Da espiritualidade da unidade à pastoral generativa da Igreja; do encontro entre os jovens e Jesus ao papel fundamental do Espírito Santo no Sínodo sobre a sinodalidade. Esses são alguns dos temas que Jesús Morán, copresidente do Movimento dos Focolares, abordou em uma entrevista à emissora de televisão eslovaca TVLUX, em 6 de outubro de 2023. As imagens nos foram gentilmente cedidas pela TVLUX. Nestes dias, o sacerdote espanhol e copresidente do Movimento dos Focolares, Jesús Morán, visitou a Eslováquia. Ele conheceu vários bispos formadores e mais de 80 seminaristas em Nitra. Agora, está aqui no nosso programa. Seja bem-vindo. Quando dizemos Movimento dos Focolares, o que imaginamos? Qual o seu significado? O Movimento dos Focolares é um movimento da Igreja Católica cujo centro é o carisma da unidade. O grande teólogo Von Balthasar disse que cada carisma da Igreja é como uma visão de todo o Evangelho a partir de um ponto de vista. Pois bem, o carisma da unidade é todo o Evangelho visto a partir do testamento de Jesus: “que todos sejam um”. Portanto, o centro, tudo o que o Movimento faz no campo eclesial, no campo civil, no campo social, tem a ver com a unidade. Nós almejamos a unidade – unidade de tipo evangélico, como emerge do Evangelho. Unidade, que é uma forma de vida comunitária. Na verdade, pode-se dizer que a Espiritualidade da unidade é a espiritualidade de comunhão, por isso, enfatizamos muito o amor mútuo, o encontro com o irmão. Superar as divisões em um contexto social mais amplo. Propagar a fraternidade universal, certamente, mas o centro é essa oração. Por isso, dizemos sempre que queremos viver na terra, na medida do possível, como se vive na Trindade, ou seja, que a Trindade é comunhão de amor. A fundadora do seu movimento foi Chiara Lubich, que é bem conhecida aqui na Eslováquia. Desde o início, a liderança do movimento é sempre ocupada por uma mulher, o Presidente é sempre uma mulher, é por isso que você é copresidente. Por que é assim? Creio que tem a ver com o nome oficial do Movimento na Igreja, porque somos Movimento dos Focolares ou Obra de Maria. Na realidade, nos estatutos aprovados pela Igreja, fala-se de Obra de Maria. Por isso enfatizamos muito o princípio mariano da Igreja, que é um princípio materno, generativo, que revela uma Igreja acolhedora. Obviamente, o princípio mariano é melhor expresso pelas mulheres. Essa é a ideia. Devemos pensar que a Igreja é mariana, ou seja, Maria é o modelo da Igreja. O Vaticano II disse isso muito claramente: Maria é mãe da Igreja. Nesse sentido, queremos ser um reflexo dessa realidade. A presidência feminina, além de destacar a mulher, o que é um sinal dos tempos, almeja sobretudo evidenciar esse princípio mariano, um princípio tão necessário hoje. Parece ser muito necessário, lembrando aquilo que papa Francisco sublinha, ou seja, uma Igreja mais próxima do povo, uma Igreja em saída, uma Igreja menos clerical, menos masculina. Pois bem, tudo isso tem a ver com a presidência feminina do Movimento dos Focolares. Tem a ver com Maria, acima de tudo. Você veio à Eslováquia não só para conhecer os membros do Movimento dos Focolares, mas também os nossos bispos, sacerdotes, seminaristas. Esse encontro aconteceu em Nitra. Quais sentimentos o encontro com nossos sacerdotes despertou em você? A verdade é que estive com o bispo de Nitra e com outros bispos de várias dioceses, que participaram do encontro com seminaristas de 5 dioceses. Eu me senti muito acolhido, antes de tudo, muito acolhido. Depois, na sala, vi pessoas que seguiam Jesus, vi realmente muita pureza nos seminaristas, muita seriedade. Também alguns, depois do encontro e depois do jantar, quiseram aprofundar o que eu havia dito. Quiseram conversar comigo e percebi nas perguntas uma necessidade, uma urgência de querer ser sacerdotes em sintonia com os tempos atuais. Um sacerdote hoje que vive autenticamente o Evangelho, antes de tudo. Fiquei muito, muito edificado. Você deu bastante ênfase à pastoral generativa, do que se trata? A pastoral generativa é um conceito que vem em evidência nos últimos tempos. Especialmente no Ocidente, uma vez que estamos testemunhando – poderíamos dizer assim – um declínio da Igreja em termos numéricos. Antes, as igrejas estavam cheias, as pessoas participavam dos sacramentos. Muitas pessoas recebiam o batismo, faziam a primeira comunhão. Agora isso diminuiu drasticamente. Então, a questão é: o que está acontecendo? Parece que os métodos utilizados com sucesso durante tantos anos ou séculos não funcionam mais. Então, temos que pensar novamente na pastoral? A pastoral da geratividade não é uma nova pastoral, é como ir à origem da pastoral; e a origem de toda pastoral está em Jesus. E como Jesus evangelizou? Ele é o Evangelho vivo, e evangelizou por meio de encontros pessoais muito profundos. Ou seja, se olharmos para os Evangelhos, sempre que Jesus encontra alguém acontece algo significativo para a pessoa. Vemos isso com Nicodemos, com Zaqueu, com Mateus, com o centurião, com a mulher samaritana, com a mulher hemorrágica, com a mulher cananeia. Sempre acontece alguma coisa. Jesus gera algo no outro. Devemos passar do que se chama pastoral de enquadramento, que é o que tivemos de tipo quantitativo – quantos batizados, quantos se casaram este ano nesta paróquia – para uma pastoral que busca a qualidade, qualidade e não tanto quantidade. Perceber o que está acontecendo nas nossas paróquias. Existe vida cristã nas nossas paróquias? Buscar uma maior fecundidade, e não apenas os resultados. Essa é a pastoral generativa. Portanto, enfatiza muito o encontro com o outro: para encontrar o outro não é preciso esperar que ele venha pedir um sacramento, é preciso ir ao encontro do outro. Portanto, a pastoral generativa muda a ideia do Pastor, muda também a ideia dos cristãos. Sem dúvida são necessários apóstolos que gerem, mas acima de tudo é necessária uma comunidade. acolhedora. Deve continuar acontecendo aquilo que acontecia com Jesus: as pessoas participam da comunidade e ali alguma coisa acontece. Elas são tocadas por algo. Isso, em resumo, é o que temos conversado com os seminaristas. Será que os jovens de hoje procuram a vida e o que eles precisam é que lhes levemos essa vida, que é a vida com Jesus? Sem dúvida. Acho que… sempre pensei que Jesus nunca abordava as pessoas com doutrina. Ele estava sempre em busca de um encontro pessoal, depois ensinava. Embora vejamos Jesus ensinando, percebemos que Ele dedicou muito tempo a esses encontros pessoais. Por isso acredito que os jovens de hoje procuram a vida. A doutrina tem que ser baseada na vida e no encontro com Ele, para que possam aceitá-la. Caso contrário, o cristianismo se torna apenas algo ligado à moral ao ensinamento, mas o cristianismo não é isso. O cristianismo é um encontro com Cristo. Esses jovens que você encontrou em Nitra são os futuros pastores da nossa Igreja. Como podem ser os pastores de que necessitamos neste tempo e para que não caiam no clericalismo de que tanto fala o Papa Francisco? Acredito que um Pastor de alguma forma tem que, mais do que pastorear – que é uma palavra que até mesmo o Papa Francisco usa quando fala em italiano, ele a usa assim em espanhol – ele tem que amar. Primeiro amar, depois pastorear. Se alguém se coloca na posição de pastorear, se coloca numa situação de superioridade como se tivesse que ensinar. Depois, por outro lado, o pároco hoje tem que amar primeiro os paroquianos, tem que amar todos os fiéis. E assim ele é um pastor. Esse é verdadeiramente um Pastor, é assim que ele tem autoridade sobre os outros. Isso é fundamental. É o que disse antes: não buscar tanto os resultados, mas a fecundidade. Outra coisa. Hoje o pastor tem que estar muito atento para não anunciar a si mesmo. Ele anuncia Cristo, portanto, tem que estar profundamente inserido em Cristo, profundamente em Cristo. Um pastor isolado, que não vive em uma comunidade cristã, que não vive o amor mútuo com os outros, dificilmente poderá comunicar o amor que Jesus proclamou na sua vida. Você disse uma palavra que me fez pensar que isso acontece não só com os sacerdotes, mas também com os cristãos que vivem profundamente a sua fé, porém, às vezes esquecem que não são eles que salvam as pessoas, mas é Jesus. Exato. Isso é importante. É por isso que enfatizo muito a comunidade. São Paulo, na primeira carta aos Coríntios, alerta contra o personalismo, quando alguns dizem que são de Apolo, outros dizem que são de Paulo, outros que são de Pedro… Não, somos todos de Cristo, mas Cristo vive na comunidade, na comunidade paroquial. Na comunidade, Ele está presente na Eucaristia, que é mistério de comunhão. Isso é fundamental. Muitas vezes caímos no erro de anunciarmos a nós mesmos com as nossas ideias, em vez de deixar que seja Cristo a falar. A Eslováquia é considerada um país bastante conservador, agora no momento do Sínodo que se realiza em Roma, no Vaticano. Existem vários movimentos que querem avançar e outros que retrocedem. Como manter todo o bem, mas também avançar com a novidade e o bem? Fiquei muito impressionado com o que o papa Francisco disse anteontem, na primeira sessão do Sínodo. Insistiu muito que o protagonista do Sínodo é o Espírito Santo. E o Espírito Santo está além desses esquemas que são humanos. Um cristão, enquanto cristão, não é conservador nem progressista, é uma pessoa nova, é uma nova criatura. Lemos isso nestes dias na Carta de São Paulo aos Gálatas. É o Espírito Santo quem nos torna novas criaturas, com a nossa mentalidade. Permanecemos com a nossa mentalidade, aquilo que somos. Acredito que temos que superar esses dualismos que não são bons para a Igreja. O Espírito Santo sempre gera novidades. Ele, está na origem de todos os carismas, de todas as novidades da história da Igreja. Ao mesmo tempo, tudo o que o Espírito Santo promove na Igreja vem do Pai. Portanto, Ele também está ancorado na origem. Isso nos diz que é necessária uma maior presença do Espírito Santo na Igreja. Essa é a única maneira de superar esses dualismos que não nos fazem bem. Muito obrigado. Obrigado ao padre Jesús Morán pela presença no nosso programa. Obrigado por me receberem. Muito obrigado a todos e até o próximo programa. Ver o vídeo (ativar legendas em português)
Colocar em prática o amor
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