Nasri estudou em Milão (Itália) para depois se especializar em urbanismo em Veneza. Voltando à sua terra, conheceu, 20 anos atrás, o Movimento dos Focolares. Este encontro, como ele diz, transformou a sua vida. Tem três filhas de 17, 15 e 13 anos. Nós o encontramos num intervalo de OnCity, simpósio internacional sobre o bem comum (Castel Gandolfo, 1-3 de abril). Que desafios você encontra todos os dias na sua terra? «Eu trabalho no setor de construções. Por motivos políticos temos dificuldades na renovação do plano diretor, que remonta aos anos 1970. Para abrir uma nova rua ou modificar um percurso são necessárias as autorizações, mas a autoridade militar israelense as nega». É realmente possível “amar o inimigo”? «Não é fácil ser um verdadeiro cristão na Palestina. Neste campo o nosso inimigo é a autoridade israelense militar, não os judeus! Respeito a religião judaica porque somos todos irmãos, filhos de Deus. Mas como posso amar um soldado israelense que me mata? Que destrói as nossas cidades? Que ocupa o nosso território? Como faço para viver o cristianismo? Tentei me confrontar sobre isso com outros cristãos. Entendi que se não sou capaz de amar, pelo menos posso começar a não odiar, e pouco a pouco talvez o amor virá. Estas duas palavras, “não odiar”, eu as coloquei na mente e no coração e comecei a vivê-las no meu mundo. Elas me ajudaram muitas vezes, por exemplo, a sorrir para um soldado. Especialmente no check point, porque infelizmente nós, palestinos, não podemos nos mover livremente. Estamos cercados, somos prisioneiros. Uma vez, um capitão me perguntou por que eu, árabe palestino, tinha sorriso para ele. Respondi: Jesus nos disse que “é preciso amar a todos”, e eu amo você. Ficou surpreso, não sabia o que dizer. Deixou-me passar sem me fazer muito controle! O amor existe, inclusive no coração dos ocupantes israelenses, como no de cada homem na terra. Não os culpo, porque são soldados e devem obedecer às ordens. Deixemos o conflito para os governos. Nós, como povos, podemos viver juntos. Mas para os jovens isto é mais difícil de aceitar, sobretudo agora que, com a internet, veem como é o mundo fora da Palestina». Com o Movimento dos Focolares, o que vocês fazem na Terra Santa? «Sou um voluntário e empenhado em Famílias Novas. Promovemos atividades nas diversas igrejas, com a comunidade cristã em Belém. Eu sou grego ortodoxo, minha mulher é católica. Vamos na direção de quem precisa: idosos, crianças abandonadas, ou pessoas doentes mentalmente que precisam ser amadas. Procuramos fazer o possível…». Existem judeus entre as pessoas que têm contato com o Movimento? «Muitas famílias judias são nossas amigas. Fazemos encontros juntos. Uma das minhas filhas joga futebol. Através do Centro Peres para a Paz, o seu time, junto com um time israelense, foi convidado pelo Real Madrid. Para ela, pela primeira vez em contato com coetâneos judeus, era uma nova experiência. Ao voltar, me disse: «Todos os jogadores judeus são meus amigos». Também estamos em contato com muitas famílias muçulmanas: na Palestina os muçulmanos são 99%; 1% somos cristãos. Como Movimento dos Focolares temos um relacionamento muito bom com os muçulmanos, e também com os judeus. Isto nos demonstra que se pode viver juntos». Se você pudesse mandar uma mensagem para o mundo inteiro, o que mais lhe preme o coração para a sua terra? «Lembrem-se: existem palestinos cristãos que estão sofrendo. Éramos mais de 10%, mas a emigração das famílias cristãs aumentou muitíssimo. Tenho medo de que um dia não se encontrará nem mais um cristão. Ajudem-nos a resolver o problema palestino. Se se constrói a paz no Oriente Médio, a paz virá para o mundo inteiro. A vontade de Deus existe, mas precisamos da vontade dos seres humanos. É um lugar estratégico, rico de espiritualidade. Só nos falta a unidade. Se existir a unidade entre estas três religiões, o Oriente Médio estará em paz e será um modelo. Esta é a única mensagem que posso dar: viver as palavras de Jesus, para construir a paz e o amor, porque é disso que realmente precisamos». Maria Chiara De Lorenzo
Colocar em prática o amor
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