Movimento dos Focolares

Palavra de Vida – Julho de 2018

Na sua segunda carta à comunidade de Corinto, na Grécia, o apóstolo Paulo se confronta com algumas pessoas que colocam em discussão a legitimidade da sua atividade apostólica, mas não se defende exibindo os próprios méritos e sucessos. Pelo contrário, ele põe em evidência a obra que Deus realizou, tanto nele como por meio dele. Paulo menciona uma experiência mística sua, de profunda relação com Deus (1) , mas para compartilhar logo em seguida o seu sofrimento devido a um “espinho na carne” que o atormenta. Não explica do que se trata exatamente, mas se entende que é uma dificuldade grande que poderia limitá-lo no seu empenho de evangelizador. Por isso – confidencia ele – pediu a Deus que o libertasse desse impedimento. Mas a resposta que recebe do próprio Deus é impactante: “Basta-te a minha graça; pois é na fraqueza que a força se realiza plenamente.” Todos nós fazemos continuamente a experiência das fragilidades físicas, psicológicas e espirituais nossas e dos outros, e vemos ao nosso redor uma humanidade muitas vezes sofredora e desnorteada. Sentimo-nos fracos e incapazes de resolver essas dificuldades, ou até mesmo de enfrentá-las, limitando-nos no máximo a não fazer nada de mal a ninguém. Por outro lado, a experiência de Paulo nos abre um horizonte novo: reconhecendo e aceitando a nossa fraqueza, podemos abandonar-nos plenamente nos braços do Pai, que nos ama como somos e quer sustentar-nos no nosso caminho. Com efeito, continuando essa carta, ele afirma ainda: Pois, quando sou fraco, então sou forte. (2) A esse respeito, Chiara Lubich escreveu: […] A nossa razão se rebela diante de tal afirmação, por ver nela uma evidente contradição ou simplesmente um ousado paradoxo. No entanto, ela exprime uma das mais altas verdades da fé cristã. Jesus nos explica essa verdade com sua vida e, principalmente, com sua morte. Quando foi que Ele concluiu a Obra que o Pai lhe confiou? Quando foi que redimiu a humanidade? Quando venceu o pecado? Foi quando morreu na cruz, aniquilado, após ter gritado: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?”. Jesus foi mais forte justamente quando foi mais fraco. Jesus poderia ter dado origem ao novo povo de Deus apenas com a sua pregação, ou com algum milagre a mais, ou com algum gesto extraordinário. Mas não o fez. Não. Porque a Igreja é obra de Deus; e é na dor, e somente na dor, que florescem as obras de Deus. Portanto, na nossa fraqueza, na experiência da nossa fragilidade, se oculta uma oportunidade única: experimentar a força do Cristo morto e ressuscitado. […]. (3) “Basta-te a minha graça; pois é na fraqueza que a força se realiza plenamente.” É o paradoxo do Evangelho: aos mansos é prometida a terra em herança (4) ; Maria, no Magnificat (5) , exalta o poder do Senhor, que pode exprimir-se totalmente e definitivamente, na história pessoal e na história da humanidade, justamente no espaço da pequenez e da total confiança na ação de Deus. Comentando essa experiência de Paulo, Chiara dava ainda esta sugestão: […] A escolha que nós cristãos devemos fazer é absolutamente contrária àquela que normalmente as pessoas fazem. Vai-se realmente contra a correnteza, pois o ideal de vida existente no mundo consiste geralmente no sucesso, no poder, no prestígio… Paulo, pelo contrário, nos diz que é preciso gloriar-se das fraquezas. […] Confiemos em Deus – Ele atuará sobre a nossa fraqueza, sobre o nosso nada. E quando é Ele que age podemos estar certos de que realiza obras que valem, que irradiam um bem durável e satisfazem às verdadeiras necessidades dos indivíduos e da coletividade. (6) Letizia Magri ________________________________________ 1   Cf. 2 Cor 11,1-7a. 2   Cf. 2 Cor 12,10. 3   Cf. Chiara Lubich, A força da fraqueza, revista Cidade Nova, julho de 2000. 4   Cf. Mt 5,5. 5   Cf. Lc 1,46-55. 6   Cf. Chiara Lubich, A força da fraqueza, revista Cidade Nova, julho de 1982.

Palavra de Vida – Junho

O Evangelho de Mateus abre o relato da pregação de Jesus com o surpreendente anúncio das bem-aventuranças. Nelas, Jesus proclama “felizes”, ou seja, plenamente afortunados e realizados, todos aqueles que, aos olhos do mundo, são considerados perdedores ou sem sorte: os humildes, os que choram, os mansos, os que têm fome e sede de justiça, os puros no coração, os que promovem a paz. A eles Deus faz grandes promessas: serão saciados e consolados por Ele mesmo, serão herdeiros da terra e do Seu reino. Portanto, é uma verdadeira revolução cultural, que subverte a nossa visão, muitas vezes fechada e míope, que vê as pessoas dessa categoria como figuras marginais e insignificantes na luta pelo poder e pelo sucesso. “Felizes os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus.” Na visão da Bíblia, a paz é fruto da salvação que Deus realiza. É, portanto, antes de mais nada um dom de Deus. É uma característica do próprio Deus, que ama a humanidade e toda a criação com um coração de Pai e tem para todos um projeto de concórdia e de harmonia. Por isso, quem labuta pela paz demonstra uma certa “semelhança” com Ele, como um filho. Chiara Lubich escreve: Somente quem tem a paz dentro de si pode levá-la aos outros. É preciso levar a paz, antes de tudo, através dos próprios atos de cada momento, vivendo em pleno acordo com Deus e com sua vontade. (…) “… serão chamados filhos de Deus”. Receber um nome significa tornar-se o que esse nome exprime. Paulo chamava Deus de “o Deus da paz”. E quando saudava os cristãos dizia: “o Deus da paz esteja com todos vós”. Os que promovem paz manifestam seu parentesco com Deus, agem como filhos de Deus, dão testemunho de Deus que (…) imprimiu na sociedade humana a ordem, cujo fruto é a paz. Viver em paz não é simplesmente viver sem conflito; também não é ter uma vida tranquila, fazendo certas concessões no que se refere aos valores, a fim de ser aceito sempre e de qualquer maneira. Pelo contrário: é um estilo de vida refinadamente conforme ao Evangelho, que exige a coragem de assumir escolhas contracorrente. “Promover a paz” é sobretudo criar ocasiões de reconciliação na própria vida e na vida dos outros, em todos os níveis: em primeiro lugar com Deus e depois com aquele que está ao nosso lado na família, no trabalho, na escola, na paróquia e nas associações, nas relações sociais e internacionais. É, portanto, uma forma de amor ao próximo decisiva, uma grande obra de misericórdia que revigora todos os relacionamentos. Foi isso que Jorge, um adolescente da Venezuela, decidiu fazer na sua escola: “Um dia, depois das aulas, percebi que meus colegas estavam se organizando para uma manifestação de protesto, durante a qual estavam decididos a usar a violência, incendiando carros e jogando pedras. Pensei logo que aquela atitude não estaria em sintonia com o meu estilo de vida. Propus então aos colegas que escrevêssemos uma carta à diretoria da escola. Assim poderíamos requisitar de um modo diferente as mesmas coisas que eles pensavam conseguir com a violência. Junto com alguns deles redigimos a carta e a entregamos ao diretor”. “Felizes os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus.” Nestes tempos vem em relevo de modo particular a urgência de promover o diálogo e o encontro entre pessoas e grupos com história, tradições culturais, pontos de vista extremamente diferentes, demonstrando que se valoriza e se aceita essa variedade e riqueza. Como disse recentemente o Papa Francisco: “A paz constrói-se no coro das diferenças. (…) E a partir destas diferenças aprendemos do outro, como irmãos (…). O nosso Pai é Uno, nós somos irmãos. Amemo-nos como irmãos. E se discutirmos entre nós, que seja como irmãos, que se reconciliam imediatamente, que voltam a ser sempre irmãos” . Também podemos nos empenhar em conhecer as sementes de paz e fraternidade que já tornam nossas cidades mais abertas e humanas. É importante ocupar-se delas e fazê-las crescer. Assim estaremos contribuindo para remediar as fraturas e os conflitos que as atravessam. Letizia Magri

Palavra de Vida – Maio de 2018

O apóstolo Paulo escreve aos cristãos da região da Galácia. Eles tinham acolhido por meio dele o anúncio do Evangelho, mas agora ele os recrimina por não terem compreendido o significado da liberdade cristã. Para o povo de Israel a liberdade foi um dom de Deus: Ele o arrancou da escravidão no Egito, conduziu-o rumo a uma nova terra e estabeleceu com ele um pacto de fidelidade recíproca. Paulo afirma com força que, assim como a liberdade foi um dom de Deus, a liberdade cristã é um dom de Jesus. Com efeito, é Ele que nos doa a possibilidade de nos tornarmos, Nele e como Ele, filhos de Deus, que é Amor. Também nós, imitando o Pai como Jesus nos ensinou e mostrou com a sua vida, podemos aprender a mesma atitude de misericórdia para com todos, colocando-nos a serviço dos outros. Para Paulo, essa aparente contradição da “liberdade de servir” é possível devido ao Espírito, o dom que Jesus fez à humanidade com a sua morte na cruz. Realmente, é o Espírito Santo que nos dá a força de sair da prisão do nosso egoísmo – com a sua carga de divisões, injustiças, traições, violência – e nos guia para a verdadeira liberdade. O fruto do Espírito, porém, é: amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, lealdade, mansidão, domínio próprio. A liberdade cristã, além de ser um dom, é também um compromisso. Antes de mais nada, é o compromisso de acolher o Espírito Santo no nosso coração, abrindo espaço para Ele e reconhecendo no nosso íntimo a sua voz. Chiara Lubich escrevia: […] Antes de tudo, devemos nos tornar cada vez mais conscientes da presença do Espírito Santo em nós. Carregamos no nosso íntimo um imenso tesouro, mas não nos damos conta disso suficientemente. […] E ainda, para que possamos ouvir e seguir a sua voz, devemos dizer “não” […] às tentações, cortando sem hesitar as sugestões que elas trazem; “sim” aos deveres que Deus nos confiou; “sim” ao amor para com todos os próximos; “sim” às provações e dificuldades que encontramos… Se agirmos assim, o Espírito Santo nos guiará, dando à nossa vida cristã aquele sabor, aquele vigor, aquela força de atração, aquela luminosidade que ela não pode deixar de ter se for autêntica. Então também quem está ao nosso lado vai perceber que não somos somente filhos de nossa família humana, mas filhos de Deus. De fato: o Espírito Santo nos convoca a deixarmos de fazer de nós mesmos o centro das nossas preocupações, para sabermos acolher, escutar, compartilhar os bens materiais e espirituais, perdoar, ou ainda, cuidarmos das pessoas mais diversas na variedade de situações que vivemos todos os dias. E essa atitude nos faz experimentar o típico fruto do Espírito Santo: o crescimento da nossa própria humanidade rumo à verdadeira liberdade. Com efeito, faz vir à tona e florescer em nós capacidades e recursos que, se vivermos fechados em nós mesmos, ficarão para sempre sepultados e desconhecidos. Portanto, cada ação nossa é uma ocasião, que não pode ser desperdiçada, para dizer “não” à escravidão do egoísmo e “sim” à liberdade do amor. O fruto do Espírito, porém, é: amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, lealdade, mansidão, domínio próprio. Quem acolhe no coração a ação do Espírito Santo contribui também para a construção de relações humanas positivas, por meio de todas as suas atividades do dia a dia, tanto familiares como sociais. Carlo Colombino, empresário, marido e pai, tem uma empresa no norte da Itália . Dos sessenta funcionários, cerca de quinze não são italianos e alguns deles têm um histórico de experiências dramáticas. Numa entrevista, ele contou ao jornalista: “Também o emprego pode e deve favorecer a integração. Eu trabalho em processos de coleta e reciclagem de materiais de construção; tenho responsabilidade para com o meio ambiente, o território no qual vivo. Alguns anos atrás, a crise bateu duro. O que fazer: salvar a empresa ou as pessoas? Tivemos de dispensar alguns funcionários, falamos com eles, procuramos as soluções menos dolorosas, mas foi dramático, coisa de tirar o sono. É um trabalho que posso fazer bem feito ou pela metade; eu tento fazê-lo do melhor modo possível. Acredito que as ideias contagiam positivamente. Uma empresa que pensa só no faturamento, nas contas, tem pouca chance de futuro, porque no centro de toda atividade deve estar o homem. Sou uma pessoa de fé e tenho a convicção de que não é uma utopia fazer a síntese entre empresa e solidariedade”. Portanto, somos convidados a atuar com coragem o nosso chamado pessoal para a liberdade, no ambiente em que vivemos e trabalhamos. Desse modo o Espírito Santo poderá atingir e renovar também a vida de muitas outras pessoas ao nosso redor, conduzindo a história para horizontes de “alegria, paz, paciência, amabilidade…”. Letizia Magri

Palavra de Vida – Abril de 2018

Esta frase de Jesus faz parte de um longo diálogo com a multidão que viu o sinal da multiplicação dos pães e continua a segui-lo, talvez somente para receber Dele ainda alguma ajuda material. Jesus, partindo das necessidades imediatas deles, aos pouquinhos vai orientando sua pregação para o sentido da sua missão: Ele foi enviado pelo Pai a fim de dar aos homens a verdadeira vida, a vida eterna, ou seja, a mesma vida de Deus, que é Amor. Ele, caminhando pelas estradas da Palestina, “se faz um” com todos os que encontra: não deixa de atender a quem pede alimento, água, cura, perdão. Ainda mais: compartilha todas as necessidades e dá nova esperança a cada um que encontra. Por isso Ele pode pedir depois a cada um desses um passo a mais, pode convidar seus ouvintes a acolher a vida que nos oferece, a entrar em relação com Ele, a prestar-lhe confiança, a ter fé Nele. Comentando justamente esta frase do Evangelho, Chiara Lubich escreveu: Com estas palavras Jesus responde à aspiração mais profunda do homem. O homem foi criado para a vida; procura-a com todas as suas forças. Mas o seu grande erro está em procurá-la nas criaturas, nas coisas criadas, as quais, sendo limitadas e passageiras, não podem dar uma verdadeira resposta às suas aspirações. (…) Somente Jesus pode saciar a fome do ser humano. Somente Ele pode nos dar a vida que não morre, porque Ele é a Vida. “Em verdade, em verdade, vos digo: quem crê tem a vida eterna.” A fé cristã é acima de tudo o fruto de um encontro pessoal com Deus, com Jesus, que não deseja outra coisa senão fazer-nos participar da sua própria vida. Ter fé em Jesus significa aderirmos ao seu exemplo, não vivendo encurvados sobre nós mesmos, sobre os nossos medos, sobre os nossos programas limitados mas, pelo contrário, dirigindo a nossa atenção para as necessidades dos outros: necessidades concretas como a pobreza, a doença, a marginalização, mas sobretudo a necessidade de ser escutado, de ter com quem partilhar, de sentir-se acolhido. Desse modo poderemos comunicar aos outros, com a nossa vida, o mesmo amor recebido como dom de Deus. E, para fortificar-nos na nossa caminhada, Ele nos deixou também o grande dom da Eucaristia, sinal de um amor que doa seu próprio ser para fazer viver o outro. “Em verdade, em verdade, vos digo: quem crê tem a vida eterna.” Quantas vezes, durante o nosso dia, demonstramos confiança diante das pessoas ao nosso redor: o professor que dá instrução aos nossos filhos, o taxista que nos leva ao nosso destino, o médico que cuida da nossa saúde… Não é possível viver sem confiança. E esta é consolidada por meio do conhecimento, da amizade, do relacionamento que se aprofunda com o tempo. Então, como viveremos a Palavra de Vida deste mês? Continuando o seu comentário, Chiara nos convida a reavivar a nossa escolha e adesão total a Jesus: (…) E já sabemos qual é o caminho para chegar lá: (…) aplicar-nos de modo especial a colocar em prática aquelas palavras de Jesus que nos são trazidas à mente pelas várias circunstâncias da vida. Por exemplo: encontramos um próximo? “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (cf. Mt 22,39). Acontece algo que nos faz sofrer? “Se alguém quer vir após mim… tome a sua cruz” (cf. Mt 16,24), etc. Desse modo, as palavras de Jesus se iluminarão e Ele entrará em nós com a sua verdade, a sua força e o seu amor. A nossa vida será cada vez mais “viver com Ele”, “fazer tudo juntamente com Ele”. E até mesmo a morte física, que um dia nos espera, não poderá mais nos assustar, porque com Jesus já teve início em nós a verdadeira vida, a vida que não morre. Letizia Magri

Palavra de Vida – Março de 2018

O rei e profeta Davi, autor deste salmo, sofre o peso da angústia e da pobreza e se sente em perigo diante de seus inimigos. Ele gostaria de encontrar um caminho para sair dessa situação dolorosa, mas experimenta a sua incapacidade. Então levanta os olhos para o Deus de Israel, que desde sempre protege o seu povo, e o invoca com esperança para que venha em seu socorro. A Palavra de Vida deste mês salienta, em especial, o seu pedido de conhecer os caminhos e as veredas do Senhor, como luz para as próprias escolhas, sobretudo nos momentos difíceis. “Mostra-me, Senhor os teus caminhos, ensina-me tuas veredas.” Também a nós acontece que tenhamos de fazer escolhas decisivas para a nossa vida, que comprometem a consciência e toda a nossa pessoa. Às vezes temos uma série de caminhos possíveis diante de nós e ficamos incertos sobre qual é o melhor; outras vezes temos a impressão de que não temos nenhuma saída… Procurar um caminho para prosseguir é algo profundamente humano, e às vezes precisamos pedir a ajuda de alguém que consideramos amigo. A fé cristã nos faz entrar na amizade com Deus: Ele é o Pai que nos conhece intimamente e ama acompanhar-nos no nosso caminho. Todos os dias Ele convida cada um de nós a entrar livremente em uma aventura, tendo como bússola o amor desinteressado a Ele e a todos os seus filhos. Os caminhos, as veredas são também ocasiões de encontro com outros viajantes, de descobertas de novas metas a serem compartilhadas. O cristão não é jamais uma pessoa isolada: ele faz parte de um povo em caminho rumo à realização do projeto que Deus Pai preparou para a humanidade e que Jesus nos revelou com suas palavras e com toda a sua vida: a fraternidade universal, a civilização do amor. “Mostra-me, Senhor os teus caminhos, ensina-me tuas veredas.” E os caminhos do Senhor são ousados, às vezes beirando o limite das nossas possibilidades, como pontes de corda esticadas entre paredões rochosos. Eles desafiam nossos hábitos egoístas, os preconceitos, a falsa humildade e nos abrem horizontes de diálogo, encontro, empenho pelo bem comum. E sobretudo pedem de nós um amor sempre novo, construído sobre a rocha do amor e da fidelidade de Deus por nós, capaz de chegar até o perdão. Perdão que é a condição irrenunciável para construir relações de justiça e de paz entre as pessoas e entre os povos. Até mesmo o testemunho de um gesto de amor simples, mas autêntico, pode iluminar o caminho nos corações dos outros. Na Nigéria, durante um encontro no qual jovens e adultos podiam partilhar as experiências pessoais de amor vivido conforme o Evangelho, Maya, uma menina, contou: “Ontem, enquanto estávamos jogando, um menino me empurrou e caí. Ele me disse “desculpe!” e eu o perdoei”. Essas palavras abriram o coração de um homem cujo pai tinha sido assassinado pelo Boko Haram: “Olhei para Maya. Se ela, que é uma menina, é capaz de perdoar, significa que também eu posso fazer a mesma coisa”. “Mostra-me, Senhor os teus caminhos, ensina-me tuas veredas.” Se quisermos confiar-nos a um guia seguro no nosso caminho, lembremo-nos de que Jesus disse de si mesmo: “Eu sou o Caminho…” (Jo 14,6). Chiara Lubich, dirigindo-se aos jovens reunidos em Santiago de Compostela para a Jornada Mundial da Juventude de 1989, encorajou-os com estas palavras: (…) Definindo a si mesmo como “o Caminho”, Jesus quis dizer que devemos caminhar como Ele caminhou (…). Pode-se dizer que o caminho percorrido por Jesus tem um nome: amor. (…) O amor que Jesus viveu e nos deixou é um amor especial e único. (…) É o próprio amor que arde em Deus. (…) Mas, amar a quem? Amar a Deus é certamente o nosso primeiro dever. Depois: amar a cada próximo. (…) Da manhã até à noite, todo relacionamento com os outros deve ser vivido com esse amor. Em casa, na universidade, no trabalho, nas quadras de esporte, nas férias, na igreja, pelas ruas, devemos colher as diversas ocasiões para amar os outros como a nós mesmos, reconhecendo Jesus neles, não esquecendo ninguém; mais ainda, sendo os primeiros a amar a todos. (…) Entrar o mais profundamente possível no coração do outro; entender realmente seus problemas, suas exigências, seus fracassos e também suas alegrias, para poder compartilhar tudo com ele. (…) De certo modo, tornar-se o outro. Como Jesus que, sendo Deus, por amor se fez homem como nós. Assim o próximo se sente compreendido e aliviado, porque encontra alguém que carrega com ele os seus pesos, as suas aflições, e partilha com ele as suas pequenas felicidades. “Viver o outro”, “viver os outros”: isso é um grande ideal, isso é superlativo (…). Letizia Magri

Palavra de Vida – Fevereiro de 2018

  O apóstolo João escreveu o Livro do Apocalipse para consolar e encorajar os cristãos do seu tempo, diante das perseguições que naquele período se haviam multiplicado. Esse livro, rico de imagens simbólicas, revela na realidade a visão de Deus sobre a história e a consumação final: a Sua vitória definitiva sobre todo o poder do mal. Esse livro é a celebração de uma meta, de um final pleno e glorioso destinado por Deus para a humanidade. É a promessa da libertação de todo sofrimento: O próprio Deus “enxugará toda lágrima (…) e não haverá mais morte, nem luto, nem grito, nem dor” (cf. Ap 21,4). “A quem tiver sede, eu darei, de graça, da fonte da água vivificante.” [1] Esta perspectiva vale também na atualidade, para todo aquele que já começou a viver na procura sincera de Deus e da sua Palavra que nos manifesta os Seus projetos; para quem sente arder em si a sede de verdade, de justiça, de fraternidade. Diante de Deus, sentir sede, estar à procura, é uma característica positiva, um bom início; e Ele promete até mesmo a fonte da vida. A água que Deus promete é oferecida gratuitamente. Portanto, é oferecida não só a quem procura ser agradável a Ele por meio de seus próprios esforços, mas a todo aquele que, sentindo o peso da própria fragilidade, se abandona ao Seu amor, na certeza de ser curado e de encontrar assim a vida plena, a felicidade. Perguntemo-nos então: nós temos sede de quê? E qual a fonte onde vamos matar a sede? “A quem tiver sede, eu darei, de graça, da fonte da água vivificante.” Talvez tenhamos sede de ser aceitos, de termos um lugar na sociedade, de realizar os nossos projetos… Aspirações legítimas que, no entanto, podem nos levar aos poços poluídos do egoísmo, do fechamento nos interesses pessoais, chegando até à prepotência diante dos mais fracos. As populações que sofrem pela escassez de poços com água potável conhecem muito bem as consequências desastrosas da falta desse recurso, indispensável para garantir vida e saúde. E, no entanto, cavando mais a fundo no nosso coração, encontraremos outra sede, que o próprio Deus colocou ali: viver a vida como um dom recebido e que deve ser doado. Procuremos, então, a água na fonte pura do Evangelho, libertando-nos daqueles detritos que talvez a estejam cobrindo e, da nossa parte, deixemo-nos transformar em mananciais de amor generoso, acolhedor e gratuito para os outros, sem nos refrearmos diante das inevitáveis dificuldades do caminho. “A quem tiver sede, eu darei, de graça, da fonte da água vivificante.” Ainda mais: quando, entre cristãos, vivemos o mandamento do amor mútuo, estamos permitindo uma intervenção toda especial de Deus, como escreveu Chiara Lubich: “Cada momento no qual procuramos viver o Evangelho é uma gota daquela água viva que bebemos. Cada gesto de amor ao nosso próximo é um gole daquela água. Sim, porque aquela água tão viva e preciosa tem isso de especial: jorra no nosso coração cada vez que o abrimos ao amor para com todos. É uma fonte – a fonte de Deus – que libera água na mesma medida em que seu veio profundo serve para saciar a sede dos outros, com pequenos ou grandes atos de amor. (…) E se continuarmos a doar, esta fonte de paz e de vida dará água cada vez mais abundante, sem jamais se esgotar. Existe também outro segredo que Jesus nos revelou, uma espécie de poço sem fundo onde podemos nos abeberar. Quando dois ou três se unem em seu nome, amando-se com o próprio amor de Jesus, Ele está no meio deles (cf. Mt 18,20). É então que nos sentimos livres, plenos de luz; e torrentes de água viva jorram do nosso seio (cf. Jo 7,38). É a promessa de Jesus que se realiza, porque é Dele mesmo, presente em nosso meio, que jorra aquela água que sacia por toda a eternidade.”[2] Letizia Magri [1] Para o mês de fevereiro propomos esta Palavra de Deus, escolhida por um grupo de irmãos e irmãs de várias Igrejas na Alemanha, a ser vivida durante o ano todo. [2] Cf. C. Lubich, Fonte de água viva, Revista Cidade Nova nº 3/2002.