Movimento dos Focolares
Gen Verde: uma viagem dedicada ao “encontro” em terras lusitanas

Gen Verde: uma viagem dedicada ao “encontro” em terras lusitanas

Duas semanas intensas de tournée do Gen Verde em Portugal que, desde o final de julho aos inícios de agosto de 2023, de norte a sul do país, entre workshops de arte e concertos, com a ajuda de muitos jovens, conseguiu transformar a música em instrumento de testemunho e encontro com o outro. Partiram de Braga (Portugal) para depois irem ao sul do país, ao Algarve, concluindo a viagem em Lisboa, no ambiente festivo e inebriante de uma Jornada Mundial da Juventude cuja bela memória ainda se respira. Este é o caminho que o Gen Verde international Performing Arts Group, grupo musical feminino nascido em 1966 por inspiração de Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares, realizou de 23 de julho a 4 de agosto. Uma tournée intensa para promover o encontro e a amizade e na qual, depois de semeada em palavras e notas, muito se colheu em termos de vivência. Exemplo disso é o Start Now Workshop Project (Projeto Comece Já, n.d.t.), um projeto musical e artístico de educação para a paz e para o diálogo realizado pelo Gen Verde que contou, em Braga, com a participação de um grupo de jovens da Espanha e de Portugal e a especial colaboração com o Projeto Homem Braga, especializado no tratamento, prevenção, redução de danos e reintegração de pessoas com dependências. “Costumamos sentir um pouco de medo quando convidamos pessoas de fora para conhecer os usuários do nosso centro – afirma uma das educadoras da sede do Projeto Homem Braga após reunião com os artistas – porque não queremos atrapalhar o processo de recuperação. Mas hoje queremos lhes agradecer por trazerem tanta alegria a todos nós”. “Descobrimos que a música, a dança e a arte podem realmente nos ajudar a superar muitas barreiras, como linguísticas e culturais”, diz um menino espanhol que participou da oficina. “Às vezes é difícil remar na mesma direção, é preciso paciência porque nem todos vamos no mesmo ritmo, mas uma coisa que carregamos conosco é a alegria que se transmite, além das dificuldades. O amor nos faz superar todos os conflitos”. Ao som de Girl On A Mission (Magnificat), canção composta pelo Gen Verde para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) em Lisboa, o grupo deslocou-se para Faro, no sul do país, onde participou nas Jornadas nas dioceses que antecederam a JMJ e se concluíram com concerto no Estádio Algarve, em 31 de julho. Depois, a viagem continuou rumo à capital portuguesa para mais uma edição do “Start Now” (“Comece Já”, n.d.t.) em que participaram cerca de 100 jovens que, no final, dia 2 de agosto, atuaram com as artistas no palco do Auditório da Faculdade de Medicina Dentária em Lisboa completamente lotado. “Foi muito gratificante participar numa atividade como esta – diz uma das jovens – porque pudemos aprender e conhecer outras pessoas. Entendemos que é importante tanto dar a nossa opinião quanto, quando necessário, saber perder essa ideia no trabalho em equipe. A palavra que resume tudo o que aprendemos é humildade, dar ao outro a oportunidade de se expressar”. Aprender a superar desafios como – diz outra jovem – “o de saber ouvir, captar as ideias dos outros, aprender a interagir; deixar a timidez e criar algo bonito, mas juntos”. Marita Alvarez (Argentina), cantora do Gen Verde, nos conta: “encontramos muitos jovens que participaram de nossas oficinas artísticas em muitos países ao longo dos anos e, assim, entendemos o quão profundas, verdadeiras e duradouras essas relações foram. Da Eslováquia, Polônia, Ucrânia, Espanha, Áustria, Alemanha e Itália, para citar alguns, vimos esses jovens como líderes de suas comunidades, comprometidos e prontos para multiplicar a alegria através do “Magnificat anima mea” que Deus tem feito em suas vidas”. Em plena JMJ, Lisboa colore-se de jovens e torna-se uma oportunidade única para testemunhar e, ao mesmo tempo, experimentar a vivacidade de uma Igreja peregrina que, de todas as partes do globo, chama pelo nome. E foi neste espírito de família que o Gen Verde participou no segundo dia da catequese Rise Up (Levantar, n.d.t.) organizada pelo Movimento dos Focolares, onde cantou e animou a missa juntamente com mais de 7.000 jovens, para depois concluir a sua viagem em Portugal com um concerto, dia 4 de agosto, na Alameda Dom Afonso Henriques, no final do Festival Halleluya. “Fiquei muito impressionado com a unidade entre as componentes do grupo – disse Jesús Morán, co-presidente do Movimento dos Focolares – e os jovens ficaram muito felizes, todos envolvidos no ritmo, na música. Mas também nos momentos de profundidade, que não faltam nas canções, os jovens souberam participar com o recolhimento. Podemos imaginar a Via Crucis: foi como a ‘décima quinta estação’, que não existe, mas que, como todos dizem e imaginam, é o sinal da Ressurreição. Foi como um cântico à Ressurreição, à alegria. Creio que esta é a forma certa de comunicar o Evangelho com uma linguagem musical que tanto agrada aos jovens”.

Maria Grazia Berretta

Braga, Portugal: Bispos em uma atmosfera da “mística do nós”

Braga, Portugal: Bispos em uma atmosfera da “mística do nós”

Depois da Jornada Mundial da Juventude em Lisboa, realizou-se de 8 a 10 de agosto de 2023 em Braga, no norte de Portugal, o Encontro Internacional dos Bispos Amigos do Movimento dos Focolares Na esteira da Jornada Mundial da Juventude que inundou Lisboa, 87 bispos de 42 países permaneceram em Portugal para refletir sobre A mística do encontro – Contemplação e missão em uma mudança de época”, no encontro organizado pelos Bispos amigos Movimento dos Focolares. No dia 7 de agosto, viajando para Braga, a primeira etapa só podia ser o Santuário de Nossa Senhora de Fátima, precisamente no dia da festa dos dois santos pastores, Francisco e Jacinta. Conscientes das mudanças de época que exigem uma resposta adequada também por parte da Igreja, a partir de 8 de agosto, durante três dias, os bispos quiseram refletir e colocar em prática a “mística do nós” como resposta à nova etapa de testemunho e anúncio do Evangelho que o Espírito Santo pede hoje à Igreja. Com esta intenção, eles retomaram o que o Papa Francisco disse em sua visita a Loppiano, cidadezinha de testemunho do Movimento, em maio de 2018, onde afirmou que o carisma da unidade dado por Deus a Chiara é um “estímulo providencial e uma ajuda poderosa para viver essa mística evangélica do nós”. Margaret Karram, presidente do Movimento dos Focolares, e Jesús Morán, copresidente, presentes durante todo o encontro, ofereceram o próprio pensamento sobre isso. Margaret convidou os bispos a “Partir da unidade para ser e falar hoje”. A unidade é a vida de Deus, recordou, e nós que queremos imitá-la somos convidados a vivê-la com o dever de anunciá-la com coragem. A comunhão feita depois na sala ressaltou o forte empenho sobre a importância de buscar a unidade, na Igreja e no mundo, e o diálogo em vários grupos linguísticos permitiu aprofundar o tema. Pode-se dizer que cada dia, com os seus conteúdos, foi uma oportunidade de vivenciar a “mística do nós”: o intercâmbio com um grupo de jovens que participaram da JMJ; os testemunhos dos bispos no caminho sinodal; o encontro com a dor e a atualidade das Igrejas particulares. Aprofundamentos Há alguns meses da Assembleia do Sínodo, que se realizará em outubro, o Cardeal Mario Grech, Secretário do Sínodo, e o prof. Piero Coda, membro do grupo teológico da mesma, em videoconferência, discorreram sobre o assunto. O Sínodo tem a finalidade de nos fazer redescobrir a unidade no único batismo, formando-nos a viver juntos apesar das diferenças e ensinando-nos a viver nas tensões em que inevitavelmente nos encontramos. Uma mesa redonda com a intenção de apresentar algumas respostas aos problemas existentes na Igreja e na sociedade de hoje suscitou numerosas perguntas e interesses: Padre Fabio Ciardi, OMI, evidenciou a riqueza dos carismas na Igreja de ontem e de hoje; Francesca Di Giovanni, ex-subsecretária do Estado do Vaticano, falou da presença da mulher na Igreja, que não deve ser valorizada apenas pelo “papel” que deve ocupar, mas concebida no “dom” que é para a Igreja. Rosinha e Amândio Cruz, casados, engajados nas estruturas da Arquidiocese de Braga, apresentaram algumas dinâmicas para a renovação da Igreja e da evangelização apoiadas pelas famílias. No último dia, Padre Fabio Ciardi fez uma palestra sobre as “feridas” da Igreja hoje, apresentando a luz que Chiara Lubich encontrou na descoberta-revelação de Jesus Abandonado que assume todas as divisões e gera a reconciliação, base da mística do “nós”. Houve também momentos de lazer e enriquecimento cultural, como a visita ao próximo Santuário do Bom Jesus do Monte, onde o Cardeal Francis Kriengsak, arcebispo de Bangkok, presidiu à celebração eucarística. Em seguida, diante de um sugestivo pôr do sol, a comunidade local do Movimento dos Focolares ofereceu um jantar com sabores típicos portugueses, acompanhado de bonitas danças tradicionais. Na conclusão do encontro, na Eucaristia presidida pelo Cardeal Lazzaro You, Prefeito do Dicastério para o Clero, os bispos renovaram o compromisso de colocar em prática o mandamento de Jesus: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 15,12).

Carlos Mana

   

“Não tenham medo, coragem!”

“Não tenham medo, coragem!”

Essas são as últimas palavras com as quais o papa Francisco saudou os jovens e todos os participantes da Santa Missa que concluiu a JMJ 2023.

É difícil descrever o que vivemos nestes inesquecíveis dias de graça. Bem sei que pode parecer óbvio dizer, nesses casos, que é preciso vivê-los para entendê-los. Mas é verdade! É certamente verdade nesta ocasião. Participei de quatro JMJ, as duas primeiras e as duas últimas, e posso testemunhar que há algo especial que envolve estes dias e que não dá para explicar. Uma conhecida figura pública portuguesa, agnóstica e amante do cinema, escreveu um artigo de jornal dizendo que aquilo que contemplou nas ruas de Lisboa neste verão tão quente foi o filme mais bonito que ele já viu. Impossível não se deixar contagiar pela alegria e pela vivacidade que os jovens que chegavam à “cidade-luz” – e que a enchiam com a outra luz que traziam dentro de si – transbordavam como torrentes: nos bairros, nos centros comerciais, no metrô, nos ônibus, nos bares, nas áreas verdes ou nas de concreto, em pequenos grupos ou em grandes inundações humanas multicoloridas, sonoras, loquazes, multicarismáticas, com uma simpatia que aquecia o coração. Caminhando entre eles, eu via os habitantes da cidade perplexos e curiosos. Se Lisboa, com a sua mágica e indescritível beleza, foi um presente para esses jovens, eles não o deixaram de ser para essa cidade, que se orgulhará de ter visto um milhão e meio de jovens reunidos para celebrar a fé em Cristo. Algo realmente inédito.

O trabalho da Igreja portuguesa e do Dicastério para os Leigos, Família e Vida, organizador do evento, foi extraordinário, bem como o da cidade, das suas autoridades civis. Mas não há dúvida de que a coroa de glória é dos jovens. Quem poderia imaginar algo assim depois de três anos de uma grave pandemia e em meio a uma crise institucional, como a que a Igreja Católica está passando devido a abusos de vários tipos! Se hoje a imprensa espanhola deu destaque ao caso de uma jovem com 5% de visão que afirma ter recuperado a vista nos últimos dias, para mim o verdadeiro milagre foi a fé viva desses jovens, expressa na sua linguagem típica e com uma infinidade de gestos audaciosos e desconcertantes. De fato, se por um lado manifestaram um entusiasmo transbordante cantando e dançando, o momento mais emblemático – entre outras coisas, o verdadeiro centro desta jornada – foi mais uma vez a adoração eucarística da vigília: mais de um milhão de pessoas se ajoelharam sem que ninguém dissesse para fazê-lo, para adorar em um silêncio “ensurdecedor” Aquele que consideram o “coração do mundo”!

­Impossível não se emocionar. Naquele momento, o fado com o qual nos presenteou a cantora Carminho, foi de arrepiar: “Tu és a estrela que guia o meu coração/ És a estrela que ilumina o meu caminho/ És o sinal de que guias o destino/ Tu és a estrela e eu sou o peregrino”. E podemos nos perguntar: que força de atração um pequeno pedaço de hóstia pode exercer sobre uma multidão tão grande de jovens espalhados por um campo de mais de 3 km (100 campos de futebol)?

Poderíamos pensar que os jovens que se reuniram em Lisboa são gente boa, com a vida em ordem, jovens educados, que não se contaminam com os problemas dos outros. Ledo engano. Um grupo internacional deles lutou durante anos para elaborar um quadro artístico de extraordinária beleza e eficácia visual, um palco monumental, uma espécie de andaime gigante sobre o qual desfilavam como mímicas etéreas, deixando-se cair amarrados a cordas e levando a cruz de um lado para o outro, para cima e para baixo. A sensação de vertigem era contínua, e a escolha desse gesto não foi casual: em cada estação, com algumas notas de reflexão falada e muita visualidade, foi expressa claramente a vertigem que impregna a vida dos jovens de hoje: vícios, falta de sentido, futuro incerto, desprezo pela vida, relacionamentos tóxicos. Motivos esses carregados pela cruz, ou melhor, carregados nos ombros do crucificado, para depois se transfigurarem em vida nova.

Certamente os momentos-chave desta JMJ, como das anteriores, foram os encontros com o Papa. Outro elemento desconcertante e típico desse evento: por que os jovens amam tanto os papas, independentemente do caráter deles, seja tradicional, intelectual ou reformista?

Para além desses pontos salientes, o programa destes dias foi pontilhado com muitos outros eventos, menores, mas não menos significativos, como concertos musicais nos centros nevrálgicos da cidade, encontros por nacionalidade, partilha com pessoas engajadas na Igreja em nível paroquial ou associativo, e sobretudo as várias catequeses dirigidas pelos próprios jovens, que tiveram como oradores principais os bispos de diversas partes do mundo. Todas essas foram ocasiões para aprofundar o lema da JMJ: Levanta-te. (Rise up)

“Não tenham medo, coragem!” O papa Francisco parecia dirigir-se a toda a Igreja com essas palavras. Porque não há dúvida de que é preciso coragem. E nisso os jovens são chamados a serem protagonistas. Eles são o presente e o futuro de uma Igreja renovada pelo Espírito. Uma Igreja que, como Francisco repetiu várias vezes, quer ser uma casa para todos, sem exclusões, e recuperar o impulso profético que a permeia. Uma Igreja que caminha com uma nova confiança, aquela confiança que encontra em si mesma e além de si: em Jesus Cristo. Uma Igreja que quer acolher toda a humanidade na humanidade ressuscitada de Jesus de Nazaré, como diz um conhecido teólogo.

Talvez eu seja um pouco otimista, mas nestes dias vi uma Igreja jovem que está um pouco além da provação, ou pelo menos está confiante em superá-la. Os milhares e milhares de jovens que encontrei em Lisboa me ensinaram isso. Não problematizam, não se fossilizam na crítica, ao contrário, algo (a sua pureza, talvez, refinada na dor e na incerteza) os leva a concentrar-se no centro da fé com o coração dos simples. E, como diz o Mestre, é deles o Reino dos Céus (cf. Mt 5, 1-12).

Resumo em três imagens tudo o que quis expressar neste artigo: jovens que caminham, que caminham por Lisboa (símbolo do mundo), por vezes exaustos pelo calor e pelo cansaço acumulado após noites de pouco sono. Jovens com a vertigem da cruz nos ombros, na qual todos os seus sofrimentos estão escritos. Jovens ajoelhados em adoração, conscientes de que em um pedaço de pão está toda a vida, uma vida que não passa. A Igreja viva, a de sempre, a de hoje, a do futuro.

Jesús Morán

Comunicação em tempo de guerra: diálogo transversal para uma ética comum na JMJ

Durante a Jornada Mundial da Juventude de 2023 em Portugal, o percurso de DIALOP vai um passo além. 134 jovens de 20 países participaram do “Comunicação em tempos de guerra” promovido pela DIALOP durante a JMJ para discutir como as mídias sociais e a tecnologia digital podem se tornar armadilhas de conspiração e interesses tendenciosos durante os conflitos.

O percurso

Cristianismo e socialismo – dois movimentos com características muito diferentes – há muito tempo estão em desacordo um com o outro, mas ambos moldaram a história mundial nos séculos passados. Partindo da ideia de que os grandes desafios do mundo atual não podem ser resolvidos sozinhos, DIALOP promove o diálogo entre pessoas de boa vontade, com formação secular e religiosa, especialmente entre socialistas/marxistas e cristãos, para criar uma ética transversal transformadora.

Trazer o DIALOP para a Jornada Mundial da Juventude faz parte do “Projeto Diálogo” que, em colaboração com a Comunidade Europeia e envolvendo 14 organizações da sociedade civil, explora e desenvolve o diálogo muitas vezes desafiador entre diferentes grupos, para moldar uma Europa cada vez mais expressão daquela “unidade na multiplicidade”.

A preparação, que envolveu especialistas cristãos e marxistas-socialistas, começou seis meses antes do evento, um tempo movimentado e cansativo rumo à JMJ. Os desafios foram muitos, como encontrar uma forma dinâmica de mediar conteúdos pesados ​​como conflito e comunicação, idiomas, países e diferentes origens. “A emoção foi a de se deparar com uma geração sedenta de verdades e esperanças tranquilizadoras, fundamentadas e claras e de poder dar alguma”, diz Luisa Sello, uma das coordenadoras do projeto.

Jovens em diálogo

A guerra e seu potencial destrutivo influenciam a estrutura da comunicação, transformam a percepção dos fatos e exploram a linguagem e as mentalidades. Nesse contexto, as mídias sociais e a tecnologia digital podem se tornar armadilhas para conspirações e interesses tendenciosos. Podemos nos aproximar da verdade? Podemos revidar ou estamos fadados a destruir relações com seres humanos, países, populações por causa de mentiras e desinformação? Como podemos continuar a fazer escolhas, construir relacionamentos e ficar do lado da verdade e da justiça?

Todas estas questões foram abordadas no workshop que envolveu os jovens na construção de propostas para a União Europeia, que serão recolhidas e apresentadas à UE no âmbito do projeto de financiamento da Comissão Europeia CERV (Programa Cidadãos, Igualdade, Direitos e Valores) em março de 2024. Após os painéis e dinâmicas de discussão, a pergunta “o que podemos fazer?” ecoou entre os jovens. O desejo de fazer parte de uma transformação como agente de mudança está no coração de cada jovem presente.

Steven, dos Estados Unidos, que quer ser sacerdote e viajar para o exterior para ajudar as pessoas, compartilhou suas preocupações: “Não posso nem dizer aos meus pais para parar de ler fontes de informação que são problemáticas. Quando Jesus voltou de Nazaré, ele foi rejeitado por sua família. Muitos de nós perderam a esperança. Onde podemos reencontrar a esperança? Por isso estamos aqui na JMJ”.

Adriana, uma estudante de jornalismo da Argentina, sentiu-se encorajada pelo workshop: “Nosso papel como jovens é muito importante para combater a desinformação e também pode ser feito de uma forma divertida. Se criarmos uma comunidade podemos ser mais fortes.”

Ruma a uma ética transversal

O curso da história não depende apenas da força das ideias, mas sobretudo da evolução dos interesses políticos e econômicos que muitas vezes integram apenas pálidos reflexos dessas ideias. O convite do Papa Francisco em 2014 que inspirou o DIALOP a iniciar um diálogo transversal continua a se desenrolar.

Questionado por um jovem sobre como criar um quadro ético comum na presença de tantas divisões, Walter Baier, presidente do Partido da Esquerda Europeia, respondeu: “O Papa Francisco disse que devemos aceitar o conflito como algo natural, o que devemos saber é o que fazer com o conflito. O fato de cristãos e marxistas de tradições muito diferentes, mesmo com idiomas muito diferentes, poderem sentar-se juntos e trabalhar em uma estrutura comum é um exemplo de diálogo”.

Também participaram dos debates Angelina Giannopoulou, da Transform! Europe, e José Manuel Pureza, do Bloco de Esquerda, assim como Michele Zanzucchi e Ana Clara Giovani, da Sophia University, e Maria Chiara de Lorenzo, do Movimento dos Focolares. No futuro, dentro do projeto Diálogo, o DIALOP organizará outros simpósios sobre ecologia e políticas sociais. Para obter mais informações, faça login em https://dialop.eu.

Ana Clara Giovani

No coração da JMJ

No coração da JMJ

Os jovens esperam pelos próximos compromissos com o papa, aos quais se prepararam faz tempo e, nesses primeiros dias em Lisboa (Portugal), participaram dos encontros “Rise UP”. Vamos descobrir o que são esses encontros.
Enquanto escrevemos, a XXXVIII Jornada Mundial da Juventude chegou à metade e os quatro primeiros dias muito intensos já fazem parte da vida de mais de meio milhão de jovens que, no dia 3 de agosto de 2023, acolheram o papa Francisco no coração de Lisboa (Portugal), no Parque Eduardo VII, rebatizado de “Colina do Encontro”, para indicar a dimensão fundante desta JMJ: o relacionamento com Deus, com si mesmos e com os outros, para construir um mundo de paz, sustentabilidade e fraternidade.
Aos gritos de “Deus ama todos”, em uma Igreja na qual há espaço para todos, Francisco abriu oficialmente a JMJ portuguesa e podemos ver as notícias diárias nas mídias.
Porém, o que corre o risco de ficar em segundo plano é o grande trabalho de atualização que a Igreja, no sentido mais universal do termo – feita pelos jovens junto com seus educadores, sacerdotes e bispos, e diversas realidades eclesiais – fez, a fim de que esta Jornada Mundial fosse um lugar em que os jovens “se reencontrassem” em suas perguntas, na busca consciente ou nem tanto de Deus para tê-lo como companheiro de vida, na realização de espaços de partilha, inspiração e escuta recíproca.
 
“Rise Up” Meetings: espaços para pensar, compartilhar, se inspirar
Com certeza, uma das maiores novidades desta edição são os encontros “Rise UP”, o novo modelo de catequese da JMJ que convida os jovens a refletir sobre grandes temas abordados durante o pontificado do papa Francisco: a ecologia integral, a amizade social e a fraternidade universal, a misericórdia.
Foram 270 encontros feitos em 30 línguas que se conectam todos ao tema geral da JMJ: “Maria levantou-se e partiu apressadamente” (Lucas 1:39).
O Movimento dos Focolares também se envolveu nos encontros Rise Up – 3 reuniões de meio período cada uma – para os peregrinos de língua inglesa, encontrando em média 5000 jovens por dia. “Eu me senti protagonista desde o início”, conta Eunice, uma gen da equipe organizadora, “e o tema desta JMJ me inspira muito: eu também me sinto impulsionada a levantar-me e partir apressadamente, como Maria; sinto uma motivação forte a dar mais, a superar limites, cansaço e dificuldades, como ela fez quando foi visitar Isabel. Não parou, mas amou”.
Nos encontros, falaram Margaret Karram e Jesús Morán, presidente e copresidente do Movimento dos Focolares, juntamente com o cardeal Patrick O’Malley, de Boston (EUA), o arcebispo Anthony Fisher, de Sydney (Austrália), e o bispo Robert Barron, de Winona-Rochester em Minnesota (EUA).
Os jovens da JMJ de Lisboa
Fazer a experiência do amor de Deus e levá-lo a qualquer lugar em que esteja ou se sinta chamado foi o fio condutor dos encontros cheios de dinâmicas, música, oração e muita partilha. “Senti que, depois de um ano e meio de ‘isolamento’ depois da Covid, algo havia mudado em mim”, conta Pete, dos Estados Unidos, em sua primeira JMJ. “Decidi vir com os jovens da minha diocese para entrar no jogo. Queria sair da minha zona de conforto, conhecer jovens de outros países, ver como eles enfrentam os problemas. Ainda tenho muitas perguntas, mas encontrei aqui algumas respostas.”
Para os jovens da Eslováquia também não foi fácil decidir partir e se abrir a pessoas de outras culturas e a modos diferentes de fazer as coisas. Há uma grande expectativa sobre o que o papa vai dizer nos próximos dias. “Temos certeza de que as palavras dele ficarão nos nossos corações para sempre e nos ajudarão em diversas situações da vida.”
Esse encontrar-se, reconhecer-se como irmãos e irmãs talvez seja o traço mais característico deste evento; portanto, os testemunhos são os pontos centrais dos encontros Rise Up.
A vida verdadeira no centro
Como a de Lucas, que vive na Amazônia brasileira. Na JMJ do Panamá, ficou fascinado com a figura de Jesus e, ao voltar para casa, se propôs a participar de um projeto de ajuda às comunidades indígenas da sua terra. Durante 15 dias, com uma equipe de médicos, enfermeiros e psicólogos, juntamente com uns vinte jovens, levaram ajuda, tratamento e suporte a muitas pessoas que estavam longe de centros médicos. “Foi uma experiência incrível a de me doar de manhã até à noite, sem pausas”, conta Lucas. “O Projeto Amazônia me fez crescer muito como pessoa. O primeiro fruto de tudo isso sou eu: mudei, não sou mais o mesmo.”
Sofia, argentina, conta sobre o seu percurso existencial buscando fortemente um sentido. A um certo ponto, conheceu a figura da beata Chiara Luce Badano, cujo sim a Deus, também na dor, lhe deu forças para doar a própria vida na estrada de consagração do Movimento dos Focolares. E poderíamos continuar porque os testemunhos contados foram muitos, assim como as perguntas que os jovens fizeram aos bispos e aos líderes que falaram.
“Vim com o meu grupo de amigos a esta JMJ”, conta Pat, 19 anos, de Sidney, “e isso para mim é importante porque acho que para conseguir fazer a diferença no mundo, e também para tomar decisões pessoais, precisamos dos outros. A solidão é um problema de muitos jovens da minha idade e quero fazer algo quanto a isso, começando com querer o bem dos meus amigos e aqui entendi que esse é o caminho certo”.
São tantas as perguntas e também os medos desses jovens, mas não é só isso: esses jovens querem abrir-se, conhecer, vêm de histórias e existências diversas, geralmente opostas e, mesmo assim, estão aqui para encontrar o papa Franciso e para encontrar Deus na própria vida e encontrar amigos com quem compartilhar. A JMJ de Lisboa entrou no meio dos acontecimentos da sua viagem.

Stefania Tanesini

Para ler os discursos na íntegra:

Margaret Karram, discurso do dia 2 de agosto de2023, Encontro Rise up, JMJ Lisboa (Portugal)

Jesús Morán, discurso do dia 2 de agosto de2023, Encontro Rise up, JMJ Lisboa (Portugal)

Margaret Karram, discurso do dia 3 de agosto de2023, Encontro Rise up, JMJ Lisboa (Portugal)

Jesús Morán, discurso do dia 3 de agosto de2023, Encontro Rise up, JMJ Lisboa (Portugal)

Lisboa 2023: “Há Pressa no Ar”, hino oficial da JMJ

Lisboa 2023: “Há Pressa no Ar”, hino oficial da JMJ

Um canto uníssono entoado pelos jovens de todo o mundo. O padre João Paulo Vaz, sacerdote de Coimbra (Portugal) é o compositor da letra do hino da JMJ de Lisboa 2023, transformado em música por Pedro Ferreira, professor e músico. Dois jovens do Movimento dos Focolares (Gen), Lourdes Catalán e Ivan Ho, o entrevistaram. Falta realmente pouco para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) 2023 e pelas vielas de Lisboa (Portugal), cidade onde ocorrerá esse evento global, já é possível escutar a voz dos primeiros jovens que estão chegando e cantam “Há Pressa no Ar”, hino oficial inspirado no tema “Maria levantou-se e partiu apressadamente” (Lucas 1:39). Vamos descobrir com o padre João Paulo Vaz, sacerdote da diocese de Coimbra e compositor do hino, como ele nasceu. Lourdes: Padre João Paulo, o que representa para o senhor a JMJ e como decidiu participar do concurso para a seleção do hino de Lisboa 2023? Padre João Paulo Vaz: Participei de 5 JMJs na minha vida (Paris, Roma, Toronto, Colônia, Sidney e Madrid), algumas inclusive como responsável da pastoral juvenil da diocese. Cada uma delas marcou o meu percurso como homem, como cristão e como sacerdote. Foram experiências muito intensas de fé e de comunhão e, algumas coisas em particular, deixaram uma marca. Uma delas sempre foi o hino. Quando chegou a notícia de que poderíamos participar do concurso para compor o hino de Lisboa 2023, fiquei muito contente, seja pela minha experiência pessoal, seja como compositor. Decidi apresentar a letra, mas, a um certo ponto, descobri que tinha me esquecido de me inscrever a tempo porque era preciso demonstrar interesse em participar, mesmo antes de apresentar a composição. Quando percebi isso, fiquei muito triste, mas Deus nunca nos deixa sós. Um grupo de participantes que havia se inscrito a tempo e tinha somente a base musical me perguntou se poderia utilizar a minha letra e entrei no concurso. Pouco depois, fiquei sabendo com grande alegria que a minha canção havia sido escolhida. Fiquei muito feliz, porque senti realmente que isso era uma resposta de Deus ao meu desejo. Ivan: Qual mensagem o senhor queria transmitir pela composição desse hino? Padre João Paulo Vaz: Em primeiro lugar, a mensagem que pensei em passar para cada jovem é “Jesus vive e não nos deixa sós: não mais deixaremos de amar”. Por isso, com ele “todos vão ouvir a nossa voz”, como explica a canção, porque não há medo. A letra toda vai nessa direção e Maria, protagonista dessa JMJ, na simplicidade e na humildade da sua figura, representa todas essas coisas: ela que, por primeira eleva a sua voz porque leva consigo Cristo; é a primeira evangelizadora que revela também a nós, com o seu “sim” e a caminho do encontro com Isabel, como levá-lo aos outros. Ivan: Em Lisboa, esperam receber muitos jovens do mundo inteiro. Como se sente ao pensar que todos cantarão esse hino juntos? Padre João Paulo Vaz: É muito importante dizer que, a partir do momento em que a canção é escolhida como hino da JMJ, não nos pertence mais, não é mais nossa. Não é mais a minha letra nem a música composta por Pedro Ferreira. É o hino da JMJ de Lisboa 2023. Eu cantarei com os outros: essa será a maior alegria. Lourdes: Se pudesse sintetizar o hino em uma ou duas palavras, quais seriam? Padre João Paulo Vaz: A primeira é “profundidade”, que significa descobrir quem somos, descobrir Cristo em nós e viver a partir dali; a segunda é “coragem”, para ser a presença de Deus no mundo, para anunciar a vida. É nessas duas palavras que, na minha opinião, floresce a experiência da fé. Ivan: Qual é a sua mensagem pessoal para os jovens de hoje? Padre João Paulo Vaz: Gostaria de usar as palavras do Papa Francisco, pronunciadas em um dos vídeos promocionais da JMJ, no qual convida a ir em frente sem medo, construir um mundo melhor e ser protagonistas. Precisamos tanto que os nossos jovens deem mais valor ao mundo, que voltem aos valores verdadeiros. É necessário abandonar o medo e estar conscientes de que são eles mesmos, os jovens, que construirão um futuro melhor. Então, querido jovem, você não pode ficar parado, observando o mundo da poltrona: deve se levantar e partir, como Maria. A JMJ, e esta em particular, é uma oportunidade para dizer que você acredita e que está disposto a fazer aquilo que Deus lhe pede; mais do que qualquer outra coisa, você não está sozinho nisso. Um mundo inteiro de jovens e o papa estão prontos a caminhar com você.

Lourdes Catalán e Ivan Ho