«Por “Igreja dos pobres” entendem-se dois significados bem precisos: a Igreja deve ser pobre como Cristo se quer anunciar o reino de Deus, se quer que a sua mensagem tenha uma eficácia; e pobres em espírito deverão ser todos os cristãos que aderem profundamente à vida da Igreja. A mensagem da salvação será muito mais aceita pelos pobres, enquanto que, para um rico, será difícil entrar no reino dos céus assim como um camelo passar pelo buraco de uma agulha. Igreja pobre e Igreja dos pobres, conceitos, no entanto, que não devem nos fazer acreditar que isto tenha uma fácil implantação na vida sociopolítico atual. Na verdade, para Jesus os pobres são aqueles que, provados, sendo humildes, sem suporte ou apoio externo em que confiar, voltam-se para Deus, o justo e benfeitor. Os tradutores gregos da Bíblia entenderam muito bem que não se trata somente da pobreza material; para traduzir a palavra hebraica anaw (pobre), eles não utilizaram o termo “indigente” ou “necessitado”, mas preferiram a palavra praus, que evoca a ideia daquele que é manso e resignado até mesmo nos momentos de provação. (…) Esses pobres, no Evangelho, são encontrados também nas classes mais elevadas. Mateus nos fala sobre José de Arimatéia: “homem rico, que era discípulo de Jesus” (27, 57). Ele era desapegado dos seus bens, era um homem pobre e humilde. (…) Tertuliano, na Apologética mostrava que os cristãos daquele tempo não lutavam e nem mesmo aspiravam por cargos políticos, porque não eram atraídos por ambições pessoais. Por outro lado, notamos que muitos, que são economicamente desfavorecidos, voltam-se para mensagens que vêm de fora da Igreja, e aderem a elas. (…) É por isso que os papas e o Concílio nos convidam a refletir sobre a nossa vida cristã. Realmente é autentica? Ela traz o sinal visível da humildade e da pobreza? A pobreza deve ser o fruto da caridade. Será o amor que nos fará colocar nossos bens materiais à disposição da comunidade, dos pobres e necessitados. É a caridade cristã que nos conduz a eliminar o egoísmo e fazer brotar a comunhão. (…) A Igreja dos pobres torna-se, assim, a Igreja da comunhão entre ricos que se tornam pobres e pobres que doam a sua pobreza para construir juntos a Igreja. (…) Se quisermos que a Igreja dos pobres torne a assumir um valor de testemunho na evangelização, é necessário que, a todos os níveis, mergulhemos novamente na verdadeira vida cristã, a partir de qualquer ponto da Igreja, de cima para baixo, da periferia ao centro. (…) Isso se refletirá no plano social e político com novas reformas, que terão fundamento cristão se inspiradas pela liberdade. (…) Alguns espíritos mais sensíveis não estão satisfeitos e ainda gritam que a Igreja deve se tornar mais pobre. (…) Quando algo justo e correto é exigido, ainda que expresso mal ou de forma desordenada, devemos refletir profundamente se quanto nos é dito não seja um estímulo para acelerar o processo de renovação, sem o qual a Boa Nova não poderá ser levada a todos os homens da terra senão com pouca eficácia. (…) O desejo de paz, a pobreza, uma comunhão de bens que seja um sinal visível da comunhão dos espíritos, não são estes os protestos que tememos, pelo contrário, são precisamente estes que nos impulsionam a seguir no caminho do Evangelho». Pasquale Foresi – Problemáticas da Igreja de Hoje – 1970 – Editora Cidade Nova
Colocar em prática o amor
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