Movimento dos Focolares

EUA: entrar no “pecado original do racismo”

Jul 10, 2020

As duas crises que estão abalando o país, pandemia e racismo, poderiam levar a um futuro melhor. Uma participação de Susanne Janssen, diretora da revista Living City.

As duas crises que estão abalando o país, pandemia e racismo, poderiam levar a um futuro melhor. Uma participação de Susanne Janssen, diretora da revista Living City. O racismo é um vírus que nunca foi erradicado dos Estados Unidos. Depois da Guerra Civil (1861-1865), a escravidão foi abolida no papel, mas ainda hoje pessoas negras e brancas não são tratadas da mesma maneira. A morte de George Floyd trouxe à tona o problema. Após os oito minutos atrozes em que Floyd implorou pela sua vida serem filmados, não era mais possível afirmar que a culpa fosse somente da vítima; esse vídeo, juntamente com outras tantas pessoas (não só afro-americanas) que se uniram durante as manifestações contra o racismo, representam um sinal que dessa vez havia algo diferente. Esperamos que o que aconteceu não acabe sendo somente uma onda de protestos, mas que traga uma verdadeira mudança. O papel da Igreja Depois de alguns dias de silêncio, a Igreja se posicionou a favor daqueles que protestam contra o racismo. O cardeal de Boston, Sean O’Malley, escreveu que o homicídio de George Floyd “é uma prova dolorosa daquilo que é e foi para os afro-americanos o fracasso de uma sociedade que não está preparada para proteger a vida deles e de seus filhos. As manifestações e os protestos desses dias foram pedidos de justiça e expressões agonizantes de uma profunda dor emocional da qual não podemos nos distanciar”. A conferência episcopal dos Estados Unidos afirmou que o racismo é como o pecado original dos Estados Unidos, que acompanha o crescimento da nação e a impregna até hoje. Os espaços de reflexão estão se intensificando na igreja e na sociedade. Os primeiros passos Com o slogan “cortar os recursos”, pretende-se ir além de uma simples operação de reestruturação da polícia. A intenção é começar tudo de novo e dar vida a uma polícia mais sintonizada com os cidadãos. Nos últimos anos, fala-se muito da sua progressiva militarização, mas, na verdade, também deve-se dizer que muitos dos deveres que cumpre caberiam aos assistentes sociais. Diferentemente dos casos de violência contra afro-americanos que ocorriam no passado, atualmente muitas pessoas procuram aprender, escutar e confrontar o passado, concentrando a reflexão nos problemas estruturais que permaneceram depois da abolição da escravidão e naqueles ligados à segregação, como as assim chamadas leis de Jim Crow e a lei sobre direitos civis de 1964. Sim, porque encarar os preconceitos que estão dentro de cada um e os privilégios sociais de que gozam os brancos já é um primeiro passo. Dois autores, Ibram X. Kendi e Robin DiAngelo, afirmam que é necessário um passo que vá além de “ser uma boa pessoa”. É preciso, em vez disso, combater as estruturas de opressão. Ainda hoje, em uma situação cotidiana como uma blitz policial, a cor da pele pode fazer a diferença entre a vida e a morte. A contribuição do Movimento dos Focolares Em primeiro lugar, as comunidades do Movimento dos Focolares estão examinando se internamente há discriminação e racismo. O pensamento do Movimento sobre a justiça racial é um ponto de partida para começar um diálogo sincero entre nós e com as pessoas ao nosso redor. Vamos dar espaço para os testemunhos dolorosos de racismo, mas também para as experiências de quem cresceu em um contexto de privilégio dos brancos e tenta começar um processo de reconhecimento dos próprios limites. Essas conversas não são fáceis, mas são necessárias para reconstruir relacionamentos verdadeiros. “Se não ficarmos atentos, acabaremos aceitando os princípios da retórica comum sobre a diversidade que muitas vezes apoia os privilégios e acentua as diferenças”, afirma uma docente latina negra. Um acadêmico de mais de 80 anos contou como teve de aprender a ser mais aberto em sua vida, sobretudo quando uma de suas filhas se casou com um jamaicano: “Pensei que seus filhos sofreriam discriminação. Mas agora vejo como são um exemplo luminoso para muitas pessoas”. O papel dos jovens Os jovens estão na linha de frente e pedem uma mudança de mentalidade. Uma jovem mestiça diz: “Quero ajudar meus irmãos e irmãs para que sejamos mais ouvidos, do contrário, me arrependerei por toda a minha vida…”. O slogan “Black Lives Matter”, que uniu tantas pessoas e encheu as ruas, também é alvo de polarização. Não raramente, nos deparamos com mensagens que procuram desacreditar quem luta por mais justiça, mas pouco a pouco nota-se uma mudança na opinião pública. De fato, muitas pessoas condenam o modo com o qual o presidente Donald Trump lidou com as crises recentes: a pandemia e o racismo estrutural. Por enquanto, o candidato do Partido Democrático, Joe Biden, tem uma vantagem nas sondagens de 13%, mas ainda é cedo para dizer como estará a situação em novembro, quando os estadunidenses irão às urnas.

Susanne Janssen, diretora da revista Living City

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