Movimento dos Focolares

julho de 2009

Você é jovem e sente a exigência de uma vida ideal, sem meias medidas, radical? Ouça o que diz Jesus. Ninguém nesse mundo lhe pede tanto como Ele. Você está tendo a oportunidade de demonstrar sua fé e sua generosidade, seu heroísmo.
Você é adulto e anseia por uma existência séria, comprometida, embora sem perder a segurança? Ou então já é idoso e deseja viver seus últimos anos confiando-se a alguém que não engana, sem preocupações desgastantes? Também para você é válida essa frase de Jesus.
De fato, no Evangelho ela é precedia por uma série de recomendações em que Jesus nos convida a não nos preocuparmos com o que deveremos comer e vestir, exatamente como as aves do céu, que não semeiam, e os lírios dos campos, que não tecem. Você deve, portanto, eliminar do seu coração toda e qualquer agitação com as coisas terrenas, porque o amor do Pai por você é bem maior do que pelas aves e pelas flores, e Ele mesmo cuida de você.
É por isso que lhe diz:

“Vendei vossos bens e dai o dinheiro em esmola. Fazei para vós bolsas que não se estraguem, um tesouro no céu que não se acabe; ali o ladrão não chega nem a traça corrói”.

O Evangelho, no seu conjunto e em cada uma de suas palavras, é um pedido aos homens de tudo aquilo que são e que têm.
Antes da vinda de Cristo, Deus não pedia tanto assim. O Antigo Testamento considerava a riqueza terrena como um bem, uma bênção de Deus. E, se ele prescrevia dar esmola aos necessitados, era para obter a benevolência do Todo-poderoso.
Mais tarde, no judaísmo, a idéia da recompensa na outra vida já se tornara mais comum. De fato, um rei respondeu da seguinte maneira a alguém que o acusava de esbanjar os seus bens: “Meus antepassados acumularam tesouros para essa terra, enquanto que eu acumulei tesouros para o céu”.
Ora, a originalidade da frase de Jesus está no fato de que Ele pede a você o dom total, pede-lhe tudo. Quer que você seja um filho livre, sem preocupações em relação ao mundo, um filho que se apoia somente nele.
Ele sabe que a riqueza é um obstáculo enorme para você, pois ela ocupa o seu coração, enquanto Ele quer ter todo esse espaço disponível para si.
Daí, portanto, a recomendação:

“Vendei vossos bens e dai o dinheiro em esmola. Fazei para vós bolsas que não se estraguem, um tesouro no céu que não se acabe; ali o ladrão não chega nem a traça corrói”.

E se você não pode se desfazer materialmente dos bens, devido a obrigações para com outras pessoas, ou porque a sua posição o obriga a se apresentar de modo mais requintado, isso não o dispensa de se desapegar espiritualmente dos bens e de ser um simples administrador deles. Assim, ao mesmo tempo que lida com a riqueza, você ama os outros e, administrando-a em função deles, prepara um tesouro que a traça não corrói e o ladrão não rouba.
Mas, você tem certeza de que deve ficar com todos os seus bens? Ouça a voz de Deus que fala no seu íntimo; peça conselho, se não souber decidir. Você verá quantas coisas supérfluas encontrará entre os seus bens. Não fique com elas. Dê, dê para quem não possui. Coloque em prática a frase de Jesus: “Vendei… e dai”. Assim você encherá as “bolsas que não se estragam”.
É lógico que, para viver no mundo, é necessário interessar-se também pelo dinheiro, também pelas coisas materiais. Mas Deus quer que você se ocupe e não que se preocupe. Ocupe-se daquele mínimo que é indispensável para viver de acordo com a sua situação, conforme as suas condições. Quanto ao mais:

“Vendei vossos bens e dai o dinheiro em esmola. Fazei para vós bolsas que não se estraguem, um tesouro no céu que não se acabe; ali o ladrão não chega nem a traça corrói”.

O papa Paulo VI era realmente pobre . Uma demonstração disso foi o modo como ele desejou ser sepultado: num pobre caixão, “na terra nua”. Pouco antes de morrer havia dito a seu irmão: “Faz tempo que eu preparei as malas para aquela viagem tão exigente”.
Pois bem, é isso que você deve fazer: preparar as malas.
Nos tempos de Jesus talvez as malas se chamassem de bolsas. Prepare-as dia após dia. Procure enchê-las o mais que puder com aquilo que pode ser útil para os outros. Você só tem realmente aquilo que dá. Lembre-se de quanta fome existe no mundo. Quanto sofrimento. Quantas necessidades…
Ponha nessas malas também todo gesto de amor, toda obra em favor dos irmãos.
Faça essas ações por Ele. Diga-Lhe, do fundo do coração: por Ti. E faça-as bem, com perfeição. Elas estão destinadas ao céu, permanecerão para a eternidade.

Chiara Lubich

Esta Palavra de Vida foi publicada originalmente em março de 1979.

junho de 2009

Você já imaginou um ramo separado da videira? Não tem futuro, não tem mais nenhuma esperança, não tem fecundidade e o seu fim não pode ser outro senão secar e ser queimado.
Pense a que morte espiritual você está destinado, como cristão, se não permanecer unido a Cristo. É assustador! É a esterilidade completa, mesmo que você trabalhe o dia inteiro ou que se considere útil à humanidade, mesmo que os amigos o elogiem e que os seus bens terrenos aumentem, ou até que faça sacrifícios consideráveis. Tudo isso pode ter um sentido para você aqui na terra, mas não tem nenhum significado para Cristo e para a vida eterna. E é essa a vida que mais importa.

“Eu sou a videira e vós, os ramos. Aquele que permanece em mim, como eu nele, esse dá muito fruto; pois sem mim, nada podeis fazer.”

De que modo você pode permanecer em Cristo e Cristo permanecer em você? Antes de mais nada é preciso que você acredite em Cristo. Contudo, isso não basta. A sua fé deve influir na realidade concreta de sua vida. Ou seja, você deve viver em conformidade com essa fé, colocando em prática as palavras de Jesus.
Ainda assim, Cristo não sentirá sua união com ele, se você não se esforçar para estar inserido na sua comunidade eclesial, na sua Igreja local.

“Eu sou a videira e vós, os ramos. Aquele que permanece em mim, como eu nele, esse dá muito fruto; pois sem mim, nada podeis fazer.”

“Aquele que permanece em mim, como eu nele”.
Percebeu como Cristo fala de uma unidade sua com ele, mas também de uma unidade dele com você? Se você está unido a ele, ele está em você, está presente no íntimo do seu coração. E daí nasce um relacionamento e um diálogo de amor mútuo, uma colaboração entre Jesus e você, discípulo dele. 
E eis a consequência: dar muito fruto, exatamente como um ramo bem unido à videira que produz saborosos cachos de uva.
“Muito fruto” significa que você será dotado de uma verdadeira fecundidade apostólica, ou seja, da capacidade de abrir os olhos de muitas pessoas para as palavras incomparáveis e revolucionárias de Cristo, e estará em condições de dar a essas pessoas a força de se nortear por elas.
“Muito fruto” significa ainda que você saberá suscitar, ou mesmo desenvolver, obras pequenas ou grandes para atender às mais variadas necessidades do mundo, de acordo com os dons que Deus lhe deu.

“Eu sou a videira e vós, os ramos. Aquele que permanece em mim, como eu nele, esse dá muito fruto; pois sem mim, nada podeis fazer.”

Todavia, “muito fruto” não significa apenas o bem espiritual ou material dos outros, mas também o seu bem pessoal.
Também o crescimento interior, também a sua santificação pessoal depende da sua união com Cristo.
Santificar-se. Nos tempos em que vivemos, talvez essa expressão lhe parecerá um anacronismo, uma coisa inútil, ou uma utopia.
Mas não é assim. O tempo presente passa e, com ele, passam também as visões parciais, errôneas, contingentes. Permanece a verdade. Dois mil anos atrás, Paulo, o Apóstolo, dizia claramente que a santificação é vontade de Deus para todos os cristãos. O Concílio Vaticano II disse que todo o povo de Deus é chamado à santidade.
Trata-se de opiniões abalizadas.
Portanto, procure colher, na sua vida, também o “muito fruto” da santificação, que será possível somente se você estiver unido a Cristo.

“Eu sou a videira e vós, os ramos. Aquele que permanece em mim, como eu nele, esse dá muito fruto; pois sem mim, nada podeis fazer.”

Você notou que Jesus não lhe pede diretamente o fruto, mas que o considera uma consequência do fato de “permanecer” unido a ele?
Pode ser que também você caia no erro em que se encontram muitos cristãos: ativismo, ativismo, obras, obras para o bem dos outros, sem terem o tempo de verificar se estão em tudo e por tudo unidos a Cristo.
É um erro. Tem-se a ilusão de produzir frutos, mas não são esses os que Cristo em você, Cristo com você poderia produzir.
Para produzir o fruto duradouro, o que tem a marca de Deus, é preciso permanecer unido a Cristo. E, quanto mais você permanecer unido a ele, mais frutos produzirá.
De fato, se você conhece pessoas que vivem dessa maneira, vê que elas, talvez com um simples sorriso, com uma palavra, com o habitual comportamento cotidiano, com sua atitude diante das diversas situações da vida, tocam os corações, levando-os até mesmo a encontrar Deus.

E foi o que aconteceu com os santos. Nós também não devemos desanimar. Também os cristãos comuns podem produzir fruto. Veja, por exemplo, esse fato:
Estamos em Portugal. Maria do Socorro entrou na faculdade, após terminar o ensino médio. O ambiente é difícil. Muitos de seus colegas lutam, conforme a própria ideologia, e cada um quer levar consigo os estudantes que ainda não assumiram nenhuma posição política.
Socorro sabe muito bem qual é o seu caminho, embora seja difícil explicá-lo: seguir Jesus e permanecer unida a ele. É tachada de sem posição e sem ideais pelos seus colegas, que não conhecem nada de suas convicções. Algumas vezes, ela sente respeito humano, sobretudo quando entra na igreja. Mas não se desencoraja, porque sabe que deve permanecer unida a Jesus.

Aproxima-se o Natal. Socorro percebe que alguns dos colegas não podem ir festejar essa data com os familiares, pois moram muito longe, e então propõe aos demais colegas que ofereçam juntos um presente aos que não podem viajar. Surpreendemente, todos aceitam a proposta.
Algum tempo depois acontecem as eleições para representante de curso e, para sua grande surpresa, justamente Socorro é eleita. Mas a surpresa é ainda maior quando lhe dizem: “É lógico que a eleita tenha sido você! É a única que tem uma posição bem definida, que sabe o que quer e o que fazer para realizá-la”. Alguns de seus colegas se interessaram pelo seu ideal e decidem viver da mesma forma.
Um bom fruto da perseverança de Maria do Socorro em permanecer unida a Jesus.

                                       Chiara Lubich

 

Maio de 2009

Edite, uma jovem cega de nascença, vive numa instituição para deficientes visuais. Ali, o capelão, paralítico, não consegue mais celebrar a Missa e por esse motivo foi proposto retirar Jesus Eucaristia da casa. Edite pede que o bispo autorize a permanência da Eucaristia porque, essa é a única luz em suas trevas. E ela consegue não só essa permissão mas também a licença para distribuir ela mesma a comunhão para o próprio sacerdote e para as outras companheiras que vivem com ela.
Sempre querendo ser útil, Edite consegue ainda dispor de um programa diário de várias horas numa rádio local. Ela se utiliza desse meio para oferecer aquilo que tem de melhor – conselhos, pensamentos, esclarecimentos de ordem moral – a fim de encorajar com a sua experiência as pessoas que sofrem. Edite… e poderíamos contar ainda outras tantas coisas a seu respeito. Ela é cega e foi o sofrimento que a iluminou.
Mas teríamos ainda muitos outros exemplos de outras pessoais para citar! O bem existe mas não faz estardalhaço.
Edite vive concretamente como cristã. Ela sabe que recebeu dons, como cada um de nós, e os coloca a serviço dos outros.
Sim, porque a palavra “dom” (ou “carisma” como se costuma dizer, usando a palavra de origem grega) não exprime somente as graças com as quais Deus favorece aqueles que devem governar a Igreja. Nem tampouco se refere somente àqueles dons extraordinários que ele julga oportuno mandar diretamente a algum fiel, para o bem de todos, quando pensa ser necessário remediar situações extraordinárias na Igreja ou evitar perigos graves, para os quais não são suficientes as instituições eclesiásticas. Esses dons podem ser a sabedoria, a ciência, o dom dos milagres, ou o de falar línguas, o carisma de suscitar uma nova espiritualidade na Igreja e outros mais.
Os dons ou carismas não são apenas esses, mas também outros, mais simples, que muitas pessoas possuem e que se manifestam através do bem que realizam. O Espírito Santo trabalha.
Além disso, podem ser chamados de dons ou carismas também os talentos naturais. Todo mundo, portanto, os possui. Também você.
Como usá-los, então? Você deve pensar em como fazê-los render.
Eles lhe foram dados não só para você, mas, justamente, para o bem de todos.

“Como bons administradores da multiforme graça de Deus, cada um coloque à disposição dos outros o dom que recebeu”

É imensa a variedade dos dons. Cada um de nós possui o seu e, portanto, tem a sua função específica na comunidade.
Vejamos, então, qual é o seu caso?
Você tem algum diploma? Nunca pensou em colocar à disposição algumas horas da semana para ensinar a quem precisa de ajuda, ou não tem os meios para estudar?
Você é particularmente generoso? Nunca pensou em mobilizar forças sociais ainda sadias em benefício de pessoas pobres e marginalizadas, despertando assim no coração de muita gente o senso da dignidade humana?

Você tem um jeito todo especial para consolar as pessoas? Ou então para cuidar da casa, para cozinhar, para confeccionar de modo econômico roupas úteis ou para fazer trabalhos manuais?  Olhe ao seu redor e veja quem precisa de você.
Para mim é doloroso ver que existe gente que se ocupa em descobrir e ensinar maneiras de preencher o tempo livre. Nós, cristãos, não teremos tempo livre enquanto houver na terra um doente, um faminto, um encarcerado, um ignorante, um desorientado, um triste, um drogado, um órfão, uma viúva…
E você também não acha que a oração é um dom formidável a ser utilizado, uma vez que em cada momento você pode dirigir-se a Deus, presente em toda parte?

“Como bons administradores da multiforme graça de Deus, cada um coloque à disposição dos outros o dom que recebeu”

Você já imaginou uma Igreja em que todos os cristãos, desde as crianças até os adultos, fizessem todo o possível para colocar à disposição dos outros os seus dons?
O amor mútuo haveria de adquirir uma tamanha consistência, uma tão grande amplitude e relevo, que poderia levar os outros a reconhecer nisso quem são os discípulos de Cristo.
E então, se é esse o resultado, por que não fazer de tudo para alcançá-lo? 

Chiara Lubich

Abril de 2009

Já observou que geralmente você não vive, mas vai levando a vida na espera de um “depois” que lhe traria a “felicidade”?
Na verdade, um “depois-feliz” realmente chegará, mas não será aquele que você espera.
Um instinto divino faz você esperar por alguém ou por alguma coisa que possa satisfazê-lo. Talvez, então, você pense nos dias de festa, ou no tempo livre, ou num encontro especial… Essas coisas, porém, não o deixam satisfeito, ou, pelo menos, não plenamente. E volta a monotonia de uma existência vivida sem convicção, sempre na expectativa de alguma coisa.
A verdade é que, entre os fatores que compõem a sua vida, existe um do qual ninguém pode escapar: é o encontro frente a frente com Deus que vem. É essa a “felicidade” pela qual você inconscientemente anseia, pois você existe para ser feliz. E a felicidade plena somente Deus lhe pode dar.
E Jesus, conhecendo o quanto é difícil – para você e para mim – encontrar o caminho que conduz a ela, nos adverte:

“Vigiai, portanto, pois não sabeis em que dia virá o vosso Senhor.”

Vigiai. Estai atentos. Permanecei acordados.
Porque, se no mundo há muitas coisas que podem ou não acontecer, existe uma sobre a qual não resta a menor dúvida: um dia também você vai morrer. E isso para o cristão significa apresentar-se diante de Cristo que vem.
Pode ser que você seja como a maioria das pessoas, que esquecem a morte deliberadamente, de propósito. Você tem medo daquele momento e vive como se ele nunca fosse chegar. Diz com a sua vida terrena, com o apego cada vez maior a ela: a morte me amedronta, portanto não existe. Mas esse momento chegará. Porque Cristo vem com certeza.

“Vigiai, portanto, pois não sabeis em que dia virá o vosso Senhor.”

Com essas palavras, Jesus quer referir-se à sua vinda no último dia. Assim como Ele subiu ao céu em meio aos apóstolos, da mesma maneira haverá de voltar.
Todavia, essas palavras querem exprimir também a vinda do Senhor no fim da vida de cada pessoa. Afinal, quando o homem morre, para ele o mundo terminou.
E uma vez que você não sabe se Cristo virá hoje, esta noite, amanhã, ou daqui a um ano ou mais, é preciso vigiar. Exatamente como aqueles que ficam acordados, por saberem que os ladrões virão saquear sua casa, mas desconhecem a hora.
E, se Jesus vem, quer dizer que esta vida é passageira. Por isso, ao invés de menosprezá-la você deve dar-lhe a máxima importância, deve preparar-se para esse encontro com uma vida digna. (…)

“Vigiai, portanto, pois não sabeis em que dia virá o vosso Senhor.”

Sem dúvida, é preciso que também você vigie. A sua vida não é apenas uma sucessão pacífica de ações. É também uma luta. E as mais variadas tentações, como a da vaidade, a do apego ao dinheiro, a da violência, as de caráter sexual, são os seus primeiros inimigos.
Se você vigiar sempre, não se deixará apanhar de surpresa. Mas somente quem ama vigia bem. Vigiar é próprio do amor. Quando se ama uma pessoa, o coração vigia sempre, e cada minuto transcorrido à sua espera é vivido em função dela.
É assim que se comporta uma esposa amorosa nas tarefas diárias ou quando prepara alguma coisa para o marido ausente: faz tudo em função do seu esposo. E quando ele chega, na saudação exultante com que ela o recebe, está presente toda a riqueza do trabalho do dia.
É assim que se comporta uma mãe, quando faz seu pequeno descanso enquanto assiste o filhinho doente. Ela dorme, mas o seu coração vigia.
É assim que se comporta quem ama Jesus. Faz tudo em função dele, encontra-o nas simples manifestações da sua vontade em cada momento, e o encontrará solenemente no dia em que Ele vier.
É o dia 3 de novembro de 1974.
Conclui-se, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, um encontro espiritual de 250 pessoas, sobretudo moças, muitas das quais provenientes da cidade de Pelotas.
O primeiro ônibus, com 45 pessoas, está partindo: muitos cantos, muita alegria. A certa altura da viagem, algumas jovens rezam juntas os mistérios dolorosos do terço e pedem a Nossa Senhora que as ajude a ser fiéis a Deus, até a morte.
Numa curva, por causa de um defeito mecânico, o ônibus sai da pista e rola num precipício de uns cinquenta metros de profundidade. Morrem seis moças.
Uma das sobreviventes diz: “Vi a morte de perto, mas não senti medo, porque Deus estava ali presente”.
E uma outra: “Quando percebi que podia locomover-me entre as ferragens, olhei para o céu estrelado e, ajoelhada entre os corpos das minhas amigas, rezei. Deus estava ali conosco…”.  O pai de uma das vítimas contou que a filha costumava dizer: “Morrer é uma coisa bacana, papai, a gente vai se encontrar com Jesus”.

“Vigiai, portanto, pois não sabeis em que dia virá o vosso Senhor.”

As jovens de Pelotas, porque amavam, vigiavam e, quando o Senhor veio, elas foram ao seu encontro com alegria.              

Chiara Lubich

Esta Palavra de Vida foi publicada originalmente em dezembro de 1978

MARÇO DE 2009

 

A coisa mais absurda que você pode observar neste mundo é, de um lado, a presença de homens desorientados, sempre em busca de alguma coisa, os quais, nas inevitáveis provações da vida, sentem a angústia das privações, a necessidade de ajuda e a sensação de orfandade; e, de outro lado, Deus, Pai de todos, que nada mais quer do que usar da sua onipotência para satisfazer os desejos e as necessidades de seus filhos.
É como o vazio que busca a plenitude. É como a plenitude que anseia pelo vazio. Mas, esse encontro não se realiza.
A liberdade de que o homem é dotado pode provocar também esse sofrimento.
Mas, Deus não deixa de ser Amor e aqueles que o reconhecem sabem disso.
Ouça o que diz Jesus:

“Se pedirdes ao Pai alguma coisa em meu nome, ele vos dará.”

Agora você pode considerar uma daquelas palavras cheias de promessas que, de vez em quando, Jesus repete no Evangelho. Com elas, ensina-lhe, com maior ou menor força e com diferentes explicações, como obter aquilo de que você necessita.
Só Deus pode falar assim. Para ele, tudo é possível. Todas as graças estão em poder dele: tanto as terrenas como as espirituais, tanto as possíveis como as impossíveis.
Mas, preste bem atenção.
Ele sugere como você deve apresentar-se ao Pai para fazer o seu pedido. Ele diz: “Em meu nome”.
Se você tem um pouco de fé, essas três breves palavras devem abrir-lhe perspectivas enormes.
Veja só: Jesus, que viveu aqui entre nós, conhece as infinitas necessidades de cada pessoa e também as de você, e se compadece de nós. Por isso, no que diz respeito à oração, ele veio em nossa ajuda e é como se lhe dissesse: “Procure o Pai em meu nome e peça-lhe isto, isso e mais aquilo”. Ele sabe que o Pai não pode dizer não. Ele é seu filho, e é Deus.
Não se apresente em seu próprio nome ao Pai, mas em nome de Cristo. Lembre-se de que um mensageiro não sofre penalidade.
Dirigindo-se ao Pai em nome de Cristo, você desempenha a função de um simples mensageiro.
Os negócios são tratados entre as partes interessadas.
É assim que muitos cristãos fazem a própria oração. E eles podem testemunhar as inúmeras graças que receberam. Graças que revelam dia após dia a paternidade de Deus que os acompanha, atenta e amorosa.
 

“Se pedirdes ao Pai alguma coisa em meu nome, ele vos dará”

A esta altura pode ser que você me diga: “Mas eu pedi, tornei a pedir em nome de Cristo, e nada obtive”.
Pode ser. Eu lhe disse acima que Jesus, em outras passagens do Evangelho, nos convida a pedir, e dá outras explicações que talvez lhe tenham passado despercebidas.
Ele disse, por exemplo, que só obtém quem “permanece” nele, ou seja, na Sua vontade.
Pode acontecer, então, que você peça alguma coisa que não se enquadra no plano de Deus para você e que Deus não considere oportuna para a sua existência nesta terra ou na outra Vida; ou, até mesmo, a julgue prejudicial.
Como é que ele, sendo seu Pai, pode atender você nesses casos? Ele enganaria você. E isso jamais ele fará.
Então, será conveniente que, antes de orar, você se coloque de acordo com Deus e diga: “Pai, eu gostaria de lhe pedir isto em nome de Jesus, se achar oportuno”.
E, se a graça pedida se conciliar com o plano que Deus, no seu amor, concebeu para você, haverá de se concretizar a frase:

“Se pedirdes ao Pai alguma coisa em meu nome, ele vos dará”

Pode ser também que você peça alguma graça, mas não tenha a menor intenção de viver de acordo com aquilo que Deus pede. Também, nesse caso, seria justo que ele atendesse você? Ele não quer lhe dar somente uma graça, mas igualmente a felicidade plena. E esta felicidade se obtém procurando viver os mandamentos de Deus, as suas palavras. Não é suficiente apenas pensar nelas, nem limitar-se a meditá-las; é necessário vivê-las.
Se você assim fizer, conseguirá obter tudo.
Concluindo: quer obter graças? Peça qualquer coisa em nome de Cristo, colocando em primeiro lugar a vontade dele, com a decisão de obedecer à Lei de Deus.
Deus fica muito feliz em poder doar graças. Infelizmente, na maioria das vezes, somos nós quem lhe amarramos as mãos.

Chiara Lubich

Esta Palavra de Vida foi publicada originalmente em novembro de 1978.

 

Fevereiro de 2009

 

Que vos parece? São palavras tremendamente exigentes, radicais, inéditas!  No entanto, aquele Jesus que declarou indissolúvel o matrimónio e deu o mandamento de amar a todos, e, portanto, de amar especialmente os pais, aquele mesmo Jesus pede agora que se ponham em segundo lugar todos os afectos belos da Terra, sempre que forem um impedimento ao amor directo, imediato a Ele. Só Deus podia pedir tanto.
Na verdade, Jesus desenraíza as pessoas do seu modo natural de viver e quere-as ligadas, antes de mais, a Ele, para realizar na Terra a fraternidade universal.

Por isso, onde quer que encontre um obstáculo ao seu projecto, Deus “corta”, e no Evangelho Jesus fala de «espada», espiritual, claro.
E chama «mortos» àqueles que não O souberem amar mais do que à mãe, à esposa, à vida. Lembram-se daquele homem que pediu para sepultar o pai antes de O seguir? Foi a ele que Jesus respondeu: «Deixa que os mortos sepultem os seus mortos»1.
Perante uma tão grande exigência, podemos sentir um arrepio de medo, ou pensar que estas palavras de Jesus só eram compreensíveis naquela época, ou por aqueles que O seguissem de um modo especial.
Mas não é assim. Esta frase é válida para todas as épocas, e também para os dias de hoje. E vale para todos os cristãos, também para nós.

Nos tempos que correm podem surgir muitas ocasiões para pôr em prática o convite de Cristo.
Vives numa família onde há alguém que contesta o cristianismo? Jesus quer que tu o testemunhes com a vida e, no momento oportuno, com a palavra, mesmo à custa de seres ridicularizado ou caluniado.
És mãe e o teu marido convida-te a interromper a gravidez? Obedece a Deus, e não aos homens.
Um irmão teu quer que te juntes a um grupo com fins pouco claros, ou mesmo reprováveis? Não te deixes envolver. Há alguém da tua família que te convida a arranjar dinheiro pouco limpo? Mantém a tua honestidade. Toda a tua família quer arrastar-te para uma vida mundana? Não vás, para que Cristo não se afaste de ti.

«Se alguém vem ter Comigo e não Me prefere a seu pai, mãe, esposa, filhos, irmãos, irmãs, e até à própria vida, não pode ser Meu discípulo».

Pertencias a uma família descrente e a tua conversão a Cristo causou a divisão? Não te assustes. É um efeito do Evangelho.
Oferece a Deus o sofrimento que sentes no coração por aqueles que amas, mas não cedas.
Cristo chamou-te a Si de um modo especial, e agora chegou o momento em que a tua doação total exige que deixes o pai e a mãe, ou talvez que renuncies à namorada.
Faz a tua escolha.
Sem combate, não há vitória.

«Se alguém vem ter Comigo e não Me prefere a seu pai, mãe, esposa, filhos, irmãos, irmãs, e até à própria vida, não pode ser Meu discípulo».

«… e até à própria vida».
Vives num lugar de perseguição e o facto de te expores por Cristo põe em perigo a tua vida? Coragem. Às vezes a nossa fé pode pedir também isto. Na Igreja, a época dos mártires nunca acabou completamente.
Cada um de nós, ao longo da sua vida, há-de ter que escolher entre Cristo e tudo o resto, para permanecer um cristão autêntico. Portanto, também para ti há-de chegar esse momento.
Não tenhas medo. Não receies perder a vida, porque mais vale perdê-la por Deus do que nunca mais a encontrar. A outra Vida é uma realidade.
E não te aflijas com os teus familiares. Deus ama-os. Se tu O souberes preferir a eles, chegará o dia em que Deus há-de passar por eles para os chamar com as palavras fortes do Seu Amor. E tu poderás então ajudá-los a tornarem-se, também, verdadeiros discípulos de Cristo.

Chiara Lubich

Palavra de Vida, Outubro de 1978, publicada em Essere la Tua Parola. Chiara Lubich e cristiani di tutto il mondo, vol. I, Roma 1980, pp. 111-113

1) Lc 9, 60.