«Anos atrás, a relação médico-paciente foi definida como “uma história de silêncio”, na convicção de que um bom paciente tenha que seguir as instruções do médico sem fazer objeções, sem fazer perguntas». Flavia Caretta, médica geriatra junto à Policlínica “A. Gemelli” de Roma e ponto de referência de Health Dialogue Culture, está entre os organizadores do último congresso realizado pela rede internacional em Caruaru, no Estado de Pernambuco, com o título “Diálogo Interdisciplinar na Construção da Saúde Integral” (23-25 de agosto). HDC mantém coligados entre si profissionais da área biomédica que, se inspirando na espiritualidade da unidade de Chiara Lubich, deram início a uma reflexão e uma partilha de práticas sobre o tema do cuidado do doente, considerado na globalidade das suas dimensões. Quase 400, os profissionais presentes no congresso, provenientes de todas as partes do Brasil. «A insatisfação do paciente pela comunicação “ruim” – observa Caretta – está acima de qualquer outra insatisfação em relação às competências técnicas. A cultura tecnológica especializou o conhecimento, mas frequentemente “fragmentou” a identidade do paciente e as relações interpessoais entre quem cuida e quem é cuidado. O risco pode ser o de perder, ou de nunca chegar a olhar para o doente na sua integralidade […] Todo pedido de cuidado traz em si também uma necessidade de criar relações. Ignorar esta dimensão seria reduzir a medicina à aplicação de uma técnica, a uma prestação de serviços, enquanto em primeiro lugar está o encontro com uma pessoa». «A qualidade da entrevista clínica depende não apenas da aplicação do conhecimento científico ou das “habilidades” comunicativas do profissional, mas também da sua capacidade de “entrar” na vivência do paciente. O processo assistencial não pode ser considerado como um protocolo que resulte em procedimentos, porque aqui está implicada uma dimensão humana imprevisível, não padronizada, a ser inserida dentro da relação pessoal, reciprocamente. Nenhuma ação de cuidado teria o mesmo efeito sem entrar em relação com o outro. […] Entre as novas tendências da medicina, além da comunicação, da personalização dos cuidados, se está dando destaque para os estilos de vida, para o papel que a comunidade e a sociedade têm na saúde e, em especial, para a dimensão espiritual». «Gostaria de oferecer algumas modalidades experimentadas e compartilhadas por muitos profissionais, de variada formação e nível acadêmico, proveniências geográficas e culturais, que inspiram a sua vida e, portanto, também a sua profissão nos valores inerentes à espiritualidade do Movimento dos Focolares. […] Na relação com o paciente, algumas estratégias se demonstraram eficazes, como a escuta, que exige deixar de lado preocupações, julgamentos, interpretações precipitadas, para dar espaço a tudo o que o outro quer comunicar, com palavras, olhares, silêncios. Também o silêncio é comunicação, às vezes até mais eloquente do que se pode colher num diálogo. Além disso, o empenho de conseguir se imergir no momento presente libera da pressa e de condicionamentos que poderiam ofuscar a decisão a ser tomada». A coerência entre os valores espirituais e a sua atuação na profissão, enfatizou Caretta, «não diz respeito apenas à relação com os pacientes. Cada vez mais, é imprescindível interagir estreitamente com várias competências. As revistas científicas, sobretudo nos últimos anos, na perspectiva de melhorar a organização dos serviços e a qualidade da assistência, enfatizam cada vez mais a equipe de atendimento, o trabalho em equipe, a multidisciplinaridade. […] Lembro-me de uma expressão de Vaclav Havel, poeta e primeiro presidente da República Checa: “A esperança não é acreditar que as coisas mudem. Ter esperança é acreditar que você pode fazer uma diferença”. A reciprocidade pode transformar cada componente do mundo da saúde, agente ou paciente, cada componente do mundo acadêmico, estudante ou docente, num protagonista da mudança». Para contatos, notícias e aprofundamentos: www.healthdialogueculture.org
Colocar em prática o amor
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