Movimento dos Focolares

Evangelho vivido: Professora atrás das grades

Nov 24, 2017

A palavra de vida de novembro nos mostra o serviço como um estilo de vida contra corrente. O testemunho de Francisca, uma professora que ensina matemática para adultos em uma prisão.

20171124-01“Fui transferida justamente para cá?”. Não sem uma certa apreensão, para Francisca se abrem as portas da prisão. Grandes portas de ferro, devendo passar por mais ou menos uma dezena delas. Alguém definiu como “entrar no inferno”. Após um curso para professores das penitenciárias, Francisca entra pela primeira vez na sala de aula. “Eu pensei que eu iria ser acompanhada por um agente, no entanto, o único de plantão devia monitorar uma dúzia de salas de aula e realizar outras tarefas simultaneamente. No segundo dia, eu disse a mim mesma: dessa forma não posso continuar! Se eu tenho medo, não posso desenvolver o trabalho que Deus me confiou. E naquele momento me senti livre para amar“. Procurando conhecer cada um dos detentos e com a consciência que em cada um deles habita Jesus, inicia para Francisca uma viagem. Não tanto de idas e vindas de um lugar sem limites a um espaço de reclusão, mas uma viagem no íntimo de cada um, penetrando no mais profundo de tantas histórias, no âmago de uma verdadeira humanidade com os seus erros, medos, angústias, mas também com um grande desejo de tomar as rédeas da própria vida. Começa um período de diálogo e respeito profundo. “Procurava preparar bem as aulas, para torná-las mais atraentes. Eu sabia que Jesus estava comigo também na prisão. Durante a aula de ciências, comecei a explicar a anatomia e a relação entre os órgãos e os sistemas do nosso corpo. Mais tarde, alguns presos começaram a diminuir o número de cigarros, eliminar o uso de tranquilizantes e estar mais ao sol aproveitando as horas livres”. “Além da dificuldade de ensinar os alunos com diferentes níveis de preparação – explica Francisca – havia outros tipos de problemas, como o contínuo rumor dos portões do presídio, a presença intermitente dos estudantes, contínuas mudanças da parte dos detentos para outros cárceres. É por isso que aqueles que estavam diante de mim naquele momento se tornavam ainda mais preciosos. Corria o risco de não revê-los nunca mais”. Ermal é um jovem albanês com uma inteligência perspicaz. Francisca dá-lhe o texto de uma entrevista com o papa Francisco sobre o seu relacionamento com os detentos. A partir desse dia, inicia um diálogo profundo sobre Deus e a oração. Em pouco tempo Ermal atinge brilhantes resultados escolares. “Professora, me desculpe, não posso fazer nada, estou cheio de problemas!” Diante do papel em branco para fazer uma tarefa em sala de aula, um jovem tunisino segurava a cabeça entre as mãos. “Tive a permissão para trazer fones de ouvidos e ver, junto com ele, no computador, alguns filmes na sua lingua. Aos poucos ele foi se tranquilizando, começou a praticar esportes, fez um recurso apelando para a redução da pena. Agora, quando ele me vê, me cumprimenta sorrindo, por trás das barras”. “No Natal – continua o relato de Francisca – fomos convidados a participar da Missa de vigília. Eu era a única, os outros professores participaram de outra liturgia. Não tínhamos nos colocado de acordo. Entre os presentes, não só os cristãos, mas também muçulmanos e outros sem crenças religiosas, alguns eram reclusos por crimes graves. Na  sua exortação o Bispo começou dizendo: ‘Vocês não são o erro que cometeram, vocês são pessoas. O crime é algo do passado, a partir de hoje olhemos o futuro com esperança’”. “Em janeiro, Ermal conseguiu a prisão domiciliar. Mas durante esse período ele foi abordado de novo pela gang que era a origem de seus problemas. Não podíamos ter contato com ele e nem mesmo saber o seu endereço. Eu o confiei todos os dias à Nossa Senhora, pedindo que ele voltasse ao menos para continuar os estudos. Depois de dois meses, por evasão domiciliar, Ermal voltou à prisão! Para nós, foi uma “boa notícia” e uma oportunidade para ele de continuar seus estudos. Em pouco tempo ele fez todas as provas e conseguiu obter o diploma. A presidente da comissão disse-lhe: “Você sabe que tem uma boa cabeça? Quais são seus planos para o futuro? ” Estudar, ele respondeu – quero ir para a Universidade”. “Após um ano de ensino, eu posso dizer que eu conheci outro mundo, quase um universo paralelo. Meu coração se alargou, meu modo de pensar mudou. Tantas coisas que “lá fora” parecem necessárias, numa vida cheia de privações tornam-se secundárias, ou se redimensionam”. Mas a mudança que Deus faz nos corações não conhece grades, barreiras ou limites.

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