Movimento dos Focolares

Depois da crise, o amor. Aquele verdadeiro.

Mai 11, 2016

Renzo Bardi, que por diversos anos conduziu, junto com sua esposa, a escola internacional para famílias da Mariápolis permanente de Loppiano (Itália), relê a sua história de ex-separado, à luz da Exortação Amoris Laetitia.

Mariarosa e Renzo Bardi-a«“A história de uma família está marcada por crises de todo o gênero”. Assim começa o papa Francisco, ao se preparar para falar da crise de casal em Amoris Laetitia (AL 232 e segg.), interceptando com grande realismo as suas várias passagens. Páginas que parecem contar a minha história. Minha, de menino de 5 anos, que a guerra faz órfão de pai e de perspectivas. Minha, de jovem, que no amor de uma garota encontra um sopro de vida nova e uma esperança de felicidade. Minha, de homem, desiludido e deixado sozinho. Mas também a história de uma comunidade que acolhe e que salva. Ao terminar os estudos náuticos e embarcando nos navios da Marinha Mercante, numa folga do trabalho conheço Maria Rosa e brota o amor. Um sentimento tão grande que não admite distâncias. Por ela, deixo o mar. O novo trabalho nos leva a viver longe das nossas famílias, dos amigos, da vida de sempre. Todo o universo está circunscrito a nós dois, envolvidos no sonho: tanto eu quanto ela projetamos sobre o outro toda expectativa de felicidade. Tudo corre bem até que as nossas diferenças, atraentes no início, começam a nos aborrecer. Até se apresentarem a nós como inaceitáveis, até não nos reconhecermos mais e a nos convencermos de termos escolhido a pessoa errada. E com amarga desilusão temos que admitir que o sonho acabou. E com ele, o nosso casamento. Nós nos separamos. Eu me encontro sozinho, na casa vazia, dominado pela raiva e pelo desespero. image027Na festa de casamento de um colega, um dos convidados me oferece uma carona para voltar para casa. Encorajado pela profundidade da sua atenção lhe falo sobre a minha situação. Ele se oferece para nos tornarmos amigos, mas eu, desiludido da vida e das pessoas, lhe digo não acreditar na amizade. “Eu lhe proponho uma amizade nova – dispara confiante –, de nos amarmos “como Jesus nos amou”. Aquele “como” abre uma brecha na minha alma. Começo a frequentar a sua família e os seus amigos do Focolare, amigos que se tornam meus também. É disso que eu preciso de verdade: estar perto de pessoas que não me julgam, não dão conselhos, não ostentam a própria felicidade. Ao invés, sabem compreender a angústia de quem, como eu, está confuso. O seu modo de viver é como um espelho em que revejo todo o meu passado, o encadeamento de erros e de egoísmos que o tinham arruinado. Seguindo o exemplo deles, eu também começo  a fazer algo bom para os outros. 20160511-01Dois anos depois, totalmente inesperada, chega uma carta de Maria Rosa. Ela também, por caminhos totalmente diferentes, na sua cidade, conheceu pessoas que a fizeram se encontrar com o olhar amoroso de Jesus. Vacilantes, nos reencontramos e naquele momento percebemos que Deus nos tinha dado um coração novo e a certeza de que o nosso amor podia brotar de novo. Um amor cuja medida não era mais ter expectativas, mas doar. Na misericórdia começa um percurso até a refundação da nossa família, que será alegrada por seis filhos, dentre os quais, trigêmeas. Mas não mais isolados: com outros casais compartilhamos o recomeçar de cada dia, experimentando que, embora no meio das dificuldades e das provações, que nunca faltam, podemos construir-nos como casal com um horizonte de felicidade. Num dia a dia entretecido de comunhão, de reciprocidade, de profunda partilha de sentimentos, de propósitos, de doação aos filhos e a todos. Experimentando, na alegria, como escreve Francisco, que uma crise superada leva realmente a “melhorar, sedimentar e maturar o vinho da união”. E que cada crise é a ocasião para “chegar a beber, juntos, o vinho melhor” (AL 232)».

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