Movimento dos Focolares

Palavra de Vida – Julho de 2010

Nesta breve parábola, Jesus consegue prender a atenção daqueles que o estavam a ouvir. Todos eles sabiam bem o valor das pérolas que, juntamente com o ouro, eram aquilo que havia de mais precioso, naquela época. Além disso, as Escrituras falavam da Sabedoria, isto é, do conhecimento de Deus, como de uma coisa que não se pode comparar «nem sequer às pedras preciosas»1.
Mas, na parábola, vem em relevo o acontecimento excepcional, surpreendente e inesperado que foi aquele negociante ter descoberto, talvez num bazar, uma pérola que aos seus olhos experientes tinha um valor enorme. Com ela poderia, depois, obter um óptimo lucro! Foi por isso que, depois de fazer os seus cálculos, decidiu que valia a pena vender tudo o que possuía para comprar a pérola. E quem é que, no seu lugar, não teria feito o mesmo?
Eis então o significado profundo da parábola: o encontro com Jesus, ou seja, com o Reino de Deus no meio de nós – e aí está a pérola! –, é aquela ocasião única que temos mesmo que aproveitar, empregando inteiramente todas as nossas energias e aquilo que possuímos.

«O Reino do Céu é semelhante a um negociante que procura pérolas preciosas. Tendo encontrado uma de grande valor, vende tudo quanto possui e compra a pérola».

Não era a primeira vez que os discípulos se sentiam postos diante de uma exigência radical, isto é, diante daquele tudo que é preciso deixar para seguir Jesus: os bens mais preciosos, os afectos familiares, a segurança económica, as garantias para o futuro.
Mas, a Sua, não é uma exigência sem motivo ou absurda.
Por um “tudo” que se perde, existe um “tudo” que se encontra, infinitamente mais precioso. Todas as vezes que Jesus pede qualquer coisa, também promete dar muito, muito mais, numa medida superabundante. Assim, com esta parábola, garante-nos que vamos ganhar um tesouro que nos tornará ricos para sempre.
E, se pode parecer um erro deixar o certo pelo incerto, um bem seguro por um bem apenas prometido, pensemos no negociante da parábola: ele sabia que aquela pérola era muito preciosa e aguardou, confiante, o lucro que iria obter quando a vendesse. Da mesma maneira, quem quer seguir Jesus, sabe e vê, com os olhos da fé, qual é a enorme vantagem que vai ter ao partilhar com Ele a herança do Reino, por ter deixado tudo, ao menos espiritualmente.
Deus oferece a todas as pessoas, durante a vida, uma ocasião destas, para que a saibam aproveitar.

«O Reino do Céu é semelhante a um negociante que procura pérolas preciosas. Tendo encontrado uma de grande valor, vende tudo quanto possui e compra a pérola».

É um convite concreto a pôr de lado todos aqueles ídolos que podem ocupar o lugar de Deus no nosso coração: a carreira, o casamento, os estudos, uma linda casa, a profissão, o desporto, o lazer.  É um convite para pôr Deus em primeiro lugar, no centro de cada nosso pensamento, de cada nosso afecto. Porque, na nossa vida, tudo deve convergir para Ele e tudo deve provir d’Ele.
Se assim fizermos, se procurarmos o Reino, segundo a promessa evangélica, tudo o resto nos será dado por acréscimo2. Deixando tudo pelo Reino de Deus, recebemos cem vezes mais em casas, irmãos, irmãs, pais e mães3. Porque o Evangelho tem uma nítida dimensão humana: Jesus é Homem-Deus e, juntamente com o alimento espiritual, dá-nos o pão, a casa, a roupa, a família. Temos, talvez, que aprender com as “crianças” a confiar mais na Providência do Pai, que não deixa faltar nada a quem dá, por amor, todo aquele pouco que possui.
Já há uns meses que, no Congo, um grupo de jovens fazia postais artísticos com a casca da banana, que depois eram vendidos na Alemanha. No princípio ficavam com tudo o que ganhavam (alguns mantinham a família com esse dinheiro). Depois decidiram pôr em comum 50% e, deste modo, 35 jovens desempregados receberam uma ajuda.
Mas Deus não se deixou vencer em generosidade: dois desses rapazes deram um tal testemunho na loja onde trabalhavam, que diversos comerciantes, em busca de pessoal, dirigiram-se àquela loja. E assim, onze jovens encontraram um emprego fixo.

Chiara Lubich

Esta Palavra de Vida foi publicada originalmente em julho de 1999

1) Sb 7, 9; 2) cf. Lc 12, 31; 3) cf. Mt 19, 29.
 

Palavra de Vida – Junho de 2010

Quando lemos essa Palavra de Jesus, vêm em evidência dois estilos de vida: a vida terrena, que se constrói neste mundo, e a vida sobrenatural dada por Deus através de Jesus, vida que não se acaba com a morte e que ninguém nos poderá tirar.
Assim, diante da existência podemos adotar duas atitudes: apegar-nos à vida terrena, considerando-a como único bem – e, nesse caso, seremos levados a pensar em nós mesmos, em nossas coisas, em nossos apegos; vamos nos fechar em nosso casulo, afirmando somente o próprio eu, e como conclusão, no final encontraremos inevitavelmente apenas a morte. Ou podemos ter uma atitude diferente: acreditando que recebemos de Deus uma existência muito mais profunda e autêntica, teremos a coragem de viver de modo a merecermos esse dom a ponto de sabermos sacrificar nossa vida terrena pela outra vida.

“Quem buscar sua vida a perderá, e quem perder sua vida por causa de mim a encontrará".

Quando Jesus pronunciou essas palavras, referia-se ao martírio. Para seguirmos o Mestre e permanecermos fiéis ao Evangelho, nós, como todo cristão, devemos estar prontos a perder a nossa vida, morrendo – se for necessário – até mesmo de morte violenta. E assim, com a graça de Deus, nos será doada a vida verdadeira. Jesus foi o primeiro a “perder a sua vida” e recebeu-a glorificada. Ele já nos preveniu que não temêssemos “aqueles que matam o corpo, mas são incapazes de matar a alma”. (Mt 10,28)
Hoje ele nos diz:

“Quem buscar sua vida a perderá, e quem perder sua vida por causa de mim a encontrará".

Se você ler atentamente o Evangelho, verá que Jesus retoma esse conceito seis vezes. Isso demonstra a importância dele para Jesus e quanto ele o considera.
Mas, para Jesus, a exortação para perder a própria vida não é apenas um convite para enfrentarmos até mesmo o martírio. É uma lei fundamental da vida cristã.
É preciso estarmos prontos a renunciar a fazer de nós mesmos o ideal da nossa vida, a renunciarmos à própria independência egoísta. Se quisermos ser verdadeiros cristãos, devemos fazer de Cristo o centro de nossa existência. E o que Cristo quer de cada um de nós? O amor pelos outros. Se assumirmos o programa dele como nosso, certamente teremos perdido a nós mesmos e teremos encontrado a vida.
O fato de não viver para si mesmo não é, certamente, como se poderia imaginar, uma atitude de renúncia e de passividade. O empenho do cristão é sempre muito grande e o seu senso de responsabilidade é total.

“Quem buscar sua vida a perderá, e quem perder sua vida por causa de mim a encontrará".

Já nesta terra podemos fazer a experiência de que, no dom de nós mesmos, no amor vivido, cresce em nós a vida. Quando tivermos despendido o nosso dia a serviço dos outros, quando tivermos aprendido a transformar o trabalho cotidiano, talvez monótono e duro, em um gesto de amor, experimentaremos a alegria de nos sentirmos mais realizados.

“Quem buscar sua vida a perderá, e quem perder sua vida por causa de mim a encontrará'.

Seguindo os mandamentos de Jesus, que estão todos centralizados no amor, encontraremos, depois desta breve existência, também a Vida Eterna.
Lembremos qual será o julgamento de Jesus no último dia. Ele dirá àqueles que estão à sua direita: “Vinde, benditos… pois eu estava com fome e me destes de comer; eu era forasteiro e me recebestes em casa; estava nu e me vestistes…” (Mt 25, 34ss)
Para que participemos da existência que não passa, Jesus olhará unicamente se amamos o próximo e vai considerar feito a si tudo o que tivermos feito ao próximo.

Como viveremos, então, esta Palavra? Como poderemos desde hoje perder a nossa vida para encontrá-la?
Preparando-nos para o grande e decisivo exame para o qual nascemos.
Olhemos ao nosso redor e preenchamos o nosso dia com atos de amor. Cristo se apresenta a nós na pessoa dos nossos filhos, da esposa, do marido, dos colegas de trabalho, de partido, de lazer, etc. Façamos o bem a todos. E não nos esqueçamos daqueles que passamos a conhecer diariamente por meio dos jornais, dos amigos ou da televisão… Façamos algo para todos, de acordo com as nossas possibilidades. E se acharmos que as nossas possibilidades se esgotaram, poderemos ainda rezar por eles. O que vale é o amor.

Chiara Lubich

Esta Palavra de Vida foi publicada originalmente em junho de 1999. 
 

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Palavra de Vida – maio de 2010

No último discurso de Jesus, é o amor que ocupa o centro: o amor do Pai pelo Filho, e o amor a Jesus, que consiste em cumprir os seus mandamentos.
Aqueles que escutavam Jesus não tinham dificuldades em reconhecer nas suas palavras um eco dos Livros sapienciais: “O amor é a observância de suas leis (Sb 6,18) e “facilmente é contemplada (a Sabedoria) por aqueles que a amam” (cf. Sb 6,12). E, sobretudo, o “manifestar-se a quem o ama” encontra um paralelo no Antigo Testamento em Sb 1,2, onde está escrito que o Senhor se manifestará àqueles que acreditam nele.
Ora, o sentido desta Palavra de Vida que propomos é: quem ama o Filho é amado pelo Pai, e é, por sua vez, também amado pelo Filho, que se manifesta a ele.

“Quem me ama será amado por meu Pai, e eu o amarei e me manifestarei a ele”.

Essa manifestação de Jesus, porém, exige que estejamos no amor.
Não é concebível um cristão que não tenha esse dinamismo, essa carga de amor no coração. Um relógio não funciona, não marca a hora – e nem se pode dizer que é um relógio – se estiver com a bateria descarregada. Assim, um cristão que não está sempre na disposição de amar não merece ser chamado de cristão.
Isso porque todos os mandamentos de Jesus se resumem em um único mandamento: o amor a Deus e ao próximo, em quem devemos reconhecer e amar Jesus.
O amor não é mero sentimentalismo: ele se traduz em vida concreta, no serviço aos irmãos – principalmente os que estão ao nosso lado –, começando pelas pequenas coisas, pelos serviços mais humildes.
Diz Charles de Foucauld: “Quando amamos alguém, estamos de verdade nele, estamos nele com o amor, vivemos nele com o amor, não vivemos mais em nós mesmos, somos “desprendidos” de nós mesmos, “fora de nós mesmos” (Charles de Foucauld, Scritti Spirituali, VII, Città Nuova, Roma 1975, p. 110).
E é por causa desse amor que uma luz abre caminho em nós, a luz de Jesus, segundo a sua promessa: “Quem me ama… me manifestarei a ele” (cf. Jo 14,21). O amor é fonte de luz: amando compreende-se melhor a Deus, que é amor.
E isso faz com que se ame ainda mais e se aprofunde o relacionamento com o próximo.
Essa luz, esse conhecimento amoroso de Deus é, portanto, a marca, a prova do verdadeiro amor. E ela pode ser experimentada de vários modos, porque em cada um de nós ela assume uma cor, uma tonalidade própria. Mas essa luz possui algumas características comuns em todas as pessoas: ela nos ilumina sobre a vontade de Deus, nos dá paz, serenidade e uma compreensão sempre nova da Palavra de Deus. É uma luz quente que nos estimula a caminhar na estrada da vida de modo cada vez mais rápido e seguro. Quando as sombras da existência tornarem o nosso caminho inseguro, e até mesmo quando ficarmos paralizados pela escuridão, essa Palavra do Evangelho nos lembrará que a luz se acende com o amor e que bastará um gesto concreto de amor, ainda que pequeno (uma oração, um sorriso, uma palavra), para nos dar aquele tanto de luz que nos permitirá seguir adiante.
Quando andamos de bicicleta à noite (nas bicicletas antigas, com dínamo), se pararmos de pedalar precipitaremos na escuridão; mas se recomeçarmos a pedalar, o dínamo produzirá a energia necessária para iluminar o caminho.
O mesmo acontece na nossa vida: basta reativarmos o amor, o amor verdadeiro, aquele que dá sem esperar nada em troca, para que se reacenda em nós a fé e a esperança.

Chiara Lubich

Esta Palavra de Vida foi publicada originalmente em maio de 1999.

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Palavra de vida – Abril de 2010

Jesus pronunciou essas palavras por ocasião da morte de Lázaro de Betânia, que depois ele ressuscitou, no quarto dia.
Lázaro tinha duas irmãs: Marta e Maria.
Quando Marta soube que Jesus estava chegando, correu ao seu encontro e lhe disse: “Senhor, se estivesses aqui, meu irmão não teria morrido”. Jesus lhe respondeu: “Teu irmão ressuscitará”. Marta replicou: “Sei que ele ressuscitará na ressurreição, no último dia!” Jesus, então, declarou: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá. E quem vive e crê em mim, jamais morrerá”.

“Eu sou a ressurreição e a vida.”

Jesus quer revelar quem ele é para o homem. Jesus possui o bem mais precioso que podemos desejar: a Vida, aquela Vida que não morre.
Se você leu o Evangelho de João, decerto observou que Jesus também disse: “Assim como o Pai tem a vida em si mesmo, também concedeu ao Filho ter a vida em si mesmo” (cf Jo 5,26). E já que Jesus possui a Vida, ele pode comunicá-la.

“Eu sou a ressurreição e a vida.”

Também Marta acredita na ressurreição final: “Sei que ele ressuscitará na ressurreição, no último dia!”
Mas Jesus, com a sua afirmação maravilhosa, “Eu sou a ressurreição e a vida”, lhe revela que ela não precisa aguardar o futuro para ter esperança na ressurreição dos mortos. Desde já, no presente, para todos os que creem, ele é aquela Vida divina, inefável, eterna, que nunca morrerá.
Se Jesus está nos que creem, se ele está em você, você não morrerá. Essa Vida naquele que crê tem a mesma natureza de Jesus ressuscitado, e é, portanto, bem diferente da condição humana, na qual está.
E essa Vida extraordinária, que também já existe em você, se manifestará plenamente no último dia, quando você participar, com todo o seu ser, da ressurreição futura.

“Eu sou a ressurreição e a vida.”

É claro que, com essas palavras, Jesus não nega a existência da morte física. No entanto, essa morte não implicará a perda da Vida verdadeira. Para você, assim como para todos os homens, a morte continuará sendo uma experiência única, extrema e, talvez, temida. Mas não significará mais a falta de sentido de uma existência, não será mais o absurdo, o fracasso da vida, o seu fim. Para você, a morte não será mais uma morte de fato.

“Eu sou a ressurreição e a vida.”

E quando foi que nasceu em você essa Vida que não morre?
No batismo. Naquele momento você, mesmo em sua condição mortal, recebeu de Cristo a Vida imortal. Com efeito, no batismo você recebeu o Espírito Santo, que é aquele que ressuscitou Jesus.
E a condição para receber esse sacramento é a sua fé, que você declarou por meio de seus padrinhos. De fato, no episódio da ressurreição de Lázaro, falando a Marta, Jesus especificou: “Quem crê em mim, ainda que morra, viverá (…) Crês nisso?” (Jo 11,26)
“Crer”, nesse caso, é um fato muito sério, muito importante: não exige apenas aceitar as verdades anunciadas por Jesus, mas também aderir a elas com todo o ser.
Para possuir essa vida, portanto, você deve dizer o seu sim a Cristo. E isso significa aderir às suas palavras, aos seus mandamentos, significa vivê-los. Jesus confirmou isso: “Se alguém guardar minha palavra, jamais verá a morte” (Jo 8,51). E os ensinamentos de Jesus estão sintetizados no amor.
Portanto, você não pode deixar de ser feliz, em você está presente a Vida.

“Eu sou a ressurreição e a vida.”

Neste período em que nos preparamos para a celebração da Páscoa, ajudemo-nos a realizar aquela guinada – que é sempre necessário renovar – rumo à morte do nosso eu para que Cristo, o Ressuscitado, viva desde já em nós.

Chiara Lubich

Esta Palavra de Vida foi publicada originalmente em março de 1999.

Março de 2010

Quantas vezes na vida você gostaria de ser ajudado por alguém e ao mesmo tempo percebe que nenhuma pessoa pode resolver o seu problema! Então, quase sem perceber, você se dirige a Alguém que sabe tornar possível as coisas impossíveis. Esse Alguém tem um nome: é Jesus.
Ouça o que Ele diz a você:

“Em verdade vos digo: se tiverdes fé do tamanho de um grão de mostarda, direis a esta montanha: ‘Vai daqui para lá’, e ela irá. Nada vos será impossível.”

É evidente que a imagem de “transportar montanhas” não deve ser tomada ao pé da letra. Jesus não prometeu aos discípulos o poder de realizar milagres espetaculares para impressionar o povo. De fato, se você investigar toda a história da Igreja, não encontrará nenhum santo, que eu saiba, que tenha transportado montanhas com a fé. “Transportar montanhas” é uma hipérbole – ou seja, um modo de dizer propositalmente exagerado – para incutir na mente dos discípulos a convicção de que, para a fé, nada é impossível.
Com efeito, todos os milagres que Jesus realizou, diretamente ou por meio de seus discípulos, sempre foram feitos em vista do Reino de Deus, ou do Evangelho, ou da salvação dos homens. Para esse fim, de nada serviria transportar uma montanha.
A comparação com “o grão de mostarda” indica que Jesus pede a você não uma fé maior ou menor, mas sim uma fé autêntica. E a característica da fé autêntica é apoiar-se unicamente em Deus e não nas próprias capacidades. Se você for tomado pela dúvida ou pela hesitação na fé, significa que a sua confiança em Deus ainda não é plena. Sua fé ainda é fraca e pouco eficaz, ainda se apoia nas suas forças e na lógica humana. Ao passo que a pessoa que se confia inteiramente a Deus deixa que seja Ele mesmo a agir e… para Deus nada é impossível.
A fé que Jesus pede aos discípulos é justamente essa atitude cheia de confiança que permite ao próprio Deus manifestar o seu poder.
E essa fé – esta sim, capaz de transportar montanhas – não está reservada a uma ou outra pessoa extraordinária. Ela é possível e obrigatória para todos os que creem.

“Em verdade vos digo: se tiverdes fé do tamanho de um grão de mostarda, direis a esta montanha: ‘Vai daqui para lá’, e ela irá. Nada vos será impossível.”

Supõe-se que Jesus tenha dirigido essas palavras aos seus discípulos quando estava para enviá-los a pregar. É fácil desanimar e assustar-se quando se tem a consciência de ser um “pequeno rebanho” despreparado, sem talentos especiais, diante de multidões incalculáveis às quais se deve levar a verdade do Evangelho. É fácil desanimar diante de pessoas cujos interesses nada têm a ver com o Reino de Deus. Parece uma missão impossível.
É então que Jesus garante aos seus que, com a fé, “transportarão as montanhas” da indiferença, do desinteresse do mundo. Se eles tiverem fé, nada lhes será impossível.
Além disso, essa frase pode ser aplicada a todas as demais circunstâncias da vida, desde que estejam orientadas ao progresso do Evangelho e à salvação das pessoas. Às vezes, diante de dificuldades insuperáveis, pode surgir a tentação de não se dirigir nem sequer a Deus. A lógica humana sugere que não vale a pena, pois é inútil. Eis então a exortação de Jesus a não desanimar e a se dirigir a Deus com muita confiança. Ele, de um modo ou de outro, haverá de atender.

Chiara Lubich

Esta Palavra de Vida foi publicada originalmente em setembro de 1979

fevereiro de 2010

 “Eu sou a porta. Quem entrar por mim será salvo; poderá entrar e sair, e encontrará pastagem.” (Jo 10,9)

Jesus se apresenta como aquele que realiza as promessas divinas e as expectativas de um povo cuja história está toda assinalada pela aliança com o seu Deus, uma aliança jamais revogada.
A ideia da porta assemelha-se – e é explicada muito bem – com a outra imagem usada por Jesus: “Eu sou o caminho. Ninguém vai ao Pai senão por mim” (Cf. Jo 14,6). Portanto, Ele é realmente um caminho e uma porta aberta ao Pai, ao próprio Deus.

“Eu sou a porta. Quem entrar por mim será salvo; poderá entrar e sair, e encontrará pastagem.”

Qual o significado dessa Palavra na nossa vida?
São muitos os significados que podemos deduzir de outras passagens do Evangelho que têm relação com esse trecho de João, mas entre essas passagens vamos escolher a da “porta estreita” por meio da qual é necessário se esforçar para entrar (cf. Mt 7,13) a fim de ter acesso à vida.

Por que escolher a imagem da “porta estreita”? Porque nos parece ser aquela que, talvez, mais nos aproxima da verdade que Jesus disse sobre si mesmo e que mais nos ilumina sobre como viver a Palavra de Vida deste mês.
Quando é que Ele se torna a porta escancarada, completamente aberta à Trindade? Ele se torna a porta do Céu para todos nós no momento em que, para Ele, a porta do Céu parece fechar-se.
Jesus Abandonado (cf. Mc 15,34 e Mt 27,46) é a porta através da qual se realiza a comunicação perfeita entre Deus e a humanidade: tendo-se feito nada, une os filhos ao Pai. Ele é aquele vazio – o vão da porta – por meio do qual o homem entra em contato com Deus e Deus com o homem.
Ele é, portanto, ao mesmo tempo a porta estreita e a porta escancarada, e nós podemos fazer essa experiência.

“Eu sou a porta. Quem entrar por mim será salvo; poderá entrar e sair, e encontrará pastagem.”

Jesus no abandono se fez para nós acesso ao Pai.
A parte dele está feita. Mas, para desfrutar de tamanha graça, também cada um de nós deve fazer a sua pequena parte, que consiste em chegar até aquela porta e em atravessar para o outro lado. De que modo?
Quando a desilusão nos surpreende ou somos feridos por um trauma, ou por uma desgraça imprevista, ou por uma doença absurda, podemos sempre nos lembrar da dor de Jesus que personificou todas essas provações, e uma infinidade de outras mais.
Sim, Ele está presente em tudo aquilo que tem a ver com a dor. Cada sofrimento nosso é um nome dele.
Procuremos, então, reconhecer Jesus em todas as angústias – nos apertos da vida –, em todas as escuridões, nas tragédias pessoais e dos outros, nos sofrimentos da humanidade que nos rodeia. Todos os sofrimentos são Ele, porque Ele os tornou seus. Bastará dizer-lhe, com fé: “És tu, Senhor, o meu único bem” (cf. Sl 15[16],2). Bastará fazer algo de concreto para aliviar os sofrimentos dele nos pobres e nos infelizes, para ultrapassar a porta e encontrar do outro lado uma alegria, antes jamais experimentada, uma nova plenitude de vida.

        Chiara Lubich

Esta Palavra de Vida foi publicada originalmente em abril de 1999