apoio é dirigido ao centro “Bayt al Atfal” que acolhe, durante quatro dias por semana, 120 crianças entre os 6 e os 10 anos. Alguns deles vivem com a família num único recinto e não têm um lugar onde estudar, outros têm dificuldades de aprendizagem ou síndromes como a dislexia, ou simplesmente não podem contar com a ajuda de ninguém para o estudo, pela ausência ou o analfabetismo dos pais. Em Aleppo, AMU apoia um centro para crianças surdas, que no país não são admitidas nas escolas públicas ou privadas. A Escola “EHIS” acolhe hoje 75 crianças e oferece trabalho a 30 pessoas, entre professores, assistentes e operários. Sempre em Aleppo, o projeto de aprendizagem “Aprende e produz”, organizado pelo Centro Artesanato Sírio e apoiado pela AMU, leva adiante um curso de formação, dirigido a 20 adolescentes, que aprendem a trabalhar e vender produtos de artesanato local, como o sabão à base de louro, objetos em cobre e bordados. No Egito, no Cairo, a dispersão escolar e o acesso para as mulheres a percursos educativos e profissionais, para conseguir desenvolver as próprias capacidades profissionais. São temas “quentes”. “Change For Tomorrow” da Fundação Koz Kazah, na comunidade de Shubra, um dos bairros mais populosos da grande capital no Nilo, sustenta um grupo de mulheres que dão início a atividades como o processamento do vime, a cozinha, a imprensa ecológica. Na Itália, AMU propõe a professores e educadores um percurso formativo com o título “Living peace: a paz como projeto de escola”. Às escolas e a grupos de adolescentes, ao invés, é dedicado “Basta se conhecer”. É possível apoiar os projetos AMU de educação e assistência ao estudo. Deste modo, para muito mais crianças e adolescentes, setembro poderá se tornar tempo de volta às aulas. Organizado por Chiara Favotti

Francisco nos Países Bálticos

Francisco nos Países Bálticos

A viagem apostólica na Lituânia, Letónia e Estónia, de 22 a 25 de setembro, por ocasião do centenário da primeira declaração de independência da Ex-União Soviética dos três Países Bálticos, será a próxima etapa internacional do Papa Francisco. Entre os acontecimentos mais significativos estão: a oração no Museu da Ocupação e dos Direitos de Liberdade, conhecido como o Museu das Vítimas do Genocídio, em Vilnius (Lituânia), o encontro ecuménico em Riga (Letónia) e a visita aos beneficiários das Obras de Caridade em Tallin (Estónia). Especialmente simbólica é a etapa no Museu do Genocídio, assim chamado por ter sido utilizado pelo comando da polícia secreta da União Soviética, desde 1944 – ano em que a Lituânia ficou de novo sob o controlo da URSS – até 1991, quando reconquistou a independência. Para além de ser a residência dos funcionários do Comitê da Segurança do Estado, o edifício era usado para os interorgatórios e como prisão dos opositores políticos do regime comunista. Mas a história de horror deste edifício começa antes, em 1941, quando os nazis invadiram a Lituânia e o edifício foi transformado em quartel-general da Gestapo. Em três anos, entre 1941 e 1944, só em Vilnius foram assassinadas cerca de 100 mil pessoas, na sua maioria hebreus, isto é, um terço dos habitamtes da cidade. Precisamente para recordar estes horrores da ocupação, o Governo quis converter o edifício num lugar dedicado à memória. Nas várias etapas da sua viagem, o Papa prestará homenagem à história dolorosa dum povo que, apesar das perseguições, permaneceu profundamente ancorado nas suas raízes cristãs.

Focolares “ambulantes”

Focolares “ambulantes”

Focolares ambulantes pelo mundo” os definiu Chiara Lubich. São formados por jovens, adultos, ou famílias, religiosos, adolescentes. Um projeto que se repete, graças às experiências positivas e aos frutos que esta original modalidade de encontro e intercâmbio está dando em várias partes do mundo. Uma destas se realizou em Maputo, a capital e maior cidade de Moçambique, e também o principal porto na baía de Delagoa, que se abre sobre o Oceano Índico. Na cidade sul-africana, cheia de mercados superlotados e coloridos, muito animada sobretudo nas horas noturnas, com uma estação ferroviária projetada por Gustave Eiffel, de 1º a 30 de agosto se “estabeleceu” o focolare “temporário” composto por Antonietta, Giovanni e Perga (de Loppiano), Padre Rogélio (religioso de Maputo), pe. Stefan (da Suíça) e Fátima (do focolare de Johannesburg). «Na chegada em Maputo imediatamente estreitamos entre nós um pacto de unidade. Nos vários encontros que tivemos nos dias sucessivos com as pessoas do lugar, jovens, famílias reunidas nas casas junto com os seus colegas de trabalho e amigos, religiosos e religiosas, vimos que a luz do carisma de Chiara Lubich entrava nos corações deles, fascinados pelo Evangelho que se torna vida. Outros belos momentos de família foram aqueles com o arcebispo D. Francisco Chimoio, que nos recomendou “não perder a nossa alegria e a levar ao mundo”, e com o Núncio Edgar Peña, que salientou a importância do “semear”». Um “tour”, certamente não turístico, no Zimbabwe, por duas semanas no mês de agosto, foi a experiência vivida por três focolarinas. «Uma experiência – escreve Cielito de Portugal – que aconselharia a muitos, porque abre o coração, a mente e a alma às necessidades da humanidade. Duas semanas que me pareceram meses, tamanha foi a intensidade de cada dia». Após uma breve volta por Johannesburg, «primeira abordagem à pobreza deste continente, mas ainda bem diferente daquela que tivemos depois», o pequeno grupo se transferiu para Bulawayo, hóspedes de uma senhora num bairro da periferia, compartilhando em tudo as suas condições de vida e a pobreza. «O Zimbabwe – explica – é um país de maioria cristã e a vida das pessoas gira ao redor da vida das paróquias, com um forte sentido de pertença. Os nossos amigos do Movimento tinham preparado para nós, como programa, um “tour” pelas várias paróquias da cidade. São mais de mil as pessoas que encontramos naqueles dias, muitas das quais crianças e jovens, aos quais nos apresentamos contando as nossas experiências baseadas no Evangelho. Partíamos todas as manhãs nos confiando a Maria, sem saber quem encontraríamos. Colocávamos o que nos podia ser útil nas mochilas e… vamos lá!, confiando unicamente no Espírito Santo. Deixando para Deus a “direção” do dia, assistíamos com espanto aquilo que Ele realizava. Encontramos generosidade, prontidão e empenho, embora na pobreza dos meios, e isto foi para nós um grande testemunho». «Na segunda semana – conclui – nos transferimos para o interior do país, numa missão (um colégio fundado pelos jesuítas 130 anos atrás), e de lá, durante dois dias numa remota aldeia rural, para visitar um grupo de pessoas que a anos vive a Palavra de Vida. Gente paupérrima, mas capaz de uma acolhida refinada. A sua generosidade, a sua fé simples e profunda e a pureza do coração deles nos conquistaram. Neste lugar remoto, no meio do nada, vimos com os nossos olhos que o carisma da unidade é realmente universal».