Movimento dos Focolares

janeiro 2010

“Esta é a morada de Deus-com-os-homens. Ele vai morar junto deles. Eles serão o seu povo, e o próprio Deus-com-eles será seu Deus.”

A Palavra de Deus deste mês nos interpela. Se quisermos fazer parte do seu povo, devemos deixar Deus viver entre nós.
Mas de que forma isso será possível e como fazer para desfrutar um pouco, antecipando já nesta Terra, daquela alegria sem fim, procedente da visão que teremos de Deus?
Foi justamente isso que Jesus revelou; é precisamente este o sentido da sua vinda: comunicar-nos a sua vida de amor com o Pai, para que também nós a vivamos.

Nós, cristãos, podemos viver esta frase desde já e ter Deus entre nós. Para tê-Lo entre nós, são necessárias certas condições, como afirmam os Padres da Igreja. Para Basílio, é viver segundo a vontade de Deus; para João Crisóstomo, é amar como Jesus amou; para Teodoro Estudita, é o amor mútuo e para Orígenes, é o acordo de pensamento e de sentimentos a fim de alcançar a concórdia que “une as pessoas e contém o Filho de Deus” . 

No ensinamento de Jesus está a chave para fazer com que Deus habite entre nós: “Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros”
(Jo 13,34b). A chave da presença de Deus é o amor mútuo. “Se nos amamos uns aos outros, Deus permanece em nós” (1Jo 4,12) porque: “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou ali, no meio deles” (Mt 18,20), diz Jesus.

“Deus vai morar junto deles. Eles serão o seu povo.”

Portanto, não está tão longe e não é inatingível o dia que assinalará a realização de todas as promessas da Antiga Aliança: “Minha morada estará junto deles. Eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo” (Ez 37,27).
Tudo isso já se realiza em Jesus, que continua, para além da sua existência histórica, presente entre aqueles que vivem segundo a nova lei do amor recíproco, ou seja, segundo a norma que constitui o povo de Deus como um povo.
Essa Palavra de Vida é, portanto, um convite insistente, sobretudo para nós, cristãos, a testemunharmos com o amor a presença de Deus. “Nisto conhecerão todos que sois os meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (Jo 13,35). O mandamento novo vivido dessa forma coloca as premissas para que se atue a presença de Jesus entre os homens.
Não podemos fazer nada, se essa presença não estiver garantida; presença que dá sentido à fraternidade sobrenatural que Jesus trouxe à Terra para toda a humanidade.

“Deus vai morar junto deles. Eles serão o seu povo.”

Mas cabe especialmente a nós, cristãos, mesmo pertencendo a diferentes comunidades eclesiais, dar ao mundo um espetáculo de um só povo composto por todas as etnias, raças e culturas, por adultos e crianças, por pessoas doentes e sadias. Um único povo sobre o qual se possa dizer, como se dizia dos primeiros cristãos: “Vede como se amam e estão prontos a dar a vida uns pelos outros”.
É esse o “milagre” pelo qual a humanidade anseia para poder ainda ter esperança. (…) É um “milagre” que está ao nosso alcance, ou melhor, ao alcance Daquele que, morando entre os seus que estão unidos por meio do amor, pode transformar os destinos do mundo, levando a humanidade inteira à unidade.
 
 Chiara Lubich

Esta Palavra de Vida foi publicada originalmente em janeiro de 1999

“Assim também brilhe a vossa luz diante das pessoas, para que vejam as vossas boas obras e louvem o vosso Pai que está nos céus.” (Mt 5,16)

A luz se manifesta nas “boas obras”. Ela brilha através das boas obras praticadas pelos cristãos.

Você me dirá: mas não são apenas os cristãos os que praticam boas obras. Muita gente colabora com o progresso, constrói casas, promove a justiça…

Tem razão. Inclusive o cristão certamente faz, e deve fazer, tudo isso, mas não é unicamente esta a sua função específica. Ele deve realizar boas obras com um espírito novo, aquele espírito que faz com que não seja mais ele a viver, mas Cristo nele.

Com efeito, o evangelista Mateus não se refere apenas a atos de caridade isolados (como visitar os presos, vestir os nus ou cumprir todas as outras obras de misericórdia, atualizadas de acordo com as exigências de hoje), mas refere-se à adesão total do cristão à vontade de Deus, de modo a fazer de toda a sua vida uma boa obra.

Se o cristão age assim, ele é “transparente” e os elogios que receber por suas ações não serão atribuídos a ele, mas a Cristo nele; assim Deus se fará presente no mundo por meio dele. A tarefa do cristão, portanto, é deixar transparecer essa luz que habita nele, é ser o “sinal” da presença de Deus entre os homens.

“Assim também brilhe a vossa luz diante das pessoas, para que vejam as vossas boas obras e louvem o vosso Pai que está nos céus.”

Se a boa obra de cada pessoa que tem fé apresenta essa característica, então também a comunidade cristã no meio do mundo deve ter a mesma função específica: revelar por meio de sua vida a presença de Deus, que se manifesta onde dois ou três estão unidos no seu nome, presença que foi prometida à Igreja até o final dos tempos.

A Igreja Primitiva dava grande destaque a essas palavras de Jesus. Principalmente nos momentos difíceis, quando os cristãos eram caluniados, ela os exortava a não reagir com a violência. O comportamento deles deveria ser a melhor contestação contra as acusações que lhes eram dirigidas.

Lê-se na carta a Tito: “Exorta também os jovens a serem ponderados. Em tudo, mostra-te modelo de bom comportamento, pela integridade na doutrina, linguagem sadia e irrepreensível, para que os nossos adversários, não tendo nada a falar de nós, sejam confundidos” (Tt 2,6-8).

“Assim também brilhe a vossa luz diante das pessoas, para que vejam as vossas boas obras e louvem o vosso Pai que está nos céus.”

Também nos dias de hoje, é a vida cristã colocada em prática a luz para levar os homens a Deus.

Vou contar-lhe um pequeno episódio.

Antonieta era uma jovem que vivia em outro país por motivos de trabalho. Estava empregada num escritório onde muitos de seus colegas não levavam o trabalho a sério. Por ela ser cristã e reconhecer em cada próximo Jesus a ser servido, ajudava a todos e se mantinha sempre calma e sorridente. Com frequência alguém se irritava, levantava a voz e descarregava tudo nela, debochando: “Já que você tem vontade de trabalhar, tome, digite também o meu trabalho!”.

Ela não reclamava e trabalhava com afinco. Sabia que eles não eram maus; provavelmente cada um tinha os seus problemas.

Um dia, quando os outros funcionários não estavam, o chefe perguntou a ela: “Agora você vai me contar como faz para nunca perder a paciência e manter sempre esse sorriso”. Ela tentou se esquivar dizendo: “Procuro manter a calma e ver o lado bom das coisas”.

O chefe, batendo com força na mesa, exclamou: “De jeito nenhum! Isso certamente tem a ver com Deus; de outra forma, seria impossível! E pensar que eu não acreditava em Deus!”.

Alguns dias depois, Antonieta foi chamada à diretoria, onde lhe comunicaram que ela seria transferida para outro escritório “para que você possa transformá-lo – disse o diretor – do mesmo modo que transformou esse onde trabalha agora”.

“Assim também brilhe a vossa luz diante das pessoas, para que vejam as vossas boas obras e louvem o vosso Pai que está nos céus.”

         Chiara Lubich

Esta Palavra de Vida foi publicada originalmente em agosto de 1979.

Novembro de 2009

Essa frase o impressiona?
Acho que você tem razão de ficar perplexo e de pensar no que é oportuno fazer. Jesus nunca falou só por falar. É necessário, pois, levar a sério essas palavras, sem querer reduzi-las.
Mas vamos tentar entender o verdadeiro significado delas, observando o próprio Jesus, o seu modo de se comportar com os ricos. Ele frequentou também pessoas abastadas. E disse a Zaqueu, que tinha dado apenas metade de seus bens: “Hoje a salvação entrou nesta casa” (Lc 19,9).
Além disso, os Atos dos Apóstolos testemunham que, na Igreja Primitiva, a comunhão dos bens era livre e, assim, não se exigia dos cristãos a renúncia material de tudo aquilo que possuíam.
Jesus não tinha, portanto, a intenção de fundar apenas uma comunidade de pessoas chamadas a segui-lo e que deixam todos os seus bens.
No entanto, Ele diz:

“É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha, do que um rico entrar no reino dos céus”.

Afinal, o que é que Jesus condena? Certamente não os bens desta terra em si, mas o rico apegado a eles.
E por quê?
É evidente: porque tudo pertence a Deus, enquanto que o rico se comporta como se as riquezas fossem dele.
O fato é que as riquezas ocupam facilmente o lugar de Deus no coração humano, ofuscam a vista e favorecem todo tipo de vício. Paulo, o Apóstolo, escrevia: “Pois os que querem enriquecer caem em muitas tentações e laços, em desejos insensatos e nocivos, que mergulham as pessoas na ruína e perdição. Na verdade, a raiz de todos os males é o amor ao dinheiro. Por se terem entregue a ele, alguns se desviaram da fé e se afligem com inúmeros sofrimentos” (1Tm 6,9-10).

O próprio Platão já havia afirmado: “É impossível que um homem extraordinariamente bom seja ao mesmo tempo extraordinariamente rico”.
Qual deve ser, então, a atitude de quem tem posses? É preciso que ele tenha o coração livre, totalmente aberto para Deus. Que ele se sinta administrador dos próprios bens e saiba que sobre eles, como disse João Paulo II, pesa uma “hipoteca social”.
Os bens desta terra não são um mal em si mesmos, por isso convém não desprezá-los, mas usá-los bem.
Não é a mão e sim o coração que deve estar longe deles. Trata-se de saber utilizá-los para o bem dos outros.
Ser rico só tem sentido em função dos outros.

“É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha, do que um rico entrar no Reino de Deus.”

Mas talvez você diga: eu, de fato, não sou rico; portanto, essas palavras não se referem a mim.
Cuidado! A pergunta que os discípulos, consternados, fizeram a Cristo logo após a sua afirmação foi: “Quem, pois, poderá salvar-se?” (Mt 19,25). Isso indica claramente que aquelas palavras eram, de certo modo, dirigidas a todos.
Mesmo alguém que deixou tudo para seguir a Cristo pode ter o coração apegado a mil e uma coisas. Até um pobre que esbraveja porque alguém se atreve a tocar em sua sacola pode ser um rico diante de Deus.

Chiara Lubich

Esta Palavra de Vida foi publicada originalmente em julho de 1979

 

outubro de 2009

“Perseverança”. Essa é a tradução do termo original grego. Mas a palavra grega é rica de conteúdo, pois inclui também a paciência, a constância, a resistência, a confiança.
A perseverança é necessária e indispensável quando sofremos, quando somos tentados, quando tendemos a desanimar, quando nos sentimos atraídos pelas seduções do mundo, quando somos perseguidos.
Penso que também você se tenha encontrado em pelo menos uma dessas situações e tenha experimentado que, sem a perseverança, não teria sido possível resistir. Talvez você tenha cedido algumas vezes. Pode até ser que, justamente neste momento presente, você se encontre em alguma dessas circunstâncias dolorosas.
Pois bem, o que fazer?
Crie coragem e… persevere.
Caso contrário, você não é digno de ser chamado de cristão.
Você sabe: quem deseja seguir a Cristo deve tomar todo dia a própria cruz e – pelo menos com a vontade – deve amar a dor. A vocação cristã é uma vocação à perseverança.
Paulo, o Apóstolo, mostra à comunidade a perseverança dele como sinal de autenticidade cristã.
E não hesita colocá-la no mesmo plano dos milagres.
Se amarmos a cruz e perseverarmos, poderemos seguir a Cristo, que está no Céu, e então nos salvaremos.

“É pela vossa perseverança que conseguireis salvar a vossa vida!”

As pessoas podem ser distinguidas em duas categorias. À primeira pertencem aquelas que recebem o convite para serem verdadeiras cristãs, mas esse convite cai em suas almas como a semente entre as pedras. Muito entusiasmo, como o fogo de palha, mas depois não permanece nada.
Ao passo que as da segunda categoria acolhem o convite, assim como um bom terreno acolhe a semente. A vida cristã germina, cresce, supera dificuldades, resiste às tempestades.
Estas têm a perseverança e… “é pela vossa perseverança que conseguireis salvar a vossa vida!”
É claro que, se você quiser perseverar, não poderá contar apenas com suas próprias forças.
Será necessária a ajuda de Deus.
Paulo fala de Deus como “o Deus da perseverança” (Rm 15,5).
É a Ele, portanto, que você deve pedi-la e é Dele que a receberá.
Porque, se você é cristão, não pode satisfazer-se apenas com o fato de ter sido batizado, ou de fazer, vez por outra, alguma prática de culto e alguma obra de caridade. Você precisa crescer como cristão. E todo crescimento no campo espiritual não pode ocorrer senão em meio às provações, às dores, aos obstáculos, às batalhas.
Existe quem sabe perseverar de verdade: é aquele que ama. O amor não encontra obstáculos, não conhece dificuldades, não mede sacrifícios. E a perseverança é o amor provado.
Maria é a mulher da perseverança.
Peça a Deus que acenda em você o amor para com Ele e, por consequência, em todas as dificuldades da vida, você viverá a perseverança e, com ela, você salvará a sua vida.

“É pela vossa perseverança que conseguireis salvar a vossa vida!”

Mas não é só isso. A perseverança é contagiosa. Quem é perseverante encoraja também os outros a levar as coisas até o fim.
Vamos almejar as coisas maiores. Temos uma só vida e, ainda por cima, breve. Vamos resistir, dia após dia, enfrentando uma dificuldade após a outra para seguirmos a Cristo… e salvaremos a nossa vida.

Chiara Lubich

 

Palavra de Vida publicada originalmente em junho de 1979

Setembro de 2009

O Evangelho todo é uma revolução. Não existe palavra de Cristo que se assemelhe às palavras dos homens. Veja: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas (as necessidades da vida) vos serão dadas por acréscimo”.
A primeira preocupação do ser humano, em geral, é a busca ansiosa daquilo que é necessário para dar segurança à própria existência. Talvez isso aconteça também com você. Pois bem, Jesus coloca você diante do modo como Ele vê a realidade e lhe propõe o Seu modo característico de agir. Ele pede um comportamento que difere totalmente do usual e que não deve ser adotado apenas uma vez, mas sempre. É o seguinte: procurar primeiro o Reino de Deus.
Quando você orientar todo o seu próprio ser para Deus e fizer de tudo para que Ele reine dentro de você e nos outros (ou seja, para que ele governe a sua vida conforme as leis estabelecidas por Ele), o Pai lhe dará aquilo de que você precisa a cada dia.
Se, no entanto, você se preocupar antes de tudo consigo mesmo, acabará cuidando principalmente das coisas deste mundo, tornando-se vítima delas. Você terminará considerando os bens desta terra como o seu problema de fato, o objetivo de todos os seus esforços. E nascerá no seu íntimo a grave tentação de contar unicamente com as suas forças e de prescindir de Deus.

“Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo.”

Jesus dá uma reviravolta na situação. Se a sua preocupação primeira for Ele, viver por Ele, então o resto não será mais o problema principal da sua existência, mas um “acréscimo” ou “algo a mais”.
Será uma utopia? Será uma frase irrealizável para você, homem moderno, que vive hoje no mundo industrializado, dominado pela concorrência, e que frequentemente passa por crises econômicas? Gostaria de lembrar-lhe simplesmente que as dificuldades concretas de subsistência para o povo da Galileia não eram menores quando Jesus pronunciou essas palavras.
Não se trata de analisar se é ou não uma utopia. Jesus coloca você diante da orientação fundamental da vida: viver para si ou viver para Deus.
Mas vamos entender bem o significado desta frase:

“Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo”.

Jesus não lhe recomenda o imobilismo, a passividade em relação às coisas terrenas, uma conduta irresponsável ou superficial no trabalho.
Jesus quer mudar a preocupação em ocupação, livrando você da ansiedade, do medo, da inquietude.
De fato, Ele diz: “Buscai em primeiro lugar o Reino…”.
“Em primeiro lugar” significa “acima de tudo”. A busca do Reino de Deus é colocada no primeiro plano e não exclui que o cristão deva ocupar-se também das necessidades de sua vida.

Buscar em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça significa, ainda, ter uma conduta de acordo com as exigências de Deus manifestadas por Jesus no Seu Evangelho.
Somente procurando o Reino de Deus o cristão experimentará a maravilhosa potência do Pai em seu favor.
Conto um episódio.
Aconteceu tempos atrás e, no entanto, parece de uma atualidade incrível. De fato, conheço inúmeros jovens que se comportam hoje com a mesma atitude da moça desta história.
Chamava-se Elvira. Cursava a Escola Normal. Era pobre, e só poderia prosseguir os estudos se conseguisse manter uma média alta. Possuía uma fé sólida. O seu professor de filosofia era ateu, de modo que não raramente apresentava as verdades sobre Cristo, sobre a Igreja, de maneira alterada, quando não deformada. O coração daquela jovem fervia de indignação. Não por ela, mas pelo seu amor a Deus, à Verdade e às suas companheiras. Embora consciente de que, contradizendo o professor, corria o risco de ter uma nota baixa, o que Elvira sentia dentro de si era mais forte do que ela mesma. Levantava a mão todas as vezes, pedindo a palavra: “Não é verdade, professor!”. Talvez nem sempre ela possuísse os argumentos para rebater os comentários do professor, mas naquelas palavras “não é verdade” estava toda a sua fé, que é dom da Verdade e, por isso mesmo, faz pensar.
As colegas, que gostavam dela, tentavam convencê-la a não se manifestar, para que ela não fosse prejudicada. Mas não conseguiam.
Passaram alguns meses. Chegou a hora da distribuição dos boletins com as notas. A jovem recebe o seu boletim apreensiva. Depois, teve um sobressalto de alegria. Dez! A nota máxima.
Elvira tinha procurado acima de tudo fazer com que Deus e a Sua Verdade reinassem, e o resto veio por acréscimo.

“Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo.”

Se também você procurar o Reino do Pai, haverá de experimentar que Deus é Providência com relação a todas as necessidades da sua vida. E descobrirá a normal extraordinariedade do Evangelho.

Chiara Lubich

Esta Palavra de Vida foi publicada originalmente em maio de 1979.

agosto de 2009

Você sabe em que contexto o Evangelho traz essa frase? João o apresenta no momento em que Jesus estava para lavar os pés dos seus discípulos, preparando-se para a sua paixão.
Nas últimas horas de convivência com os seus, Jesus manifesta de maneira suprema e mais explícita o amor que, desde sempre, nutria por eles.

“Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim.”

As palavras “até o fim” significam até o fim de sua vida, até o último respiro. Elas porém encerram também a idéia da perfeição. Querem dizer: amou-os completamente, totalmente, com uma intensidade extrema, até a medida máxima.
Os discípulos de Jesus permanecerão no mundo, ao passo que Jesus estará na glória. Vão sentir-se sozinhos, terão de superar muitas provações. Justamente em vista desses momentos, Jesus quer que eles estejam certos do seu amor.

“Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim.”

Você não percebe nessa frase o estilo de vida do Cristo, o seu modo de amar? Ele lava os pés dos discípulos. O seu amor o leva a fazer também esse serviço, numa época em que essa tarefa era só dos escravos. Jesus está se preparando para a tragédia do Calvário, a fim de dar aos “seus” e a todos – além de suas extraordinárias palavras, além mesmo de seus milagres, além de todas as suas obras – também a vida. Eles tinham necessidade disso, a maior necessidade de toda pessoa: ser libertada do pecado, ou seja, da morte, e poder entrar no Reino dos Céus. Eles deviam ter paz e alegria na Vida que não tem fim.
E Jesus se entrega à morte, com seu grito de abandono do Pai, até o ponto de poder dizer, no fim: “Tudo está consumado”.

“Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim.”

Essas palavras revelam a firmeza do amor de um Deus e a ternura do afeto de um irmão.
E também nós, cristãos, podemos amar assim, uma vez que Cristo está em nós.
Agora, porém, não quero tanto propor que você imite Jesus no gesto de morrer pelos outros (quando chegou a hora dele); não quero lhe oferecer, como únicos modelos, o Frei Maximiliano Kolbe, que morreu no lugar de um companheiro de prisão; nem o Padre Damião de Molokai que, tornando-se leproso com os leprosos, morreu com eles e por eles.

Pode ser que, no decorrer dos anos, nunca seja pedido a você que ofereça a sua vida física pelos irmãos. Todavia, o que Deus certamente lhe pede é que ame esses irmãos até as últimas consequências, até o fim, até o ponto de também poder dizer: “Tudo está consumado”.
Foi o que fez a pequena Susete, uma menina italiana de 11 anos. Ela viu a sua amiguinha Georgina, da mesma idade, muito triste. Quis consolá-la, mas não conseguiu. Decidiu, então, ir até o fim e saber o motivo da sua angústia. O pai tinha morrido, e a mãe a deixara sozinha com a avó, indo morar com outro homem. Susete intuiu a tragédia e começou a fazer a própria parte. Apesar de ser pequena, pediu à amiga para falar com a mãe dela. Mas Georgina lhe pediu que fosse primeiro com ela visitar o túmulo do pai. Susete a acompanhou com grande amor e, lá, ouviu Georgina implorar, em lágrimas, que ele viesse buscá-la.

Isso cortou o coração de Susete. Havia no cemitério uma capelinha meio em ruínas. Elas entraram. Só restava um pequeno sacrário e um crucifixo. Susete disse: “Veja, nesse mundo tudo vai acabar, mas aquele crucifixo e aquele sacrário vão ficar!” Georgina, enxugando as lágrimas, respondeu: “É mesmo, você tem razão!” Depois, com delicadeza, Susete tomou Georgina pela mão e foram juntas à casa da mãe da garota.
Chegando lá, com firmeza, Susete lhe disse: “Não quero me intrometer na sua vida, mas a senhora deixou sua filha sem o afeto materno de que ela precisa. E tem mais: a senhora nunca vai ficar em paz enquanto não se arrepender e não levar Georgina para casa”.

No dia seguinte, na escola, Susete ficou ao lado de Georgina, com amor. Mas, na saída, uma surpresa: um carro veio buscar Georgina, e sua mãe estava ao volante. A partir daquele dia, o carro voltou sempre, porque Georgina já estava vivendo com sua a mãe, que abandonou, de uma vez por todas, a relação com aquele homem.
Realmente, dessa pequena e grande iniciativa, pode-se dizer de Susete: “Tudo está consumado”. Ela fez bem cada coisa. Foi até o fim. E conseguiu.
Pense um pouco: quantas vezes você começou a cuidar de alguém e, depois, o abandonou, tranquilizando a sua consciência com mil e uma desculpas?
Quantas ações você começou com entusiasmo e, depois, não continuou, diante das dificuldades que pareciam superiores às suas forças?
A lição que Jesus dá hoje a você é esta:

“Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim”.

Faça o mesmo.
E se um dia, Deus, lhe pedir realmente a vida, você não hesitará. Os mártires iam para a morte cantando. O prêmio será a maior das glórias, pois Jesus disse que ninguém no mundo tem maior amor do que aquele que derrama o próprio sangue pelos seus amigos.

 

Chiara Lubich
 

Esta Palavra de Vida foi publicada originalmente em abril de 1979.