Em 16 de julho de 1949, Chiara Lubich e Igino Giordani fizeram um “Pacto de Unidade”. Foi uma experiência espiritual que deu início a um período particular, de luz e de união com Deus.
E marcou a vida da então primeira comunidade dos Focolares, mas também marcou a história de todo o Movimento e o seu empenho por um mundo mais fraterno e mais unido.
Setenta e cinco anos depois daquele dia, um olhar mais aprofundado sobre o significado daquele Pacto na época e o que pode significar hoje continuar a atuá-lo.
A conferência internacional inter-religiosa “One Human Family” (Uma só família humana), promovida pelo Movimento dos Focolares, acaba de ser concluída com uma peregrinação de fraternidade a Assis. Estiveram presentes 480 pessoas de 40 países, falando 12 idiomas.
Na cidade da paz, a oração pela fraternidade, justiça e reconciliação para todos os povos em conflito ressoou como um pacto solene, acolhido e pronunciado pelos participantes, cada um segundo a própria fé.
Estavam presentes rabinos e rabinas, imãs, sacerdotes católicos, monges budistas Theravada e Mahayana, bem como judeus leigos, muçulmanos, cristãos, hindus, budistas, sikhs e bahá’ís, adeptos de religiões tradicionais africanas, de todas as gerações.
O congresso foi organizado por uma equipe inter-religiosa que centralizou o programa no bem supremo da paz, a qual está extremamente ameaçada hoje.
Encontro, escuta, passos de reconciliação, partilha do sofrimento das pessoas foram as marcas desse congresso, que alternou painéis liderados por especialistas com grupos de diálogo entre os participantes. Política e diplomacia internacionais, economia, inteligência artificial e meio ambiente foram os temas discutidos na perspectiva da paz. Houve a participação de numerosos acadêmicos e especialistas de muitas culturas, religiões e proveniências. Mencionamos apenas alguns: o embaixador Pasquale Ferrara, o diretor geral para Assuntos Políticos e de Segurança do Ministério das Relações Exteriores e Cooperação Internacional, o grão-rabino Marc Raphaël Guedj, a teóloga muçulmana Shahrzad Houshmand Zadeh, o dr. Kezevino Aram, presidente da organização indiana Shanti Ashram, o rev. Kosho Niwano, presidente designado do movimento budista japonês Risho Kossei Kai, o eng. Fadi Shehadé, fundador do Projeto RosettaNet, ex-CEO da ICANN; o economista Luigino Bruni, o filósofo indiano, prof. Priya Vaidya, o teólogo islâmico Adnane Mokrani, o prof. Dicky Sofjan, indonésio do Centro Internacional de Direito e Estudos Religiosos, o prof. Fabio Petito, professor de Religião e Assuntos Internacionais da Universidade de Sussex e muitos outros.
“As religiões têm uma função fundamental hoje”, disse o embaixador Ferrara. “Ao contrário do que dizem os realistas das relações internacionais, a guerra não é a condição normal da humanidade. As religiões podem desempenhar o papel de ‘consciência crítica’ da humanidade e voltar-se para a política, sinalizando quais são as prioridades. É preciso imaginação política; imaginar o futuro deste planeta de forma construtiva, nova e criativa. Precisamos cultivar algo que está faltando nas relações internacionais neste momento: a confiança.”
Houve também sessões muito ricas dedicadas a testemunhos pessoais, projetos, à apresentação de ações direcionadas à colaboração entre pessoas e comunidades pertencentes a diversas crenças religiosas, em vista da paz e em apoio às necessidades dos respectivos povos.
Em audiência com Papa Francisco
No dia 3 de junho, uma delegação de 200 participantes foi recebida em audiência pelo Papa Francisco, que em seu discurso definiu o caminho iniciado por Chiara Lubich com pessoas de religiões diferentes como: “Un cammino rivoluzionario che fa tanto bene alla Chiesa”.“Il fondamento su cui poggia questa esperienza O fundamento sobre o qual se baseia esta experiência” – continuou o Papa – “é o amor de Deus que se concretiza no amor recíproco, na escuta, na confiança, no acolhimento e no conhecimento mútuo, no pleno respeito pelas respectivas identidades”.
“Se, por um lado, essas palavras nos dão profunda alegria” – comentou Margaret Karram, presidente do Movimento dos Focolares – “por outro lado, sentimos a responsabilidade de fazer muito mais pela paz. É por isso que queremos trabalhar para fortalecer e difundir a cultura do diálogo e do ‘cuidado’ para com as pessoas e a criação. O Papa confirmou isso quando disse que o diálogo entre as religiões é uma condição necessária para a paz no mundo. Em tempos terrivelmente sombrios como estes, a humanidade precisa de um espaço comum para consolidar a esperança.”
Na sexta-feira, 17 de maio de 2024, ocorreu no Auditorium do Centro internacional do Movimento dos Focolares (Rocca di Papa, Roma), a premiação do Concurso nacional para as escolas. Uma cidade não basta. Chiara Lubich, cidadã do mundo , promovido pelo Centro Chiara Lubich, New Humanity, Fundação Museo Storico del Trentino, com apoio do Ministério da Educação e Mérito italiano.
Em sua quarta edição, o Concurso, aberto a todas as escolas italianas, em território nacional e internacional, foi mais uma vez uma oportunidade para muitas crianças e adolescentes das escolas primária e secundária de primeiro e segundo graus refletirem sobre temas atuais como a paz, a sustentabilidade ambiental e os assentamentos, com referência aos objetivos da Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável e, sobretudo, à luz do pensamento e do testemunho de Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares, promotora de uma cultura de unidade e fraternidade entre os povos.
Participaram cerca de 330 alunos de 14 escolas que, do norte ao sul da Itália, incluindo as ilhas, apresentaram 21 trabalhos de naturezas diferentes, resultado de percursos articulados e cuidadosos feitos nesse tempo, com o suporte de seus professores.
A premiação, da qual participaram presencialmente e de forma online as escolas ganhadoras e aquelas que receberam uma menção honrosa pelo valor dos trabalhos, foi um momento de partilha e troca, que evidenciou não só a criatividade dos adolescentes, mas em particular a grande atenção deles pelos temas propostos pelo regulamento do Concurso. Uma ideia dessas gerações novas que muitas vezes nos escapa é aquela de imaginá-los capazes de olhar ao redor, de refletir, levantando questões sobre a possibilidade de um futuro e um mundo melhores, idealizando caminhos que podem ser percorridos para alcança-los.
Entre as personalidades presentes e entre elas os que entregaram os prêmios às escolas vencedoras, estavam o doutor Luca Tucci, diretor no departamento III (área do bem-estar biopsicossocial, educação transversal e legalidade) da Direção Geral do estudante, inclusão e orientação escolar do Ministério da educação e Mérito; doutor Fabrizio Bagnarini, do terceiro departamento do Ministério da Educação e Mérito; o doutor Giuseppe Ferrandi, diretor da Fundação Museu Histórico do Trentino; o professor Maurizio Gentilini, , historiador e pesquisador do CNR (Centro Nacional de Pesquisa); odoutor Marco Desalvo, presidente de New Humanity.
Pouco antes de a premiação entrar ao vivo, em sua saudação, o doutor Tucci, conectado online com a sala, ao reafirmar o apoio que o Ministério garante a essa iniciativa, afirmou: “levar para frente certos valores por meio da sensibilização dos adolescentes e dos estudantes é, acredito eu, uma operação fundamental não só para o crescimento deles, mas em geral para a nossa sociedade”.
Quem ficou em primeiro lugar na categoria Escola primária foi a classe 4C do I.C. 2° círculo “Garibaldi” complexo “A. Moro”, de Altamura (Bari), com o trabalho O país da Fraternidade, um texto poético que não só exprime conceitos-chave do pensamento de Chiara Lubich de maneira original, mas propõe uma visão confiante no futuro do mundo.
Para a Escola Secundária de I grau o segundo lugar foi para a 1C do I.C. “San Nilo” complexo “I. Croce”, Grottaferrata (Roma), com Construamos a paz! TgPeace um telejornal inovador feito inteiramente pelos adolescentes, imagem de um percurso articulado que restitui a esperança concreta da classe e o empenho cotidiano deles pela paz. Já o primeiro lugar foi para a 3D, do I.C. “Filippo Mazzei”, Poggio a Caiano (Prato) com o Jogo: origami pelo meio ambiente, uma atividade que supera o aspecto lúdico e se propõe como instrumento de reflexão e ação concreta em favor do meio ambiente.
Na categoria Escola Secundária de II grau em segundo lugar, um empate merecido: as classes 2 e 3C do Liceu clássico “A. Doria”, Gênova, com A casa comum, trabalho digital que se apresenta como fruto de um trabalho de reflexão realizado ao redor dos temas já citados para restituir às pessoas da mesma idade como proposta de percurso didático; o trabalho textual O amor que faz alargar corações e braços de Estelle Le Dauphiin, classe 5I do I.I.S. Liceu “A. Bafile”, L’Aquila, uma reflexão a partir de uma experiência pessoal e concreta, sobre o pensamentode Chiara Lubich, focalizando a atenção no conceito de dom como expresso também pelo antropólogo e sociólogo francês Marcel Mauss.
O vencedor do primeiro prêmio foi o trabalho Horizontes, fotografia de Bilardello Giulia, Marino Sara, Parrinello Chiara, alunas da 3G do Liceu cinetífico “P. Ruggeri”, Marsala (Trapani). Uma mensagem de paz e a esperança de um horizonte em que mar e céu se unem e no qual todos, juntos, podem colaborar para construir um mundo mais fraterno.
As fortes chuvas que têm assolado o sul do Brasil desde o início de maio de 2024 provocaram grandes inundações e deslizamentos de terras em 425 municípios do estado do Rio Grande do Sul, afectando diretamente 1,5 milhões de pessoas e causando, até agora, 108 mortos e quase 130 desaparecidos.De acordo com o último balanço oficial, 232.675 pessoas ainda estão desalojadas de suas casas, das quais 65.573 estão acolhidas em abrigos.A situação mais preocupante é a da região metropolitana de Porto Alegre, onde cidades e bairros inteiros estão debaixo de água desde sexta-feira, 2 de maio, com problemas de abastecimento de água e cortes de energia. De acordo com as previsões meteorológicas, são esperadas chuvas fortes nos próximos dias, o que agravará ainda mais a situação deste desastre natural.
A Coordenação de Emergências do Movimento dos Focolares lançou uma campanha extraordinária de arrecadação de fundos em favor da população do Estado do Rio Grande do Sul, Brasil, através da Ação por um Mundo Unido ETS (AMU) e Ação Famílias Novas ONLUS (AFN). As contribuições feitas serão geridas conjuntamente pela AMU e AFN, em coordenação com o Movimento dos Focolares no Brasil, a fim de fornecer às pessoas afectadas pelas fortes inundações as necessidades básicas de alimentação, cuidados médicos e habitação. No Brasil, o donativo pode ser depositado na seguinte conta: Banco do Brasil Agência: 2665-4 Conta Corrente: 39.322-3 Pix: acaoemergencial@anpecom.com.br Associação Nacional por uma Economia de Comunhão CNPJ: 07.638.735/0001-94 De outros países é possível fazer a doação online AMU: https://www.amu-it.eu/campagne/emergenza-inondazioni-in-brasile/AFN: https://afnonlus.org/#donaora
O por transferência para as seguintes contas: Azione per un Mondo Unito ETS (AMU) IBAN: IT 58 S 05018 03200 000011204344 presso Banca Popolare Etica Codice SWIFT/BIC: ETICIT22XXX Azione per Famiglie Nuove ONLUS (AFN) IBAN: IT 92 J 05018 03200 000016978561 presso Banca Popolare Etica Codice SWIFT/BIC: ETICIT22XXX Finalidade: Emergência das inundações no Brasil
Para essas doações são previstos benefícios fiscais em muitos países da União Europeia e em outros países do mundo, segundo as normas locais.Os contribuintes italianos poderão obter dedução e detração de renda, segundo as normas previstas pelas ONLUS.(mais…)
As palavras de Margaret Karram, Presidente do Movimento dos Focolares, a todos aqueles que se preparam para viver o próximo Genfest 2024, evento dos jovens do Movimento que se realizará em Aparecida, Brasil, e em diversos lugares do mundo com os Genfest locais.
O Movimento dos Focolares publica o relatório sobre as atividades realizadas para a proteção da pessoa e os dados relativos aos casos de abuso em 2023. Entrevista com Catherine Belzung, professora de Neurociências e coordenadora da Cátedra UNESCO sobre maus-tratos infantis. O segundo relatório anual do Movimento dos Focolares sobre as atividades e dados relativos aos casos de abuso sexual de crianças, adolescentes, adultos em situação de vulnerabilidade, abusos de consciência, abusos espirituais e de autoridade será divulgado no dia 1º de março. Pedimos a Catherine Belzung uma leitura e avaliação do documento. Professora universitária titular de Neurociências na França, membro sênior do Institut Universitaire de France (2014) e presidente do centro de pesquisa multidisciplinar iBrain, desde 2022 é coordenadora da Cátedra UNESCO sobre maus-tratos infantis, criada por uma parceria de Universidades e instituições de 16 países do mundo. É também corresponsável pelo Centro Internacional para o Diálogo com a Cultura Contemporânea do Movimento dos Focolares. Desde 2023, o Movimento dos Focolares optou por publicar um relatório anual sobre o tema dos abusos sexuais de crianças, adolescentes e sobre abusos de consciência, espirituais e de autoridade. Do seu ponto de observação internacional, qual é a sua opinião sobre essa escolha? Qual a sua avaliação sobre esse segundo relatório? Acredito que esse relatório representa um verdadeiro passo em frente. Na verdade, o relatório de 2023 foi criticado, sobretudo porque os locais e as datas dos abusos sexuais não foram mencionados. O novo relatório diz respeito aos casos notificados nos últimos 10 anos e acrescenta estes esclarecimentos: constata-se que os abusos sexuais foram perpetrados nos 5 continentes (cerca de vinte países), com um pico de casos entre 1990 e 1999, bem como na década anterior e na seguinte. Os fatos por vezes se repetem durante várias décadas, sugerindo que se trata de perpetradores reincidentes, cuja sucessão de abusos não foi interrompida. Aconteceram alguns fatos e foram tratados por volta de 2020, o que indica que as vítimas conseguiram denunciar abusos quase em tempo real, o que é um progresso. Todos os abusos sexuais relatados foram perpetrados por homens. Acontece o contrário em relação aos abusos de autoridade, em que 77% dos casos são cometidos por mulheres, o que pode estar relacionado ao fato de que as pessoas que fazem parte do Movimento, em sua maioria, são mulheres. O relatório contém ainda uma seção detalhada e clara sobre as medidas atuadas durante o ano, sobretudo no que diz respeito à formação. Resta compreender quais são as causas profundas desses abusos: além das medidas de prevenção e das sanções, será preciso dedicar-se a identificar as causas sistêmicas que poderão explicar tais cifras, a fim de instaurar uma estratégia que permita eliminar isso. Nesse segundo relatório, os autores são identificados com base em critérios precisos, estabelecidos pela Política de Comunicação publicada recentemente pelo Movimento dos Focolares. Como você considera essa escolha? Trata-se de um conflito ético. Por um lado, devemos confiar na experiência das vítimas e levar a sério as denúncias que fazem e, rapidamente, tomar as medidas necessárias para protegê-las. Por outro lado, trata-se de respeitar a suposta inocência dos referidos autores, de evitar a difamação, quando ainda não foi pronunciada qualquer condenação criminal definitiva. A questão é complexa, e encontrar uma solução satisfatória exigirá, sem dúvida, muita escuta e diálogo. A Cátedra UNESCO sobre abuso de crianças e adolescentes, que você coordena, nasceu porque você mesma teve contato com um caso desse tipo de abuso, do qual conhecia tanto uma das vítimas quanto o perpetrador. Esse caso aconteceu no âmbito da Igreja Católica na França. A comunidade social ou religiosa é definida como “vítima secundária”. O que isso significa? Quais são as feridas que as pessoas sofrem, como podemos ajudar a curá-las em nível social e comunitário? Sim, de fato, essa Cátedra nasceu do contato com uma vítima, algo que me marcou profundamente. Fiquei muito tocada por esse sofrimento, e daí brotou o desejo de fazer alguma coisa. O abuso afeta primeiramente a vítima, que muitas vezes sofrerá consequências psicológicas duradouras. Às vezes, a revelação dos fatos pode abrir uma janela de grande vulnerabilidade na pessoa, o que requer um acompanhamento específico. Em consequência, afeta os familiares da vítima, como o cônjuge, os filhos, mas também os pais, que se sentem responsáveis por terem confiado o próprio filho a uma instituição que não o protegeu. Os efeitos devastadores afetam também a comunidade, pois muitas vezes os membros não sabem que nela se esconde um predador reincidente, com quem talvez tivessem um vínculo de proximidade, de amizade. Surge a pergunta: por que não percebi nada? Outro aspecto diz respeito ao vínculo com a instituição que pode ter protegido o agressor, por vezes em boa-fé, despertando sentimentos de traição e desconfiança. Por fim, dependendo das análises divergentes entre si, a comunidade também pode ficar dividida entre aqueles que se refugiam na negação e aqueles que querem lutar para evitar que isso aconteça novamente. Remediar toda essa situação requer um vasto conjunto de medidas: é fundamental assumir a responsabilidade pelo acompanhamento das vítimas e dos seus familiares, mas é também necessário restaurar a confiança na instituição que se revelou deficiente, quando esta demonstra uma vontade sincera de aprender com os erros passados. Para fazer isso, é importante agir: a instituição deve promover a transparência, comunicando informações bem precisas, deve instaurar procedimentos claros, criar locais de escuta, estabelecer procedimentos de reparação e, para as comunidades, criar espaços de diálogo nos quais possam ser partilhadas opiniões conflitantes. O Movimento dos Focolares é uma organização mundial, cujos membros são de diferentes culturas e religiões, sujeitos a vários sistemas jurídicos e adotam os mais diversos estilos de vida. Como é possível atuar práticas contra os abusos em um ambiente caracterizado por um multiculturalismo e diversidade tão vastos? Em primeiro lugar, as consequências do abuso sexual que envolve crianças e adolescentes existem em todas as culturas e são universais. Além das sequelas psicológicas e sociais, as vítimas podem apresentar sequelas biológicas, como aumento dos hormônios do estresse, alteração na expressão de determinados genes, bem como na morfologia e no funcionamento cerebral: essas disfunções persistem ao longo da existência do sobrevivente e podem ser transmitidas para a próxima geração. Portanto, não se pode dizer que existem variações culturais na gravidade das consequências para as vítimas, que existem culturas em que as vítimas sofrem menos: é devastador sempre e em toda parte. Portanto, é necessário colocar em prática medidas preventivas, mas também corretivas no mundo inteiro. Nota-se que a consciência da gravidade dessas situações está crescendo: por exemplo, na Igreja Católica foram criadas comissões nacionais de investigação em muitos países da Europa, América do Norte, América Latina, mas também na Austrália, Índia e África do Sul. O sofrimento existe sempre, em toda parte. Aquilo que pode variar é a resistência em denunciar os fatos e a capacidade de tomar medidas de proteção e reparação. Isso pode estar relacionado ao fato que, em algumas culturas, é um tabu falar sobre sexualidade. O primeiro passo é sensibilizar as populações para as consequências dos abusos: já existem programas promovidos por diversas associações que têm em vista a representação da sexualidade em diversas culturas. Por exemplo, sugerir que escutemos o sofrimento das vítimas que pertencem à mesma cultura pode despertar empatia e suscitar nas pessoas a vontade de agir. A prevenção também pode ser dirigida diretamente às crianças, educando-as aos seus direitos: também nesse caso existem programas que se valem, por exemplo, de canções. Outra coisa que varia é a capacidade, dos Estados e das instituições, de adotarem medidas de proteção e reparação. A estrada a ser percorrida é a de estabelecer um diálogo respeitoso e isento de incriminações com os protagonistas; isso permitirá que todos compreendam a gravidade dos abusos, mas também encontrem as formas específicas de cada cultura para a liberdade de expressão, para concretizar as reparações e formar os membros da comunidade. Tanto no Movimento dos Focolares como em outros contextos há quem expresse a convicção de que chegou o momento de ir em frente, isto é, que não se deve continuar falando apenas de abusos, mas que é preciso focar na “missão” do Movimento e em tudo aquilo de bom e positivo que a vivência desse carisma gera no mundo. Qual a sua opinião sobre o assunto? Qual é a “missão”? Não se trata talvez de caminhar rumo à fraternidade universal, a uma cultura que coloca em primeiro lugar o sofrimento dos mais fracos, a uma cultura do diálogo, de abertura e de humildade? Parece-me que a luta contra todos os tipos de abusos é precisamente uma forma de concretizar o desejo de colocar em primeiro lugar aqueles que sofrem por isso. Ajudar a curar as feridas das vítimas é precisamente um modo de avançar rumo à fraternidade universal. Isso também envolve acompanhar os autores dos abusos, a fim de evitar a reincidência. Reconhecer os próprios erros, a própria vulnerabilidade, a fim de encontrar soluções, levando em conta as opiniões dos especialistas do setor, é justamente uma forma de construir uma cultura de diálogo. Lutar com determinação contra os abusos e acompanhar as vítimas estão no centro dessa “missão”. Não há, portanto, escolha entre a luta contra os abusos e a “missão”, porque essa luta é um elemento central da “missão”. É uma prioridade dolorosa, mas necessária no contexto atual.