Movimento dos Focolares
O desafio da escuta e da aprendizagem recíproca

O desafio da escuta e da aprendizagem recíproca

O monsenhor Piero Coda, teólogo, secretário da Comissão teológica internacional, ex-reitor do Instituto Universitário Sophia, recebeu a láurea honoris causa da Universidade Católica de Córdoba, na Argentina. Uma semana de eventos marcou o início do mês de março de 2024 na Universidade Católica de Córdoba (UCC), na Argentina. Entre eles: o Seminário Itinerário Córdoba 2024, Universidades dos Jesuítas e antropologia trinitária e a concessão do Doutorado honoris causa ao monsenhor Piero Coda, teólogo, secretário da Comissão teológica internacional, ex-reitor do Instituto Universitário Sophia. Outros eventos correlatos permitiram apresentar o pensamento e a contribuição do monsenhor Coda, que não se limita à antropologia e à teologia, mas chega até a Igreja em seu caminho sinodal e no diálogo ecumênico e inter-religioso. O Seminário de Antropologia Trinitária ocorreu de 4 a 6 de março. O grupo de estudo, ativo há 11 anos, é composto por 14 pessoas, mulheres e homens, franciscanos, jesuítas, sacerdotes, religiosos, focolarinos e leigos de diversos movimentos eclesiais. Sonia Vargas Andrade, da Faculdade de Teologia San Pablo da Universidade Católica Boliviana, afirmou: “Nós nos encontramos para refletir sobre o percurso que um teólogo latino-americano deve seguir no diálogo com a teologia europeia, em particular com a Antropologia Trinitária, levando em conta o que é tipicamente nosso, ou seja, a pluralidade”. O Seminário terminou evidenciando que o elemento distintivo da Teologia Trinitária – objeto de estudo do grupo – é justamente a unidade na pluralidade: “o pensamento do outro vale tanto quanto o meu, devo pensar a partir do outro e no outro”, adicionou Vargas Andrade. O monsenhor Piero Coda contou sua experiência direta e sua leitura da primeira sessão da Assembleia sinodal, da qual participou como membro da Comissão teológica da Secretaria geral do Sínodo dos Bispos. Coda definiu a primeira sessão como uma pausa para aprender a se encontrar, se escutar e dialogar no Espírito. E acrescentou: “A viagem acabou de começar. A paciência e a perseverança devem andar no mesmo passo que a sabedoria e a prudência, mas também com o entusiasmo e a coragem de arriscar”. O doutor Tommaso Bertolasi, docente no Instituto Universitário Sophia de Loppiano (Florença), fechou a discussão abordando o tema “jovens e sinodalidade”, destacando que os jovens experimentam o Deus ausente: “Deus é experienciado como ausente, aquele que não existe”. Como consequência, é necessário considerar a experiência do abandono de Jesus na cruz. “É justamente ali, na morte e na ressureição, que Deus entra na experiência humana: a partir daquele momento não há mais um distanciamento de Deus, porque Deus está na ausência de Deus.” Dessa tese derivou-se diversas implicações para a Igreja em geral, sobretudo para a pastoral da juventude. 6 de março foi o dia da concessão do doutorado honoris causa ao monsenhor Piero Coda. Na ocasião, o cardeal Ángel Rossi S.J., arcebispo de Córdoba, definiu Piero Coda como um “peregrino da verdade, que viveu a sua vida em liberdade, o que o levou a deixar a própria ‘terra’ para colocar seu pensamento e suas intenções teológicas em diálogo permanente com culturas diversas, com aqueles que não professam uma fé explícita ou com outras disciplinas”. Padre Gonzalo Zarazaga S.J., diretor do Doutorado em Teologia da UCC, apresentando a contribuição de Coda, afirmou que “a ontologia trinitária de Piero Coda se abre à intimidade do Deus Trino e nos convida a participar do seu amor em plenitude”. A rabina Silvina Chemen, por meio de uma mensagem em vídeo, expressou seu afeto, sua admiração e sua gratidão para com Piero Coda pelo seu trabalho de reforçar os laços inter-religiosos com o Movimento dos Focolares. Em suas palavras de agradecimento, o monsenhor Piero Coda, declarou que considera o reconhecimento recebido como uma apreciação do estilo de compreensão e de realização do trabalho filosófico e teológico, que está se revelando ser de grande atualidade no processo de reforma sinodal e missionária no qual a Igreja está empenhada, guiada pelo papa Francisco. E acrescentou: “Trata-se de aprender uns com os outros, escutando juntos o que o Espírito diz às Igrejas: na troca dos dons das respectivas experiências de inculturação da fé e da missão, da qual as nossas comunidades e culturas são portadoras”. A sua lectio magistralis tinha como título “Habitar a reciprocidade do Pai e do Filho no Espírito Santo para reavivar o sentido e o destino da história”.

María Laura Hernández Foto: cortesia da UCC e de Guillermo Blanco

Um alívio nas emergências humanitárias

Um alívio nas emergências humanitárias

Graças às doações de muitas pessoas foi possível intervir para aliviar o sofrimento de populações atingidas por desastres naturais ou guerras. A Coordenação de Emergências do Movimento dos Focolares faz um balanço da situação na captação de recursos para a Síria, Turquia, Ucrânia, Itália, Paquistão e Filipinas. Conflitos armados, epidemias e desastres ambientais, como inundações ou terremotos, podem colocar populações inteiras em sérias dificuldades, com efeitos imediatos e de longo prazo. Para enfrentar estas situações graves, foi criada, no Movimento dos Focolares, a Coordenação de Emergência que, depois das situações de emergência humanitária, busca angariar fundos para ajudar as populações afetadas, com ações feitas através de programas apoiados por membros ou organizações do Movimento dos Focolares, em várias partes do mundo, atuando diretamente ou em parceria com outros. Recentemente, a Coordenação de Emergência apresentou o Relatório 2023, demonstrando que, de 2016 até o final de 2023, um total de 5.361.505 euros foi coletado para emergências na Síria, Turquia, Ucrânia, Itália, Paquistão e Filipinas. Na Síria, o projeto “Sementes da Esperança”, iniciado em setembro de 2018, permitiu oferecer assistência social e de saúde às famílias, acesso a medicamentos essenciais, serviços de saúde e cirurgia básica para pacientes de doenças crônicas, apoio educacional para crianças e adolescentes. Até agora, 23.170 pessoas se beneficiaram do programa. Para o terremoto na Síria e na Turquia, que ocorreu em fevereiro de 2023, 6.273 pessoas foram socorridas de várias formas: assistência financeira a 405 famílias, distribuição de detergentes para 490 famílias e alimentos e roupas para 712 famílias, bem como apoio psicológico a idosos, adultos e jovens e cuidados médicos. Além disso, o Work Empowerment (para a valorização das habilidades de trabalho que todos têm com o incentivo de microcréditos) para 16 famílias e 32 pessoas e ações dirigidas às habitações de 138 famílias. Foi criada também uma pequena fazenda comunitária, para fornecer leite e geração de renda para famílias em uma aldeia turca habitada por refugiados afegãos. Na Ucrânia, no entanto, a situação de emergência está em constante mudança: o conflito é prolongado e as necessidades da população são muitas e crescentes. Nos últimos anos foram prestados cuidados básicos de saúde a cerca de 12.000 pessoas e apoio financeiro extraordinário a mais de 2000 famílias. Houve várias atividades de acolhimento, na Itália, para famílias e crianças deslocadas para este país.  Foi realizado um acampamento escolar na Áustria, com 30 crianças de uma escola de ensino fundamental de Kiev. Foi aberto um abrigo onde crianças e mães podem passar o dia. Outra emergência deste ano foram as inundações que atingiram várias regiões do planeta. No Paquistão foi possível contribuir com material de construção para a restauração de 20 casas destruídas, além de apoio a 1.150 pessoas. Após a inundação na região da Emilia-Romagna (Itália), em 2023, 16 famílias puderam ser ajudadas a comprar ou reparar bens materiais danificados pela água e foram realizadas reformas nas casas de 7 famílias. Além disso, foi criado um campo de trabalho voluntário e feita a reestruturação de uma fazenda-escola. A Coordenação de Emergências do Movimento dos Focolares administra esses projetos através da Amu (Ação por um Mundo Unido) e AFN (Ação por Famílias Novas), duas ONGs nascidas do Movimento dos Focolares que trabalham na esfera social. Até o momento, as campanhas de arrecadação de fundos continuam ativas para emergências na Ucrânia e após o terremoto na Síria e na Turquia.

Carlos Mana

Chiara Lubich: a fraternidade se realiza somente com um amor especial

Hoje, 14 de março, dia em que recordamos a partida de Chiara Lubich para o Céu, publicamos algumas das suas palavras, pronunciadas durante o encontro do Movimento Político pela Unidade, em Berna (Suíça), em 4 de setembro de 2004. Uma reflexão sobre o tipo de “amor” necessário para que a fraternidade universal seja possível. A fraternidade se realiza somente com um amor especial. É um amor dirigido a todos, como Deus Pai que manda a chuva e o sol sobre os maus e sobre os bons. Não é um amor dirigido somente aos parentes, aos amigos, a alguma pessoa, mas é dirigido a todos. Para isso, já é necessária exercitação. Se saíssemos dessa sala unicamente com o propósito de amar todas as pessoas que encontrarmos; possivelmente, se formos cristãos, vendo Cristo nelas, porque ele dirá: «A mim o f izestes», «a mim o fizestes», a meu ver já sairíamos ganhando, pois partiria daí a revolução cristã. Este amor, que é necessário para a fraternidade, não é tolerância, mas é também tolerante, não é solidariedade, mas é também solidariedade. É algo diferente, pois é o mesmo amor de Deus (nós, cristãos, dizemos: difundido no nosso coração pelo Espírito Santo). É um amor que toma a iniciativa. Não espera ser amado. Ele se lança e é o primeiro a amar. Ele se interessa pelas pessoas,… naturalmente não devemos turbá-las. É um amor que toma a iniciativa. Não espera ser amado. Em geral, nesse âmbito, esperamos sempre ser amados para poder amar. Ao invés, esse amor é o primeiro a amar. Por isso causa uma revolução. O nosso Movimento é obra de um carisma de Deus e não nossa. Por isso ele chegou aos últimos confins da Terra. Se partirmos daqui pensando em amar a todos e de tomar sempre a iniciativa no amor, sem esperar… Já se vive o Evangelho! Entendeu o que é o Evangelho? É isso!  Esse amor não é sentimental, não é um amor platônico, não é um amor superficial. É um amor concreto. Ele se faz um com a pessoa amada: se está doente, se sente doente com ela; se está alegre, se alegra com ela; se conquista algo, é também uma conquista sua. Como diz São Paulo: «Fazer-se tudo a todos», fazer-se pobre, doente com os outros. Partilhar: o amor é assim; ele é concreto. Portanto, é um amor voltado para todos, que entra primeiro em ação. É um amor que deve ser concreto.  Além disso, temos que amar os outros como a nós mesmos. Assim nos diz o Evangelho. Vejo a minha companheira, Eli, nesta sala. Ela, para mim, é como se fosse eu mesma, pois devo amá-la como a mim, Chiara. Eu devo amar Clara como a mim mesma. Esta senhora também, eu devo amála como a mim mesma, pois é o que pede o Evangelho. Também isso é incrível: quando é que se ama os outros como a si? De certo modo quase nos transferimos nos outros para amá-los. Se este amor for vivido por muitas pessoas, torna-se recíproco, pois eu amo Marius. Marius me ama. Eu amo Clara. Clara me ama. Este amor recíproco é a pérola do Evangelho. Jesus disse: «Eu vos dou um mandamento novo: amai-vos uns aos outros como eu vos amei». Ele disse que este mandamento é o seu e é novo. Ele sintetiza o Evangelho. É a base da fraternidade. O que podemos fazer para sermos irmãos uns dos outros mais do que nos amar e amar-nos como ele nos amou, a ponto a dar a vida por nós? É preciso considerar tudo isso. Considerando como é este amor… Respondo ao senhor que me fez a pergunta. Como deve ser o nosso relacionamento com as pessoas? Deve ser em forma de diálogo. Eu devo ver no outro alguém com quem eu devo dialogar. Para dialogar, devo conhecê-lo. Então, devo entrar no outro. Não devo impor nada, mas tentar compreender o outro. Deixar que ele se exprima.[…]  temos que entrar no outro, deixar que o outro se abra, deixar que o outro fale e que sinta o vazio em nós, a capacidade de compreendê-lo. A nossa experiência é que o outro se sente amado. Por isso, espera com abertura o nosso discurso. O papa diz uma frase muito bela sobre o diálogo. Então, é preciso apresentar a nossa verdade, aquela que nós pensamos, mas que seja “um respeitoso anúncio”, isto é, um anúncio que respeita o pensamento do outro, que não quer angariar prosélitos, que não quer atacar ninguém. Este é o diálogo que deve ser feito… É a base da nossa vida, da fraternidade universal.

Chiara Lubich

https://youtu.be/0wYY3BGd0mE

[:it]Oikoumene – da tutta la terra[:en]Oikoumene – from all over the earth[:es]Oikoumene – de toda la tierra[:fr]Œkoumène – venus du monde entier

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Na sexta-feira, 01 de março, na cidade histórica de Augsburg, na Alemanha, concluiu-se o 40º Encontro ecumênico dos Bispos amigos do Movimento dos Focolares. Eram 60 participantes provenientes de 26 países e pertencentes a 29 Igrejas cristãs. O título era “Dare to Be One. A call from Jesus to live the future, now”, e mais ainda a realidade do encontro.  1518 – Em Augsburg (Alemanha), o cardeal romano Caetano, notável teólogo tomista, e o monge agostiniano Martinho Lutero, docente de Sagrada Escritura na universidade de Wittenberg (Alemanha), estavam discutindo sobre 95 teses sobre indulgências que Lutero propunha. Nada a fazer. Não se entendiam. Lutero, temendo pela sua vida, fugiu durante a noite. 1530 – A Dieta do Sagrado Império Romano conduziu o imperador Carlos V a Augsburg. Ele pretendia juntar protestantes e católicos, que estavam divididos. Na ocasião, Felipe Melanchton, teólogo amigo de Lutero, preparou a Confessio Augustana, uma confissão de fé redigida para chegar a um acordo. A tentativa falhou. 1555 – Durante uma Dieta posterior em Augsburg, é assinada a Paz religiosa que assegurou a coexistência entre católicos e luteranos. Cada príncipe do Império estabeleceu qual confissão seria seguida em seu território, uma decisão que se resumia na expressão latina cuius regio eius religio (a religião é de quem é a região). 1650 – Depois da guerra sangrenta dos 30 anos, que também atingiu Augsburg, foi sancionada a liberdade de expressão religiosa e a paridade entre protestantes e católicos em todas as repartições públicas. Nasceu o Alto Festival da Paz, que ainda hoje é celebrado no dia 8 de agosto. Foi nesse lugar cheio de história, Augsburg, que, a convite do bispo católico de Bertram Meier, aconteceu, de 27 de fevereiro a 01 de março, o 40º Encontro ecumênico dos Bispos amigos do Movimento dos Focolares. Participaram 60 bispos de 26 países, pertencentes a todas as grandes famílias de Igrejas: ortodoxas, Igrejas ortodoxas orientais, anglicanos, metodistas, evangélicos, reformados, católicos de rito latino, armênio e bizantino. Nunca antes participaram tantos e de proveniência tão universal, que foi observada também pela prefeita da cidade, Eva Weber, quando recebeu os bispos no município. Desde a chegada, foi tocante ver o relacionamento entre esses bispos, entre os quais estavam também duas mulheres, bispos de Igrejas nascidas da Reforma. Cada Igreja foi acolhida como é. Um espírito simples de fraternidade permeou os dias, sem subestimar as feridas e os pontos de desacordo entre as Igrejas que existem até hoje. Mas tudo foi sustentado por aquele pacto de amor recíproco que caracterizou desde o início esses Encontros e que os Bispos renovaram solenemente também este ano, prometendo compartilhar as alegrias e as cruzes um do outro. Nasceu uma sinodalidade ecumênica, como foi definido por vários participantes. Dare to Be One. A call from Jesus to live the future, now (Ousar ser um. Um chamado de Jesus a viver o futuro agora) foi o mote do encontro e, mais ainda, do caminho do qual participaram também a presidente e o copresidente do Movimento dos Focolares, Margaret Karram e Jesús Morán. Foram três temas principais aprofundados, cada um ilustrado por experiências: o ecumenismo receptivo como metodologia ecumênica que leva a aprender um com o outro; o chamado comum a testemunhar o Evangelho em um mundo dividido em busca de paz; Jesus crucificado e abandonado como caminho para enfrentar a noite do mundo e responder de modo generativo. E mais uma data: 31 de outubro de 1999. São 25 anos desde que a Federação Luterana Mundial e a Igreja católica assinaram justamente em Augsburg a “Declaração conjunta sobre a doutrina da justificação”, reconhecendo que, sobre esse ponto-chave da dissidência no século XVI, hoje não há mais motivo de separação. Uma oração ecumênica comemorou o evento histórico no lugar da assinatura: a igreja evangélica de Sant’Anna. No dia seguinte, uma mesa redonda aprofundou a importância. O reverendo Ismael Noko, na época secretário geral da Federação Luterana Mundial, ilustrou o caminho humilde e tenaz que tornou possível a assinatura e viu a sucessiva adesão de outras Comunhões Mundiais (metodista, reformada e anglicana). O doutor Ernst Öffner, na época bispo católico evangélico regional de Augsburg, contou como lutou-se, junto ao Bispo católico da época, para envolver a população e toda a cidade ficou em festa. O bispo católico Bertram Meier falou dos desafios e das oportunidades do caminho que está agora diante de nós. Durante todo o encontro, sempre olhou-se de novo para as ameaças atuais à paz e à justiça. Sobre isso, foi muito importante a mensagem em vídeo sobre a situação que se vive na Terra Santa, mensagem esta enviada pelo cardeal Pizzaballa para os bispos participantes do encontro. Nesse contexto, duas realidades deram uma esperança particular: o desenvolvimento da rede ecumênica “Juntos pela Europa” que inclui cerca de 300 Movimentos e comunidades de várias Igrejas, e a visita à Mariápolis permanente ecumênica de Ottmaring (Alemanha), onde, há 56 anos, católicos e luteranos de diversos Movimentos testemunham a unidade na diversidade, um caminho não sempre fácil no qual, de cada crise, nasceram novos desenvolvimentos. Para o futuro, mira-se no crescimento das redes locais, na ligação entre todos por meio de contatos online periódicos e newsletters, em vista de um próximo encontro internacional em dois ou três anos.

Hubertus Blaumeiser

IA: uma via para a paz global e/o desenvolvimento humano integral

IA: uma via para a paz global e/o desenvolvimento humano integral

NetOne, associação internacional de profissionais de mídia e do cinema,  de operadores de tecnologias da informação, juntamente com New Humanity, uma Organização Não Governamental (ONG), realidades fundadas no espírito e nos valores que animam o Movimento dos Focolares, em colaboração com a Missão da Santa Sé junto às Nações Unidas, lançou a iniciativa ” IA: uma via para a paz global e/o desenvolvimento humano integral”, uma reflexão sobre a ética da inteligência artificial e suas implicações. Na quarta-feira, 21 de fevereiro, NetOne juntamente à ONG New Humanity, em colaboração com a Missão da Santa Sé nas Nações Unidas, organizou a iniciativa “AI: A Pathwayto Global Peace and Integral HumanDevelopment” (AI: uma comunidade para a paz global e desenvolvimento humano integral), que aconteceu em Nova Iorque, UNHQ, ConferenceRoom 6, das 13:15 às 14:45 e foi seguida online em diversas partes do mundo. A saudação de abertura de Vossa Excelência Reverendíssima Arcebispo Gabriele Caccia, observador permanente da Santa Sé nas Nações Unidas, deu o tom das reflexões: “Estamos à beira de uma revolução tecnológica sem precedentes na história da humanidade. A emergência da IA está remodelando o nosso mundo de modo profundo e sem precedentes. Da revolução das indústrias à transformação do nosso modo de viver, trabalhar e interagir, a IA tornou-se uma força motriz de mudança no século 21”. Nos últimos anos, o progresso digital trouxe oportunidades e desafios significativos, com graves implicações em todos os âmbitos da sociedade. Nessa época, as rápidas mudanças tecnológicas, a Inteligência Artificial (IA) emergiu como um dos instrumentos mais potentes, com o potencial de transformar a sociedade, de promover a paz e alcançar o desenvolvimento sustentável. Todavia, as suas implicações éticas permanecem objeto de um intenso debate. MaddalenaMaltese, jornalista e representante da ONG New Humanity, moderadora da mesa redonda do evento, recordou que “em 1º de janeiro passado, o Papa Francisco, na sua mensagem para o Dia Internacional da Paz, levantou questões urgentes sobre a IA: “Quais serão as consequências, a médio e longo prazo, dessas novas tecnologias digitais? E quais impactos terão sobre os indivíduos e sobre a sociedade, assim como sobre a estabilidade e sobre a paz internacional?” Ele também colocou em evidência que o secretário geral António Guterres, discutindo as prioridades para 2024, sublinhou que a IA será de interesse de toda a humanidade, reiterando a necessidade de uma abordagem universal para encará-la. A mesa redonda, por meio do diálogo entre as diversas partes interessadas sobre os desafios éticos apresentados pela IA e pelas estratégias, discutiu a interação entre considerações técnicas, éticas, políticas, legais e econômicas.   Padre Philip Larrey, professor de Filosofia no Boston College, decano de Filosofia da Pontifícia Universidade Lateranense, presidente do Humanity 2.0, expôs uma série de questões urgentes com base no tema da paz. “ChatGPT ou Gemini podem escrever um perfeito plano de paz, olhando para as situações que estamos vivendo, mas estaremos dispostos a seguir essas indicações?”, disse Larrey ao enfatizar o fator humano como decisivo nas decisões a serem tomadas, também quando se trata de armas letais. Outro tema central do seu discurso foi aquele da empatia que podemos demonstrar às máquinas e que, às vezes, têm preferência sobre o elemento humano. “Os seres humanos compreendem o significado. As máquinas não, embora elas estejam se tornando muito boas em simular o que consideramos significativo”, insistiu o professor do Boston College, alertando contra o desafio, sempre mais difícil, de discernir o que pertence ao homem e o que pertence à tecnologia, com máquinas que no futuro poderão ser também programadas para ter sentimentos. Laura Gherlone, pesquisadora em Semiótica pelo Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas da Argentina e docente na Universidade Católica da Argentina, membro da Comissão Internacional de NetOne, falou da Inteligência Artificial e, de forma geral, das tecnologias digitais à luz do pensamento da deocolonização digital. Ela sustentou que “hoje, os contextos pós-coloniais se encontram em uma encruzilhada: retroceder ou alcançar. Eles são forçados a acelerar drasticamente alguns processos que hoje incorporam um modelo de consciência tecnocêntrica, presumivelmente universal: a digitalização e a implementação de sistemas de inteligência artificial estão entre esses processos”. Ela afirma que esse processo “tem sempre um custo alto, em pelo menos três níveis: em nível econômico e técnico-estruturante, em nível social e, enfim, a adoção acelerada e forçada do progresso tecnológico como percurso até um modelo universal de consciência”. Gherlone sugere que “o debate ético sobre IA poderia ser notavelmente enriquecido por uma reflexão deocolonial, integrada, por exemplo, ao trabalho daqueles movimentos coletivos empenhados em repensar e redesenhar a arquitetura técnica ‘do Sul’, ou soluções teórico-metodológicas e práticas que, muitas vezes, são deixadas de lado porque distantes das lógicas do lucro”. No encerramento do evento, duas boas práticas da sociedade civil. Marianne Najm, engenheira de comunicações com sede em Beirute, se concentrou sobre a ética de IA e sobre o conceito de juramento digital para os engenheiros e para quem quer que seja ativo no mundo digital. O projeto foi iniciado em 2019 inspirando-se no juramento de Hipócrates, o juramento que a maior parte dos médicos e médicas fazem ao final de seu percurso acadêmico. Assim como o juramento de Hipócrates tem como objetivo visa despertar a obrigação humana dos atores digitais, direcionando o seu trabalho para um projeto eticamente centrado no homem. Marcelle Momha, camaronesa que vive nos Estados Unidos, analista das políticas e pesquisas tecnológicas especializadas em inteligência artificial, tecnologias emergentes e cyber segurança, preparou uma intervenção sobre a comunidade AI 2030, que para o momento não foi possível ilustrar, mas que está disponível nesse link. “AI 2030 é uma vivaz comunidade de líder empresários, cientistas de dados, profissionais de tecnologia da informação e pesquisadores pioneiros dedicados a estruturar o poder de transformação da inteligência artificial em benefício da humanidade reduzindo ao mínimo o potencial impacto negativo”, explica Marcelle sobre o seu tema. Na sua mensagem para o Dia Mundial da Paz, o Santo Padre recordou que “os progressos tecnológicos que não levam a uma melhora da qualidade de vida de toda a humanidade, mas, ao contrário, agravam as desigualdades e os conflitos, não podem jamais serem considerados um verdadeiro progresso”. Como organizações da sociedade civil, queremos acompanhar os esforços das Nações Unidas e de todos aquelas instituições que estão trabalhando por um empenho ético no campo da tecnologia que apoiam os progressos digitais como contribuição à promoção dos princípios humanos de paz e fraternidade. Para rever a transmissão em direto, pode aceder a esta ligação: https://webtv.un.org/en/asset/k1h/ Para reler os discursos e obter mais informações, aceda a: https://www.net-one.org/ia-una-via-per-la-pace-globale-e-lo-sviluppo-umano-integrale/

Fonte: https://www.net-one.org

Os jovens e o tráfico de seres humanos

Os jovens e o tráfico de seres humanos

Uma semana de mobilização e oração contra o tráfico de seres humanos, nos dias 2 a 8 de fevereiro de 2024. Em Roma (Itália) reuniram-se 50 jovens de todos os continentes, entre estes alguns do Movimento dos Focolares. O tráfico humano é o processo pelo qual as pessoas são constrangidas ou atraídas por falsas promessas, recrutadas, transferidas e forçadas a trabalhar e viver em condições de exploração ou abuso. É um fenômeno, como denunciam os recentes informativos da ONU, em constante e dramática evolução. De 2 a 8 de fevereiro de 2014 realizou-se a semana de oração contra o tráfico humano. Instituída pelo Papa Francisco em 2015, a semana inclui sempre o dia 8 de fevereiro, festa de Santa Bakhita, uma religiosa sudanesa que ainda jovem foi escravizada, foi vendida e maltratada, vítima de tráfico, e é símbolo universal de luta contra esta chaga da humanidade. O tema deste ano foi “Caminhar pela dignidade. Escutar, sonhar e agir”. Milhares de pessoas, no mundo inteiro, reuniram-se para refletir, rezar e compartilhar a própria experiência de compromisso contra este fenômeno global. Em Roma, muitos jovens provenientes de diversos países – Quênia, Japão, Estados Unidos, Tailândia, Albânia, Canadá, México, França, Itália – participaram de conferências, flash mob, momentos de oração sobre este tema, e também do Ângelus e da audiência com o Papa Francisco. Entre eles alguns eram Gen 2, jovens do Movimento dos Focolares. Prisque Dipinda, da República Democrática do Congo contou: “O evento mais significativo para mim foi a oração vigil of prayer na Igreja de Santa Maria em Trastevere, no coração de Roma. Foi um momento importante diante de Deus, a emoção a compartilhar junto com outros jovens que levam no coração o desafio do tráfico humano. Mas também a responsabilidade de ser parte dos protagonistas contra este fenômeno. Penso que para os jovens que participaram foi útil inclusive para tomar consciência de que muitos sofrem no mundo, por vários motivos: econômicos, políticos, religiosos. Foi uma oportunidade para refletir e começar a projetar juntos algo contra o sofrimento”. Entre os Gen 2 presentes estavam Michel Haroun, franco libanês, e Miriana Dante, italiana. “Nunca me empenhei diretamente contra o tráfico humano – afirmou Michel -. Tenho alguma experiência no serviço aos migrantes que chegam na minha cidade ou nas fronteiras. Por exemplo, há alguns anos estive em Trieste, na Itália, ponto de chegada da rota balcânica, pela qual desembarcam na Itália migrantes de muitas partes do mundo devastadas por conflitos. Mas não tinha consciência de que os refugiados, antes de chegarem à Europa – mas também é válido para a América Latina, os Estados Unidos ou outras partes do mundo – sofrem violência e abuso de forma organizada. Estes dias passados em Roma, com jovens de diversos continentes, com línguas e culturas diferentes, pertencentes a várias Igrejas cristãs, foram uma experiência rica de relacionamentos pessoais que, espero, perdurem, porque no final enfrentaremos – e já enfrentamos – o mundo todos juntos, porque somos parte da mesma geração”. “Fiquei emocionada ao descobrir a história de Santa Bakhita – comenta Miriana -. Foi escrava, foi vendida. Mais tarde enfrentou com coragem tudo o que havia vivido no passado, lançando mensagens contra o tráfico de seres humanos. Eu me perguntei onde ela teria encontrado tanta força. Foi muito bom para mim encontrar muitos jovens como eu que se comprometem com estas situações. Não pessoas adultas, com uma longa experiência nas costas, mas jovens da minha idade, vindos do mundo inteiro, que tem sonhos e esperanças num futuro melhor. Nós não sentimos a diferença cultural, porque estávamos ligados pela unidade entre nós graças ao objetivo comum: lutar contra o tráfico humano”.

Lorenzo Russo