Esta Palavra de Vida é extraída de um salmo que enaltece a intervenção decisiva e poderosa de Deus, que liberta o seu povo do exílio da Babilônia e que continua intervindo, ao longo da sua história, toda vez que vê esse povo abatido, desencorajado, ameaçado pelo mal.
É a história de cada um de nós, resumida numa imagem muito expressiva: por um lado, a incerteza, a expectativa do semeador que lança na terra a semente (vai fazer tempo bom? a semente vai germinar?); por outro lado, a sua alegria pela colheita dos frutos almejados.
«Quem semeia entre lágrimas colherá com alegria»
Quando pensamos na nossa vida – escreveu Chiara Lubich – muitas vezes a imaginamos toda harmoniosa, como “uma série de dias vividos no esforço de torná-los cada vez mais perfeitos, com o trabalho bem executado, com o estudo, com o repouso, com as horas transcorridas na família, com os encontros, os congressos, o esporte, com as horas dedicadas ao lazer… vividos na ordem e na paz (…). Existe sempre no coração humano a esperança de que as coisas aconteçam assim e somente assim.
Na realidade, a nossa “Santa viagem” acaba se apresentando de maneira diferente, porque Deus quer que seja diferente. E Ele introduz diretamente no nosso programa outros elementos que ele quer ou permite, para que a nossa existência adquira o verdadeiro sentido e alcance o objetivo para o qual foi criada. Daí as dores físicas e espirituais, daí as doenças, daí uma infinidade de sofrimentos que nos falam mais de morte do que de vida.
Por quê? Talvez porque Deus queira a morte? Não, porque Deus, muito pelo contrário, ama a vida; mas é uma vida tão plena, tão fecunda que nós – apesar de toda a nossa tendência ao bem, ao positivo, à paz – nunca seríamos capazes de imaginar”1.
Daí a imagem do semeador que lança uma semente destinada a morrer – como que um sinal das nossas labutas e do nosso sofrimento –, e a imagem do ceifeiro que recolhe o fruto da espiga germinada a partir daquela morte: “Se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele fica só. Mas, se morre, produz muito fruto”2.
“Deus quer que, durante a vida, nós experimentemos uma certa morte – ou, às vezes, muitos tipos de morte – mas só (…) para produzir fruto, para realizar obras dignas dele e não de simples homens. Para ele, é este o sentido da nossa vida: uma vida rica, plena, superabundante, uma vida que seja reflexo da sua vida”3.
«Quem semeia entre lágrimas colherá com alegria»
Como podemos viver esta Palavra de Vida? Quem nos sugere a resposta é ainda Chiara, que nos orienta na atuação da Palavra de Deus: “É preciso valorizar a dor, pequena ou grande que seja, colocá-la em relevo (…). Dar valor especialmente ao esforço, ao sacrifício exigido pelo amor ao próximo: é o nosso típico dever”4. É uma dor que gera a vida!
E isso sem nos rendermos jamais, mesmo quando não vemos os resultados, bem sabendo que “um é o que semeia e outro é o que colhe”5. Qual será o futuro dos filhos, que procuramos educar da melhor forma possível? Quem verá os efeitos do meu empenho social e político? Jamais desanimemos da prática do bem6. Os frutos virão de uma forma ou de outra, quem sabe muito mais tarde, quem sabe em outro lugar, mas virão.
Uma esperança, uma certeza, uma meta segura se apresenta a nós no caminho da vida. As dificuldades, as provações, as contrariedades, pelas quais às vezes nos sentimos oprimidos, são uma passagem obrigatória que nos abre para a felicidade e a alegria.
“Portanto, avante! Olhemos para além de toda dor. Não nos limitemos a olhar somente aquela suspensão, aquela provação… Olhemos para a colheita que virá”7.
«Quem semeia entre lágrimas colherá com alegria»
Patrícia, de 22 anos, estudante paraguaia de direito, há certo tempo assumiu a função de assistente de um diretor de departamento. “Desde o início – confidencia –, eu me propus procurar sempre melhorar o trabalho e cultivar o relacionamento com os meus colegas, fazendo com que cada um se sinta valorizado”.
Mas isso significa muitas vezes ir contra a correnteza para defender os próprios princípios até às últimas conseqüências, como conta ela mesma:
“Uma pessoa importante no meu ambiente de trabalho, que gozava de certos privilégios, tinha um comportamento claramente desonesto. Eu tinha de falar com ela sobre isso!”
Mas, pelo fato de ter expressado as suas convicções, Patrícia perde o emprego. “Eu sofri terrivelmente, mas ao mesmo tempo estava tranqüila, porque sabia que tinha agido da maneira correta”. Ela não se desespera, porque nela é forte a consciência de ter um Pai para o qual tudo é possível e que ama desmedidamente. E, o que parece impossível na situação econômica e de desemprego em que vive o Paraguai, naquela mesma tarde ela recebe duas propostas de emprego. O novo trabalho é até melhor que o anterior e tem a ver mais diretamente com os seus estudos.
Aos cuidados de Fabio Ciardi e Gabriella Fallacara
1) Cf. Buscar as coisas do alto, São Paulo: Cidade Nova, 1993, p.p. 84-85;
2) Jo 12,24;
3) Op. cit., p. 84;
4) Ibid., p. 102;
5) Jo 4, 37;
6) Cf. Gl 6,9;
7) Op. cit., p. 85.
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