Movimento dos Focolares

Gennaio 2011

“A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma. Ninguém considerava suas as coisas que possuía, mas tudo entre eles era posto em comum”.

Mas vejamos  detalhadamente os aspectos dessa unidade. Primeiro: o Espírito Santo realizava a unidade dos corações e das mentes entre os fiéis, ajudando-os a superar aqueles sentimentos que, na dinâmica da comunhão fraterna, tornavam difícil a sua atuação. Realmente, o maior obstáculo à unidade é o nosso individualismo. Trata-se do apego às nossas ideias, aos nossos pontos de vista e às preferências pessoais. É por causa do nosso egoísmo que se erguem as barreiras pelas quais nos isolamos e excluímos quem é diferente de nós.

“A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma. Ninguém considerava suas as coisas que possuía, mas tudo entre eles era posto em comum”.

A unidade realizada pelo Espírito Santo refletia-se necessariamente, também, na vida concreta dos fiéis. A unidade de pensamento  e de coração encarnava-se e  manifestava-se numa solidariedade concreta, por meio da partilha dos próprios bens com os irmãos e as irmãs que passavam necessidade. Justamente por ser uma unidade autêntica, ela não tolerava que, na comunidade cristã, alguns vivessem na abundância, enquanto outros não tivessem nem mesmo o necessário.

“A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma. Ninguém considerava suas as coisas que possuía, mas tudo entre eles era posto em comum”.

Como poderemos viver, então, a Palavra de Vida deste mês? Ela ressalta a comunhão e a unidade que Jesus tanto recomendou, a ponto de doar-nos o seu Espírito para vê-la realizada. Logo, atentos à voz do Espírito Santo, procuremos  crescer nessa comunhão em todos os níveis. Primeiramente em nível espiritual, superando os germes de divisão que trazemos dentro de nós. Seria, por exemplo, absurdo querermos estar unidos a Jesus e, ao mesmo tempo, estarmos divididos entre nós, comportando-nos de modo individualista, cada um por conta própria, julgando-nos uns aos outros e, quem sabe, rejeitando-nos mutuamente. Portanto, é preciso realizar uma renovada conversão a Deus que nos quer ver unidos. Além disso, essa Palavra nos ajudará a entender cada vez mais a contradição que existe entre a fé cristã e o uso egoísta dos bens materiais. Ela nos ajudará a realizar uma autêntica solidariedade com aqueles que estão passando necessidade, embora nos limites do que nos é possível . Essa Palavra nos levará, ainda, a rezar pela unidade dos cristãos e a reforçar os vínculos de unidade e o amor de comunhão com os nossos irmãos e irmãs de outras Igrejas, com os quais temos em comum a única fé e o único espírito de Cristo, recebido no Batismo. Chiara Lubich Esta Palavra de Vida foi publicada originalmente em janeiro de 1994.

Palavra de Vida – dezembro de 2010

“Como é que vai ser isso?” (cf Lc 1,34). Esta pergunta de Maria, feita depois do anúncio do anjo, teve como resposta: “nada é impossível a Deus”. E, como prova disso, o anjo citou o exemplo de Isabel, que, na sua velhice, tinha concebido um filho. Maria acreditou e tornou-se a Mãe do Senhor.
Onipotente. Este nome de Deus é frequentemente encontrado na Sagrada Escritura, e é usado quando se deseja exprimir o seu poder de abençoar, julgar, dirigir o curso dos acontecimentos, realizar os Seus desígnios.
Existe apenas um limite à onipotência de Deus, a liberdade humana, que pode opor-se à vontade de Deus, tornando o ser humano impotente, ao passo que ele foi chamado a compartilhar a mesma força de Deus.

«Nada é impossível a Deus».

É uma Palavra que nos abre a uma confidência ilimitada no amor de Deus-Pai, pois, se Deus existe e o seu Seu ser é Amor, a confiança completa Nele nada mais é do que uma consequência lógica disso.
Todas as graças, temporais e espirituais, possíveis e impossíveis, estão em Seu poder. E Ele as dá a quem as pede e até mesmo a quem não pede, porque, como diz o Evangelho, Ele, o Pai, «faz nascer o sol igualmente sobre  maus e bons» (cf Mt 5,45), e convida todos nós a agirmos como Ele, com o mesmo amor universal, sustentado pela fé de que:

«Nada é impossível a Deus».

Como podemos, então, colocar em prática essa Palavra na vida diária?
Todos nós, de vez em quando, temos que enfrentar situações difíceis, dolorosas, tanto na nossa vida pessoal, quanto nos relacionamentos com os outros. E, algumas vezes, experimentamos toda a nossa impotência, pois percebemos que existem em nós apegos a coisas e pessoas que nos tornam escravos de amarras das quais gostaríamos de nos libertar. Frequentemente nós nos vemos diante dos muros da indiferença e do egoísmo, e nos sentimos sem forças ante acontecimentos que parecem maiores do que nós.
Pois bem, nesses momentos, a Palavra de Vida pode vir em nossa ajuda. Jesus nos deixa experimentar a nossa incapacidade, não para nos desencorajar, mas para nos ajudar a compreender melhor que «nada é impossível a Deus», para nos preparar a fim de experimentarmos a extraordinária potência da Sua graça, que se manifesta justamente quando constatamos que, com as nossas pobres forças, nada vamos conseguir.

«Nada é impossível a Deus».

Ao nos relembrarmos disso nos momentos mais críticos, a Palavra de Deus nos mandará aquela energia que ela encerra, fazendo-nos participar, de algum modo, da própria onipotência de Deus. Porém, com uma condição: que vivamos a Sua vontade, procurando irradiar ao nosso redor aquele amor que foi depositado nos nossos corações. Assim estaremos em uníssono com o Amor onipotente de Deus pelas suas criaturas, para o qual tudo aquilo que contribui para a realização dos seus planos, em cada pessoa e em toda a humanidade, é possível.
Mas existe um momento especial em que podemos viver esta Palavra e experimentar toda a sua eficácia: é durante a oração.
Jesus disse que qualquer coisa que pedirmos ao Pai em Seu nome, Ele nos concederá. Portanto, experimentemos pedir-lhe aquilo que mais desejamos ou necessitamos, com a certeza de fé de que a Ele nada é impossível: da solução de casos mais desesperadores, até à paz no mundo, da cura de doenças graves até a resolução de conflitos familiares e sociais.
E se formos duas ou mais pessoas, unidas em pleno acordo através do amor mútuo a pedir a mesma coisa, então será o próprio Jesus em nosso meio quem pedirá ao Pai e, como ele prometeu, obteremos o que pedirmos.
Certo dia, também nós pedimos, com esta fé na onipotência de Deus e no seu Amor, que o tumor diagnosticado em N., por meio de uma radiografia, "desaparecesse", como se fosse um erro ou um fantasma. E, de fato, isso aconteceu.
Esta confiança ilimitada, que faz com que nos sintamos nos braços de um Pai ao qual tudo é possível, deve acompanhar sempre os acontecimentos da nossa vida. Isso não significa que toda vez obteremos aquilo que pedirmos, porque a onipotência de Deus é a de um Pai, e Ele a usa tão somente para o bem de seus filhos, tenham eles consciência disso ou não. O importante é vivermos alimentando a certeza de que para Deus nada é impossível. E isso nos fará provar uma paz que nunca experimentamos antes.

Chiara Lubich

 

Esta Palavra de Vida foi publicada originalmente em Cidade Nova, em dezembro de 1999.
 

Palavra de Vida – novembro de 2010

A pregação de Jesus tem início com o sermão da montanha. Numa colina próxima de Cafarnaum, às margens do lago de Tiberíades, sentado, como era costume entre os mestres, Jesus anuncia às multidões quem é bem-aventurado. No Antigo Testamento, frequentemente se usava a palavra “feliz” para exaltar a pessoa que cumpria, dos modos mais variados, a Palavra do Senhor.
As bem-aventuranças que Jesus anunciava repetiam, em parte, aquelas que os discípulos já conheciam; mas, pela primeira vez, eles ouviam dizer que os puros de coração não só eram dignos de subir ao monte do Senhor (cf. Sl 24,4), como cantava o salmo, mas podiam até mesmo ver a Deus. Qual seria, então, essa pureza tão sublime a ponto de merecer tanto? Jesus explicaria isso várias vezes no decorrer de sua pregação. Vamos procurar segui-lo para chegar à fonte da autêntica pureza.

"Felizes os puros de coração, porque verão a Deus.”

Para Jesus, antes de mais nada, existe um meio excelente de purificação: “Vós já estais limpos por causa da Palavra que vos falei” (Jo 15,3). Não são tanto as práticas de rituais que purificam a alma, mas a sua Palavra. A Palavra de Jesus não é como as palavras humanas. Cristo está presente nela, assim como, embora de outro modo, está presente na Eucaristia. Pela Palavra, Cristo entra em nós e, na medida em que a deixarmos agir, nos torna livres do pecado e, consequentemente, puros de coração.
A pureza, portanto, é fruto da Palavra vivida, de todas aquelas Palavras de Jesus que nos libertam dos chamados apegos, nos quais invariavelmente caímos se não temos o coração fixo em Deus e nos seus ensinamentos. Podem ser apegos às coisas, às criaturas ou a nós mesmos. Mas se o coração está voltado somente para Deus, perdemos o interesse por todo o resto.
Para obter êxito nessa tarefa, pode ser útil repetir a Jesus, a Deus, durante o dia, a invocação do salmo: “És tu, Senhor, o meu único bem“ (cf Sl 16,2). Experimentemos repeti-la frequentemente e, sobretudo, quando os diversos apegos ameaçarem arrastar o nosso coração para imagens, sentimentos e paixões que podem ofuscar a visão do bem e nos privar da liberdade.
Somos levados a olhar certas publicidades, a assistir a certos programas de televisão? Não. Digamos: “És tu, Senhor, o meu único bem”, e esse será o primeiro passo que nos fará sair de nós mesmos, ao redeclararmos o nosso amor a Deus. Desse modo, teremos crescido em pureza.
Percebemos, às vezes, que uma pessoa ou uma atividade se interpõe, como um obstáculo, entre nós e Deus, poluindo o nosso relacionamento com Ele? É o momento de repetir-lhe: “És tu, Senhor, o meu único bem”. Isso nos ajudará a purificar as nossas intenções e a reencontrar a liberdade interior.
 
“Felizes os puros de coração, porque verão a Deus.”

A Palavra vivida nos torna livres e puros, porque é amor. É o amor que purifica, com o seu fogo divino, as nossas intenções e todo o nosso íntimo, pois, na linguagem bíblica, o “coração” é a sede mais profunda da inteligência e da vontade.
Mas, existe um amor que é um mandamento de Jesus, que nos permite viver essa bem-aventurança. É o amor mútuo, o amor de quem está pronto a dar a vida pelos outros, a exemplo de Jesus. Esse amor, pela presença de Deus – o único que pode criar em nós um coração puro (cf Sl 51(50),12)–, cria uma corrente, um intercâmbio, uma atmosfera cuja nota dominante é justamente a transparência, a pureza. É vivendo o amor recíproco que a Palavra age com seus efeitos de purificação e de santificação.
A pessoa isolada não consegue resistir por muito tempo às solicitações do mundo; enquanto que, no amor mútuo, encontra o ambiente sadio capaz de proteger a sua pureza e toda a sua autêntica vida cristã.

“Felizes os puros de coração, porque verão a Deus.”

Eis o fruto dessa pureza, sempre reconquistada: pode-se “ver” a Deus, ou seja, pode-se entender a sua ação na nossa vida e na história, “ouvir” a sua voz no nosso coração, reconhecer a sua presença onde ela se encontra: nos pobres, na Eucaristia, na sua Palavra, na comunhão fraterna, na Igreja.
É como saborear antecipadamente a presença de Deus, começando já nesta vida, caminhando “pela fé e não pela visão” (2Cor 5,7), até quando “o veremos face a face” (1Cor 13,12) por toda a eternidade.

Chiara Lubich

 

Esta Palavra de Vida foi publicada originalmente em novembro de 1999.
 

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Palavra de vida – outubro de 2010

Essa frase consta também no Antigo Testamento (Lv 19,18).
Para responder a uma pergunta capciosa, Jesus se insere na grande tradição profética e rabínica que indagava sobre o princípio unificador da Torá, ou seja, sobre o ensinamento de Deus contido na Bíblia. Um contemporâneo de Jesus, Rabbi Hillel, tinha dito: “Não faça com seu próximo aquilo que detestaria fosse feito a você, nisto se resume toda a lei. O resto é apenas interpretação” (Shabbat 31a).
Para os mestres do judaísmo, o amor ao próximo provém do amor a Deus, que criou o homem à sua imagem e semelhança – por essa razão, não se pode amar a Deus sem amar a sua criatura; esse é o verdadeiro motivo do amor ao próximo e é “um princípio grande e geral na lei” (Rabbi Akiba, comentários rabínicos a Lv 19,18).
Jesus reforça esse princípio e acrescenta que o mandamento de amar o próximo é semelhante ao primeiro e maior de todos os mandamentos: amar a Deus com todo o coração, com toda a mente e com toda a alma. Ao afirmar que existe uma relação de semelhança entre os dois mandamentos, Jesus os une definitivamente. Isso será feito também por toda a tradição cristã. É o que confirma o apóstolo João de modo lapidar: “Quem não ama seu irmão, a quem vê, não poderá amar a Deus, a quem não vê” (1Jo 4,20).

“Amarás teu próximo como a ti mesmo.”

Todo ser humano é – o Evangelho inteiro afirma isso claramente – nosso "próximo", homem ou mulher, amigo ou inimigo, a quem se deve respeito, consideração, apreço. O amor ao próximo é universal e pessoal ao mesmo tempo. Abraça toda a humanidade e se especifica “naquele que está ao seu lado”.
Mas, quem pode nos dar um coração tão grande, quem pode suscitar em nós uma benevolência tão grande a ponto de considerarmos como nossos “próximos” inclusive as pessoas com quem não temos nada a ver, de nos fazer superar o amor-próprio, para vermos a nós mesmos nos outros? É um dom de Deus, ou melhor, é o próprio amor de Deus que “foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5).
Logo, não se trata de um amor comum, não é simples amizade nem apenas filantropia, mas é aquele amor que foi derramado em nossos corações já no batismo, aquele amor que é a vida do próprio Deus, da Santíssima Trindade, e do qual podemos participar.
O amor, portanto, é tudo. Mas para podermos vivê-lo bem, é necessário conhecer as suas qualidades, que sobressaem do Evangelho e da Sagrada Escritura em geral, e que vamos tentar sintetizar em alguns aspectos fundamentais.
Antes de tudo, Jesus, que morreu por todos, amando a todos, nos ensina que o verdadeiro amor deve ser dirigido a todos. Não é como o amor que muitas vezes vivemos, meramente humano, que tem um raio de alcance restrito: a família, os amigos, os vizinhos… O amor verdadeiro que Jesus pede não admite discriminações; não faz distinção entre a pessoa simpática e antipática; para esse amor não existe o bonito e o feio, o adulto e a criança, o conterrâneo e o estrangeiro, o irmão da própria Igreja ou de outra, da própria religião ou de outra. Esse amor ama a todos. É isso que devemos fazer: amar a todos.
E ainda, o amor verdadeiro toma a iniciativa; não espera ser amado, como em geral acontece com o amor humano, que nos leva a amar aqueles que nos amam. Não, o amor verdadeiro toma a iniciativa, como fez o Pai quando, sendo nós ainda pecadores – e, portanto, quando ainda não amávamos –, mandou o Filho para nos salvar.
Sendo assim, amar a todos e tomar a iniciativa no amor.
O amor verdadeiro reconhece também a presença de Jesus em cada próximo. No juízo final, Jesus nos dirá: “Foi a mim que o fizestes” (cf Mt 25,40). Isso vale para o bem que fazemos e, infelizmente, também para o mal.
O amor verdadeiro ama o amigo, mas também o inimigo; faz-lhe o bem, reza por ele.
Jesus deseja também que o amor, trazido por Ele à terra, se torne recíproco: que um ame o outro e vice-versa, de modo que se alcance a unidade.
Todas essas qualidades do amor nos levam a entender e viver melhor a Palavra de Vida deste mês.

“Amarás teu próximo como a ti mesmo.”

O amor verdadeiro ama o outro como a si mesmo. Isso deve ser seguido ao pé da letra: temos realmente que ver no próximo um “outro nós” e fazermos ao outro o que faríamos a nós mesmos. O amor verdadeiro é o que sabe sofrer com quem sofre, alegrar-se com quem se alegra, carregar os pesos dos outros e, como diz Paulo, sabe “fazer-se um” com a pessoa amada. Dessa forma, é um amor não só de sentimento ou de palavras bonitas, mas que se exprime em fatos concretos.
Quem possui outra fé religiosa também procura agir assim, segundo a conhecida “regra de ouro”, que existe em todas as religiões. Ela exige que façamos aos outros o que gostaríamos que fosse feito a nós. Gandhi a explica de modo muito simples e eficaz: “Não posso fazer mal a você sem ferir a mim mesmo” (cf. Wilhelm Mühs, Palavras do Coração, Cidade Nova, São Paulo, 1998).
Este mês, portanto, deve ser uma oportunidade para reavivarmos o amor ao próximo, que tem os mais diferentes rostos: o vizinho, a colega de escola, o amigo, o parente mais próximo. Mas tem também o rosto daquela humanidade angustiada dos países em guerra ou das vítimas de catástrofes naturais, que a televisão traz às nossas casas. Antes eram desconhecidos e muito distantes, mas agora também eles se tornaram nossos próximos.
O amor vai nos sugerir, em cada circunstância, o que fazer e, aos poucos, dilatará o nosso coração segundo a medida do coração de Jesus.

Chiara Lubich

 

Esta Palavra de Vida foi publicada originalmente em outubro de 1999.
 

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Setembro de 2010

Audio Palavra de Vida

Com essas palavras, Jesus e responde a Pedro que, depois de ter ouvido coisas maravilhosas pronunciadas pela boca do Mestre, lhe fez esta pergunta: «Senhor, quantas vezes devo perdoar o meu irmão, se pecar contra mim? Até sete vezes?». E Jesus responde: «Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete vezes».
Pedro, sob a influência da pregação do Mestre, provavelmente tinha pensado – bom e generoso como era – em se lançar na sua nova linha, fazendo algo  excepcional: chegar a perdoar até sete vezes. Mas respondendo «até setenta vezes sete vezes», Jesus afirma que, para Ele, o perdão deve ser ilimitado: é preciso perdoar sempre.

“Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete vezes”.

Essa frase relembra o cântico bíblico de Lamec, um descendente de Adão: «Sete vezes Caim será vingado, mas Lamec, setenta e sete vezes» . Começa assim a difusão do ódio no relacionamento entre os homens do mundo inteiro, avolumando-se como um rio na cheia.
Jesus contrapõe a essa difusão do mal o perdão sem limites, incondicional, capaz de romper a espiral da violência.
O perdão é a única solução capaz de conter a desordem e abrir, para a humanidade, um futuro que não seja a autodestruição.

“Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete vezes”.

Perdoar. Perdoar sempre. O perdão não é esquecimento, que muitas vezes significa não querer encarar a realidade. O perdão não é fraqueza, que significa não considerar uma injustiça por medo do mais forte que a cometeu. O perdão não consiste em achar sem importância aquilo que é grave ou como um bem aquilo que é mal.
O perdão não é indiferença. O perdão é um ato de vontade e de lucidez, portanto de liberdade, que consiste em acolher o irmão e a irmã do jeito que eles são, apesar do mal que nos possam ter causado, da mesma forma como Deus acolhe a nós pecadores, apesar dos nossos defeitos. O perdão consiste em não responder à ofensa com outra ofensa, mas em fazer aquilo que diz Paulo: «Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem» .
O perdão consiste em você dar a quem o prejudica a possibilidade de estabelecer um novo relacionamento com você; é, portanto, uma nova chance para ele e para você de recomeçar a vida, de ter um futuro no qual o mal não tenha a última palavra.

“Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete vezes”.

Como faremos, então, para viver esta Palavra?
Ela é uma resposta de Jesus a Pedro, que lhe perguntou: «Quantas vezes terei que perdoar o meu irmão?»
Ao dar esta resposta, Jesus pensava, principalmente, no relacionamento entre cristãos, entre membros da mesma comunidade.
Por isso, é antes de tudo com os outros irmãos e irmãs na fé que você deve agir assim: na família, no trabalho, na escola ou na comunidade à qual pertencemos.
Sabemos como muitas vezes queremos retribuir a ofensa sofrida com um ato ou uma palavra à altura.
Sabemos também que, pelas diferenças de temperamento, por nervosismo ou por outras causas, a falta de amor é frequente entre pessoas que vivem juntas. Pois bem, é preciso lembrar-se de que só uma atitude sempre renovada de perdão pode manter a paz e a unidade entre os irmãos.
Teremos sempre a tendência de pensar nos defeitos das irmãs e dos irmãos, de lembrar o seu passado, de pretender que sejam diferentes… É preciso adquirir o hábito de vê-los com olhos novos, ou melhor, de vê-los novos, aceitando-os sempre, logo e totalmente, mesmo quando não se arrependem.
Você pode pensar: «Mas é difícil» Não há dúvida. Mas justamente aqui está a beleza do cristianismo. Não é por acaso que somos seguidores de Cristo que, morrendo na cruz, pediu perdão ao Pai por aqueles que o matavam, e ressuscitou.
Coragem. Comecemos uma vida desse tipo, que nos garante uma paz jamais experimentada e uma alegria a ser descoberta».

Chiara Lubich

Palavra de Vida – agosto de 2010

Esta Palavra faz parte de um acontecimento simples e altíssimo ao mesmo tempo: o encontro entre duas gestantes, duas mães, nas quais a simbiose espiritual e física com seus filhos é total. Essas mães são a boca e os sentimentos dos filhos. Quando Maria fala, o menino de Isabel estremece de alegria no seu ventre. Quando Isabel fala, suas palavras parecem ter sido colocadas em seus lábios pelo Precursor. Mas, enquanto que as primeiras palavras de seu hino de louvor a Maria são dirigidas pessoalmente à mãe do Senhor, as últimas são pronunciadas na terceira pessoa: “Feliz aquela que acreditou”.
Dessa forma, a sua “afirmação adquire um caráter de verdade universal: a bem-aventurança vale para todos os fieis, aplica-se àqueles que acolhem a Palavra de Deus e a colocam em prática, encontrando em Maria o modelo ideal” (G. Rossé, Il Vangelo di Luca, Roma, 1992, p. 67).

“Feliz aquela que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido”.

Essa é a primeira bem-aventurança do Evangelho que se refere a Maria e também a todos os que querem segui-la e imitá-la.
Em Maria existe uma estreita ligação entre fé e maternidade como fruto da escuta da Palavra. E Lucas, nesse trecho, sugere algo que se refere também a nós. Mais adiante, no Evangelho dele, Jesus diz: “Minha mãe e meus irmãos são estes daqui, que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática” (Lc 8,21). Como que antecipando essas palavras, movida pelo Espírito Santo, Isabel anuncia que todo discípulo pode se tornar “mãe” do Senhor. A condição é que acredite na Palavra de Deus e a transforme em vida.

“Feliz aquela que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido”.

Depois de Jesus, Maria é a pessoa que melhor e mais perfeitamente soube dizer “sim” a Deus. É sobretudo nisso que consiste a sua grandeza. Se Jesus é o Verbo, a Palavra encarnada, Maria, pela sua fé na Palavra, é a Palavra vivida, sendo, porém, criatura como nós, igual a nós.
O papel de Maria como Mãe de Deus é sublime e grandioso. Mas Deus não convida apenas a Virgem a gerar Cristo em si mesma. Todo cristão, embora de outro modo, tem uma tarefa semelhante, ou seja, encarnar Cristo até repetir como São Paulo: “Eu vivo, mas não eu: é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20).
Mas como atuar tudo isso?
Tendo, diante da Palavra de Deus, a mesma atitude de Maria, ou seja, de total disponibilidade. Portanto, como Maria, acreditar que todas as promessas contidas na Palavra de Jesus vão se realizar e, se for necessário, enfrentar, como fez ela, o risco do absurdo que a Palavra Dele às vezes comporta.
Coisas grandes e pequenas, porém sempre maravilhosas, acontecem com quem crê na Palavra. Muitos livros poderiam ser escritos com os fatos que provam isso.
Quem pode se esquecer de quando, em plena Segunda Guerra Mundial, acreditando nas palavras de Jesus, “pedi e recebereis” (Jo 16,24), pedíamos tudo aquilo de que muitos pobres da cidade de Trento tinham necessidade, e víamos chegar sacos de farinha de trigo, latas de leite em pó e de geleia, lenha para fogão, roupas?
Também hoje, isso continua se repetindo. “Dai e vos será dado (Lc 6,38) e as despensas para os pobres continuam sempre cheias, embora sejam regularmente esvaziadas.
Mas, o que mais impressiona é como as palavras de Jesus são verdadeiras, sempre e em toda parte. A ajuda de Deus chega pontualmente, mesmo em circunstâncias impossíveis e nos pontos mais isolados da Terra, como aconteceu pouco tempo atrás com uma mãe que vive em situação de miséria. Um dia, ela sentiu-se impulsionada a dar as últimas moedas que possuía a uma pessoa ainda mais pobre do que ela. Acreditava nas palavras do Evangelho: “Dai e vos será dado”. E seu coração estava em paz. Pouco depois, a sua filha caçula chegou perto dela e lhe mostrou um presente que tinha acabado de receber de um parente idoso que passara casualmente por ali. Na sua mãozinha havia uma soma de dinheiro maior do que a quantia doada.
Uma “pequena” experiência como essa nos incentiva a acreditar no Evangelho; e cada um de nós pode experimentar a alegria, a bem-aventurança que encontramos ao ver as promessas de Jesus se realizarem.
Quando, na vida de todos os dias, ao lermos as Sagradas Escrituras, nos encontrarmos com a Palavra de Deus, abramos nosso coração para escutá-la, com a fé em que tudo o que Jesus nos pede e promete vai se realizar. Não tardaremos a descobrir, como Maria e como aquela mãe, que Ele cumpre as suas promessas. 

Chiara Lubich

Esta Palavra de Vida foi publicada originalmente em agosto de 1999.