A sede de Pedrinhas (SP, Brasil) da Fazenda da Esperança acolhe jovens e adultos que enfrentam vários estágios de recuperação do vício das drogas e de outras formas de dependência e problemas sociais. Não poderia haver um lugar melhor para sediar a conferência da UNIRedes, plataforma de ONGs, projetos sociais, humanitários e agências culturais da América Latina que se inspiram na espiritualidade da unidade de Chiara Lubich. Estavam presentes 140 pessoas de 37 das 74 organizações parceiras da UNIRedes, atuantes em 12 países da América Latina e do Caribe.
O objetivo desse congresso era apresentar o trabalho desses anos a Margaret Karram e Jesús Morán, presentes no encontro, definir os próximos passos em comum com todas as organizações parceiras e fortalecer o vínculo com o Movimento dos Focolares, para poder compartilhar a experiência adquirida, inclusive fora do continente latino-americano.
UNIRedes: uma rede de redes
Maria Celeste Mancuso, argentina, corresponsável internacional do Movimento Nova Humanidade, explicou que a UNIRedes não é unicamente um projeto solidário: “É também um espaço que gera uma reflexão cultural que leva a identificar as categorias antropológicas e epistemológicas necessárias para suscitar uma nova cultura do cuidado para com a pessoa e as sociedades latino-americanas”. Por esse motivo, também fazem parte plenamente as agências culturais inspiradas no Carisma da Unidade, como o Instituto Universitário Sophia (Loppiano, Itália), sua filial local, Sophia América Latina e Caribe (ALC) e o Centro Universitário ASCES UNITA de Caruaru (PE).
Virginia Osorio, do Uruguai, uma das iniciadoras do projeto, falou sobre as origens: “As contínuas mudanças políticas e econômicas em nossos países tornaram nossas organizações cada vez mais frágeis e isoladas. Com a UNIRedes, encontramos um lugar onde podemos nos fortalecer reciprocamente e compartilhar sofrimentos e esperanças. Nosso último projeto foi para o Genfest: centenas de jovens fizeram voluntariado em muitas das nossas organizações, vivendo na própria pele experiências de fraternidade e proximidade com os mais pobres”.
A raiz comum: “morrer pela própria gente”
A primeira raiz da UNIRedes não se baseia em análise geopolítica ou econômica. É preciso voltar ao início dos anos 1970, quando os Gen, os jovens dos Focolares, como inúmeros de seus coetâneos em diversos países, queriam mudar o mundo e suscitar igualdade, justiça, dignidade.
Chiara Lubich, que se encontrava com eles frequentemente, tinha apoiado e confirmado a necessidade de fazer uma revolução social pacífica, especialmente na América Latina, continente que para ela se identificava com essa vocação especial. Ela dizia aos jovens do Movimento dos Focolares: “Cada um de vocês deve sentir isso: nós devemos, sim, morrer pela humanidade, mas é necessário encontrar o nosso Jesus Abandonado local para morrer pela própria gente”[1].
“Então, muitos começaram a atuar na periferia das cidades, nas favelas, onde a pobreza tirava a dignidade das pessoas” – disse Gilvan David, brasileiro, do grupo latino-americana de articulação da UNIRedes. “Nasceram as primeiras ONGs e, enquanto isso, tentamos nos estruturar, mas não foi o suficiente. ‘Vocês vêm até nós’ – os pobres nos diziam –, ‘mas depois vão embora e nos deixam sozinhos’. Para responder a esse apelo, começamos a trabalhar em rede com as políticas públicas locais e, no mesmo período, vários sacerdotes que vivem a espiritualidade da unidade também fundaram projetos sociais: frei Hans com a Fazenda da Esperança, padre Renato Chiera com a Casa do Menor e outros.”
Uma “única” América Latina
“Depois, nasceram os primeiros grupos de organizações”, continuou Gilvan David. “ ‘Sumá Fraternidad’, que reunia os projetos de alguns países de língua espanhola; a associação civil ‘Promoção integral da pessoa’ (PIP), no México, enquanto as organizações sociais brasileiras continuavam a crescer, encontrando a própria identidade e espaço de atuação. Não foram anos fáceis, mas iniciamos várias trajetórias em diversos territórios da América Latina, a fim de sustentar os engajamentos sociais, que depois confluíram na UNIRedes. Nós nos reunimos várias vezes, mas o encontro de fundação foi em 2014, com a presença também de Emmaus Maria Voce e Giancarlo Faletti, então presidente e copresidente do Movimento dos Focolares. Emmaus, naquela ocasião, disse: ‘Vocês dão ao Movimento uma nova visibilidade, um novo significado para a sua ação; vocês são um testemunho para aqueles que os olham de fora; vocês dão visibilidade completa ao Carisma mediante ações concretas’. Eu diria que foi então que nos identificamos como uma realidade única para toda a América Latina: nós nos sentimos abraçados pelo Carisma da Unidade.”
Foram muitas e substanciais as contribuições que edificaram esse congresso, com a apresentação das várias organizações parceiras.
Juan Esteban Belderrain: da desigualdade à esperança
O cientista político argentino Juan Esteban Balderrain analisou o flagelo da desigualdade, do qual a América Latina detém o recorde mundial. “Trata-se de construir uma visão deste continente que parta da esperança. E isso é possível porque, se olharmos para a raiz mais profunda do problema da desigualdade, deparamos com a perda de referência em relação a Deus que é amor e que… os ajuda a compreender que somos irmãos e irmãs, uns dos outros e da natureza, a qual também é uma expressão do Amor de Deus. Referindo-se ao século 20, Paulo VI disse que aquele era um tempo abençoado, porque exigia de todos a santidade. Creio que essas palavras também se aplicam ao nosso tempo.”
Padre Vilson Groh: a “mística dos olhos abertos”
Há mais de 40 anos, padre Vilson mora no “morro”, uma favela em Florianópolis (Santa Catarina, Brasil), e realiza projetos sociais voltados especialmente para os jovens. Ele falou sobre a “mística dos olhos abertos”: “Devemos levar as nossas organizações para os subterrâneos escuros de nossas periferias; ser ali um sinal de esperança. O Genfest trouxe a perspectiva do ‘juntos’, que o papa Francisco promove. Isso requer uma caminhada paciente e resiliente; exige que sejamos firmes na busca do bem comum. A unidade é superior ao conflito, como o Papa sempre diz; e a unidade é pluralidade; trazemos a diversidade para as nossas organizações. O Carisma da Unidade é uma porta para que Cristo chagado abra espaços”.
Vera Araujo: América Latina construtora de fraternidade
A fala da socióloga brasileira se concentrou em uma visão positiva, que sabe reconhecer o patrimônio cultural e humano latino-americano e o oferece como um presente ao mundo.
“A UNIRedes tem suas origens no carisma de Chiara Lubich e pode se transformar em uma oportunidade incrível também para o mundo todo: a unidade vista não apenas como um valor religioso, mas também como uma força capaz de compor com eficácia a família humana, criando uma interação entre a multiplicidade das pessoas e preservando as distinções no contexto das realidades sociais. Aqui o Carisma da Unidade oferece uma solução que não é fácil, um sentido, um significado, uma Pessoa: Cristo abandonado na cruz.
“Para amar bem, como se deve”, diz Chiara, “não devemos ver nas dificuldades e nas injustiças do mundo apenas males sociais a serem remediados, mas descobrir neles o rosto de Cristo que não desdenha de se rebaixar diante da esconder na miséria humana[2].”
Susana Nuin Núñez: o caminho dos povos e dos movimentos sociais
A socióloga uruguaia descreveu o caminho e a riqueza social, política, econômica dos povos do continente e de alguns movimentos sociais. “Essas redes, com suas mais variadas fisionomias, com seus desdobramentos nas práticas sociais ou no ambiente acadêmico, atuam de forma complementar, gerando um tecido sociocultural indiscutível, com um caráter comunitário multifacetado, do qual a América Latina é portadora.” Ela enfatiza ainda a peculiaridade da UNIRedes enquanto sujeito social que, há mais de dez anos, cuida, revoluciona, transforma e influencia a partir do Evangelho e da palavra da unidade.
Margaret Karram e Jesús Morán: UNIRedes faz parte do Movimento dos Focolares
“Aqueles que querem viver o Evangelho nesta região estão sempre em crise porque veem desigualdades constantemente”, ressaltou Jesús. “A unidade não pode deixar de assumir essa realidade. Como alcançar a unidade neste continente, sem levar em conta aqueles que são descartados pela sociedade? O que vocês fazem como UNIRedes deve impregnar todo o Movimento nesta região. O trabalho de vocês não terá credibilidade se não se concretizar também por meio de obras sociais. Claro, não seremos nós que resolveremos os problemas sociais. A única coisa que podemos fazer é levar as pessoas a se converterem ao amor. Se tocarmos os corações, alguém assimilará o espírito e, na liberdade, entenderá como viver o Evangelho.”
Margaret incentivou a UNIRedes a ir adiante : “Agora precisamos descobrir como fazer para que a vida e exemplo de vocês chegue a todos, no mundo inteiro”. Citando um tema de Chiara Lubich em 1956, ela reiterou que o Movimento, em seu compromisso social, não deve esquecer que a chave para a solução dos problemas que o Carisma da Unidade oferece está na novidade da reciprocidade, e não na justiça. Promover a partilha, a comunhão entre todos daquele pouco ou muito que temos, a fim de criar um Bem Comum maior que, além de resolver os problemas sociais, produz aquela realização humana e espiritual que só acontece na comunhão entre todos. Por fim, Margaret lançou uma proposta: “Acrescentem um novo artigo à Carta dos princípios e dos compromissos: um pacto solene de fraternidade, a ser proposto àqueles que querem fazer parte da UNIRedes. Estamos aqui para testemunhar o amor mútuo; e só se tivermos esse amor, o mundo acreditará”.
“A UNIRedes nos fala de esperança”, concluiu M. Celeste Mancuso. “É uma proposta transversal e sinodal de uma rede organizativa que pode inspirar modelos semelhantes para as periferias existenciais de outras partes do nosso vasto mundo. Dessa forma, será possível pensar em construir redes globais de fraternidade que promovam o bem comum.”
Stefania Tanesini
[1] Chiara Lubich na “Escola Gen”, Rocca di Papa (Roma, Itália), 15 de maio de 1977.
[2] Chiara Lubich, Por uma civilização da unidade. Discurso proferido no Congresso “Uma cultura de paz para a unidade dos povos”, Castel Gandolfo (Roma), 11-12 de junho de 1988.
Nesta encruzilhada de países, onde confluem os rios Iguaçu e Paraná, fica a fronteira mais transitada da América Latina. A área é caracterizada por uma grande diversidade cultural e pela presença secular de povos indígenas, como o grande povo Guarani. O turismo é o maior recurso econômico desta grande região, à qual as pessoas vêm para visitar as Cataratas do Iguaçu, que são as mais extensas do mundo, com uma largura de 7.65 km, e são consideradas uma das sete maravilhas naturais do planeta.
Na sua mensagem de boas-vindas, Tamara Cardoso André, presidente do Centro para os Direitos Humanos e a memória popular de Foz do Iguaçu (CDHMP-FI), explicou que neste lugar desejam dar um significado diferente às fronteiras nacionais: “Queremos que a nossa tríplice fronteira se torne cada vez mais um local de integração, uma terra que todos considerem sua, conforme o entendimento dos povos originais que não conhecem barreiras”.
Foz do Iguaçu, a última etapa
Aqui termina a viagem pelo Brasil de Margaret Karram e Jesús Morán, presidente e copresidente do Movimento dos Focolares. Eles percorreram o país de Norte a Sul: visitaram a Amazônia brasileira, passaram por Fortaleza, Aparecida, pela Mariápolis Ginetta em Vargem Grande Paulista, pela Fazenda da Esperança em Pedrinhas e Guaratinguetá (SP), até Foz do Iguaçu. Neste local, a família “ampliada” da comunidade trinacional dos Focolares celebra a sua jovem história e narra a contribuição à unidade que este lugar pode oferecer. O abraço de três povos que a espiritualidade da unidade reúne em um só, transcende as fronteiras nacionais, embora cada um mantenha a própria identidade cultural específica. Na ocasião, também estiveram presentes o card. Adalberto Martinez, arcebispo de Assunção (Paraguai), o bispo local dom Sérgio de Deus Borges, dom Mario Spaki, bispo de Paranavaí, e dom Anuar Battisti, bispo emérito de Maringá. Também esteve presente um grupo da comunidade islâmica de Foz do Iguaçu, com a qual há muito tempo existe uma relação de amizade fraterna.
Povos com raízes em comum
Arami Ojeda Aveiro, uma estudante de Mediação Cultural na Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), ilustra a trajetória histórica desses povos e as graves feridas que se acumularam ao longo dos séculos. O conflito entre Paraguai, de um lado, e Argentina, Brasil e Uruguai, de outro (1864-1870), foi um dos mais sangrentos da América do Sul em termos de vidas humanas, com consequências sociais e políticas para toda a região. Por outro lado, há também muitos fatores culturais em comum, como a música, a gastronomia, as tradições populares derivadas da mesma raiz cultural indígena, como o mate guarani, uma bebida típica dos três povos.
A cultura guarani é uma das mais ricas e representativas da América do Sul; é um testemunho vivo da resiliência e da versatilidade de um povo que conseguiu preservar sua identidade ao longo dos séculos com uma cosmogonia única, em que a conexão com a natureza e o respeito às tradições são fundamentais e podem ser uma grande riqueza para toda a humanidade.
Arami Ojeda Aveiro conclui assim: “Por isso, a região da tríplice fronteira não representa somente um limite geográfico, mas um espaço multicultural e de cooperação que fortalece toda esta região”.
A comunidade “trinacional” do Movimento dos Focolares
De todas as comunidades do Movimento dos Focolares no mundo, esta tem um caráter único: “Seria impossível sentir que somos uma família se olhássemos apenas para as nossas histórias nacionais”, diz uma jovem argentina. Mônica, do Paraguai, uma das pioneiras da comunidade com Fátima Langbeck, do Brasil, conta que tudo começou com uma oração diária: “‘Senhor, abre-nos o caminho para que possamos estabelecer uma presença mais sólida do focolare e para que o teu carisma de unidade floresça entre nós’. Desde 2013, somos uma única comunidade e queremos escrever outra história para esta terra, que testemunhe que a fraternidade é mais forte do que os preconceitos e as feridas seculares. Estamos unidos pela palavra da unidade de Chiara Lubich, quando ela disse que a verdadeira socialidade supera a integração, porque é o amor mútuo em ação, como foi anunciado no Evangelho. As nossas peculiaridades e diferenças nos tornam mais atentos uns aos outros, e as feridas das nossas histórias nacionais nos ensinaram a nos perdoarmos”.
As apresentações artísticas demonstram a vitalidade e a atualidade das raízes culturais dos povos que moram nesta região: as canções da comunidade argentina que chegou do litoral; o “El Sapukai”, dança paraguaia muito ritmada, que é dançada com até três garrafas na cabeça; a representação do povo Guarani, que entoa uma canção no próprio idioma, louvando a “grande mãe”, a floresta, que deve ser protegida, que produz bons frutos e dá vida a todas as criaturas.
Padre Valdir Antônio Riboldi, sacerdote da diocese de Foz do Iguaçu, que conheceu o Movimento dos Focolares em 1976, continua a narrar a história por escrito: “Os focolares de Curitiba, no Brasil, e de Assunção, no Paraguai, começaram a promover eventos envolvendo pessoas dos três países vizinhos, uma experiência que chamamos de ‘Focolare Trinacional’. A vida eclesial aqui também está caminhando na direção da comunhão, promovendo iniciativas conjuntas entre as diversas dioceses”.
É evidente que a vida desta região e da comunidade local do Movimento dos Focolares não expressa somente a América Latina, mas o mundo inteiro. E manifesta que é possível caminhar juntos, mesmo sendo diferentes. É a espiritualidade da unidade que entra em contato com a essência mais profunda da identidade das pessoas e dos povos, fazendo florescer a humanidade comum e a fraternidade.
As palavras de Margaret Karram e Jesús Morán
“Eu me senti abraçada não por um, mas por três povos”, disse Margaret Karram. “Durante toda a minha vida, o meu sonho era viver em um mundo sem fronteiras. Aqui, tive a impressão de ver esse meu desejo profundo realizado, e é por isso que me sinto parte de vocês. Vocês são a confirmação de que somente o amor remove todos os obstáculos e elimina as fronteiras.”
“Eu vivi 27 anos na América Latina”, contou Jesús Morán, “mas nunca estive nesta região. Vocês passaram por muito sofrimento: os guaranis foram despojados de suas terras e dispersos. O que vocês estão fazendo hoje é importante, mesmo que seja pequeno. Não podemos reescrever a história, mas podemos seguir em frente e curar as feridas, acolhendo o grito de Jesus Abandonado. As feridas são curadas mediante novos relacionamentos inter-regionais também com os povos originários, porque eles são, de fato, os únicos genuinamente “trinacionais”. Eles também receberam a luz de Cristo; não nos esqueçamos do trabalho de evangelização e promoção humana que os jesuítas realizaram nesta região com “las Reduciones”, entre os anos 1600 e 1700. Hoje estamos conectados a essa história, a tudo o que a Igreja faz, e sabemos que a unidade é a resposta em um mundo que precisa de uma alma e de braços para fazer uma verdadeira globalização à altura da dignidade humana”.
Na conclusão, retomando a palavra, Margaret compartilhou aquilo que vivenciou neste mês: “Esta viagem aumentou em mim a fé, a esperança e a caridade. Na Amazônia, nos confins do mundo, a ‘fé’ emergiu com muita força. Conheci pessoas que acreditam firmemente que tudo é possível, mesmo as coisas mais difíceis. Elas sonham e realizam! Gostaria de ter nem que fosse uma pitada da fé delas, como diz o Evangelho: ‘Em verdade vos digo: se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a esta montanha: transporta-te daqui para lá, e ela se transportará, e nada vos será impossível’ (Mt 17,20). De lá, levo essa fé que move montanhas e a coragem de sonhar com grandes coisas. Em seguida, a palavra do Genfest, que não pode ser outra senão ‘esperança’. Vivemos juntos essa experiência: todo o Movimento estava comprometido com os jovens e para os jovens. Foi também um evento ecumênico e inter-religioso que deu muita esperança.
E, por fim, a ‘caridade’, que vi hoje aqui entre vocês e que tocamos com as próprias mãos nas muitas organizações sociais com as quais entramos em contato este mês: a Fazenda da Esperança, os inúmeros movimentos e as novas comunidades eclesiais com as quais nos reunimos em Fortaleza, o encontro da UniRedes, que reúne todas as organizações sociais e agências culturais da América Latina inspiradas pelo Carisma da Unidade [sobre as quais escreveremos à parte]. Tudo isso expressa ‘caridade’, porque toda realidade social nasce do amor ao próximo, do desejo de dar a vida pela própria gente.
Desta fronteira, nasce uma esperança para todas as comunidades do Movimento dos Focolares no mundo, mas não só no Movimento. Em dezembro passado, sugeri o projeto “Mediterrâneo da fraternidade”, para recolher todas as ações já em andamento e aquelas que surgirão, a fim de construir a paz naquela região que sofre tanto com a guerra. Também poderia partir daqui um projeto de ‘fraternidade para a América Latina’, que possa ser estendido a todos os seus países. Vamos confiá-lo a Maria!”.
A mudança sempre assusta, especialmente quando as experiências que vivemos foram fortes e gratificantes. A mudança acontece em todas as fases da vida, nos nossos percursos de estudo e de trabalho, em todas as realidades políticas, sociais e organizacionais, em particular nas funções de responsabilidade que temos e que não queremos perder.
Gostaríamos que certas experiências nunca acabassem. Mas isso é um engano. Permanecer em “experiências verdadeiras e belas” não nos faz viver a vida, porque a própria vida é mudança e esta é a dinâmica que a torna fascinante mesmo quando é dolorosa.
Cicely Saunders, fundadora do primeiro hospício moderno, explicou bem isso. Uma mulher extraordinária que como enfermeira, assistente social e médica “inventou” uma nova forma de ajudar as pessoas nos momentos mais difíceis. Na opinião dela, o tempo das experiências verdadeiras é um tempo feito de profundidade e não de duração. “Os momentos de relacionamentos verdadeiros parecem passar num instante, enquanto os dias cansativos parecem não passar nunca. Mas anos depois, as horas autênticas permanecem impressas para sempre, os dias inúteis desaparecem”.1
Esses momentos verdadeiros – mesmo quando vividos na dor e na escuridão – podem se transformar, talvez com surpresa e emoção, em ocasiões de profunda paz e luz. Essas passagens, sobretudo quando acompanhadas de uma relação autêntica com os outros, podem nos ajudar e dar força para enfrentar as dificuldades, as provações, os sofrimentos e as dificuldades que encontramos na caminhada. Encorajam-nos a recomeçar sem medo, enfrentando com ousadia o que nos espera, indo ao encontro do outro e acolhendo as dores da humanidade que nos rodeia, sempre lançados, com o desejo de levar a luz e a paz que experimentamos.
Dietrich Bonhoeffer disse: “O tempo não vivido no amor é tempo perdido”(2)
O que acontece quando essas experiências verdadeiras parecem desaparecer e não mais existirem? Talvez isso tire o valor da experiência e das raízes? Sem dúvida não! O valor da memória é o próprio fundamento do progresso humano. Além disso, como diz o filósofo George Santayana: “Aquele que não recorda o passado está condenado a repeti-lo”.
Antes de nós muitos dedicaram suas vidas à nossa liberdade e felicidade. Devemos saber voltar às experiências que fundamentaram a nossa vida pessoal e a dos grupos a que pertencemos para termos a força de recomeçar sempre, também nos momentos de dúvida, fragilidade e cansaço.
Cicely Saunders. Prêmio Templeton 1981
Dietrich Bonhoeffer. “Resistenza e resa” cartas e escritos da prisão
Fotos de Sasin Tipchai – Pixabay
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L’IDEA DEL MESE è attualmente prodotta dal “Centro del Dialogo con persone di convinzioni non religiose” del Movimento dei Focolari. Si tratta di un’iniziativa nata nel 2014 in Uruguay per condividere con gli amici non credenti i valori della Parola di Vita, cioè la frase della Scrittura che i membri del Movimento si impegnano a mettere in atto nella vita quotidiana. Attualmente L’IDEA DEL MESE viene tradotta in 12 lingue e distribuita in più di 25 paesi, con adattamenti del testo alle diverse sensibilità culturali. www. dialogue4unity.dev.focolare.org1
“Start Here and Now” é o mais recente single da banda internacional Gen Verde. Um hino de união, força, coragem e alegria que conta com a participação de dois grupos musicais juvenis: Banda Unità (Brasil) e AsOne (Itália). “Todos nós, com a nossa diversidade, somos convidados a ultrapassar as fronteiras para construir um mundo onde o cuidado, o amor, a justiça e a inclusão são a resposta à dor, ao horror das guerras e às divisões”, explica a banda.
O que está por detrás da canção?
A nova canção é, por si só, uma experiência “além fronteiras” devido à forma como foi produzida”, continua a banda. As vozes foram gravadas em três partes diferentes do mundo e o vídeo foi também filmado em três locais diferentes: Loppiano e Verona (Itália) e Recife (Brasil).
O projeto inclui a participação de dois grupos musicais juvenis que partilham os valores do Gen Verde. A Banda Unità é um conjunto musical brasileiro e AsOne é uma banda de Verona, Itália. Estes grupos também querem partilhar, através da música, os valores da paz, do diálogo e da fraternidade universal.
“Start Here and Now“ tem uma mistura intergeracional e intercultural”, continua o Gen Verde, “este single destaca-se pelo seu ritmo altamente envolvente e pela letra poderosa, cantada em diferentes línguas, para fazer emergir o processo criativo inspirado pela interculturalidade e o compromisso com a fraternidade universal que é sublinhado no evento internacional Genfest”.
O Gen Verde tocou esta canção pela primeira vez em Aparecida, Brasil, juntamente com os grupos musicais Banda Unità e AsOne, no dia 20 de julho de 2024, durante o Genfest, o evento juvenil global do Movimento dos Focolares. A edição foi intitulada: “Juntos para Cuidar”.
Bullying Na escola, durante o intervalo, eu estava lavando as mãos no banheiro, quando cinco ou seis garotas e dois garotos me atacaram, puxando meus cabelos e me dando socos e chutes. Inclusive, quebraram meus óculos. Fugi rapidamente quando o zelador apareceu por causa dos meus gritos. Por que? Eu achava que tinha um bom relacionamento com todos. Foi feita uma investigação depois e descobriram que, naquele dia, o “jogo” do grupo consistia em agredir a primeira garota loira que encontrassem. E eu sou loira. Fiquei traumatizada por dias e nem pensava em voltar para a escola. No movimento católico do qual faço parte, um dia, nos contaram como haviam vivido o convite de Jesus de perdoar setenta vezes sete. Pela primeira vez, percebi o quanto é difícil perdoar. Pensei e repensei por dias. Então, entendi que a força para perdoar é um dom do Ressuscitado. Eu não seria capaz. E quando voltei à escola livre e serena, senti que dei um passo importante na minha vida de fé. (M. H. – Hungria)
Uma “caixinha do bairro” Senti-me tocada por esta definição que escutei durante um dos nossos encontros comunitários: “Uma cidade é uma pessoa em relacionamento com outra…”. “Portanto, isso também se aplica a um bairro”, concluí, pensando em onde moro. Desde então, cada novo dia me parece mais interessante se o vivo como sendo uma possibilidade de estabelecer relacionamentos autênticos com vizinhos, conhecidos, etc. Assim, entramos nas mais diversas histórias, compartilhamos alegrias e dores, descobrimos modos sempre novos de ir ao encontro de certas exigências. Como no caso da “caixinha do bairro”, nascida da ideia de colocar em comum um pouco de dinheiro para certas necessidades que vínhamos a saber: a colocamos na garagem que um de nós colocou à disposição; o portão não fica trancado, assim todos podem chegar a ela quando precisam. Na caixa, há duas frases: “Dai e vos será dado” e “Quem ama doa com alegria”. O dinheiro arrecadado já serviu para comprar sapatos, roupas, para depósito por conta de uma recuperação, para empréstimos sem interesses e também empréstimos sem retorno. (A. – Itália)
Organizado por Maria Grazia Berretta
(trecho de Il Vangelo del Giorno, Città Nuova, ano X– n.1° maio-junho de 2024)
No semáforo Uma vez por semana, viajo da minha cidade para uma cidade maior para me encontrar com amigos com os quais compartilho os mesmos ideais. Procuro levar comigo um dinheiro extra para ajudar as pessoas que pedem esmola nos semáforos. Na semana passada, no caminho de volta, parei em um semáforo fechado e um homem jovem se aproximou pronto para limpar o para-brisas. Abri o vidro do carro e, enquanto procurava dinheiro para lhe dar, pedi para que não limpasse o vidro porque não daria tempo de terminar antes de o farol ficar verde.
Ele me olhou e disse: “Pode me dar um pouco mais? Preciso comprar frango para os meus filhos”. Respondi que sim. De fato, o que eu estava lhe dando não serviria muito. Ele pegou o dinheiro e disse: “Você permite que eu faça por merecer? Prometo que serei rápido”.
Quase sem esperar a minha resposta, começou a limpar o vidro e terminou um pouco antes de o sinal abrir. Logo depois, se aproximou da janela do carro e, com uma expressão feliz, apertando a minha mão, me agradeceu, desejando tudo de bom. Enquanto voltava para casa, pensei no que havia acontecido e entendi que os pequenos gestos, às vezes, nos edificam e ensinam algo a mais para nós mesmos do que para as pessoas pelas quais fazemos. Sei que Deus está em todos os lugares, mas nunca me veio à mente que me esperasse em um semáforo. (S. Z. – Argentina)
Na prisão Fui preso por tráfico de drogas, porém, continuei recebendo visitas de Valerio, meu professor de quando eu ia à escola. E isso não podia me deixar indiferente. Se, na vida, me envolvi com pessoas más que acreditava serem minhas amigas, com Valerio, não: ele queria o meu bem sem nenhum interesse. E me contava histórias de outros adolescentes, que tinham feito uma escolha diferente da minha, fatos do Evangelho. Um dia, chegou na minha cela um novo “hóspede”: um garoto tão sujo de dar nojo. Os companheiros começaram a insultá-lo, a cuspir nele, mandando tomar banho. Como não tinha nem sabonete, nem toalha, nem roupas para se trocar, eu o defendi, e lhe dei minhas roupas, sabonete e toalha. Ele foi tomar banho e tudo se acalmou. Essa experiência foi o início de uma reviravolta. Eu achava que, depois de tudo o que tinha feito, o amor havia desaparecido de dentro de mim. Em vez disso, parecia que uma semente, mais viva do que nunca, começava a brotar. (T. – Itália)
Organizado por Maria Grazia Berretta
(trecho de Il Vangelo del Giorno, Città Nuova, ano X– n.1° maio-junho de 2024)