Após tracejar alguns desafios do mundo de hoje – a ameaça à paz e a busca da afirmação da própria identidade – Maria Voce oferece algumas reflexões a partir da experiência carismática de diálogo proposta por Chiara Lubich. É o dia 26 de janeiro, no India International Centre de Nova Deli. «Se procurarmos compreender quais são as características específicas que o diálogo do Movimento propõe, a primeira delas nos parece o seu fundamento. Chiara [Lubich] sempre nos ensinou a olhar para Deus como Pai de todos e, consequentemente, a olhar para cada homem e mulher que encontramos como seu filho ou sua filha e, portanto, como nosso irmão ou irmã. Ela mesma revelou esta descoberta, escrevendo às suas companheiras já em 1947: “Dirigir sempre o olhar para o único Pai de tantos filhos. Depois, ver todas as criaturas como filhos do único Pai. Com o pensamento e com o afeto do coração, ultrapassar sempre todos os limites interpostos pela vida simplesmente humana e tender, constantemente e por hábito adquirido, à fraternidade universal num único Pai: Deus[1]”. Lembro-me com que alegria Chiara nos relatou o comentário da nossa caríssima irmã, a prof. Kala Acharya, aqui presente, após o encontro delas na Índia em 2001: “Cada um cresceu fechado dentro dos próprios muros, admirando o próprio jardim, sem saber que do outro lado destes muros altíssimos, existem belíssimos jardins a serem contemplados. Chegou a hora de abater estes muros e descobrir o jardim do outro”. Se este é o fundamento, o método do diálogo que Chiara nos ensina não pode ser senão o amor! É um diálogo entre irmãos, portanto um diálogo entre pessoas, não entre ideologias ou sistemas filosóficos. É um diálogo que deve necessariamente ser apoiado e substanciado pela misericórdia, pela compaixão, pela caridade, assim como está sintetizado na Regra de Ouro [Faz aos outros o que gostarias que os outros fizessem a ti]. O amor e a misericórdia, colocados na base do diálogo, não só nos permitem ver quem está ao nosso lado com uma nova luz, mas nos fazem descobrir a diversidade, seja ela qual for, como um dom. Chiara disse: “Quem me está próximo foi criado como um dom para mim e eu fui criada como um dom para quem me está próximo. Na terra tudo está em relação de amor com tudo: cada coisa com cada coisa. Mas é preciso ser o Amor para encontrar o fio de ouro entre os seres”2. Atualmente, os contatos, em virtude das imensas possibilidades oferecidas pelos meios de comunicação, se multiplicam, mas se tornam breves, efêmeros, desprovidos de significado, enquanto as relações se rompem ou diminuem. Somente quando se insere no relacionamento eu-tu um amor que supera a dimensão puramente natural, os contatos podem se transformar em relações, ou seja, podemos construir redes de verdadeira fraternidade. E deste ponto de vista, a religião é chamada em causa para dar um sentido, uma alma, respostas verdadeiras e satisfatórias à humanidade confusa, traumatizada e desorientada de hoje. Constatamos nestes anos o papel insubstituível das religiões para levarem os seus adeptos a se reconhecerem reciprocamente e se respeitarem, a colaborarem, e a se tornarem protagonistas na construção de um mundo de paz, onde reinem a justiça e o respeito pela pessoa humana. Também Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares, viveu e contagiou todos os que nela se inspiram, a viverem esta extraordinária aventura, na qual não é suficiente um amor qualquer, mas é necessário aprender uma arte, como ela mesma a definiu: a “arte de amar”. (…) Se todos vivermos esta “arte”, atuaremos também alguns princípios indispensáveis no diálogo entre as religiões. Menciono alguns: Unidade na diversidade. É preciso que cada religião seja acolhida no pleno respeito a tudo o que ela considera sagrado, segundo a sua tradição. Proselitismo e sincretismo são incompatíveis com a paz. (…) Reciprocidade nos relacionamentos. Na partilha da espiritualidade vivida, cada um se enriquece não só sem o perigo de comprometer a própria fé, mas com a possibilidade de aprofundá-la. (…) Igualdade na dignidade humana comum. É a chave para qualquer relacionamento harmonioso de colaboração na construção de sociedades democráticas fundamentadas na paz. Muitos sabem como o carisma de Chiara Lubich pode ser sintetizado numa única palavra: unidade. É a vocação específica de todo o Movimento, que se empenha em vivê-la este ano com particular intensidade: trabalhar, empenhar-se em todas as frentes para contribuir na construção de um mundo unido, e levar a unidade, a paz e a reciprocidade em todos os ambientes. É o que exige a fidelidade ao nosso Carisma, àquela primeira intuição que Chiara assim expressava desde 1946: “Em nosso coração experimentamos algo muito evidente: a unidade é o que Deus quer de nós. Nós vivemos para ser uma só coisa com Ele, uma só coisa entre nós e com todos. Esta esplêndida vocação nos liga ao Céu e ao mesmo tempo nos imerge na fraternidade universal. Não há nada maior que isto. Para nós, nenhum ideal supera este”3». Nova Deli, 20 de janeiro de 2016 [1]LUBICH, A arte de amar, Cidade Nova, São Paulo 2006, p. 33 2LUBICH, Escritos Espirituais 1, “A atração do tempo moderno”, Cidade Nova, São Paulo 1998, p. 138. 3LUBICH, A unidade e Jesus Abandonado, Cidade Nova, São Paulo 1985, p. 29.
Colocar em prática o amor
Colocar em prática o amor
0 Comments