Movimento dos Focolares

Margaret Karram entre os novos membros do Dicastério

No dia 25 de novembro de 2023, Margaret Karram, presidente do Movimento dos Focolares, foi nomeada membro do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida. O papa Francisco nomeou ad quinquennium 11 novos membros para o Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, e entre eles está também a presidente da Obra de Maria (Movimento dos Focolares), Margaret Karram. Com ela e entre aqueles que representarão e enriquecerão a face universal da Igreja ao lado das pessoas já encarregadas, homens e mulheres, solteiros e casados, envolvidos em diversas áreas de atividades e provenientes de diversas partes do mundo: S. Ex. Mons. Josep Ángel Saiz Meneses – Arcebispo de Sevilha (Espanha); Rev. Andrea D’Auria, F.S.C.B. – Diretor do Centro Internacional de Comunhão e Libertação; Rev. Luis Felipe Navarro Marfá – Magnífico Reitor da Pontifícia Universidade da Santa Cruz em Roma (Itália); Srs. Benoît e Véronique Rabourdin – Responsáveis Internacionais do Amor e Verdade da Communauté de l ‘Emmanuel; Dr. Joseph Teyu Chou e Sra. Clare Jiayann Yeh – respectivamente professor do Departamento de Finanças Públicas da Universidade Nacional Chengchi em Taipei (Taiwan) e Fundadora e Diretora do Marriage and Family Pastoral Center da Conferência Episcopal Regional Chinesa; Dra. Ana María Celis Brunet – Presidente do Consejo Nacional para la Prevención de abusos y acompañamiento de víctimas da Conferência Episcopal do Chile; Dra. Maria Luisa Di Pietro – Diretora do Centro de Pesquisa e Estudos sobre Saúde Procriativa da Universidade Católica do Sagrado Coração em Roma (Itália); Dra. Carmen Peña García – Professora de Direito Matrimonial da Faculdade de Direito Canônico da Universidade Pontifícia Comillas em Madri (Espanha) Os novos membros, cuja nomeação foi publicada no dia 25 de novembro de 2023 no Boletim da Santa Sé, juntam-se aos nomeados anteriormente e a todos os ainda em função, cujos nomes atualizados podem ser consultados no site do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida na página Membros e Consultores.

EDU FOR UNITY: um podcast para crescermos juntos

Ler os corações e comportamentos das crianças, adolescentes e jovens de hoje e acompanhá-los no seu percurso de formação e crescimento. É isto que está na base do podcast “EDU PELA UNIDADE”, que será lançado no dia 27 de novembro de 2023 no canal Spotify do Movimento dos Focolares.  Quão importante é hoje entender a melhor maneira de nos aproximarmos? E se fossem crianças, adolescentes e jovens, como podemos nós, adultos, pais, professores, educadores, estar mais presentes e atentos? De que modo podemos apoiá-los e acompanhá-los da melhor forma possível no seu percurso de formação e crescimento? Estas são as questões que encontrarão espaço nas próximas semanas, a partir de 27 de novembro de 2023, em “EDU FOR UNITY”, o podcast que surgiu de uma ideia da equipe do “EduxEdu, Educar-se para educar”, o programa internacional de formação para educadores promovido pelo Movimento dos Focolares, em parceria com o Instituto Universitário Sophia de Loppiano (Itália) e com a Universidade Libera Maria Santissima Assunta (Lumsa) de Roma (Itália). Uns dias depois da publicação das Diretrizes para a Formação sobre a Proteção de Crianças, Adolescentes e Adultos Vulneráveis, elaboradas pelo Movimento dos Focolares, e fase aos  muitos desafios que o mundo nos coloca, Edu For Unity se propõe, como  numa viagem, a indicar o destino por meio de uma nova cultura educativa da infância e da adolescência, na qual a direção da bússola muda: as crianças e os jovens de hoje não são objeto de educação, mas sujeitos ativos imersos na sociedade com suas especificidades, suas fragilidades, suas forças e seus talentos.  Cada etapa  indicará o caminho a seguir, com a ajuda de uma equipe internacional de especialistas em sociologia, psicologia, pedagogia e teologia. Para saber mais, entrevistamos Roberta Formisano, uma das autoras do projeto. Como surgiu a ideia deste podcast e a quem se destina? Este podcast nasceu da vontade de ter um olhar um pouco mais atento às crianças, aos adolescentes e aos jovens que, sobretudo nos últimos anos, foram obrigados ao isolamento e ao fechamento devido à Covid. Isto tem aumentado medos e inseguranças em muitos deles e muitos desses medos podem ser lidos justamente na dificuldade que se tem em se relacionar com eles. Portanto, essa situação fez surgir novas questões sobre como entrar em contato com eles, como educá-los, onde encontrar novas estratégias para se aproximar deles, mas também para acompanhá-los no seu caminho. Assim, o podcast nasceu de uma ideia da equipe EduxEdu e dirige-se a pais, professores, educadores, dirigentes de grupos paroquiais ou movimentos eclesiais, enfim, todas aquelas figuras que acompanham crianças, adolescentes e jovens na vida, em seu percurso de formação, seja ele espiritual, cultural ou mesmo esportivo, de qualquer natureza. Quais temas vocês decidiram abordar nesse percurso e como eles serão estruturados? O podcast tem o objetivo de construir pílulas relativamente curtas sobre o tema da fragilidade de crianças, adolescentes e jovens. O percurso temático escolhido partiu da escuta, que é o tema desta primeira temporada, e depois avança no aprofundamento da amizade, do conflito, das emoções, dos limites e da coerência, ou seja, as seis palavras-chave em que, segundo a equipe de especialistas envolvidos, é possível declinar a “fragilidade” e que serão os temas das seis temporadas deste podcast. Cada episódio inicia-se com um diálogo entre uma apresentadora, que na primeira temporada será a jornalista argentina Anita Martinez, com um especialista capaz de nos orientar no tema. Para cada episódio procuramos incluir experiências para que as diversas questões que surgem no dia a dia não sejam respondidas apenas na parte teórica que um especialista pode fornecer, mas tenham resposta no quotidiano. Cada temporada se encerra com um pensamento de Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares, sobre o tema abordado. O título do podcast destaca a palavra “unidade”. Que significado ela traz nesse caso? O título EDU FOR UNITY (EDU PELA UNIDADE, n.d.t.)  pode ser explicado referindo-se à comunidade educativa, ou seja, à consciência de que, além das competências indispensáveis ​​para poder interceptar as fragilidades das crianças e adolescentes, ouvi-las e torná-las nossas, somente juntos, unidos, como uma comunidade que se coloca em “escuta”, podemos esperar ser eficazes. Quais foram os maiores desafios para dar vida a este projeto? Um dos maiores desafios foi pensar sempre a quem nos dirigimos e que o objetivo subjacente era “cuidar” de crianças, adolescentes e jovens. Outro desafio foi tentar conjugar vários aspectos, o que distingue as diversas pessoas que colaboraram, cada uma com a sua formação profissional, cultural e acadêmica. Envolver-se sem se acomodar na posição de quem “ensina”, mas com muita simplicidade, procurando ser conciso e utilizando uma linguagem simples para poder se dirigir a todos. Os especialistas trabalharam juntos durante muito tempo para construir estes quatro primeiros episódios, foi também um trabalho entre as várias escolas de pensamento e estudo, sociológico, pedagógico, psicológico sobre o tema. Foi também um grande desafio em nível técnico e de gravação, porque envolvemos pessoas de vários países do mundo. E, neste momento, o podcast está gravado e traduzido para italiano e espanhol. Além disso, foi um importante trabalho intergeracional que envolveu diversas vozes, mesmo as dos mais jovens. O que vocês esperam que este podcast produza naqueles que o ouvirão? Esperamos que ouvir este podcast seja um momento proveitoso para todos, não só em vista de ajudar e acompanhar os mais jovens, mas para refletir e trabalhar sobre si próprios. Que todos possam realmente encontrar sugestões para implementar no seu dia a dia. Gostaríamos que, ouvindo, todos se perguntassem: “Isto não é apenas uma lição. Mas eu realmente faço isso todos os dias? E como posso implementá-lo?”. Esperamos também que possa realmente ser útil na criação de uma visão de uma sociedade melhor, não apenas centrada em si mesma, fechada, desconfiada; mas que ajuda os adultos a acolherem a voz das crianças, dos adolescentes e dos jovens e a acompanhá-los no seu percurso de formação e crescimento.

Maria Grazia Berretta

Espaços para a vida: um apelo à unidade de Juntos pela Europa em Timisoara

Espaços para a vida: um apelo à unidade de Juntos pela Europa em Timisoara

A cidade de Timisoara, na Romênia, hospedou recentemente o encontro anual “Juntos pela Europa” com o tema “Chamados à unidade”. Esse encontro reuniu 51 movimentos representando mais de 300 realidades e comunidades cristãs da vasta rede de Juntos pela Europa. Criar espaços de vida nas fissuras No complexo contexto sociopolítico que a Europa está atravessando, os líderes de “Juntos pela Europa” se reuniram de 16 a 18 de novembro de 2023 em Timisoara (Romênia) para responder a uma pergunta importante: “Qual é o papel das comunidades cristãs na Europa hoje?”. Essa pergunta ganhou relevância diante de questões globais como os vários conflitos que estão ocorrendo, as dinâmicas migratórias, a crise climática. Herbert Lauenroth, historiador e membro do Comitê diretivo de Juntos pela Europa, destacou a crise que atinge todas as igrejas e evidenciou o peso do momento: “Onde está hoje a Europa, Juntos pela Europa? Na direção de qual tipo de Europa, na direção de qual tipo de ‘Juntos’ estamos nos movendo?”. Em um contexto de crescente incerteza, os participantes se perguntaram o que significa “Juntos pela Europa”, buscando discernir a direção e as perspectivas futuras. Desde as primeiras sessões era evidente que a escolha de Timisoara como sede do encontro adicionou mais uma camada de significado. A capital europeia da cultura de 2023 é uma testemunha da coexistência harmoniosa de diversas crenças cristãs, na qual comunidades diversas se encontram e prosperam na unidade. Gerhard Proß, moderador de Juntos pela Europa e responsável do CVJM (Christlicher Verein junger Menschen) de Esslingen (Alemanha), ofereceu uma perspectiva a partir da fé cristã: “Deus cria espaço nas fissuras”, disse, “Jesus mesmo entrou nas fendas mais profundas desse mundo”. Depois, explicou que a imagem de Cristo, com os braços abertos entre o céu e a terra, simboliza uma entrada profunda nas fraturas entre Deus e a humanidade, entre indivíduos, grupos, denominações e nações. Jesus desceu até as profundezas: “Ali criou um espaço de vida”. São palavras que tiveram um eco profundo, suscitando reflexões sobre como, diante dos desafios contemporâneos, as comunidades cristãs podem criar espaços de vida em meio a fraturas, tensões e incertezas. Cultivar a unidade Os participantes tiveram sessões de diálogo, se envolveram juntos em discursos intelectuais, laboratórios de experiências e momentos de oração. Seis workshops exploraram temas como a integração social, as perspectivas dos jovens, a ética e a não-violência, promovendo uma compreensão mais profunda da diversidade no interior da comunidade cristã. Um momento importante foi a visita ao Museu da Catedral Ortodoxa, seguido das vésperas na Catedral Ortodoxa da cidade, das quais participaram autoridades e líderes religiosos das diversas Igrejas presentes. Esses momentos de oração comum favoreceram um clima harmonioso, no qual a unidade e a diversidade conviviam. As falas na plenária e as atividades foram intercaladas com música e oração, criando um fio que caracterizou toda a conferência. Durante um dos seus cantos, o Coro Ecumênico Jovem convidou todos a abraçar os diversos modos de oração: “Sabemos que todos oramos do nosso modo. Vamos nos abrir para experimentar a oração do outro durante esses dias em Timisoara”. Foi particularmente forte o momento de oração pela paz no qual foram citados os conflitos no mundo todo, com atenção particular para a Ucrânia e o Oriente Médio. Todos os participantes prometeram se comprometer com a unidade, firmando um pacto de amor recíproco. Foi um momento que simbolizou a pedra angular sobre a qual se funda uma Europa fraterna. Coligar os valores às políticas No âmbito do projeto DialogUE, financiado pela União Europeia, o encontro anual de “Juntos pela Europa” confrontou também temáticas voltadas a desenvolver conselhos e recomendações para as políticas sociais da União Europeia. O professor Philip McDonagh, ex-diplomata irlandês e diretor do “Centro para as religiões, valores humanos e relações internacionais” da Universidade de Dublin, destacou a importância do artigo 17 do Tratado sobre o funcionamento da União Europeia (TFUE). Esse artigo promove um diálogo aberto e transparente sobre as principais questões sociais que a Europa deve enfrentar por meio de encontros de alto nível e seminários de diálogos e trabalho entre as instituições europeias e as Igrejas, assim como as organizações não religiosas e filosóficas. O professor destacou a contribuição das Igrejas no debate público, atingindo seus fundamentos filosóficos, valores de compaixão, cuidado, solidariedade e respeito pelo pluralismo. Espera que as Igrejas se esforcem para preencher os espaços entre os valores de alto nível e as políticas cotidianas, oferecendo uma perspectiva necessária sobre questões como a paz, a inclusão e a integração. Convidando a uma abordagem multilateral, evidenciou a necessidade de que a Europa seja percebida positivamente pela comunidade global e sublinhou a responsabilidade de considerar as perspectivas do Sul do planeta. Esperança na unidade Margaret Karram, presidente do Movimento dos Focolares, estava presente junto com o copresidente Jesús Morán e falou oferecendo palavras de esperança: “Gostaria de ter, junto com todos vocês, essa convicção: tudo é possível!”. As palavras dela convidaram a ter um olhar otimista, a reconhecer a humanidade compartilhada e a criar redes de fraternidade. Karram encorajou a rede “Juntos pela Europa” a abraçar os carismas nascidos do Evangelho, a se envolver no diálogo e a abrir espaços para buscar respostas tangíveis aos desafios contemporâneos. O bispo Josef-Csaba Pál de Timisoara expressou gratidão por esses dias: “Uma pequena semente dessa fraternidade, unidade e amor foi colocada em nós, nas nossas Igrejas, mas também na sociedade. A rede Juntos pela Europa é uma daquelas iniciativas maravilhosas em que Deus permitiu que as coisas boas crescessem no decorrer dos anos. Continuemos a trabalhar juntamente a todas as pessoas de boa vontade!”. Olhando para o futuro, foi anunciado o próximo encontro anual de Juntos pela Europa:  será em Graz-Seckau, na Áustria, de 31 de outubro a 02 de novembro de 2024. As confissões cristãs presentes foram: Ortodoxos gregos, romenos, armênios e russos, gregos, romanos e veterocatólicos, protestantes, luteranos, reformados, anglicanos e Igrejas livres.

Ana Clara Giovani

Todos responsáveis ​​por todos: formação em rede

A partir de hoje, 20 de novembro de 2023, estão disponíveis as novas Diretrizes para a Formação sobre a Proteção de Crianças, Adolescentes e Pessoas em Situação de Vulnerabilidade desenvolvidas pelo Movimento dos Focolares. Margarita Gómez e Étienne Kenfack, Conselheiros do Centro Internacional do Movimento para o aspecto Vida Física e Natureza, oferecem-nos alguns esclarecimentos. Ilustrar as características necessárias para se comprometer concretamente com a proteção da vida e da dignidade de cada pessoa: é isso que distingue as novas Diretrizes para a Formação sobre a Proteção de Crianças, Adolescentes e Adultos Vulneráveis ​​(FPCV) no Movimento dos Focolares, lançada hoje, 20 de novembro de 2023, Dia Internacional da Criança e do Adolescente. O trabalho contou com a colaboração direta de 40 especialistas e pessoas envolvidas neste campo de todos os continentes e teve como objetivo fornecer os elementos necessários para que, em cada país onde o Movimento dos Focolares atua, possa-se desenvolver uma estratégia de formação adequada, orientada para prevenir e erradicar qualquer tipo de abuso, tanto dentro do Movimento como nos ambientes onde os seus membros se encontram (trabalho, bairro, escola). Desde 2013, o Movimento aposta na formação para a proteção de crianças e adolescentes, com um trabalho capilar em todos os países onde atua e com a realização de um curso de seis horas que continha os princípios fundamentais. Este esforço de formação atingiu 17.000 pessoas até dezembro de 2022 e, embora a formação fosse aberta a todos, foi realizada principalmente por pessoas que tinham responsabilidades ou contato direto em atividades com crianças. Depois da publicação do relatório sobre os graves casos de abusos sexuais registrados na França, publicado um ano depois da investigação da consultoria GCPS, surgiu a forte necessidade de oferecer uma formação mais específica a todos os membros do Movimento dos Focolares, de qualquer nação, idade, vocação ou função. Por esta razão, as Diretrizes representam uma ferramenta universal, deixando amplo espaço para uma inculturação adequada e uma implementação específica no contexto particular de origem. “A formação dirige-se a todos, e por ‘todos’ entendemos não só os pertencentes ao Movimento, mas também as pessoas que trabalham nas nossas estruturas – afirma Étienne Kenfack. As Diretrizes, no entanto, dirigem-se aos dirigentes do Movimento nas diversas geografias e às suas equipes que serão responsáveis ​​pela sua implementação”. As Diretrizes entrarão em vigor em 1º de janeiro de 2024, por um período de 20 meses ad experimentum. Um período de checagem para poder perceber todas as mudanças e transformações que serão necessárias no futuro. “O documento – continua Margarita Gómez – baseia-se num recurso fundamental para nós, isto é, a comunhão: portanto, trabalharemos em rede. Haverá uma comissão internacional e várias equipes que realizarão o projeto localmente. Haverá momentos de troca, com links online para nos ajudar a tirar dúvidas, para partilhar boas práticas. Não é por acaso que decidimos intitular o nosso programa de formação como “Todos responsáveis ​​por todos”. Espero que estas Diretrizes sejam muito bem acolhidas nas nossas comunidades e que, em poucos meses, tenhamos dado um impulso significativo à formação nesta matéria”.

Maria Grazia Berretta

Ver o vídeo (ativar legendas em português) https://youtu.be/OsZW-DC_E7U

Um patrimônio a ser aprofundado

Um patrimônio a ser aprofundado

Nos dias 10 e 11 de novembro de 2023 ocorreu em Bolonha o seminário “Escrever sobre Deus. Chiara Lubich e a tradição mística feminina da Idade Média ao século XX. Uma jornada com muitas vozes”. O padre Gianni Festa, que estava entre os promotores do evento, faz um balanço e traça perspectivas. Uma polifonia de vozes que viaja através dos séculos. As protagonistas da tradição mística feminina e seus escritos estiveram no centro dos trabalhos do seminário que, nos dias 10 e 11 de novembro de 2023, reuniu em Bolonha (Itália), estudiosos de diversas áreas, desde teólogos até linguistas, de historiadores a especialistas em literatura e arquivistas. O seminário ofereceu aprofundamentos e reflexões a partir de textos de místicas, em particular dos anos 1900s. Figuras femininas diversas, emersas em sua singularidade e originalidade, mas também ligadas por traços comuns entre elas “falar e escrever sobre Deus”, traços que revelam o caminho do Espírito Santo e seu desdobramento por meio de uma pluralidade de vozes, diversas, mas em profunda harmonia. Falamos com o padre Gianni Festa, docente na Faculdade Teológica da Emília-Romagna e membro do Instituto Histórico Dominicano.

Anna Maria Rossi, Padre Gianni Festa

Padre Festa, a Faculdade Teológica da Emilia Romagna é promotora, juntamente ao Centro Chiara Lubich e ao Instituto Universitário Sophia, deste seminário, e o senhor, em particular, trabalhou muito para a realização dele. Qual é a sua impressão ao final dos trabalhos? Quais foram os aspectos mais interessantes que emergiram? O primeiro aspecto interessante, isso é indiscutível, foi ter colocado, no âmbito desse seminário, a figura de Chiara Lubich, a sua teologia, a sua espiritualidade em um contexto muito mais vasto do que aquele no qual ela sempre foi lida ou interpretada. Ter ligado Chiara Lubich com a tradição da escrita feminina, seja medieval seja contemporânea, fez emergir aspectos do ensinamento teológico e espiritual dos escritos dela que realmente receberam uma luz nova. O segundo é a abertura da busca pela mística contemporânea feminina, que é um assunto pouco estudado, com exceção de grandes figuras sobre as quais também nós falamos, como Etty Hillesum, Simon Weil, Adrienne von Speyr. Mas a escritura mística do século XX das mulheres não é tão frequentada, tão estudada como a da Idade Média ou da primeira idade moderna, tivemos dificuldade em encontrar relatórios justamente porque é um campo ainda muito virgem. O terceiro aspecto importante foi a colaboração entre instituições acadêmicas que tiveram a oportunidade de falar, de dialogar, de encontrar-se e colaborar sobre temas de pesquisa teológica e esse “estar em comum” foi realmente importante e positivo. Das relações, emergiram características peculiares das figuras aprofundadas, mas também aspectos comuns que emergem em seus textos e que unem as diversas místicas: do relacionamento com a escrita às características da linguagem, mesmo que sejam mulheres que viveram em épocas e contextos muito diversos. Como, segundo o senhor, essas experiências podem se tornar testemunho de vida e testemunho de Deus? Como podem falar ainda com o homem de hoje? O que sempre me tocou quando estudava, em particular a Idade Média, foi a absoluta tenacidade da mulher em não retroceder a uma condição de inferioridade ou de marginalização, apesar dos preconceitos e exclusões. As místicas sempre quiseram afirmar o próprio relacionamento com Deus, dizê-lo, manifestá-lo. Comunicá-lo, “dizer Deus” e o modo que a mulher tem de dizer tem um efeito muito importante, muito atual também, sem cair na retórica, dentro do ensinamento do papa Francisco, os ensinamentos femininos que devem respirar com os ensinamentos masculinos, não porque sejam contrapostos, mas porque são os dois pulmões da Igreja, portanto eu diria que esse é realmente um aspecto importante. Chiara Lubish: o que em seu “escrever sobre Deus” e do que emergiu dos trabalhos e da experiência mística dela são, segundo o senhor, mais característicos e originais no panorama do pensamento místico feminino? Eu conhecia pouco de Lubich, mas duas peculiaridades, duas qualidades dos seus escritos, dos seus ensinamentos, depois de ter escutado também os relatórios me parecem ser hoje muito claros, quase inequívocos: in primis o profundo enraizamento dos escritos de Chiara dentro de uma tradição robusta. Disso não há dúvidas. Chiara Lubich não é ingênua em suas afirmações, em seus raciocínios e em seus escritos. Colhi essa cultura espiritual, teológica que se respira em seus escritos. Em segundo lugar, e talvez porque sou dominicano e, portanto, sou ligado também a figuras como Catarina de Sena, me tocou muito o aspecto eclesiológico, de comunhão, da sua espiritualidade. Esse é um elemento que observei também no contato com o Movimento dos Focolares mesmo, a comunhão, a união, a dimensão eclesial; um destaque da singularidade excessiva do sujeito a favor de uma partilha que está presente desde as primeiras experiências de Lubich. Quais perspectivas de estudo e de pesquisa esse seminário pode abrir? Com certeza é um passo em direção a uma abertura maior, uma ampliação dos estudos sobre a escritura feminina, dos séculos XIX e XX. Portanto, é necessário se equipar também no plano da instrumentalização linguística, teológica, para poder estudar essas figuras muito marginalizadas, muito esquecidas e pouco notadas. Também acredito que, com relação aos ensinamentos de Chiara Lubich, pode-se aprofundar melhor certos escritos dela, sob o perfil exegético, teológico e espiritual, como o texto do qual se falou continuamente durante o seminário, o “Paraíso de 49”, seria algo importante a se fazer.

por Anna Lisa Innocenti e Maria Grazia Berretta

Dizer Deus no feminino: Chiara Lubich e a linguagem mística

“Escrever sobre Deus: Chiara Lubich e a tradição mística feminina” é o título da conferência que acontecerá de 10 a 11 de novembro de 2023 em Bolonha (Itália). Será um seminário dedicado ao que significa “dizer Deus no feminino” que terá lugar hoje, 10 de novembro e sábado, 11, na Salone Bolognini do Convento de São Domenico de Bolonha (Itália) intitulado “Escrever sobre Deus. Chiara Lubich e a tradição mística feminina da Idade Média ao século XX. Uma jornada com muitas vozes.” Promovido pela Faculdade Teológica de Emilia-Romagna (Fter) em conjunto com o Centro Chiara Lubich e o Instituto Universitário Sophia, este percurso visa oferecer insights e reflexões sobre a questão da linguagem mística com atenção ao misticismo do século XX e, especificamente, com atenção à linguagem das mulheres. Uma verdadeira viagem “a uma página da história do misticismo feminino realmente pouco explorada” – afirma o padre Gianni Festa, professor dominicano da Fter, um dos promotores do evento. De que maneira a linguagem pode testemunhar uma experiência tão íntima e profunda como aquela com Deus? Como é que os místicos, desde a tradição medieval até ao século XX, garantiram que a palavra preservasse esta experiência e como a devolveram ao mundo? Todas estas são questões que serão examinadas no contexto do seminário, a partir de análises históricas, literárias e linguísticas, testemunham – como nos diz o Padre Gianni Festa – “que dizer Deus no feminino significa dizê-lo de uma maneira diferente e é por isso que a linguagem feminina, que fala de Deus, que fala da experiência mística, deve ser absolutamente compreendida”. Uma dimensão que, através da intervenção de numerosos convidados e estudiosos, será explorada por ocasião desta conferência a partir da figura do século XX de Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares. “A experiência da Lubich – continua Padre Festa – estará ligada tanto a nível diacrônico a figuras importantes da tradição mística medieval como alguns doutores da Igreja, como Catarina de Sena ou Teresa de Ávila, mas sobretudo a outras experiências místicas e escritos do século XX, alguns mais conhecidos, como Etty Hillesum, Madeleine Delbrêl; outras menos conhecidas, como a irmã Maria, a grande amiga mística de Dom Primo Mazzolari. A questão da linguagem mística, da teologia subjacente ao misticismo feminino, será, portanto, explorada, e os caminhos individuais desta experiência serão certamente identificados.” Para mais informações, entre em contato com a secretaria da Fter ou consulte o site do Centro Chiara Lubich. Para participar do evento, inscreva-se para os dois dias na seção “Eventos” do site do Fter.

Maria Grazia Berretta

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