Movimento dos Focolares
Inundação na Emilia-Romagna (Itália): a esperança que resiste à lama

Inundação na Emilia-Romagna (Itália): a esperança que resiste à lama

Quase um mês e meio depois das inundações que atingiram as regiões de Marche e Emilia-Romagna (Itália), a história da experiência pessoal de Maria Chiara Campodoni, focolarina casada, professora e ex-vereadora do município de Faenza, fortemente afetada por este desastre. As inundações que atingiram Marche e Emilia-Romagna (Itália) há cerca de um mês e meio causaram a perda de 15 vidas humanas, milhares de desabrigados e a inundação de 23 rios. Até o momento, cerca de 100 municípios foram inundados. Os numerosos deslizamentos de terra afetaram pequenos produtores, dezenas de quilômetros quadrados de terras agrícolas e fazendas foram destruídas pela força da água, junto com pontes e estradas. As contribuições arrecadadas pela Coordenação de Emergência do Movimento dos Focolares, AMU e AFN são atualmente de 182.000 euros. Em colaboração com a APS Emilia-Romagna, foi constituído um comitê local de emergência que identificou algumas áreas de intervenção: Cesena, Sarsina, Faenza, Castel Bolonhese, Ravena. Está sendo feito o levantamento das necessidades da população afetada, sobretudo através da relação pessoal e através da compilação de formulários em que cada um declara os danos sofridos e o pedido. Entre as tantas pessoas atingidas está Maria Chiara Campodoni, focolarina casada, professora e Conselheira do Esporte de 2010-2015 e Presidente da Câmara Municipal de Faenza 2015-2020, que nos conta como está vivendo esse drama, mas também a esperança necessária para ser capaz de seguir em frente. Maria Chiara, como você viveu esse momento? Em Faenza houve duas enchentes. Em nossa casa a água entrou pela primeira vez no dia 2 de maio por 30 cm. Era de tarde, tinha luz e estávamos em casa eu e um de meus filhos. No início encaramos quase como uma aventura, mas nessa mesma noite preferi que o meu marido, que tinha saído para buscar os outros dois filhos nas atividades desportivas, não voltasse, porque lá fora havia muito mais água que no interior e só temos portas de pátio no térreo. Trazê-los de volta para casa significaria deixar entrar muito mais água também. Então eles foram dormir com os avós e nós tentamos carregar algumas coisas para cima, jantamos nos quartos e fomos para a cama. Até os bombeiros que passaram nos tranquilizaram, dizendo que a situação não iria piorar mais do que isso. No dia seguinte, o nível da água dentro e fora era o mesmo e então, de acordo com meu marido, decidimos sair de casa. Quando 15 dias depois começaram a recomendar a evacuação dos andares térreos porque estava prestes a acontecer novamente, toda a população da cidade foi colocada em alerta e entendeu que deveria se mobilizar porque aconteceria algo mais grave. E o que aconteceu na segunda vez? A segunda enchente, aquela da qual escapamos, veio à noite. Por volta das 20h30min: as margens do rio perto da nossa casa transbordaram. Até aquele momento, nós, que estávamos equipados com uma bomba dentro de casa, não tínhamos saído convencidos de que poderíamos controlar o fluxo das bombas e manter a água baixa também com a ajuda de sacos de areia. Ao invés disso, em 20 minutos a água atingiu o primeiro andar, chegou a 3m muito rapidamente e ficamos presos lá. Pedimos ajuda e imediatamente responderam dizendo que chegariam, mas, ao mesmo tempo, naquela mesma tarde o rio Savio já havia transbordado em Cesena, portanto a proteção civil e o corpo de bombeiros, que estavam todos em Faenza no dia anterior, já estavam um pouco mais espalhadas nas várias áreas. Além disso, na minha rua a corrente era tão forte que os veículos motorizados só conseguiram entrar às 4h da noite e não teríamos resistido até aquela hora. Os polícias disseram-nos para irmos para os telhados, mas não temos claraboia, então era ir lá de fora e tentar flutuar. A situação era realmente perigosa. (Na foto, a seta indica o nível atingido pela água). A uma certa altura, um primo do meu marido, sabendo pelas redes sociais que o rio havia transbordado bem perto da nossa casa, ligou para ele e perguntou se já havíamos saído. Pela voz intuiu que corríamos perigo e sendo um atleta, preparou-se como se fosse surfar, colocou a roupa de mergulho, pegou a prancha e saltou para a corrente. Ele nadou até nossa casa e empurrando as ondas, pegou cada um de nós, um de cada vez, levando-nos em segurança até as muralhas da cidade, a 500 metros de nossa casa. O que você viu estando lá fora? Quando se está imersos na corrente, toda a perspectiva muda. A água já tinha ultrapassado as placas das ruas, então você não sabia mais se estava na rua ou no jardim de uma casa. Passamos por cima de portões, por cima de garagens e estávamos tão altos que a uma certa altura ele pediu-me para que me agarrasse ao que parecia ser um arbusto, mas na realidade, agora sei que era uma árvore. Fui a última a ser socorrida. Depois, molhados e encharcados, fomos recebidos em casa por uma senhora que nos conhece. Ele levou para o banheiro, nos deu roupas limpas porque até o frio naquela noite estava terrível e ainda estava chovendo. Nos aquecemos e depois fugimos para 6 km longe da cidade onde mora minha sogra. Tivemos muita sorte porque fomos os primeiros a sair. Além disso, não vivemos o que muitos nos contaram depois, uma verdadeira noite de terror na cidade. As crianças perceberam o perigo? Sim. Tenho três filhos de 10, 8 e 6 anos. A certa altura o mais novo começou a correr para longe das escadas, porque víamos a água subindo degrau a degrau, e ele disse-me: “Faltam 5 degraus, 4 quatro degraus. Vamos para o telhado, temos que fugir”. E eu disse: “estamos aqui na janela, porque lá fora está chovendo. Agora a polícia vai chegar”. Resumindo, perceberam e aos poucos tiveram que metabolizar, principalmente os grandes. Em uma hora, temíamos que não conseguiríamos. Chegando na casa da avó ficaram mais tranquilos, mesmo se, chegando lá, começaram a entender que tínhamos perdido tudo. Disseram-me: “Mãe, agora não temos mais as mochilas e os livros para ir à escolar?” Expliquei-lhes que muitas pessoas iriam nos ajudar e foi o que aconteceu. Como foram os primeiros dias? Onde vocês encontraram abrigo? Ficamos alguns dias com minha sogra porque não podíamos nos locomover pela cidade. Depois, fomos recebidos por uma tia de um amigo do meu filho, que mora fora do país, e que nos emprestou a casa dela no centro da cidade por um mês, a 10 minutos a pé de onde morávamos, então com possibilidade de ir e começar a limpar. Estávamos juntos, mas realmente foi um grande presente e talvez eu tenha percebido isso mais tarde, quando comecei a ouvir as histórias de outras pessoas. Então muitos voluntários começaram a chegar por toda a cidade. Devo dizer que sempre vêm amigos à nossa casa, em parte pelo Movimento dos Focolares e em parte porque meu marido tem muitos contatos. Vieram pessoas de Parma, Piacenza, Veneto e até mesmo aqueles que sofreram o terremoto em Emilia anos atrás realmente sentiram um chamado para vir e dar uma mão. Havia um clima muito bonito, uma verdadeira ajuda, e foi nesse clima que, aos poucos, comecei a jogar tudo fora, mas estava realmente serena. Limpar a lama parece a coisa mais importante no começo, você tenta fazer o seu melhor, com muito esforço, e depois você percebe que não são as coisas, os objetos que compõem a sua vida, mas todo o resto. Seu marido também é dono de um restaurante… Sim. Ele tinha visto pelas câmeras que felizmente não havia água ali, mas precisava ir ver pessoalmente. Um dia saiu às seis da manhã pensando em pegar a estrada, mas também estava fechada. Tivemos uma ideia: “vamos ligar ao vice-presidente da câmara, e dizer-lhe que se te levarem ao restaurante da proteção civil, podes cozinhar para todos os que precisarem”. E devo dizer que ele aceitou de bom grado o nosso serviço, porque já havia muitos desabrigados lá. Felizmente, todos os deficientes e idosos foram levados mais cedo e enviados para um hotel que fica muito perto do restaurante do meu marido, mas que não possui cozinha ativa. Então meu marido e dois funcionários passaram um dia inteiro no restaurante, fizeram 700 marmitas entre o almoço e o jantar. Destes desabrigados tinha 100 pessoas, os bombeiros, a proteção civil e como o restaurante fica mesmo na rua Emilia, que é um ponto de passagem, muitas das pessoas que ficaram presas na rua, que dormiram no carro sem comida, chegaram ao hotel pedindo ajuda. Toda a área de Cesena e Forlì foi paralisada. E agora como vocês pensam em se organizar? Atualmente saímos da pequena casa que nos hospedou. Vamos nos mudar para uma casa que temos à beira-mar por um tempo e depois alugamos um apartamento por 18 meses esperando para arrumar a nossa casa. A perspectiva é regressar em setembro de 2024. Depois ficam muitas interrogações, antes de mais nada, temos que entender se haverá empresas que consigam renovar todas estas casas, porque somos muitos. Estamos falando de 12.000 pessoas fora de casa. 6.000 famílias só em nossa cidade e algumas casas, as mais antigas, foram declaradas inabitáveis. Agora as casas têm que secar. Já destruímos tudo. Tínhamos parquet e retiramos, os tetos falsos do térreo desceram sozinhos quando a água baixou e com a ajuda de muitos conseguimos pelo menos desligar as louças sanitárias. Agora todas as manhãs vamos abrir as janelas e à noite vamos fechá-las para ligar o desumidificador. Felizmente estamos no verão. Se tivesse acontecido no outono, teria sido um transtorno muito maior. A solidariedade continua? Absolutamente sim e de várias formas. Por exemplo, no início pensamos em procurar uma casa já mobiliada para não ter que mudar duas vezes, mas percebemos que as pessoas começaram a doar tudo: guarda-roupas, colchões, quartos, sofás. Optamos por pegar uma casa vazia que podemos começar a mobiliar com as coisas que recebemos e depois, em 18 meses, trazer tudo de volta para a nossa casa, até porque aí certamente haverá outras prioridades. As pessoas ficam felizes em ajudar e devo dizer que foi uma lição para mim. Lembro-me que um dia após a primeira enchente, minha casa virou de cabeça para baixo e minha máquina de lavar quebrou. Disse para mim mesma “Vou fazer três sacolas, uma com panos brancos, uma colorida, uma preta e depois vou trabalhar. A primeira colega que me pergunta ‘como te posso ajudar?’, eu digo-lhe ‘se você estiver disposta a qualquer coisa, estas são roupas para lavar’”. Não tive tempo de dar um passo para a escola que ela já havia providenciado. Nestes casos cria-se um vínculo mais forte com as pessoas e acima de tudo não tive vergonha de pedir ajuda. Aceitamos o que nos foi dado e sinto que é também uma forma de mostrar quem eu sou, mostrando as minhas necessidades e dizer que está tudo bem, nos amamos assim, por quem somos. Um bom vínculo também foi criado com os vizinhos. Há quatro anos e meio, que moramos lá, mas nunca tinha entrado no jardim de muitos vizinhos, porque a vida é frenética mesmo, a gente corre. Em vez disso, agora entramos, nos cumprimentamos, nos ajudamos. Que fase se inicia agora? Começou a segunda fase, a da criação de comissões de cidadãos para iniciar a comunicação com a administração municipal. Eu teria desistido imediatamente por vários motivos, sobretudo por ter exercido algumas funções no passado, mas depois percebi que, sem me expor muito, ouvindo, ficando por dentro dos chats, ajudando os responsáveis ​​por esses comitês, eu posso fazer a minha parte. Devo isso aos meus filhos que ainda me perguntam “temos que voltar a morar ali mesmo? Vamos construir uma escada externa que nos leve até o telhado da próxima vez?”. É preciso uma cidadania ativa que monitore as situações. Senti que também tinha de colocar a minha experiência à disposição, nas formas certas, criando ligações tanto quanto possível, porque agora, como sempre acontece quando há necessidade de reconstruir, o maior medo é ficar sozinho. Você está esperançosa? Sim, com certeza. No outro dia, tínhamos de dar um presentinho a esta senhora que nos hospedou na sua casa durante o primeiro mês e, como Faenza é a cidade da cerâmica, consegui um azulejo para pendurar na parede com a frase “As coisas bonitas da vida bagunçam”. Eu disse a mim mesmo que isso era uma grande bagunça, enorme. Vamos levar algum tempo para nos reerguer e vamos conseguir, mas sinto que não poderia ter tido certas experiências sem ter vivido este momento tão difícil. Eu realmente sinto que cheguei naquele ponto em que você olha para o essencial, para o que importa. Foi terrível, mas não consigo pensar só no desastre, que a água levou tudo e termina ali. Há muito, muito mais além de tudo isso.

Maria Grazia Berretta (Entrevista feita por Carlos Mana – Foto: cortesia de Maria Chiara Campodoni)

Ainda é possível contribuir para a angariação de fundos de emergência. Se quiser fazer um donativo, clique aqui

Japão: Projeto CommuniHeart

No Japão, um grupo de mulheres de diferentes religiões iniciou o “projeto CommuniHeart”, um projeto de prevenção do suicídio que se concentra na autoconsciência, comunicação e apoio comunitário. O projeto CommuniHeart é promovido pela Religiões pela Paz do Japão (Conferência Mundial das Religiões pela Paz). https://youtu.be/UgGOm-6JsD4

Em direção a um juramento ético para o mundo digital

Em direção a um juramento ético para o mundo digital

O nível ao qual a inteligência artificial chegou nos coloca diante de novas questões éticas: como promover um desenvolvimento tecnológico na medida humana? Call to action (chamado à ação) para desenvolvedores e inovadores do mundo digital. Um horizonte que inclui todos. Junho de 2023, Instituto Universitário Sophia: na tela da aula magna, uma anfitriã digital abre com elegância o seminário “Em direção a um juramento digital | Towards a Digital Oath”. Estamos atravessando uma porta: a preparação começou faz tempo, mas a aceleração dos últimos meses significa algo novo. Promovido por uma plataforma de temas – o centro de pesquisa Sophia Global Studies, o Movimento Politico per l’Unità, NetOne, New Humanity e Digital Oath –, o encontro quer abordar os assuntos mais urgentes do mundo digital por várias perspectivas: filosóficas, tecnológicas, éticas, sociais, políticas, até discutir a proposta de um “juramento” que possa representar para os responsáveis pelos trabalhos no mundo digital algo análogo ao Juramento de Hipócrates para os médicos. De onde vem essa exigência? Quais são os objetivos? O mundo tecnológico tende a mudar rapidamente e, cada vez mais frequente, a uma velocidade superior à nossa capacidade de adaptação. A complexidade das máquinas e dos sistemas que estruturam a realidade influencia não só o nosso modo de viver, mas também o modo de ver o mundo e de pensar no futuro. O nível atingido pelas “inteligências artificiais” – IA, vê emergir, ao lado do entusiasmo por suas capacidades operacionais, uma preocupação geral sobre novas possibilidades abertas por esses sistemas e os efeitos que podem derivar da sua má utilização. A recente difusão do ChatGPT (novembro de 2022) e de todos os seus derivados aproximou massivamente as IAs do nosso cotidiano, fazendo nascer novas questões ligadas à compreensão do que é humano e do que não é. No panorama mundial, a evolução desses aparatos produziram uma certa desorientação, não só porque a sua utilização está ao alcance de todos, mas sobretudo porque demonstram fazer algo que antes era prerrogativa dos seres humanos, com capacidade quantitativamente superior. O fato de nos encontrarmos diante de sistemas que não são “inteligentes” no sentido humano do termo e que gerenciam sua base de conhecimento por meio de cálculos estatísticos não muda o resultado final: a sensação de não sermos mais autores de escolhas fundamentais, desafiados por máquinas que são menos “instrumentos” e mais “companheiras de trabalho”. A essas questões, o seminário “Em direção a um juramento digital | Towards a Digital Oath” acrescentou um tema central: perguntar-se sobre a ética das tecnologias significa se questionar sobre o humano. Inclusive, muitos parecem considerar o desenvolvimento tecnológico como a atividade humana que mais nos caracteriza. Efetivamente, as tecnologias digitais e em particular as IAs são aquelas que refletem mais que as outras, como um espelho, o nosso modo de ser e de entender a existência. As crises do último século (de valores, ambientais, sociais e políticas) estão estritamente relacionadas a esse modo e nos dizem que ao desenvolvimento tecnológico deve ser adicionado um empenho educativo já determinado, de modo que cada forma de progresso possa ser guiada por uma profunda conscientização ética. O sentido de um “juramento” para o mundo digital vai justamente nessa direção. O programa dos primeiros dias de junho contou com especialistas qualificados (link do programa). Depois de um primeiro panorama geral sobre tecnologias digitais de hoje, o debate explorou riscos e regulamentações legais da utilização na Itália e na EU, nos EUA, no Brasil e na China, entrelaçando soluções tecnológicas e questões políticas, reflexões filosóficas e fenômenos sociais. “É necessário tornar visível e aceitável um empenho concreto e universalmente compartilhado”, explica Fadi Chehadé, ex-CEO da ICANN (Corporação da Internet para Atribuição de Nomes e Números) e promotor do “juramento” para ética no mundo digital, professor visitante no Instituto Sophia, “com o qual desenvolvedores, técnicos e usuários das tecnologias digitais possam ancorar de maneira saudável o seu trabalho com uma abordagem humanocêntrica”. Fadi Chehadé acompanhou as primeiras etapas do percurso desde novembro de 2019, quando um primeiro grupo se encontrou em Trento (Itália) para dar forma ao projeto. Depois, o grupo promotor envolveu estudiosos em vários países e participou da consulta pública promovida pela ONU para o Global Digital Compact (Pacto Digital Global) 2024. Hoje o objetivo do Digital Oath (Juramento Digital) é necessário: sugerir linhas-guias e motivar eticamente os desenvolvedores e inovadores do mundo digital a colocar no centro a dignidade e a qualidade de vida das pessoas e das comunidades, o sentido humano da existência, o respeito aos direitos fundamentais e ao meio-ambiente. “A proposta de traduzir, por assim dizer, o Juramento de Hipócrates para o mundo digital”, lembram os promotores do encontro, “já surgiu em vários estudos internacionais, que evidenciam a urgência do tema e a responsabilidade de quem cria e administra serviços digitais, administra dados. O pensamento não vale somente para as novas redes neurais, mas também para as redes sociais ou para as criptomoedas… O nosso trabalho se junta ao de outras redes: agora é preciso unir os esforços para uma coalisão entre universidades, setor privado e organizações empenhadas na escrita de um código ético, um protocolo de autorregulamentação que possa beneficiar pessoas, sociedade e meio-ambiente”. No novo site de Digital Oath, há uma primeira formulação do juramento à disposição de todos e as inscrições estão chegando: o texto está aberto a sugestões e modificações com elaboração progressiva. O site reportará em breve também as inscrições e os documentos do Seminário. Apesar de a estrada ser certamente uma subida, somos muitos caminhando: é um horizonte que envolve a todos.

Andrea Galluzzi

Ecumenismo: sinodalidade e primazia no segundo milênio e hoje

Ecumenismo: sinodalidade e primazia no segundo milênio e hoje

A Comissão Internacional Conjunta para o Diálogo Teológico entre a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa realizou sua décima quinta sessão plenária, de 1 a 7 de junho de 2023, em Alexandria, Egito, hospedada pelo Patriarcado Ortodoxo Grego de Alexandria e toda a África, chegando a um acordo sobre um novo documento intitulado “Sinodalidade e primazia no segundo milênio e hoje”. Nossa entrevista com o teólogo Piero Coda, presente no encontro. Padre Coda, pode nos dizer que evento foi esse, quem participou e qual era o objetivo principal? A 15ª sessão plenária da “Comissão Conjunta Internacional para o diálogo teológico entre a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa” foi realizada em Alexandria do Egito sob a presidência do Metropolita Job da Pisídia (Patriarcado Ecumênico de Constantinopla) e do Cardeal Kurt Koch (Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos), com a cordial hospitalidade do Patriarca de Alexandria Teodoro II. Tratava-se de completar a etapa do diálogo inaugurado pelo documento de Ravenna (2007), que previa, após o desenvolvimento do quadro teológico compartilhado por ortodoxos e católicos sobre a interdependência da sinodalidade e primazia na vida da Igreja, o exame histórico da situação vivida no primeiro milênio, proposta pelo documento Chieti (2016), para chegar à descrição da situação vivida no segundo milênio, objeto do documento aprovado em Alexandria. Devido às conhecidas vicissitudes que afligem o mundo ortodoxo, o Patriarcado da Rússia abandonou o trabalho da Comissão. Também ausentes em Alexandria estiveram os representantes dos Patriarcados de Antioquia, Bulgária e Sérvia, enquanto estavam presentes as restantes 10 delegações dos outros Patriarcados (Constantinopla, Alexandria, Jerusalém, Roménia, Geórgia) e Igrejas autocéfalas (Chipre, Grécia, Polónia, Albânia, República Checa e Eslováquia). Em que termos é possível falar de sinodalidade no âmbito ecumênico e que considerações surgiram olhando também para o passado? O tema foi ilustrado na Introdução: “Este documento considera a conturbada história do segundo milênio (…) vários pontos, a fim de promover a compreensão e a confiança recíprocas, requisitos essenciais para a reconciliação no início do terceiro milênio”. O resultado é uma compreensão mais clara e compartilhada das razões que levaram – não raro por razões de natureza histórico-política, mais do que teológica – a promover um distanciamento que não só impediu que as tentativas de reconciliação feitas ao longo dos séculos alcançassem êxito, mas exacerbou a interpretação polêmica em relação à outra parte e o endurecimento apologético de sua posição. Note-se a intensificação da abertura a uma situação nova marcada pela aproximação ocorrida no século XX: o que favorece uma avaliação mais pertinente do significado atual e do peso teológico daquilo que ainda impede a unidade plena e visível. Quais são as perspectivas futuras? O documento sublinha que são decisivos o “retorno às fontes” da fé e a estratégia do diálogo da caridade entre as “Igrejas irmãs” promovidas, na esteira do Concílio Vaticano II, por Paulo VI e pelo Patriarca Atenágoras. Também o compromisso da Igreja Católica hoje, tenazmente desejado pelo Papa Francisco, para redescobrir e reativar o princípio da sinodalidade estimula a esperança. Para onde apontar o olhar? O documento especifica que “a Igreja não é corretamente compreendida como uma pirâmide, com um primado que a governa de cima, mas também não é corretamente compreendida como uma federação de Igrejas autossuficientes. Nosso estudo histórico da sinodalidade e primazia no segundo milênio mostrou a inadequação de ambos os pontos de vista. Da mesma forma, é claro que para os católicos a sinodalidade não é meramente consultiva e para os ortodoxos a primazia não é meramente honorífica”. A interdependência entre sinodalidade e primazia, portanto – este é o ponto firme adquirido -, é “um princípio fundamental na vida da Igreja. Está intrinsecamente relacionado com o serviço da Igreja em nível local, regional e universal. No entanto, o princípio deve ser aplicado em contextos históricos específicos (…) o que é exigido nas novas circunstâncias é uma nova e correta aplicação do mesmo princípio”. Essa perspectiva abre caminho para a continuação da jornada e a abertura de uma nova fase.

Carlos Mana e Maria Grazia Berretta (fotos: ©Dicastero per la promozione dell’Unità dei cristiani)

Viver a oração

Penetrar na oração significa reencontrar o centro do encontro entre o eu e a presença de Deus na nossa vida. Chiara Lubich, padre Pasquale Foresi e Igino Giordani, com palavras cada vez mais atuais, traçam as linhas de uma espiritualidade civil, de todos, vivida nas ruas das cidades do mundo.  […] Eu percebi que os tempos modernos pedem uma oração particular. […] Antigamente se pensava que o mundo e o cosmo estivessem parados, estáticos. Devíamos encontrar Deus admirando as estrelas, as flores… na contemplação, na paz, a união com Deus, nos momentos de recolhimento, de oração na igreja diante do Santíssimo. No entanto, agora, com os estudos da ciência moderna, […] viram que o mundo está em contínua evolução, em mutação. Tudo se transforma, caminha para atingir a perfeição. E o homem não pode mais estar parado em contemplação, deve participar com Deus desse movimento, dessa evolução, da criação. Por isso, tudo o que vocês fazem na escola, no escritório, na fábrica ajuda a construir, com Deus criador, o mundo e fazê-lo progredir. Devemos agir assim, pensando que colaboramos com Deus criador. Portanto, o nosso trabalho é sagrado; somos um braço de Deus criador que continua a construir o mundo. […]

Chiara Lubich (Castel Gandolfo, 25 de fevereiro de 1989 em “O Respiro de Deus” organizado por Fabio Ciardi, Città Nuova, 2022, p.122-123)

  Outra forma de oração, muito importante, pode ser praticada no trabalho. Penso principalmente nos operários das fábricas, em todas as pessoas que durante o dia têm uma grande sobrecarga de cansaço que quase anula a própria capacidade de pensar e, portanto, em certo sentido, também de rezar. Se, pela manhã, com uma simples intenção oferecermos a Deus a nossa existência diária, viveremos profundamente a relação com Deus durante o dia. Creio que se esses trabalhadores, à noite, mesmo que por poucos momentos – por estarem cansados – se unirem a Deus, encontrarão a unidade com Ele; e a encontram porque viveram todo o trabalho na relação com Ele. Isso é o mais importante: viver o verdadeiro relacionamento com Ele. No fundo, a humanidade está aberta para ouvir isso hoje: que todo o universo e tudo o que acontece nele seja entendido e transformado, religiosamente, em uma grande oração que se eleva do mundo até Deus.

Padre Pasquale Foresi (em “Deus nos chama. Conversações sobre a vida cristã” Città Nuova, 2003, p.116)

  Esta manhã tive a impressão de ter me aproximado de Deus. Creio que nunca o tinha sentido tão perto. Minha alegria foi e é muito grande. Sinto que encontrei livre acesso para ir até Ele; e meu propósito é não me afastar mais Dele. Com a graça de Deus, venci os impedimentos que me mantinham agarrado à terra. Agora estou na terra e vivo no céu (a minha ambição é enorme, mas a misericórdia Dele é maior. Eu o amo muito). Os impulsos da vaidade, das preferências nas amizades já não me atrapalham. Vou diretamente a Deus, descartando esses empecilhos. Os homens podem me trair, caluniar, matar: mas eu tenho Deus; eu os amo, sem depender deles. Sou de Deus, não preciso de mais nada.

Igino Giordani (em “Diário de Fogo”, Città Nuova, 1992, p.196)

Activar legendas em português https://youtu.be/T9In5BW88kw

SPARKS (o podcast): histórias de agentes de mudança que caminham entre nós

SPARKS (o podcast): histórias de agentes de mudança que caminham entre nós

O primeiro episódio do novo podcast produzido por United World Project foi publicado hoje. Conta histórias de agentes de mudança que decidiram começar um novo negócio, inspirados por uma centelha que os levou a tomar medidas para melhorar a própria sociedade.

Uma centelha pode inspirar mudanças

Hoje, 16 de junho de 2023, United World Project tem o prazer de apresentar um novo podcast em inglês: Sparks (centelhas).  Em cada episódio vamos contar histórias de agentes de mudança de várias partes do mundo que deram vida a um projeto, a uma empresa ou a uma atividade, depois de se inspirarem em uma “centelha”: uma pequena luz que contagiou muitas outras pessoas. Cada um deles nos levará ao seu país, para nos imergir em sua cultura e nos contar como seu projeto começou. Você não precisa ser Greta Thumberg ou Ghandi para iniciar a mudança. Acreditamos que cada um de nós pode fazer a diferença. Talvez apenas uma centelha seja suficiente.

O primeiro episódio: Devolver à sociedade um pote de cada vez 

Devolver à sociedade, um pote de cada vez. Todos nós temos grandes sonhos. Mabih sonhava em trabalhar nas Nações Unidas e durante anos fez de tudo para que isso acontecesse. Mas não correu como ela esperava. Em 2019, percebeu que o sonho que perseguia para ajudar o próximo talvez fosse um desejo pessoal de se afirmar na sociedade. Assim, ao deixar esse sonho ser transformado, sua vida mudou de um modo que ela nunca teria imaginado antes. Hoje Nji Mabih é uma pequena empreendedora, tem 38 anos e mora em Camarões. Para continuar a ler, clique aqui. Para ouvir o episódio imediatamente no Spotify, clique aqui!  Se preferir ouvir podcasts noutras plataformas, também pode encontrar “Sparks” em Apple Podcast, Google Podcast, Amazon Music e Audible. Aproveite!

Laura Salerno