Tudo depende de como vemos “o outro”, o irmão, a irmã: as situações podem mudar completamente se optamos pela estrada do amor. Tempos difíceis Krystyna contava-me sobre os tempos difíceis na Polônia durante a guerra: «Faltavam alimentos e produtos de higiene, recebíamos algumas coisas de amigos da então Alemanha Oriental. Ao contrário, os nossos vizinhos faziam festas com uso abundante de bebidas alcoólicas. Um dia, porém, notamos no apartamento deles um silêncio fora do comum, e que a filha deles, ainda criança, tinha ficado sozinha. Depois soubemos que a mãe tinha sido hospitalizada. Fui visitá-la, levando sabonete e pasta dental, produtos que na época quase não se encontravam. Quando viu-me, ficou muito surpresa: “Justamente você, a quem sempre disturbei, veio visitar-me? Não veio nenhum dos amigos que frequentam a nossa casa.” Quando saí do hospital, convidou-me à sua casa. A acolhida foi calorosa. Depois, começou a contar-me da sua infância triste, a falta de sentido na sua vida e a necessidade de sair de um certo círculo. Escutei-a com amor e garanti-lhe a minha oração. Em seguida, o homem que vivia com ela foi embora e a companhia barulhenta deixou de frequentar aquela casa. Assim, aquela mãe podia oferecer uma vida “normal” à sua filha». B.V. – Polônia Jovem casal do sul Vindos do sul da Itália, transferiram-se ao norte para sair de um lugar dominado pela máfia. Tinham que encontrar uma casa e trabalho para os dois. A minha situação econômica não era das melhores, mas com fé comecei a ajudá-los a procurar hospedagem. Infelizmente, quando eu dizia que eram do sul, muitos fechavam a porta. Cheguei a chorar com eles e mais uma vez dei-me conta de que somente um pobre pode compreender um outro pobre. Vivi junto com aquele jovem casal muitas humilhações e, quando no fim encontramos a casa e o trabalho, sentia-me enriquecida por esta experiência vivida junto com eles. V.M. – Itália As toalhas roubadas Trabalho como caixa em um restaurante. Não exito em pedir as sobras de comida à cozinha para dar às crianças que vivem na rua. Encontro muitas todos os dias no caminho para a casa. Um dia, quando estava descendo do ônibus, alguém arranca-me a bolsa da mão e sai correndo! Fico chocada: dentro da bolsa tinha dez toalhas de mesa do restaurante, que havia recém retirado da lavanderia. O que fazer? Como direi ao meu patrão? Não sabia como contar nem à minha mãe, nem ao diretor do restaurante. Porém, tinha certeza que o Eterno Pai iria me ajudar. No dia seguinte, conto ao dono do restaurante o que aconteceu e ele, sem demonstrar muita preocupação, diz que espera as toalhas de volta o quanto antes. No mesmo momento, uma cliente que ouve a nossa conversa aproxima-se e diz que pode comprar o tecido necessário para fazer outras novas. Eu não podia acreditar! E o primeiro pensamento de alegria que tive foi lembrar das crianças que poderia continuar ajudando com a comida. D.F. – Filipinas Confiança Encontrei Álvaro num restaurante: 35 anos, mal vestido e com a barba por fazer. Quando pediu-me ajuda para preencher o formulário para um emprego, marquei um horário para ele no dia seguinte no meu escritório. Chegou no fim da tarde, dizendo que na realidade buscava apenas amizade. Tive compaixão e, superando a repugnância pelo cheiro que tinha, ofereci-lhe um licor. Ele entendeu que não o julgava e começou a contar-me seus problemas, desde quando, ainda criança, tinha sido abandonado pela mãe e o pai tinha sido preso. As horas passavam e ele, como em uma confissão, continuava a contar de si. Já estava clareando, quando percebeu que era dia e, desculpando-se, despediu-se. Reencontramo-nos outras vezes, apresentei-lhe meus amigos que o acolheram com familiaridade. Ele retribuía a amizade com vários pequenos trabalhos: um verdadeiro faz de tudo. Depois conseguiu encontrar um trabalho fixo e até fez carreira, casou-se e tornou-se pai de dois filhos. Quando, alguns anos depois, contou-me tudo isso, era uma outra pessoa. Tinha encontrado a sua dignidade, graças à confiança que lhe tínhamos demonstrado A.C. – Itália
Por Stefania Tanesini
(extraido de “Il Vangelo del Giorno”, Città Nuova, ano VI, n.2, março-abril 2020)
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