Movimento dos Focolares
Agradecidos a Bento XVI

Agradecidos a Bento XVI

Após um ano do histórico gesto de Bento XVI – realizado com plena consciência, coragem e grande humildade – que mudou a fisionomia da Igreja, o recordamos com imensa gratidão.

No último Angelus, no dia 24 de fevereiro de 2013, ele nos comoveu com as suas palavras: «O Senhor me pede para “subir a montanha”, para me dedicar melhor à oração e à meditação».

Obrigado Bento por ter sido instrumento do Espírito Santo!

Loppiano: Primeiro “Fim de semana da Doação”

Loppiano: Primeiro “Fim de semana da Doação”

“Eram tempos de guerra e tudo desmoronava… somente Deus permanecia”, com estas palavras, frequentemente, inicia-se a narrativa da origem do Movimento dos Focolares. Transcorria o ano de 1943 e a Segunda Guerra Mundial espalhava o terror. Muitos episódios daquela época foram sempre recordados e, com o passar do tempo, tornaram-se emblemáticos, foram concretamente revividos e espalharam-se por toda parte, onde estão presentes as comunidades do Focolare.

Um desses episódios foi denominado fagotto (termo que define o ato de reunir o supérfluo e depois doá-lo, ndt.). Vejamos a narrativa de Vittoria (Aletta) Salizzoni, uma das primeiras jovens que começou, com Chiara Lubich, “a aventura da unidade”:

“Lembro-me de um fato que, creio, aconteceu em 1946. Chiara nos fez uma proposta: ‘Doemos à nossa comunidade tudo o que é supérfluo das nossas roupas”. E assim começamos a fazer o que depois foi denominado fagotto. Nós éramos pobres, vocês podem muito bem imaginar: no período pós- guerra ninguém possuía alguma coisa. Tínhamos somente roupas velhas e usadas, mas todas nós doamos alguma coisa. Eu me lembro do monte de roupas que se formou na sala do focolare e que, em seguida, foi distribuído.”

Este fato, que fazia lembrar as primeiras comunidades cristãs, nas quais “não havia entre eles nenhum necessitado, porque todos os que possuíam bens os colocavam à disposição dos outros (…) e repartia-se a cada um deles conforme a sua necessidade” (cf. At 4,34-35), tornou-se uma praxe nas comunidades do Focolare, no mundo inteiro.

Os habitantes da Mariápolis permanente internacional de Loppiano, nos dias 8 e 9 de fevereiro, decidiram lançar uma análoga proposta, mas, envolvendo a comunidade do próprio território, seguindo também as indicações do Papa Francisco que, na sua mensagem para a próxima quaresma, convida exatamente a partilhar. O Papa lembra que, entre outras coisas, “é necessário que as consciências se convertam à justiça, à igualdade, à sobriedade e à partilha”.

A iniciativa solidária foi intitulada “Fim de Semana da Doação”. “Uma total imersão na ‘Cultura da Partilha’ – explicam os organizadores – que promoveu a abertura de um espaço para a troca e solicitação de objetos em boas condições, sem limites ou restrições de gênero e qualidade, considerando ainda a lista das necessidades e o “Banco do Tempo” para colocar à disposição dos outros”.

Todos os objetos doados foram levados ao Auditório da cidadezinha e, continuam os organizadores: “Recebemos muitas coisas! Roupas usadas de várias medidas que servem a pequenos e grandes, livros, eletrodomésticos, móveis, brinquedos e objetos de decoração”.

Durante o dia de domingo foram promovidos momentos de diálogo e aprofundamento acerca das motivações que constituem o fundamento da “cultura do dar” – em contraposição à “cultura do ter” – e a sua direta aplicação na vida cotidiana.

E, na conclusão, foi inaugurada a assim chamada “Rede Fagotto Permanente”, ou seja, um local para recolher e distribuir os objetos doados. Um local à disposição da solidariedade e concebido como local de passagem de bens destinados a quem tem necessidade.

Na África, como família

Na África, como família

“Não estamos indo para a África para conhecer um lugar diferente, para fazer turismo, mas para encontrar um povo”, escrevem Flavia e Walter.

Ela é suíça, estudou relações internacionais em Genebra e trabalhou alguns meses no Bukas Palad Tagaytay, nas Filipinas. Walter é um jornalista brasileiro e em 2012 terminou o mestrado no Instituto Universitário Sophia, em Loppiano (Itália). Em 2005 ele foi para a Indonésia, como voluntário, seis meses após o tsunami que destruiu o sudoeste asiático.

Mesmo vivendo em lados opostos do oceano Atlântico eles se conheceram, em 2004, e casaram-se oito anos depois.

Agora deixam as seguranças, projetos, trabalho… irão passar dois meses com a comunidade dos Focolares de Man, na África subsaariana, 600 km a oeste da capital da Costa do Marfim, Abidjan. “Deixar tudo atrás de nós não é fácil – escrevem – mas sentimos que esta experiência de desapego total nos torna mais livres para viver em profundidade cada momento, sem olhar para trás”.

Em Man irão trabalhar na Mariápolis permanente “Victoria”, num centro de informática, e em outra atividade que se ocupa da luta à má nutrição de centenas de crianças.

“O fato de ir juntos, como casal, é um aspecto que queremos salientar – escreve Flavia -. Muitos dizem que o matrimônio aprisiona e constrange a uma vida que se baseia na busca de seguranças materiais. Nós queremos assumir o desafio de que é possível abrir-se aos outros, juntos”.

“Conhecer o povo africano sempre foi um sonho nosso – acrescenta Walter -, mas estabelecemos muitos relacionamentos que transformaram a nossa expedição em uma aventura que queremos partilhar com os nossos muitos amigos. Para eles, e todas as pessoas interessadas em conhecer mais o continente africano, tivemos a ideia de escrever um livro com as experiências que viveremos e as fotos que irão documentá-la”.

“Queremos que todos participem dessa nossa aventura – conclui Flavia -, e doar o fruto da nossa experiência; acreditamos que a família não é feita apenas com os laços de sangue, mas envolve todos os relacionamentos construídos com as comunidades onde estaremos inseridos”.

Aqueles que desejarem participar do projeto podem contribuir e receberão um livro fotográfico com a experiência deles.

Para maiores informações:

http://flaviaevalter.wix.com/juntosrumoaafrica

https://www.facebook.com/juntosrumoaafrica.

Chiara Lubich e as religiões: Budismo

Chiara Lubich e as religiões: Budismo

O relacionamento com o mundo budista possui um significado especial na história do diálogo vivida pelo Movimento dos Focolares. Ainda que a fundadora, Chiara Lubich, já na década de sessenta tivesse intuído a possibilidade de construir uma fraternidade autêntica com pessoas de religiões e culturas diferentes, foi somente em 1979 que ela conheceu um líder de outra religião, o reverendo Nikkyo Niwano, fundador da Rissho Kosei kai. Nasceu uma amizade fundamentada numa profunda estima recíproca. Em 1981 Niwano a convidou para ir à Tóquio e falar da sua experiência a 12 mil budistas. Um momento histórico, início de uma experiência de verdadeira fraternidade. É uma relação que dura já há muitos anos, reforçada ulteriormente pela visita de Maria Voce a Tóquio, em 2010.

Abriram-se depois caminhos para o conhecimento e a colaboração com outras entidades da corrente Mahayana, no Japão e em Taiwan. São inesquecíveis os encontros com o Venerável Etai Yamada, da Escola Tendai. Chiara gostava de citar o lema do grande mestre Saicho: «Esquecer a si mesmo e servir os outros é o vértice do amor-compaixão», palavras que foram citadas inclusive por João Paulo II, por ocasião do encontro com representantes de outras religiões, em Tóquio, em 1981. O venerável Yamada acrescentava: “Pode-se dizer que o focolare coloca em prática as palavras do mestre depois de 1200 anos”. Atualmente existem relações frutuosas com a Escola Nichiren.

Não faltaram contatos com budistas chineses do mosteiro Fo Guan Shan e do mosteiro Dharma Drum Mountain.

No decorrer dos anos foram abertos contatos também com o mundo do budismo Theravada. Graças a uma longa permanência na Mariápolis internacional de Loppiano (Florença – Itália), dois monges tailandeses – o Grão Mestre Ajhan Thong e Phramaha Thongratanativeram um contato vital com o cristianismo. Retornando ao seu país comunicaram as suas descobertas, convidando Chiara Lubich a dar o seu testemunho numa universidade e num templo budista em Chiang Mai. O Grão Mestre Ajhan Thong, ao apresentar a fundadora dos Focolares, disse: «O sábio não é nem homem nem mulher. Quando acende-se uma luz na escuridão não se pergunta se foi um homem ou uma mulher que a acendeu. Chiara veio para doar-nos a sua luz».

De 2004 até hoje foram feitos alguns simpósios. O quinto, em ordem cronológica (28-31 de maio de 2012) – após os realizados em 2004 e 2008 no Centro Mariápolis de Castelgandolfo, e em 2006 e 2010, respectivamente em Osaka e Kyoto, no Japão e Chiang Mai, na Tailândia – reuniu participantes provenientes da Tailândia, Sri Lanka, Japão, Coreia, Taiwan, Inglaterra, Estados Unidos, Suíça, Áustria e Itália. A variedade não esteve só na proveniência geográfica, mas também nas realidades religiosas representadas. Entre os budistas estavam presentes monges e leigos da tradição Theravada e Mahayana, e, entre os cristãos, representantes da Igreja Católica, da Comunhão anglicana e das Igrejas reformadas.

Com os anos amadureceu uma  profunda confiança entre os participantes desses encontros, o que permitiu enfrentar o tema das Escrituras com abertura e sem mal-entendidos. O simpósio de Castelgandolfo teve a presença de Sua Eminência cardeal Tauran, presidente do Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-religioso e da presidente do Movimento dos Focolares, Maria Voce.

No dia 20 de março de 2014, na Universidade Urbaniana de Roma, acontecerá o evento “Chiara Lubich e as religiões: juntos rumo à unidade da família humana”. Passados seis anos de seu falecimento, deseja-se evidenciar o seu empenho pelo diálogo inter-religioso.  A manifestação coincide com o 50º aniversário da Declaração Conciliar “Nostra Aetate”, sobre a Igreja e as religiões não cristãs. É prevista a participação de personalidades religiosas, inclusive do budismo.

Assistência aos refugiados e o desafio da integração

Assistência aos refugiados e o desafio da integração

«Desembarcam nas praias italianas em busca de paz, de futuro, de uma vida digna de assim ser chamada: nestes últimos meses são sobretudo as vítimas da guerra na Síria, protagonistas de um novo “êxodo bíblico”, como muitos o definem». Marigen conta como ela e as outras focolarinas da Catânia (Sicília) sentiram-se diretamente interpeladas pelos rostos dos refugiados e pelos desembarques cada vez mais prementes: «E eu, nós, o que podemos fazer?», perguntam-se.

Através da Valeria, uma jovem do Movimento, ficam sabendo que quotidianamente na estação de Catânia chegam multidões de sírios para começarem a viagem rumo aos países do norte da Europa. «Precisam de tudo: roupas, sapatos, malas, comida, medicamentos», conta a Valeria.

Imediatamente as focolarinas mobilizam-se: «Abrimos os nossos armários, tiramos tudo o que estava acumulado e que pode servir para os outros», acrescenta Paola. «Uma prega botões, outra passa a ferro uma camisa ou prepara as sacolas com as roupas separadas por tipos. Lembramos muito da experiência de Chiara e do primeiro focolare em Trento, na época da guerra».

No dia seguinte, vão até à estação e entregam tudo a uma jovem marroquina que coordena as ajudas. Descobrem então que há necessidade de um lugar para depositarem as doações. Naquela mesma noite, uma família do Movimento coloca à disposição a própria garagem.

Também têm a oportunidade de conhecer e ajudar os migrantes que se hospedam na mesquita, onde dormem refugiados muçulmanos e cristãos. A Lina, focolarina proveniente da Jordânia, traduz as suas histórias cheias de sofrimento e de esperança.

Enquanto isso, a comunidade dos Focolares de Siracusa vive com toda a cidade o sofrimento pela perda de Izdihar Mahm Abdulla, a jovem síria de 22 anos morta no mar por não ter recebido os habituais medicamentos durante a viagem. A Marigen conta ainda: «Procuramos acompanhar os refugiados levando-lhes ajuda material e conforto. Participamos do funeral no rito muçulmano na catedral. Estão presentes o Imã de Catânia, o Prefeito e o Arcebispo de Siracusa. Sente-se uma atmosfera sagrada. Todos estão reunidos ao redor do caixão, ligados por este grande sofrimento. O imã oferece ao bispo o Corão, como gesto de amizade e de comunhão».

Também na ilha de Lampedusa, com a tragédia de muitos mortos no mar, a comunidade do Movimento enfrentou a urgente situação, juntamente com muitas pessoas, oferecendo hospitalidade e alimentos, partilhando com os imigrantes não só o que tinham a mais, mas também o necessário.

Na vizinha Malta, a comunidade dos Focolares sentiu-se diretamente interpelada pela chegada de muitos refugiados na costa da Ilha. «Aqui o desafio da emigração é muito forte», conta a Vanessa. «Já há dois anos, começamos a tomar consciência dos passos a serem dados e a pedir autorização para entrar nos centros de detenção onde se encontram muitos refugiados». Organizam-se grupos com o objetivo de agir em várias frentes.

«Faço parte do grupo que vai ao centro de detenção – prossegue – onde conhecemos cerca de cinquenta mulheres da Somália, dos 16 aos 50 anos. A maior parte delas é muçulmana, enquanto algumas são cristãs. Damos aulas de inglês, de trabalhos manuais e de dança, mas a coisa mais importante é o relacionamento que se estabelece com elas: escutar e partilhar as frustrações, as histórias de vida… Conhecemos situações muito delicadas, que as levam a pensar até mesmo no suicídio… Constatamos que a disponibilidade de escuta é muito importante, e vemos com alegria que estas visitas levam conforto e esperança. É esta atitude de acolhimento que procuramos viver e transmitir, para promover uma cultura da integração».