Movimento dos Focolares

Rumo às eleições europeias

Mai 23, 2019

Entrevista ao prof. Pál Tóth: “Aplicar à Europa o princípio da fraternidade como categoria política significa construir instituições que visem à colaboração entre todas as diversidades, para realizar o bem comum”.

Entrevista ao prof. Pál Tóth: “Aplicar à Europa o princípio da fraternidade como categoria política significa construir instituições que visem à colaboração entre todas as diversidades, para realizar o bem comum”. Aproximam-se as eleições europeias para a renovação dos representantes dos 27 Estados membros da União Europeia no Parlamento europeu: 400 milhões de cidadãos chamados a votar no fim de maio. Estão em jogo duas ideias de Europa: uma europeísta, a outra eurocética. Uma polarização que acompanha, de modo geral, os confins geográficos do velho continente, e assiste a contraposição entre o Leste e o Oeste. Falamos a esse respeito com Pál Tóth, pelo Movimento dos Focolares, conselheiro cultural do Comitê de Orientação de Juntos pela Europa, uma rede de mais de 300 Comunidades e Movimentos cristãos que quer ser um modelo de Europa unida, expressão de uma “cultura da reciprocidade”: Pal Toth“É preciso lembrar que, com o alargamento da União, chegamos muito cedo, nos novos Estados membros, à aplicação da economia de mercado e do sistema jurídico democrático; mas uma sincronização entre as diferentes realidades culturais acontece de maneira muito mais lenta. Falo de “sincronização” e não de uma simples cobrança ou adaptação às conquistas sociais e políticas do Oeste, porque estou convencido de que o Leste seja portador de valores que são fruto de um sofrimento secular e, portanto, de um valor fundamental. Pensemos no amor à verdade do povo tcheco, desde Jan Hus até Vaclav Havel, nas pequenas comunidades que nasceram na Igreja do silêncio que tetemunham o Evangelho vivido, nas Igrejas populares da Polônia que enche as igrejas no tempo da secularização, nas ícones da Ortodoxia que, na era da imagem e da crise da palavra, podem abrir novos acessos ao mistério cristão. Na minha opinião, o Leste ainda não pode expressar estes valores e reage de maneira impulsiva a fenômenos que acredita serem de decadência e declínio moral. Não vamos em frente apenas com as críticas; é preciso encontrar um caminho que leve a um crescimento comum, um ‘processo sinodal’ – eu diria com Papa Francisco – com acolhimento, compreensão, com palavras claras, mas não ofensivas, com uma desconstrução de preconceitos e discernimento comunitário”. O caso Brexit coloca uma questão aos estados da UE: pode-se enfrentar melhor os desafios de hoje e do futuro estando sozinhos ou numa formação coesa? A transformação radical do mundo em que vivemos coloca diante de nós desafios que não podem ser geridos em nível nacional. O sociólogo alemão Ulrich Beck fala até mesmo de uma metamorfose do mundo, que exige um modo de raciocinar claramente diferente daquele precedente. As mudanças climáticas, as migrações, o crime organizado, os “males comuns” do capitalismo global não podem ser enfrentados eficazmente em nível nacional, mas sim com forças políticas integradas. Para Chiara Lubich e Igino Giordani, fundadora e cofundador dos Focolares, era muito claro que uma Europa unida poderia ser promotora da paz mundial. À luz do carisma da unidade, o que significa adotar a fraternidade como categoria política? A democracia nasce, na modernidade, como um sistema competitivo: distribuição dos poderes, luta entre os partidos, freios e contrapesos, uma sociedade civil como controle do poder público. Aplicar o princípio da fraternidade como categoria política significa construir instituições que mirem à colaboração entre todas as diversidades, para realizar o bem comum. Os princípios da liberdade e da igualdade foram traduzidos, nos dois últimos séculos, em categorias jurídicas e políticas. Agora trata-se de trabalhar sobre a categoria da fraternidade, que sintetiza os valores da reciprocidade e da responsabilidade mútua. No cenário político, ao lados dos partidos como agentes de competição, poderiam vir em evidência as instituições da sociedade civil como realizadoras de tarefas públicas. Os modelos não faltam e os movimentos de renovação espiritual e cultural, como aquele dos Focolares, poderiam ter um papel determinante neste processo. Atualmente o compromisso dos Focolares por uma Europa unida exprime-se também no projeto Juntos pela Europa. Ilona Tóth, membro do Comitê de Orientação de JpE, explica como esta iniciativa nasceu: No limiar do Terceiro Milênio, fundadores e responsáveis de Comunidades e Movimentos cristãos (Chiara Lubich, Andrea Riccardi, Helmut Nicklas, Salvatore Martinez e outros) decidiram unir os próprios carismas sobre a base do amor mútuo ao serviço do Continente. O objetivo era fazer com que, ao lado da Europa geográfica e econômica, tomasse vigor também a Europa do espírito, fundada sobre os valores do cristianismo. Quais foram os resultados até agora? Da rede de Juntos pela Europa está surgindo um novo fermento para um povo europeu com uma cultura própria baseada na fraternidade evangélica. Estes pequenos laboratórios, espalhados pela Europa, realizam a unidade na diversidade. No próprio ambiente estão iniciando juntos iniciativas pela paz, pela família, pelo cuidado do ambiente, por uma economia justa, pela solidariedade, etc…, com o objetivo de responder aos desafios de um continente em crise.

Claudia Di Lorenzi

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