Dar à Lei uma face humana e que busque uma justiça baseada no valor da fraternidade, foi a incisiva mensagem que Maria Voce, advogada e presidente do Movimento dos Focolares, pronunciou a um público de 300 pessoas reunidas no dia 25 de maio na Faculdade de Jurisprudência da Catholic University of Eastern Africa (CUEA), em Nairóbi (Quênia). Eram alunos de Direito e Ciência Sociais, professores, membros da Faculdade, funcionários da Universidade. O seu discurso teve como título “O Direito na sociedade contemporânea” e Maria Voce explicou que, com a evolução da sociedade, a ética dos comportamentos foi sistematizada na comunidade e, com a aquisição de uma identidade política como Nação, foi incorporada nas Constituições, nos seus códigos ou em outras leis. Com o surgimento do Cristianismo, segundo a presidente dos Focolares, «emerge, como valor de referência, uma lei superior, que vem de Deus, o único Justo, e que é comunicada à humanidade em Jesus: a lei do amor».
Maria Voce analisou o desenvolvimento do sistema legislativo na África, onde constata que «é muito forte o valor da comunidade, pela qual o indivíduo nunca é considerado de modo isolado, mas sempre como seu membro (família, clã, estirpe, tribo), diante da qual tem deveres e responsabilidades, dela recebe ajuda, apoio e proteção». Afirmou, ainda, que a espiritualidade de comunhão, vivida pelos membros dos Focolares, está começando a influenciar na construção do tecido social e nas regras que governam cada comunidade humana. E para explicar isso, mencionou alguns pontos da espiritualidade da unidade. O primeiro: a descoberta de Deus como Amor. «Esta compreensão nos leva a viver a “justiça maior”. Se justiça é dar a cada um o que é seu – dizíamos -, já que tudo é de Deus, dando-lhe tudo, somos justos!». O segundo: o empenho em realizar a Vontade de Deus «conduz à descoberta do fundamento da legalidade, entendida como coerência entre a nossa ação e a escolha fundamental que fizemos, isto é, a escolha de Deus como Amor». E o terceiro: o amor ao próximo. Para Maria Voce «não podemos prescindir disso para reconhecermos com eficácia a dignidade de cada ser humano e os seus direitos invioláveis». E falando do amor recíproco, recordou que «o homem nasce social por natureza e precisa dos outros, assim como os outros precisam dele». E acrescenta que «o amor recíproco é lei de colaboração que, descobrindo em cada pessoa um dom de amor, é o cimento da sociedade e o equilíbrio do Direito». «A experiência do Movimento nos encoraja, pois é como a verificação de uma hipótese de vida, tecida de relacionamentos pessoais, baseados no princípio da unidade, testemunhando que é possível uma legalidade inspirada no mandamento novo, como norma fundamental da vida de relação», ela concluiu. Após o seu discurso, o Decano da Faculdade de Direito, Doutor Maurice Owuor, enfatizou a atualidade do discurso de Maria Voce, porque “o amor é um valor capaz de sustentar as nossas leis”. E afirmou que “deveríamos enfatizar na educação dos cidadãos os valores como o amor, a fraternidade, o respeito das leis, para não serem movidos pelo medo das sanções, mas porque é uma coisa boa em si”. Para concluir, abriu-se um fórum para comentários e perguntas. Respondendo a quem lhe perguntou sobre os efeitos da justiça no bem comum, Maria Voce afirmou que «não é a lei que contribui para o bem comum, mas a pessoa, ao contribuir para promover leis justas». E deixou um desafio aos estudantes: «Que de vocês nasçam boas leis a favor do bem comum e muitas».Willy Niyansaba
0 Comments