Movimento dos Focolares
Nigéria: educação para a paz

Nigéria: educação para a paz

20151215-01O desafio educativo é um dos mais importantes, inclusive da sociedade nigeriana, onde, às vezes, se verificam, entre adolescentes, comportamentos agressivos e as tradições religiosas infundem medo e um sentido de impotência diante do mal. “Um dia – nos conta Christiane – uma mãe não trouxe mais a filha à escola só porque tínhamos pedido para que se cortassem os cabelos das crianças que começavam o primeiro ano do maternal. Uma pessoa, segundo as crenças, dotada do conhecimento dos espíritos, tinha dito a ela que, se cortasse os cabelos da filha, ela morreria. Por isso a menina não veio mais”. Alemã de origem, Christiane colaborou durante muitos anos no setor juvenil dos Focolares. Hoje se dedica ainda às crianças também através do projeto de sustento à distância da associação Famílias Novas, em Igbarian, uma aldeia a 40 km da cidade de Onitsha, no sudeste da Nigéria, onde surge a “escola Fraternidade”. O projeto começou em 1995 quando um grupo dos Focolares, desde a década de 1980, iniciou um processo de promoção humana que através de relacionamentos profundos com as pessoas do lugar e respeitando as tradições locais, também ofereceu oportunidades concretas de desenvolvimento. “Através do amor concreto por algumas crianças nasceu uma atividade extraclasse, e desde então, aos poucos, um jardim de infância e depois uma escola fundamental. Iniciando do maternal se procura dar às crianças uma formação global, as preparando para enfrentar os muitos desafios desta grande nação”. A escola, que surgiu em 2006, hoje acolhe 223 alunos, 75 no jardim de infância e 148 no ensino fundamental. Com o passar do tempo se desenvolveu a participação dos pais no projeto formativo e social que apresenta um método educativo baseado em valores humanos, um estilo pedagógico que crê e respeita a dignidade da criança enquanto pessoa. Reserva-se uma atenção preferencial aos menores, como a que exprime o Evangelho, oferecendo instrumentos novos para um crescimento humano integral das crianças. Por exemplo, se utiliza o “dado do amor”, com o qual alunos e professores procuram viver, ambos, o empenho diário pela paz e pela solidariedade. Nigeria 2É uma novidade porque em muitas escolas nigerianas se considera útil para a correção formativa a prática das punições corporais. A ideia vigente é: “Poupa o açoite, arruína o teu filho” e não é fácil mudá-la. Todavia também “as pesquisas psicológicas atuais demonstram que os efeitos negativos destas medidas corretivas ultrapassam os positivos”, afirma Mrs. Akwobi ella Nwafor Orizu College of Education Nsugbe, entrevistada por “New City Nigeria”, nova edição nigeriana de Cidade Nova nascida recentemente. “Frequentemente as crianças se tornam tensas e agressivas com as punições físicas. Não conseguem criar empatia com o professor e transferem esta rejeição à matéria que ele ensina”. Continua Mrs. Akwobi: “Ao invés, é importante que cheguem a amadurecer a escolha consciente do bem e não só para evitar a punição. O professor deveria se comportar como se tivesse sempre algo a aprender porque o ensinamento é um processo de ida e volta. A escuta, a paciência, a compreensão, favorecem nas crianças o comportamento positivo e trazem benefícios na aprendizagem. Além disso, adotar medidas não violentas ao tratar com as crianças na escola, ajuda inclusive a reduzir o percentual de violência na sociedade. Vemos todos estes princípios educativos atuados na escola Fraternidade na Nigéria”. “Aqui, muitas pessoas partem – conclui Christiane – para buscar uma vida melhor na Europa. O nosso trabalho tem por objetivo ajudar as pessoas a construírem para si no próprio país uma existência vivível. Agradeço por toda ajuda pequena! Serve mais do quanto se possa imaginar para levar adiante as obras sociais e ajudar, com a difusão de uma cultura nova, baseada no Ágape, isto é, no amor cristão, o desenvolvimento deste país”.

Economia de comunhão: a versão de quem recebe

Economia de comunhão: a versão de quem recebe

20151214-01É impressionante descobrir que no mundo não existem apenas exploração, concorrência desleal e jogos de interesses. Existem, por exemplo, empresários como aqueles que aderem ao projeto por uma Economia de Comunhão (EdC) – são cerca de mil no mundo – que mirando ao objetivo de obter um lucro que garanta vitalidade e continuidade à própria empresa, querem viver a ‘cultura da partilha’, segundo as finalidades do projeto: a ajuda aos pobres e a formação das novas gerações segundo essa cultura. Para que isso se realize, colocam à disposição do projeto, livremente, uma parte dos seus lucros. Socorro e Gomes, brasileiros, vivem em Taguatinga, cidade do Distrito Federal. Já têm seis filhos quando ele, por causa da dependência do álcool perde o emprego. Para manter a família ela trabalha como empregada doméstica, mas o que ganha é pouquíssimo e os filhos, que ficam em casa sozinhos, desorientam-se, a tal ponto que o maior, ao chegar na adolescência, envolve-se com as drogas. É nesse momento que chega a primeira ajuda por parte dos Focolares: a inclusão do jovem na Fazenda da Esperança, uma comunidade de recuperação animada pela espiritualidade do Focolare. A família também enfrenta o problema ‘casa’. Não conseguem pagar as prestações do empréstimo que receberam e correm o risco de ter que entregar a moradia, apesar de ser decadente e totalmente insuficiente para uma família tão numerosa. Este problema também é apresentado à Comissão EdC da região. Após uma atenta análise, oferecem à família um empréstimo para cobrir a dívida atrasada. O valor poderá ser devolvido no tempo segundo as possibilidades da família. Enquanto isso, Gomes começa a trabalhar, mas por causa do seu problema com o álcool não consegue continuar. São tempos difíceis para eles. Ao grave problema econômico acrescentam-se suspensões, brigas e falta de diálogo. No meio de todas estas dificuldades, ele também sobre um infarto. Quando menos esperam, a Socorro recebe a oferta de um trabalho fixo como doméstica na casa de um cardeal, que regulariza toda a sua situação trabalhista e paga um salário justo. Um dia, o cardeal vai visitar a família e tem uma conversa importante com Gomes, que decide deixar o álcool e mudar de vida. A seguir recebem também a visita de dois integrantes da Comissão EdC, para uma verificação da situação da casa. Depois de certo tempo, propõe-se a inserção da família no programa Habitação, que dentro do projeto EdC prevê o restabelecimento e a restruturação de alojamentos de famílias extremamente pobres. «Quando recebi esta notícia – confessa Socorro – senti uma grande emoção. Tinha a sensação que fosse Deus mesmo a dar-nos esta possibilidade». O trabalho de restruturação é realizado em grande parte por pessoas da comunidade dos Focolares, algumas das quais trabalham das 5:30 da manhã às 19h. Agora a casa conta com uma sala, um banheiro, o quarto do casal, um quarto para as meninas e outro para os rapazes. Viver numa casa com tais requisitos ajuda reencontrar a própria dignidade. Gomes, agora totalmente recuperado, parece uma outra pessoa. As duas filhas maiores, graças a uma bolsa de estudo, frequentam a universidade. «Vendo as filhas tão empenhadas em estudar – conta Gomes – também senti o impulso de me inscrever num curso para adultos para ter o diploma do nível médio». Apesar de não estudar há 38 anos, ele quer vencer este desafio. Durante as aulas aprende a superar a vergonha de sentir-se velho, e com força de vontade consegue. Quando participa nos concursos para o Banco de Brasília e para o Ministério do Turismo, consegue classificar-se entre os primeiros 200 lugares e agora é funcionário do banco.

O mandamento da unidade

O mandamento da unidade

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(C) CSC Audiovisivi

Os últimos dois dias do encontro ecumênico dos bispos amigos dos Focolares tiveram como centro o Patriarcado grego-ortodoxo, sede do Patriarca Bartolomeu I, para participar da festa de santo André. Faz 1700 anos que o Patriarcado é ponto de referência para os ortodoxos que hoje são cerca de 300 milhões de pessoas no mundo inteiro. Era domingo, 29 de novembro à tarde, as pessoas chegavam em pequenos grupos, algumas mulheres com o véu para cobrir a cabeça. Não eram só ortodoxos de Istambul, mas também gregos, russos. Causava impressão ver enfileirados 35 bispos de 16 igrejas diferentes dentro da Igreja de São Jorge. Era a primeira vez que eu participava de uma liturgia ortodoxa. O envolvimento aconteceu com todos os sentidos. Os olhos estavam extasiados pelas cores vivas dos ícones. Era um rio de luz. O ouvido era estimulado pelas cantilenas em grego antigo, pelos cantos que conduziam ao mistério da oração. O olfato era provocado pelo incenso que perfumava a alma. O paladar era provado pela Eucaristia e pelo pão “antidóro”. É um pedaço de pão abençoado que é distribuído no final da celebração. O objetivo seja das vésperas do domingo à tarde, seja da longa liturgia de segunda-feira, 30 de novembro, festa de santo André, não era recitar orações, mas se tornar oração, como dizia Orígenes: «Toda a nossa vida deveria ser uma oração estendida e ininterrupta». Ao tomar a palavra, o Patriarca Bartolomeu fez um paralelo entre André, o irmão de Pedro, o “primeiro chamado” e Chiara Lubich, a “primeira chamada” ao carisma da unidade. «Não temos o direito de nos desencorajarmos –concluiu – diante do barulho de tantos horrores que são perpetrados ao longo dos caminhos do mundo. Ao invés, temos o dever de anunciar a todos que só o diálogo, a compreensão, a atitude positiva que provém da nossa fé em Cristo pode vencer. O santo apóstolo André não teve dúvidas ao encontrar o Mestre, e nem mesmo Chiara teve dúvidas ao se entregar a Ele. Assim, também nós, todos conscientes das nossas responsabilidades, não tenhamos dúvidas do caminho pelo qual nos enveredamos, no encontro entre as nossas Igrejas, no encontro com as crenças religiosas, no encontro com a humanidade que sofre, porque só o Amor pode vencer, e as porta do Inferno não prevalecerão sobre ele». É um reconhecimento público do papel que Chiara teve no caminho ecumênico. Um carisma que estimulou também Bartolomeu I, muito ativo no campo do ecumenismo com as suas recentes viagens à Itália, Inglaterra, Bélgica, Bulgária. Perguntamos a ele o motivo do seu incessante trabalho pela unidade. «Porque é a vontade do Senhor ‒ respondeu Bartolomeu I ‒, Jesus mesmo rezou ao Pai pela unidade de todos os que creem. A sua oração, a sua vontade é um mandamento para nós. Nós devemos rezar e trabalhar para a realização desta divina vontade. Assim, a unidade seria também uma contribuição para a paz no mundo, para a fraternidade entre as nações. E hoje o mundo precisa disso mais do que nunca”. Do enviado Aurélio Molè

Estamos em guerra?

Estamos em guerra?

Monumento_guerra«Ouvistes que foi dito: ‘Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo!’ Ora, eu vos digo: Fazei o bem aos que vos odeiam e orai por aqueles que vos perseguem e caluniam! Assim vos tornareis filhos do vosso Pai que está nos céus; pois ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons e faz cair a chuva sobre justos e injustos. Se amais somente aqueles que vos amam, que recompensa tereis? Os publicanos não fazem a mesma coisa?… Sede, portanto, perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito» (Mt 5, 43-48). Este preceito traz um incansável perdoar, para reconstituir sempre o circuito da vida, que passa pelos três pontos: Deus, Eu, Irmão. Traz uma inesgotável obra de paz, de modo a reconstituir sempre a comunhão em vista da unidade, onde quer que ela tenha sido interrompida. E a paz se faz com os inimigos, não com os… comensais: algo cristãmente óbvio e, no entanto, normalmente incompreendido, porque, no estado de medo, se teme a guerra e se teme a paz. Se o amor associa, o temor amontoa. Um é centrífugo e gera a comunidade, removendo limites e barreiras; o outro é centrípeto e determina a oclusão dos vasos comunicantes. Aquele ilumina, este obscurece: regime da liberdade, um; tirania terrífica, o outro. No amor se raciocina e se trata; no medo não se entendem razões, se procede sob o instinto e, vendo fantasmas, se dispara. A organização social, que prescinde da lei da caridade, e não vê mais irmãos, acaba por ver somente mamíferos a serem explorados e mortos, como e pior do que certas sociedades antigas para com os escravos. Onde falta a caridade, os homens devem ser contidos pela polícia e fechados em campos de concentração… Jesus veio para recolocar o homem em pé, em liberdade; e nisso os seus seguidores devem aplicar as forças e a ideia, vendo continuamente o homem na perspectiva de Deus. Se não, a existência ocorre como busca da morte, através de uma construção fatigante de motivos de ódio: um entorpecimento progressivo, que dá a ilusão de um processo vital. «O amor lança fora o temor». E, portanto, quem ama não tem medo: o seu Eu – o possível sujeito do medo – não existe mais: existe o Outro, aquele com quem o nosso Eu se identificou; e o Outro, inclusive nas vestes de irmão, é Jesus. Assim, especialmente nos nossos tempos, é superada a barreira maior: o medo. Submisso a ele, o Eu teme porque está sozinho: sozinho, no escuro, entre quatro paredes, que terminam por lhe parecer os limites de um túmulo. E, ao invés, se sai da solidão, se liberta: encontra o irmão, e por ele se insere em Deus». (Igino Giordani, Il fratello, Città Nuova, Roma 2011 (1954), pp. 85 – 87)

Uma voz do Islã: reforçar a fraternidade

Uma voz do Islã: reforçar a fraternidade

20151119-01A trágica notícia dos ataques terroristas horrendos na capital francesa, nos preencheu de profunda tristeza. O nossa recordação, a nossa solidariedade, as nossas orações são dirigidas às vítimas, aos feridos, às suas famílias, aos seus entes queridos e ao povo francês”. São as palavras de condolências de Mustafa Cenap Aydin, diretor do Centro Tibre para o diálogo de Roma. “Eu me uno à mensagem – continua o diretor do Centro Tibre – transmitida pelo doutor estudioso muçulmano, escritor e educador ativista M. Fethullah Gülen que condena firmemente “Toda ação terrorista, de qualquer pessoa e proveniência” porque “é um duro golpe para a paz e para a tranquilidade da humanidade inteira. Estes atos covardes de terrorismo são ataques não somente ao povo francês, mas aos valores humanos universais e à fraternidade humana”. “Nunca nos cansaremos de condenar todos aqueles que alimentam a violência, o ódio, o medo, abusando indevidamente de uma religião, uma ideologia para fins cruéis, desumanos”. “Gülen, inspirador de milhões de pessoas atraídas pela sua mensagem de amor e de compaixão, convida todos a se unirem à sua oração, a fim de que Deus conduza “a humanidade inteira a um mundo de paz e tranquilidade” e “a agir em solidariedade contra qualquer forma de terrorismo e a comprometer-se para realização da paz universal”. “Responderemos a estes ataques ‘desumanos’ – conclui Mustafa Cenap Aydin – reforçando ainda mais o espírito de unidade e de fraternidade; estes ataques nos convencem da importância do diálogo, da conciliação, da fraternidade e a aumentar ainda mais o nosso compromisso de difundi-la; estamos convencidos de que, sem dúvida, a paz prevalecerá. Peçamos e façamos um apelo a todos para que possam unir-se a nós neste esforço”. Fonte: Città Nuova  em italiano

Religiões pela paz: do medo à confiança

Religiões pela paz: do medo à confiança

RfP-06Há oito anos desde a última Assembleia Continental realizada também naquela ocasião, na Itália, representantes de diferentes religiões e tradições religiosas presentes na Europa se uniram para refletir e dialogar por vários dias sobre um tema muito atual, e em muitos aspectos realmente preocupante para os cidadãos e comunidades da Europa de hoje. “O horrível massacre terrorista em Paris, convenhamos, é um golpe no coração de todos e talvez ainda mais para aqueles que se comprometem a promover a coexistência pacífica com base no valor da dignidade humana e o respeito às diferenças positivas,” declara Religiões Pela Paz imediatamente após os ataques terroristas de 13 de novembro. «Todas as pessoas de boa vontade-continua-pode dar o seu contributo para que o medo não tome posse em definitivo em nossos corações e em nossas mentes com toda a carga de violência e destruição que inevitavelmente comporta». Ir “do medo à confiança” – acolhendo um ao outro, era o título da conferência que reuniu cerca de cinquenta jovens cento e cinquenta adultos, entre os quais alguns membros proeminentes das diversas tradições religiosas. RfP_01Experiências positivas do diálogo e da integração, narrado por protagonistas de diferentes países da Europa, estabeleceram as boas práticas compartilhadas entre todos e provou ser particularmente eficaz. Postos de trabalho, em sessão plenária e em uma extensa série de workshops, tentaram responder aos desafios que a Europa enfrenta hoje, seja em face as ondas de migração, seja diante ao crescente de sentimentos pessoais e de grupo de caráter e racista. Uma atenção especial também foi dada em relação ao papel dos meios de comunicação e a possibilidade que eles têm em manipular de maneira negativa a opinião pública, aumentando os temores em vez de enfatizar o bem que já existe e que não se torna notícia. Também foram interessantes as sessões que aderiram ao programa dos jovens com os adultos. Na apresentação dos jovens, emergiu a ruptura de uma Europa multiétnica, multicultural e multireligiosa, que mais do que uma projeção futura é já uma realidade com um empenho das novas gerações em trabalhar para reavivar relacionamentos construtivos entre pessoas de diversas tradições. Dos quatro dias de trabalho emergiu um trabalho atualizado de Religiões pela Paz na Europa, com um organismo ativo já por muitas décadas e que hoje é chamado a coordenar e a trabalhar em colaboração e em rede com outras agencias empenhadas ativamente no diálogo inter-religioso e intercultural como também na acolhida e na integração. Um compromisso que, como ele expressa “a proximidade fraterna aos familiares e amigos das vítimas inocentes e a todo o povo francês, através do afeto e oração” se renova o desejo de “continuar na ação comum pela justiça e paz “. Veja também: Protagonistas na construção de um mundo de paz – da presidente do Movimento dos Focolares, Maria Voce no discurso de abertura.