Movimento dos Focolares

Giulio e Pina: apaixonar-se todos os dias

Amar-se reciprocamente no casamento é um grande desafio. Significa perder-se nos caminhos um do outro, partilhar a vida, semear pacientemente e colher os frutos; significa escolher um ao outro todos os dias, mesmo quando não nos reconhecemos e, se necessário, aprender a afrouxar para acompanhar o outro. No dia dedicado aos nomorados, partilhamos a história contada no Collegamento de Novembro de 2017 por Giulio e Pina Ciarrocchi que, 22 anos antes, em Maio de 1995, após a chegada de um derrame que perturbou as suas vidas, encontraram a coragem de se deixarem guiar por Deus, experimentando uma nova forma de se apaixonarem novamente todos os dias, vendo Jesus um no outro. https://www.youtube.com/watch?v=DeBytp9tU1w&list=PL9YsVtizqrYvNGmUXWySZYZWzxoZItFla&index=1&t=29s

Peru: Feliciano, um novo hóspede do Hogarcito

Peru: Feliciano, um novo hóspede do Hogarcito

A missão do Hogarcito “Chiara Lubich”, o centro para idosos na floresta amazônica peruana, é acompanhar os idosos e aqueles que estão doentes. Um lugar onde o serviço é movido pelo amor, onde se encontram pessoas que fazem o bem, capazes de colocar tudo nas mãos de Deus. Na metade do ano passado, uma mulher chegou ao Hogarcito para pedir ajuda. Precisava urgentemente de um apoio para o irmão idoso que morava sozinho, longe da capital onde ela morava. Perguntou-nos se podíamos acolhê-lo no Hogarcito e, depois de pedir-lhe um pouco de tempo para analisar a situação e as nossas possibilidades, nos colocamos no lugar do idoso e não hesitamos em nos disponibilizarmos a acolhê-lo. Foi assim que Feliciano, de 74 anos, se tornou um novo hóspede no Hogarcito. Nós o acolhemos com muito afeto e uma festa de boas-vindas. Descobrimos que ele havia perdido a visão de um olho, que tinha problemas de comunicação – era difícil entender o que dizia –, além de um grave problema de audição.

Feliciano durante a reabilitação

Ele conseguia caminhar sozinho, sempre com uma bengala, mas um dia, depois de ter entrado em seu quarto, demorou para sair. Os funcionários o encontraram estendido no chão, incapaz de se levantar. Então, pediram ajuda à Emergência do Centro de Saúde. Feliciano tinha tido um derrame e metade do seu corpo ficou paralisado. A situação era muito difícil. Estava limitado, triste. Precisava de um enfermeiro ao seu lado e monitoramento cardíaco constante. A equipe do Hogarcito, porém, não estava preparada para tais cuidados especializados. Por isso, Feliciano teve de se recuperar no hospital. Calculamos que os custos ficariam em torno de 2.500 soles (620 euros), para cobrir os cuidados e tratamentos. Tentamos entrar em contato com a irmã, mas, não tendo recebido resposta, não pensamos duas vezes: confiando na providência de Deus, contratamos uma enfermeira para cuidar dele e uma fisioterapeuta para as sessões de reabilitação. Quando perguntamos à fisio quanto tínhamos que pagar, ela nos disse: “Não se preocupem com o pagamento. Será o meu modo de ajudar o Hogarcito”. Foi muito difícil e arriscado transferir Feliciano. Pedimos a Deus que nos desse forças para continuar a sustentá-lo e levar a situação adiante. No fim, o amor de todos o ajudou a melhorar a cada dia. De repente, algum tempo depois, ele nos surpreendeu ao levantar-se. Pegou a bengala e deu alguns passos. Que emoção! Estávamos todos alegres por vê-lo caminhar! Era uma felicidade plena. A experiência de acompanhar quem está doente nos permite não só encontrar pessoas que fazem de tudo para dar uma mão, mas nos dá a alegria de confiar juntos e colocar tudo e todos nas mãos de Deus.

 Os voluntários do Hogarcito

Sínodo na Europa, uma nova forma de ser Igreja

Sínodo na Europa, uma nova forma de ser Igreja

O primado da escuta, um caminho comum aberto ao diálogo e ao encontro, os desafios da secularização, da paz, do acolhimento de tantas diversidades estão no centro desta etapa. Margaret Karram, presidente dos Focolares, também esteve presente. “Estamos reunidos em Praga, uma cidade que pode ser considerada uma ponte entre o Oriente e o Ocidente, mas também um alerta para a Europa. Hoje, pouco mais de trinta anos após a queda do Muro de Berlim e o fim do mundo dividido em blocos opostos, temos outra guerra no centro da Europa. Estamos próximos de nossos irmãos ucranianos, na esperança de que a agressão russa termine e que a verdadeira paz e a reconciliação possam ser encontradas em nosso continente”. Dom Gintaras Grušas, Arcebispo de Vilnius (Lituânia), Presidente do Conselho das Conferências Episcopais Europeias (CCEE), pôs imediatamente o dedo na ferida mais profunda do velho continente no seu discurso de abertura da etapa europeia do Sínodo da Igreja Católica. Também foi expressa solidariedade imediata com as populações turca e síria afetadas pelo terrível terremoto. O encontro acontece na capital da República Tcheca, de 5 a 12 de fevereiro, com a participação de 200 delegados das 39 Conferências Episcopais da Europa, de 45 países. Também estiveram presentes 44 “convidados”, entre eles Margaret Karram, presidente do Movimento dos Focolares. “Na sinodalidade somos todos aprendizes”, lembrou o cardeal Mario Grech, secretário geral do Sínodo, oferecendo uma perspectiva realista desta fase do caminho. A Igreja na Europa se uniu para experimentar um caminho de partilha, hoje mais necessário do que nunca, para se conhecer e derrubar preconceitos. A voz das Igrejas na Europa As sessões dedicadas à história do caminho sinodal das várias conferências episcopais mostraram um recorte da vida das Igrejas na Europa. Desde a Albânia, onde os cristãos de hoje se deparam com a necessidade de aprender a dialogar com pessoas de diferentes religiões; até a Bélgica, onde a secularização atingiu todas as esferas sociais. O convite é saber captar os sinais dos tempos, dando espaço aos leigos, evitando qualquer forma de clericalismo, qualquer cedência a atitudes de abuso e poder. Na Bielo-Rússia, o caminho sinodal trouxe à tona a necessidade de uma formação para o diálogo tanto para o clero como para os leigos, para ter um maior impacto na sociedade. A Bulgária, país com uma percentagem muito pequena de cristãos-católicos, expressa muito bem um caminho sinodal animado por um forte espírito ecumênico, comum a vários países da Europa do Leste, enquanto da França vem um convite decisivo a escutar e a ser centrais na Igreja das vítimas de abuso; a um caminho de purificação na vida espiritual para redescobrir a fidelidade a Cristo e ser uma Igreja acolhedora para todos. As Igrejas da Grã-Bretanha e do País de Gales sublinham a necessidade de uma formação permanente na vida de fé e na evangelização. Questões transversais Os temas transversais às Igrejas do velho continente são muitos: desde o flagelo dos abusos, à formação do clero para que recupere a confiança do povo de Deus e esteja à altura dos desafios da sociedade de hoje descristianizada e secularizada, para a questão da mulher na Igreja, até a urgência de transmitir a fé hoje, com uma linguagem e métodos adequados aos tempos. Mas a pergunta comum a todos é uma: o que significa para a Igreja na Europa ser “inclusiva”? Como pode abranger também aquelas pessoas que vivenciam situações morais complexas em relação à doutrina da Igreja, como pessoas divorciadas ou pessoas LGBTQ+. As respostas, já foi dito, virão de um paciente caminho de comunhão. “Creio que a resposta que a Igreja na Europa pode oferecer hoje – disse Margaret Karram em seu discurso – é o dom daquele amor evangélico que nos vem do próprio Cristo e está no centro do diálogo e do encontro. Como Movimento dos Focolares estamos empenhados neste caminho ao qual o Papa nos chama”. As jornadas sinodais em Praga sã para a Igreja na Europa uma experiência de sinodalidade no campo, que mostram a necessidade de continuar neste caminho. O documento final, fruto destes dias de trabalho, recolherá todos os pedidos, desafios e propostas e, juntamente com os das outras 6 assembleias continentais, será enviado à comissão central do Sínodo.

Stefania Tanesini

A lua sobre os escombros: testemunhos da Turquia e da Síria

A lua sobre os escombros: testemunhos da Turquia e da Síria

Em 6 de fevereiro de 2023, fortes terremotos atingiram o sul e o centro da Turquia e a Síria. Uma catástrofe que causou a destruição de cidades inteiras, a morte de milhares de pessoas e muitos desaparecidos. Aqui estão alguns testemunhos de quem está nesses territórios. “Já na noite de domingo, 5 de fevereiro, chegou a comunicação das autoridades de que as escolas permaneceriam fechadas na segunda-feira, dia 6, porque se temia uma violenta tempestade. As temperaturas estão próximas de 0 e o período mais frio do ano está previsto para toda a Turquia”. Estas são as palavras de Umberta Fabris, dos Focolares de Istambul (Turquia), que, com voz emocionada, narra as condições em que o país se encontra, vivendo uma catástrofe sem igual e que, com uma violência sem precedentes, na noite entre 5 e 6 de fevereiro, atingiu a Turquia e a Síria. A magnitude deste terremoto é inimaginável. De fato, 10 províncias da Turquia estão afetadas, 13 milhões de pessoas envolvidas e uma violência inigualável de choques que ainda continua. Até o momento, existem mais de 14.000 vítimas, mas os números continuam a aumentar à medida que mais e mais escavações são feitas. “Istambul está localizada a cerca de 1.000 km das áreas afetadas – continua Umberta Fabris – mas aqui estamos cercados por pessoas que têm parentes e amigos lá e as notícias chegam como num conta-gotas. Os telefones celulares descarregaram, não há eletricidade, os danos à infraestrutura de comunicações são enormes como tudo mais. Chegam apenas algumas mensagens de texto ou algumas palavras trocadas com uma linha muito perturbada. E trata-se de tentar obter notícias, saber se todos estão respondendo ao apelo, mesmo entre nossos amigos da pequena comunidade cristã de Antioquia, Mersin, Adana e Iskenderun”. Na tragédia entre os escombros e a geada, a dor aproxima os corações dos homens que unem forças e lutam, conta-nos novamente Umberta Fabris, que soube precisamente de Iskenderun do desabamento da Basílica da Anunciação e que dentro do Bispado, onde as habitações foram declaradas inabitáveis, alguns católicos, ortodoxos, muçulmanos se reuniram e compartilham o que têm e oferecem um lugar para passar a noite. “Impressionam os milhares de jovens que se apinham no aeroporto – diz -, prontos a partir para ir prestar assistência, a fila interminável de pessoas para doar sangue ou os adolescentes que arregaçaram as mangas em várias atividades. Continuemos confiando em Deus e em sua Santa Providência e também levando a amada Síria em nossos corações”. E é precisamente da Síria que vem a voz de Bassel, jovem dos Focolares: “Estes dias são devastadores também na minha cidade, Aleppo. No dia 6 de fevereiro, acordamos apavorados e corremos para as escadas sem ver nada, devido ao corte de energia. Paramos na porta de casa, onde tem uma imagem do anjo da guarda e fizemos uma oração, depois achamos um celular e acendemos uma lanterna. Não reconheci o quarto: tudo no chão estava quebrado, as paredes e a cerâmica rachadas, os vizinhos desciam aos gritos. Levamos apenas o que podíamos carregar no bolso do pijama, vestimos os casacos e descemos na chuva com um frio de rachar”. Bassel passou aquela noite interminável na rua assistindo ao colapso de igrejas e mesquitas. O luar mostrava destruição. À medida que os tremores secundários se tornavam mais leves, surgiram relatos de amigos deixados sob os escombros e prédios completamente destruídos. “Somos um país que não está equipado para esses desastres – continua. Entre os prédios desabados também os 7 andares do Bispado da Igreja Greco-Católica Melquita. Mons. Jean-Clément Jeanbart, arcebispo emérito de Aleppo, foi salvo, enquanto padre Imad, meu amigo pessoal e nosso professor na escola desde criança, permaneceu sob os escombros”. As pessoas falam sobre suas casas que se tornaram coisa do passado, enquanto o frio torna tudo mais difícil. O Crescente Vermelho e a Cruz Vermelha realizaram operações de censo. “Eu – diz Bassel – participei com os voluntários e jovens escoteiros na preparação e distribuição de alimentos e na distribuição de cobertores para crianças e adolescentes, mas não consegui dormir devido às cenas fortes que presenciei”. Enquanto os tremores secundários continuam derrubando prédios, Bassel reflete: “Quando ouvimos as notícias, vemos os principais países enviando especialistas, equipes de ajuda e resgate aos países afetados, sentimos dor ao ver que eles não podem enviar nada para a Síria por causa do embargo, como se não fôssemos humanos. Agora estamos de volta em casa, onde a Internet é melhor, e estamos esperando o próximo choque. Rezem para que continuemos vivos, rezem pelos mortos, rezem pelos desaparecidos”.

Por Anna Lisa Innocenti e Maria Grazia Berretta

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Terramoto: “Suspensão do embargo financeiro  na Síria para as organizações humanitárias”.

Terramoto: “Suspensão do embargo financeiro na Síria para as organizações humanitárias”.

Apelo Movimento Político pela Unidade – Movimento dos Focolares “Um apelo sincero e forte para pedir um fim imediato do embargo na Síria que dificulta até mesmo a passagem da ajuda neste momento terrível”. É isto que o Centro Internacional do Movimento Político pela Unidade, uma expressão do Movimento dos Focolares, dirige à comunidade internacional, aos governos e à União Europeia. “Pelo menos suspender temporariamente o embargo financeiro para permitir que às organizações humanitárias já activas naquelas zonas prestem a ajuda necessária”. Também chegam notícias dramáticas das comunidades e famílias das zonas afectadas pelo terramoto. O Movimento dos Focolares, que já trabalha na Síria há anos com ajuda humanitária e projectos, lançou uma campanha especial de angariação de fundos a nível mundial. Contudo, muitas são as dificuldades de anviar ajuda à Síria por causa das medidas introduzidas com o embargo financeiro. O Movimento Político pela Unidade está a activar todos os canais possíveis de contacto também com outros Movimentos e Associações e com aqueles que têm poder de decisão e persuasão política, “mas vamos ser rápidos, para salvar o maior número de pessoas possível”.

Stefania Tanesini

Evangelho vivido: “Tu és Deus que me vê” (Gn 16,13)

Num tempo considerado o tempo da ansiedade em que ninguém nunca se sente à altura das expectativas do mundo, quem nos chama a fazer grandes coisas é um Pai que pousa o seu olhar sobre nós como no dia da Criação; um Deus que olha para aquele núcleo indestrutível de beleza que existe em cada um e que nos convida a manter os olhos abertos para o esforço de quem nos rodeia com o mesmo amor que Ele tem por nós. Reparar o passado Meus pais se divorciaram quando eu era pequena e meu pai teve cinco esposas: desses casamentos tenho dois meios-irmãos e duas meias-irmãs. Além disso, os pais do meu marido são viciados em álcool. Anos atrás, durante um sério problema familiar, eu e meu marido decidimos trabalhar muito para trazer serenidade entre os parentes, quase como se quiséssemos endireitar nossa árvore genealógica. Desde então, com a oração, com a criatividade do amor, com os convites para jantares, com as festas, vimos a sua verdadeira “cura”. Claro que tudo isso envolve esforço e dinheiro, mas nunca nos faltou a providência. Por exemplo, havíamos planejado uma festa de aniversário para uma meia-irmã, mas no último minuto percebemos que havíamos pensado em tudo, menos em um presente. Deus tomou providências para resolver o problema através de uma vizinha: ela havia comprado uma linda blusa para a sua filha que, porém, por ser pequena, ela pensou em oferecer à nossa filha. Aqui está o presente para a irmã adquirida! O tamanho e a cor ficaram perfeitos: “Como você sabia que eu queria tanto essa blusa?”. (ES – República Tcheca) Um novo olhar Somos cônjuges aposentados. Quatro anos atrás, nossos vizinhos se esqueceram de desligar a bomba de jardim durante a noite. Resultado: nosso andar térreo inundou, causando aproximadamente US$ 9.000 em danos. Convidamos os vizinhos a relatar os danos à sua seguradora para serem indenizados, mas eles se recusaram, para evitar que o custo anual do seguro aumentasse. Na época, tive muita vontade de denunciá-los, até porque havia testemunhas confiáveis. Mas, depois, conversando sobre isso, minha esposa e eu decidimos perdoá-los. Nestes quatro anos, sempre os cumprimentamos com gentileza, trocando algumas palavras com eles. Há dois dias eles mudaram de casa e, enquanto os trabalhadores carregavam os móveis no caminhão, nosso vizinho abordou minha esposa: “Vocês são boas pessoas, enquanto nós os machucamos. Peço que nos perdoem.” Depois dessas palavras, o mundo nos pareceu um pouco mais bonito. (TC – EUA)

Por Maria Grazia Berretta

(extraído de Il Vangelo del Giorno (n.d.t. O Evangelho do Dia), Città Nuova, ano IX – nº.1 janeiro-fevereiro 2023)