Frederico: Um italiano e uma uruguaia, quantas possibilidades têm de se encontrarem? Mas foi o que aconteceu conosco, sete anos atrás, frequentando um centro latino-americano, em Roma; eu para ajudar na animação, ela para falar um pouco a sua língua. Os nossos olhares se cruzaram e começamos a morar juntos. Os apertos econômicos, porém, nos constrangem a deixar a grande cidade e ir morar na cidadezinha dos meus pais, até porque estava para se realizar um dos nossos grandes sonhos: a chegada de um filho. A felicidade não falta, mas o stress do nascimento e da rápida mudança de vida não nos deixam nem o tempo para respirar. Laura: Como se isso não bastasse, a minha mãe, que se ocupava do meu pai inválido e do meu irmão mais novo, adoece gravemente. Preciso ir imediatamente para o Uruguai, ao menos por uns dois meses, até porque, de outra forma, talvez não chegue em tempo para que minha mãe conheça o netinho. A este ponto eu e Frederico já estamos vivendo em dois planetas diferentes: eu fechada em casa com o bebê, ele sempre fora, para fugir das tensões entre nós. Quando nos olhamos existe só rancor, cansaço, incompreensão. «Quando eu voltar – digo antes de viajar – ou nos deixamos ou estaremos juntos para sempre». Frederico: A distância física se torna distância do coração. Os meses passam, ela não volta, e eu me encontro em outro caminho. Por honestidade sinto que devo dizer que não quero mais estar com ela e que seria melhor que ficasse lá onde estava. Laura: O sofrimento é grande, embora eu já esperasse por isso. Reúno todas as minhas forças, coloco de lado o sofrimento e decido voltar para a Itália, mesmo consciente de que as possibilidades eram poucas. E, de fato, quando chego em casa ele não quer mais viver comigo. Frederico: Um dia confidencio a um amigo o que está acontecendo e ele me fala de um casal com muita experiência, que talvez possa nos ajudar. A proposta não me convence muito, mas afinal, pelo bem do bebê, eu aceito. Talvez eles possam nos ajudar a deixar-nos sem criar uma guerra – eu penso -. Era uma tarde no final de maio. No jardim onde nos encontramos as cerejeiras estão carregadas, tudo fala de esperança e de paz, mas nos nossos corações borbulham sensações contrastantes. A mão forte daquele homem, que aperta a minha, e o rosto delicado de sua esposa me provocam um arrepio. Vejo que Laura também está impressionada. A conversa dura meia hora. Naquela mesma noite rompo decididamente com tudo e volto para casa. Quando entro as lágrimas rolam no meu rosto, mas a alma está começando a voar: talvez eu consiga! Laura: Quando vejo Frederico voltar quase não acredito. O próximo encontro marcado com aquele casal é na Mariápolis de Loppiano (Florença), onde encontraremos outros casais, amigos deles, e outros em crise, como nós. Mas a nossa mudança já tinha começado. No curso, organizado por Família Novas, dos Focolares, a primeira coisa da qual nos falam – quase como num jogo – é da arte japonesa do kintsugi, que diz que um vaso de cerâmica quebrado não deve ser jogado fora, mas colado com ouro. Fazendo assim ele se torna ainda mais precioso. A atmosfera que se respira nos regenera sem que nos demos conta. Compreendemos que o ouro que pode recompor o nosso casal é o perdão que pedimos um ao outro, e que encontramos a força de nos dar reciprocamente. Frederico: A espiritualidade da unidade, que é a base do curso, os conselhos dos especialistas, a ajuda de outros casais: um mix que reforça a nossa vontade de renascer como casal, e dá um impulso fundamental à nossa mudança. Desde então, todos os dias nos redeclaramos estar dispostos a recomeçar, sem dar nada por descontado e esforçando-nos para entrar um na pele do outro. Laura: Depois de dois anos chegamos a tomar um decisão importante: casar-nos na Igreja, para fazer com que o Amor por excelência tome conta de nossas vidas, e continue a escorrer sem nunca parar. Agora estamos na espera do nosso segundo filho, que nascerá em julho. Verdadeiramente, Deus Amor soube escrever certo sobre as nossas linhas tortas.
Colocar em prática o amor
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