Movimento dos Focolares

O novo livro de Jesús Morán: “Fidelidade Dinâmica”

Jul 13, 2023

Entrevista com o autor sobre a última obra literária. Um livro pensado para dar esperança, para manter intacta a fé no carisma da unidade.

Entrevista com o autor sobre a última obra literária. Um livro pensado para dar esperança, para manter intacta a fé no carisma da unidade. Algumas perguntas ao co-presidente do Movimento dos Focolares sobre seu último livro, publicado pela Città Nuova, intitulado “Fidelidade Dinâmica”.  Jesús, vamos começar pelo título: “Fidelidade dinâmica”… Quis usar a expressão que o Papa Francisco usou em seu discurso aos participantes da Assembleia do Movimento dos Focolares, em 2021. Naquela ocasião, ele falou de fidelidade dinâmica. Na minha opinião, é um pensamento muito próximo do conceito de fidelidade criativa. Com a vantagem de que “dinâmica” se refere ao conceito grego dynamis que significa força de movimento. Portanto, a fidelidade dinâmica é uma fidelidade em movimento, que não é estática e isso é muito caro ao Papa Francisco. Quando ele nos falou em outras ocasiões, ele enfatizou que os movimentos devem ser realmente “movimento”. Naquele momento, pareceu-me que este título estava mais próximo do que vivemos hoje na nossa realidade… O livro é dividido em capítulos. O primeiro: “sentir o pulsar do tempo”. Quais são as perspectivas do carisma da unidade de Chiara Lubich para hoje? Como atualizar a identidade e a história do carisma? Eu penso que o carisma da unidade de Chiara Lubich é sempre muito atual. No que diz respeito à sinodalidade, o Papa Francisco insiste em nos redescobrir como povo de Deus em caminho, onde todos somos protagonistas. Sínodo significa “caminhar juntos”. Ele quer uma Igreja onde cada um dê o seu melhor como parte integrante do povo de Deus, o corpo de Cristo. Bem, nesse sentido, acho que o carisma da unidade de Chiara Lubich pode trazer muito, com sua espiritualidade de comunhão, a espiritualidade da unidade. Por outro lado, hoje existem tantos conflitos, guerras, polarizações massivas em todos os lugares – no campo político, moral, social – e talvez mais do que nunca estamos testemunhando oposições quase irreconciliáveis. Creio que também aqui o carisma da unidade possa contribuir muito com sua trama dialógica. Portanto, hoje o carisma da unidade deve ser atualizado, redescobrindo sua verdadeira identidade, indo ao essencial, ao núcleo fundador do carisma. Esta atualização exige a realização de dois momentos, não em sentido cronológico, mas em sentido profundo. Por um lado, escutando os sinais dos tempos, as questões do mundo, da sociedade contemporânea. Por outro, ir até o fundo, haurir de todos os recursos que o carisma possui, alguns dos quais nem sequer foram expressos. Eu realmente gosto desse conceito de expressar o “inexpresso” que está dentro de nós. É assim que a identidade é atualizada. Numa fidelidade dinâmica. Junto com o processo de purificação da memória que estamos vivenciando nesta fase pós-fundacional, creio que estamos prontos para dar este passo. A atualização de um carisma se realiza com a contribuição de todos e com uma mudança de mentalidade, de uma forma mentis. Além da esperar na ajuda do Espírito Santo, o que podemos fazer para atuar isso? Sem dúvida a ajuda do Espírito Santo é fundamental porque estamos no contexto de uma obra de Deus, mas é preciso inteligência para atualizar o carisma. Não no sentido acadêmico. Mais no sentido da sabedoria. É preciso talento e habilidade para ouvir o clamor da humanidade. É importante o que diz o documento da Assembleia Geral de 2021: hoje a questão da humanidade que devemos ouvir é o grito de Jesus Abandonado. Portanto, além do Espírito Santo, é necessária a inteligência do carisma e a Sabedoria que vem da vida. E não é um exercício que se faz numa escrivaninha, um exercício acadêmico. Pode-se ouvir o grito de Jesus Abandonado quando se está em contato com o sofrimento de nossos contemporâneos. O que é a “teologia do ideal de unidade”? Por que é importante a fidelidade ao carisma? A própria Chiara Lubich disse que a teologia seria importante para o futuro do Movimento dos Focolares e do carisma. Isso significa aprofundar o carisma da unidade à luz da Revelação, de onde veio, e da pesquisa teológica. É um exercício de inteligência do carisma que é fundamental, senão não se encarna e sobretudo não se universaliza. Sem a teologia do ideal, o carisma permanece dentro do Movimento. Com uma teologia do ideal de unidade, o carisma também pode ir para fora, assim como encontrar um fundamento sólido. A teologia do Ideal da unidade ajuda a compreendê-lo bem para poder transmiti-lo às gerações futuras. A vida e o testemunho vão sempre em primeiro lugar, mas este trabalho também é decisivo. A teologia do Ideal da unidade previne possíveis desvios. O querigma original, encerrado nos Evangelhos, exigiu o árduo trabalho dos Padres da Igreja, grandes teólogos, para ser salvo em sua integridade. Com a atualização, não há o risco de fazer o carisma perder sua identidade? Ao contrário. É precisamente a não atualização que faz com que o carisma perca sua identidade, porque a identidade de um carisma é sempre dinâmica e criativa. É sobre ser sempre o mesmo sem nunca ser o mesmo. Foi isso que tentei expressar. A estática faz justamente com que se perca a identidade do carisma porque faz com que ele perca sua conexão com a realidade. Para mim isso é muito claro: é necessária uma atualização constante para que o carisma mantenha sua identidade. E isso Chiara fez ao longo de sua vida. O segundo capítulo, “a casa do autoconhecimento”, parte de uma carta de Catarina de Siena. Aqui descobrimos os nossos limites, os nossos fracassos, a auto referencialidade, o rosto de Jesus Abandonado. O que podemos fazer para passar no “teste do autoconhecimento”? O segundo capítulo é fundamental nesta fase que vivemos, na qual tivemos que reconhecer nossos defeitos e nossos erros na encarnação do carisma. O que podemos fazer para passar no teste? Devemos vivê-lo ao máximo, porque se trata de reconhecer que não estamos à altura do carisma. Nenhum de nós está à altura do carisma. Disso nasce não um sentimento de desânimo, mas uma nova confiança em Deus, no Espírito Santo, autor do carisma. Assim, o teste do autoconhecimento é superado aceitando a humilhação de falhar e colocando toda a nossa confiança em Deus. O terceiro capítulo: “o discernimento à luz do carisma da unidade”. O Papa nos pede para nos tornarmos artífices do discernimento comunitário. Como proceder? E, sobretudo, o carisma da unidade de Chiara Lubich é um carisma de discernimento? Para o Papa Francisco, discernimento e sinodalidade caminham de mãos dadas, tanto individualmente quanto em comunidade. É um processo muito delicado, porque exige inteligência, mas sobretudo escuta do Espírito Santo. O discernimento pede tudo de nós e tudo de Deus, e isso não é simples, não é um exercício de consenso. É ir a fundo para buscar a vontade de Deus em todos os momentos. Creio que o dinamismo típico do carisma da unidade, que chamamos de Jesus no meio, ou seja, de merecer a presença de Jesus entre nós, seja um exercício de discernimento. Chiara Lubich explicou muito bem: para merecer esta presença é preciso um desapego total de nós mesmos e uma escuta do Espírito Santo. É preciso amor mútuo. Chiara desenvolveu até a ideia das relações trinitárias, que transformam o discernimento comunitário em “discernimento trinitário”. Quando almejamos ter Jesus em nosso meio, fazemos uma experiência trinitária, com todas as fragilidades, fragilidades de nossa humanidade, corporeidade, psicologia. Mas nós fazemos isso e é aí que o discernimento acontece. Podemos ler esta prática de relações trinitárias à luz da grande ideia de discernimento e sinodalidade do Papa Francisco. No livro você fala de dois desvios: “o sequestro do Um” e “a dissolução do Um”. O que são e como evitá-los? Essas tentações são realmente dois desvios da espiritualidade da unidade. Na primeira acontece que alguém assume a missão da Comunidade e até a missão de cada um. Existe alguém que centraliza tudo, que sem perceber toma o lugar do Espírito Santo na dinâmica da unidade. Neste caso apreende-se o “nós”, o necessário para que todos possam florescer e dar o seu contributo. Aqui ocorrem abusos de autoridade, abusos de consciência, abusos espirituais e, portanto, é um risco forte. Na dissolução do Uno acontece o contrário, perde-se o espírito de Comunhão. Prevalece um individualismo exagerado. Se primeiro alguém tomava conta do nós, nesse caso o “nós” desaparece e o individualismo de todos toma conta. A vida comunitária torna-se uma organização onde cada um procura o seu espaço, a sua realização pessoal. Também aqui desaparece o Espírito Santo, que é o dinamismo da vida cristã. Como evitá-los? É preciso um momento de autoconsciência: para entender os erros cometidos. Ao mesmo tempo, voltar ao Evangelho vivido e a uma autêntica vida de unidade. Acima de tudo, penso que seja preciso humildade, capacidade de descentralização, amor ao próximo, pensar que a pessoa é sempre um absoluto que não pode ser anulado de forma alguma. Então acho que a solução é um plus de amor, verdade, transparência e doação concreta na vida de unidade, na vida de comunhão. A unidade é um dom do Espírito, ninguém pode sequestrá-la com o seu poder ou dissolvê-la com o seu individualismo. A unidade é uma experiência de Deus que abrange todos nós. Devemos entender isso. Para finalizar, o que podemos fazer para garantir que todos esses argumentos no livro não sejam apenas boas intenções? Acho que seria útil falar sobre isso na comunidade. Reservar momentos para ler algumas passagens, dedicar momentos de retiros e examinar nossas vidas à luz dessas indicações. O livro pretende dar esperança, manter intacta a fé no carisma da unidade e, se se perdeu, recuperá-la. Espero que através da partilha de experiências se possa restaurar uma vida autêntica onde já não existe, porque em muitos lugares a vida floresce, há generatividade, há mjuitas coisas bonitas.

Lorenzo Russo

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