Movimento dos Focolares

julho de 2008

Você já sentiu alguma vez uma sede de infinito? Já sentiu alguma vez em seu coração o desejo ardente de abraçar a imensidão?
Ou, então: já percebeu alguma vez em seu íntimo a insatisfação por aquilo que faz, pelo que você é?
Se assim for, ficará feliz por encontrar uma fórmula que lhe dê a plenitude com que tanto você sonha: algo que não deixe remorsos pelos dias que se vão semivazios…
Há uma frase no Evangelho que faz pensar e que, se entendida nem que seja um pouco, faz vibrar de alegria. Nela está condensado o que devemos fazer na vida. Ela resume cada lei que Deus imprimiu no fundo do coração de cada homem.
Ouça esta frase:

“Tudo, portanto, quanto desejais que os outros vos façam, fazei-o, vós também, a eles. Isto é a Lei e os Profetas.”

Ela se chama “regra de ouro”.
Foi Cristo quem a trouxe, mas já era universalmente conhecida. O Antigo Testamento a trazia. Sêneca a conhecia, e o chinês Confúcio, no Oriente, a repetia. E outros ainda. Isso mostra o quanto ela importa a Deus: ele quer que todos os homens façam dela a norma de suas vidas.
É linda de ler e ecoa como um slogan.
Ouça-a novamente:

“Tudo, portanto, quanto desejais que os outros vos façam, fazei-o, vós também, a eles. Isto é a Lei e os Profetas.”

Amemos assim cada próximo que encontramos no correr do dia.
Imaginemos estar na sua situação e tratemo-lo como gostaríamos de ser tratados em seu lugar.
A voz de Deus que mora dentro de nós haverá de nos sugerir a expressão de amor adequada a cada circunstância.
Ele está com fome? Estou com fome eu – pensemos. E demos a ele de comer.
Sofre injustiça? Sou eu que a sofro!
Está nas trevas e na dúvida? Sou eu que estou. E lhe digamos palavras de conforto, e dividamos com ele suas angústias, e não sosseguemos enquanto ele não se sentir iluminado e aliviado. Nós quereríamos ser tratados assim.
É alguém com deficiência física? Quero amá-lo até quase sentir em meu corpo e em meu coração a sua deficiência, e o amor haverá de me sugerir o recurso certo para fazer que se sinta igual aos outros, aliás, com uma graça a mais, pois nós cristãos sabemos o valor do sofrimento.
E assim com todos, sem discriminação alguma entre simpático e antipático, entre jovem e ancião, entre amigo e inimigo, entre compatriota e estrangeiro, entre bonito e feio… O Evangelho quer realmente dizer todos.
Tenho a impressão de ouvir um murmúrio geral…
Compreendo… Talvez essas minhas palavras pareçam simples, mas quanta mudança elas exigem! Quão longe estão do nosso modo costumeiro de pensar e de agir!
Mas, coragem! Tentemos.
Um dia passado assim vale uma vida. E, à noite, não nos reconheceremos mais a nós mesmos. Uma alegria jamais sentida nos invadirá. Uma força se apoderará de nós. Deus estará conosco, porque está com aqueles que amam.
Os dias se seguirão plenos.
Às vezes, pode ser que reduzamos a marcha, que sejamos tentados a desanimar, a largar tudo. E queiramos voltar à vida de antes…
Mas não! Coragem! Deus nos dá a graça.
Recomecemos sempre.
Perseverando, veremos lentamente o mundo mudar à nossa volta.
Entenderemos que o Evangelho é portador da vida mais fascinante, acende a luz no mundo, dá sabor à nossa existência, tem em si o princípio da resolução de todos os problemas.
E não teremos paz enquanto não comunicarmos a nossa extraordinária experiência a outros: aos amigos que nos podem entender, aos parentes, a quem quer que nos sintamos impelidos a transmiti-la.
A esperança renascerá.

“Tudo, portanto, quanto desejais que os outros vos façam, fazei-o, vós também, a eles. Isto é a Lei e os Profetas.”

Chiara Lubich

junho de 2008

Quem ama gostaria de estar sempre com a pessoa amada. Esse também é o desejo de Deus, que é Amor. Criou-nos para que pudéssemos encontrá-lo e, sendo ele o único capaz de saciar o nosso coração, não teremos alegria plena enquanto não alcançarmos a íntima união com ele. Desceu do céu para estar conosco e para introduzir-nos na sua comunhão.
O apóstolo João, na sua carta, fala de “permanecer” um no outro, Deus em nós e nós em Deus, lembrando a exigência mais profunda manifestada por Jesus na sua última ceia. “Permanecei em mim e eu permanecerei em vós”, disse o Mestre, explicando com a alegoria da videira e dos seus ramos o quanto é forte e vital a ligação que nos une a ele (cf. Jo 15,1-5).
Mas, como alcançar a união com Deus?
João não hesita. Afirma que basta observar os mandamentos:

“Quem observa os seus mandamentos permanece em Deus, e Deus permanece nele”.

São muitos os mandamentos que devemos observar para que essa unidade seja alcançada?
Não, porque Jesus os sintetizou num só preceito. João recorda, imediatamente antes de citar a Palavra de Vida escolhida para este mês: “Este é o seu mandamento: que creiamos no nome do seu Filho, Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, de acordo com o mandamento que ele nos deu” (1Jo 3,23).
Crer em Jesus e amar-nos como ele nos amou: eis o único mandamento.
Se a existência humana encontra a sua realização na presença de Deus entre nós, então existe apenas um modo para sermos pessoas plenamente realizadas: amar! João está tão convicto dessa realidade que repete sempre no decorrer de toda a carta: “Quem permanece no amor, permanece em Deus, e Deus permanece nele” (1Jo 4,16b); “Se nos amamos uns aos outros, Deus permanece em nós…” (1Jo 4,12).
A esse respeito a tradição conta que, quando alguém fazia perguntas a João, já bem idoso, sobre os ensinamentos do Senhor, ele repetia sempre as palavras do mandamento novo. Se lhe perguntavam por que não dizia outra coisa, respondia: “Porque é o mandamento do Senhor! Se alguém o pratica, isso basta”.
Pode-se dizer o mesmo de cada Palavra de Vida: ela nos leva inevitavelmente a amar. Não pode ser de outra forma, porque Deus é Amor e cada Palavra sua contém o amor, exprime o amor e, se for vivida, nos transforma em amor.

“Quem observa os seus mandamentos permanece em Deus, e Deus permanece nele”.

A Palavra deste mês nos convida a acreditar em Jesus, a aderir com todo o nosso ser à sua Pessoa e ao seu ensinamento: crer que ele é o amor de Deus – como nos ensina ainda João nessa carta – e que por amor deu a vida por nós (cf. 1Jo 3,16). Faz-nos acreditar até mesmo quando ele parece estar longe, quando não o sentimos, quando chegam as dificuldades ou o sofrimento…
Encorajados por essa fé, saberemos viver seguindo o seu exemplo e, obedecendo ao seu mandamento, amar-nos como ele nos amou.
Amar inclusive quando o outro não parece mais merecer o amor, mesmo quando temos a impressão de que o nosso amor seja inadequado, inútil, não correspondido. Agindo assim, reavivaremos os relacionamentos entre nós, que se tornarão cada vez mais sinceros, cada vez mais profundos, e a nossa unidade atrairá a permanência de Deus entre nós.

“Quem observa os seus mandamentos permanece em Deus, e Deus permanece nele”.

“Meu marido e eu vivíamos apaixonados. Era fácil o relacionamento entre nós nos primeiros anos de casados. Nesse último período, porém, ele anda muito cansado e estressado. No Japão, o trabalho pesa como chumbo nas costas de um homem.
Uma noite, voltando do trabalho, ele sentou-se à mesa para jantar. Aproximei-me para sentar ao seu lado, mas aos gritos mandou que eu saísse: “Você não tem o direito de comer, porque não trabalha!” Passei a noite chorando e prometendo a mim mesma separar-me dele, ir embora. No dia seguinte mil pensamentos me torturavam o tempo todo: “Casei-me com a pessoa errada, não consigo mais viver com ele”.
À tarde falei com as amigas com as quais partilho a minha experiência cristã. Escutaram-me com amor e na comunhão com elas encontrei a força e a coragem necessárias para não desanimar… Então consegui preparar mais uma vez o jantar para o meu marido. Porém, quanto mais se aproximava a hora da sua chegada, mais aumentava o meu receio: como será que ele vai reagir hoje? E sentia como se uma voz interior me dissesse: “Acolha essa dor. Fique firme. Continue amando”. Nesse momento ele abriu a porta. Trazia uma torta para mim. E disse: “Perdoe-me por tudo o que aconteceu ontem.”

Chiara Lubich

Maio 2008

“Onde está o Espírito do Senhor, aí está a liberdade”

Jesus Ressuscitado, o Senhor, ainda hoje continua agindo na história, como nos tempos de Paulo, e o faz de modo especial na comunidade cristã, através de seu Espírito. Ele também nos permite compreender o evangelho em toda a sua novidade e o inscreve em nossos corações, de modo que seja a nossa lei de vida. Não somos guiados por leis impostas de fora; não somos escravos sujeitos a determinações que não nos convencem e que não aceitamos. O cristão é movido por um princípio de vida interior, que o Espírito Santo lhe conferiu com o batismo. É movido pela sua voz, que repete as palavras de Jesus e faz com que as compreenda em toda a sua beleza, expressão de vida e de alegria. O Espírito as atualiza, ensina como vivê-las e ao mesmo tempo dá a força para colocá-las em prática. É o próprio Senhor que, graças ao Espírito Santo, vem viver e agir em nós, transformando-nos em evangelho vivo. Ser guiado pelo Senhor, pelo seu Espírito, pela sua Palavra: é essa a verdadeira liberdade que coincide com a mais profunda realização do nosso eu.

“Onde está o Espírito do Senhor, aí está a liberdade”

Mas, para que o Espírito Santo possa agir, sabemos que é necessária a plena disponibilidade para escutá-lo, com a disposição de mudar a nossa mentalidade, se preciso for, e depois aderir plenamente à sua voz. É fácil deixar-se escravizar pelas pressões que os costumes e a opinião pública exercem sobre nós e que podem nos induzir a escolhas erradas. Para viver a Palavra de Vida deste mês é necessário aprender a dar um não decidido a todo o negativo que brota do nosso coração cada vez que somos tentados a nos adequar a modos de agir que não estão de acordo com o evangelho; é preciso aprender a dar um sim convicto a Deus cada vez que sentimos o seu chamado a viver na verdade e no amor. Assim descobriremos que a relação existente entre a cruz e o Espírito é de causa e efeito. Cada corte, cada poda, cada não ao nosso egoísmo é uma fonte de luz nova, de paz, de alegria, de amor, de liberdade interior, de realização de si. É uma porta aberta ao Espírito Santo. Neste tempo de Pentecostes, ele poderá nos dar com mais abundância os seus dons, poderá guiar-nos. E seremos reconhecidos como verdadeiros filhos de Deus. Ficaremos cada vez mais livres do mal, cada vez mais livres para amar.

“Onde está o Espírito do Senhor, aí está a liberdade”

É essa a liberdade que um funcionário das Nações Unidas encontrou durante a sua última tarefa em um dos países balcânicos. As missões que lhe eram confiadas representavam um trabalho gratificante, embora extremamente duro. Uma das suas grandes dificuldades era ficar distante da família por períodos tão longos. Mesmo quando voltava para casa era difícil deixar fora da porta a carga de trabalho que o envolvia, para dedicar-se com ânimo desimpedido às crianças e à esposa. De repente aconteceu uma nova transferência para outra cidade, sempre na mesma região; e ele não podia nem pensar em levar consigo a família, porque, apesar dos acordos de paz recém-assinados, as hostilidades continuavam. O que fazer? O que vale mais, a carreira ou a família? Discutiu longamente a questão com a esposa, que há tempo compartilhava com ele uma intensa vida cristã. Os dois pediram que o Espírito Santo os iluminasse e procuraram entender qual seria a vontade de Deus para toda a família. Enfim, tomaram a decisão: deixar aquele trabalho tão cobiçado. Decisão realmente incomum nesse ambiente profissional. “A força para fazer essa escolha – conta ele – foi fruto do amor mútuo com a minha esposa: ela nunca me fez pesar as privações que eu lhe causava; e eu, de minha parte, procurei o bem da família, para além da segurança econômica e da carreira. E encontrei a liberdade interior”. Chiara Lubich

abril de 2008

“Até que sobre nós se derrame o espírito que vem do alto. Aí, então, o que era deserto virá a ser um bosque e o que era um bosque será uma floresta.” Assim começa o trecho que contém a Palavra de Vida deste mês. Na segunda metade do século VIII antes de Cristo, o profeta Isaías anuncia um futuro de esperança para a humanidade, de certo modo uma nova criação, um novo “bosque” ou “jardim”, onde moram o direito e a justiça, capazes de gerar paz e segurança.
Essa nova era de paz (shalom) será obra do Espírito divino, força vital capaz de renovar a criação; e, ao mesmo tempo, será fruto do respeito pela Aliança, pelo pacto entre Deus e o seu povo e entre os componentes do próprio povo, uma vez que a comunhão com Deus e a comunidade dos homens são realidades inseparáveis.

“E o fruto da justiça será a paz! A prática da justiça resultará em tranqüilidade e segurança duradouras.”

As palavras de Isaías recordam a necessidade de um esforço responsável e sério em respeitar as normas comuns da convivência civil, que impedem o individualismo egoísta e o arbítrio cego, favorecem a coexistência harmoniosa e o trabalho a serviço do bem comum.
Mas, será possível viver segundo a justiça e praticar o direito? Sim, com a condição de que se reconheçam todas as outras pessoas como irmãos e irmãs e se veja a humanidade como uma família, no espírito da fraternidade universal.
E como é possível enxergá-la assim, sem a presença de um Pai para todos? Ele, por assim dizer, já gravou a fraternidade universal no DNA de cada pessoa. Com efeito, a primeira vontade de um pai é que os filhos se tratem como irmãos e irmãs, que se queiram bem, que se amem.
Por isso o “Filho” por excelência, o Irmão de cada homem, veio e nos deixou como norma da vida social o amor mútuo. E o respeito pelas regras da convivência e o cumprimento do próprio dever são expressões do amor.
O amor é a norma suprema de toda ação; norma essa que promove a verdadeira justiça e traz a paz. As nações precisam de leis cada vez mais correspondentes às necessidades da vida social e internacional, mas sobretudo precisam de homens e mulheres que no seu íntimo saibam “ordenar” a caridade. Essa “ordem” é justiça, e só nessa ordem as leis têm valor.

“E o fruto da justiça será a paz! A prática da justiça resultará em tranqüilidade e segurança duradouras.”

Como viveremos, então, a Palavra de Vida durante este mês?
Empenhando-nos ainda mais nos deveres profissionais, na ética, na honestidade, na legalidade.
Reconhecendo os outros como pessoas da mesma família que esperam de nós atenção, respeito, proximidade solidária.
Se você colocar a caridade mútua e contínua (que precede todas as coisas) na base da sua vida, nos seus relacionamentos com o próximo, como a mais completa expressão do seu amor para com Deus, então a sua justiça será realmente agradável a Deus.

“E o fruto da justiça será a paz! A prática da justiça resultará em tranqüilidade e segurança duradouras.”

No sul da Itália, um guarda civil com sua família decidiu morar, por opção de solidariedade para com as pessoas menos privilegiadas da cidade, num dos bairros novos que estavam surgindo: ruas sem asfalto, ausência de iluminação pública, de rede de água e de esgoto; serviços de assistência social e transporte público, nem pensar.
“Procuramos criar com todas as famílias e cada habitante do bairro uma relação de conhecimento e de diálogo”, diz ele, “tentando sanar a fratura existente entre os cidadãos e a administração pública. Aos poucos, os cerca de 3.000 habitantes do bairro se tornaram agentes ativos no relacionamento com as instituições públicas, por meio de um comitê criado com esse objetivo.
Chegaram a conseguir da administração regional a aprovação de uma verba significativa para a recuperação do bairro, que agora é um bairro-modelo, tendo criado até atividades de formação para representantes de todos os comitês de bairro da cidade”.

Chiara Lubich

março de 2008

Eis aí uma maravilhosa frase de Jesus que, de certo modo, todo cristão pode aplicar a si mesmo e que, se for praticada, é capaz de fazê-lo progredir muito na “Santa Viagem” da vida.
Sentado junto da fonte de Jacó, na Samaria, Jesus está para concluir o seu diálogo com a Samaritana. Os discípulos, ao voltarem da cidade vizinha, aonde tinham ido buscar mantimentos, ficam admirados ao ver o Mestre conversando com uma mulher. No entanto, nenhum deles pede explicações. Depois que a Samaritana vai embora, eles insistem: “Rabi, come!” Jesus intui o que eles estão pensando e explica-lhes o porquê de sua atitude: “Eu tenho um alimento para comer que vós não conheceis”.
Os discípulos não entendem; pensam no alimento material e se perguntam entre si se, durante a ausência deles, alguém teria trazido comida para o Mestre. Então, Jesus diz abertamente:

“O  meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar plenamente sua obra”

Para que nos mantenhamos vivos, é preciso que nos alimentemos todos os dias, e Jesus não nega isso. E aqui ele fala justamente de alimento, ou seja, que se trata de uma necessidade natural. Mas fala a respeito para afirmar a existência e a exigência de outro alimento, um alimento mais importante, do qual ele não pode abrir mão.
Jesus desceu do Céu para fazer a vontade Daquele que o enviou e para realizar a sua obra. Não tem idéias e projetos próprios, mas os de seu Pai. As palavras que ele pronuncia e as obras que realiza são as do Pai; não faz a própria vontade, mas a vontade Daquele que o enviou. Essa é a vida de Jesus. Sua fome é saciada quando ele realiza isso. Agindo assim, fica nutrido.
A plena adesão à vontade do Pai caracteriza toda a sua vida, até à morte de cruz, que é o momento em que levará realmente a termo a obra que o Pai lhe confiou.

“O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar plenamente sua obra”

Jesus considera como seu alimento fazer a vontade do Pai, porque, atuando-a, “assimilando-a”, “alimentando-se dela”, identificando-se com ela, recebe dela a Vida.
E qual é a vontade do Pai, a sua obra, que Jesus deve realizar plenamente?
É dar ao homem a salvação, dar-lhe a Vida que não morre.
Jesus, pouco antes, comunicou à Samaritana uma semente dessa Vida, por meio de sua conversação e do seu amor. De fato, logo os discípulos hão de ver essa Vida germinar e espalhar-se, porque a Samaritana vai transmitir a outros samaritanos a riqueza descoberta e recebida: “Vinde ver um homem… Não será ele o Cristo?” (Jo 4,29).
E Jesus, falando à Samaritana, revela o plano de Deus, que é Pai: que todos os homens recebam o dom da sua vida. É essa a obra que Jesus tem pressa de realizar, para confiá-la, depois, aos seus discípulos, à Igreja.

“O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar plenamente sua obra”

Será que também nós podemos viver essa Palavra, tão própria de Jesus, a ponto de refletirmos em nós, de modo todo especial, o ser, a missão e o zelo dele?
Certamente! É preciso que também nós vivamos o fato de sermos filhos do Pai, por meio da Vida que Cristo nos comunicou, e assim nutrir nossa vida com a sua vontade.
Podemos realizar isso cumprindo, momento por momento, aquilo que Ele quer de nós, realizando-o perfeitamente, como se não tivéssemos outra coisa para fazer. De fato, Deus não nos pede mais do que isso.
Então, alimentemo-nos daquilo que Deus quer de nós, momento por momento, e assim experimentaremos que esse modo de agir nos sacia: dá-nos paz, alegria, felicidade; dá-nos – e não é exagerado dizê-lo – uma antecipação da felicidade eterna.
Assim também nós contribuiremos com Jesus, dia após dia, para realizar as obras do Pai.
Será o melhor modo de vivermos a Páscoa.

Chiara Lubich

Fevereiro de 2008

Jesus, cercado pela multidão, sobe a encosta e proclama o seu célebre “Sermão da Montanha”. As primeiras palavras, “Felizes os pobres no espírito, felizes os mansos…”, já indicam a novidade da mensagem que Ele veio trazer.
São palavras de vida, de luz, de esperança que Jesus confia aos seus discípulos para que sejam iluminados por elas, e para que suas vidas adquiram sabor e significado.
Transformados por essa grande mensagem, eles são convidados a transmitir a outros os ensinamentos recebidos e transformados em vida.

“Quem praticar e ensinar (estes mandamentos) será considerado grande no Reino dos Céus.”

Hoje, mais do que nunca, a nossa sociedade precisa conhecer as palavras do Evangelho e deixar-se transformar por elas. Jesus deve poder repetir novamente: não irai-vos contra os irmãos; perdoai e vos será perdoado; dizei sempre só a verdade, de tal modo que o juramento se torne desnecessário; amai os vossos inimigos; reconhecei que tendes um só Pai e que sois todos irmãos e irmãs; tudo aquilo que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles.

É esse o significado de algumas das muitas palavras do “Sermão da Montanha”, que, se fossem vividas, bastariam para mudar o mundo.
Jesus nos convida a anunciar o seu Evangelho. Mas antes de “ensinar” as suas palavras, nos pede que as “observemos”. Para termos credibilidade, devemos nos tornar “peritos” do Evangelho, ser “Evangelho vivo”. Só então poderemos testemunhá-lo com a vida e ensiná-lo com a palavra.

“Quem praticar e ensinar (estes mandamentos) será considerado grande no Reino dos Céus.”

Qual o melhor modo de viver essa Palavra? É deixar que o próprio Jesus nos ensine a vivê-la, atraindo a Sua presença em nós e entre nós com o nosso amor mútuo.

Será Ele a nos sugerir as palavras no nosso contato com as pessoas, a nos indicar os caminhos e a nos abrir as brechas para poder entrar no coração dos irmãos e das irmãs, a fim de testemunhá-lo onde quer que estejamos, mesmo nos ambientes mais difíceis e nas situações mais complicadas. Veremos o mundo – aquela pequena parte do mundo onde vivemos –, transformar-se, converter-se à concórdia, à compreensão, à paz.

O importante é manter viva entre nós a Sua presença por meio do nosso amor recíproco, escutando com docilidade a Sua voz, a voz da consciência que sempre nos fala, se soubermos fazer silenciar as outras vozes.

Ele nos ensinará como “observar” com alegria e criatividade até mesmo os preceitos “mínimos”, aprimorando assim com perfeição a nossa vida de unidade. Que os outros possam repetir de nós o que antigamente se dizia dos primeiros cristãos: “Vede como se amam, e estão prontos a dar a vida um pelo outro” (Tertuliano, Apologeticum, 39,7). Vendo como os nossos relacionamentos se renovam pelo amor, os outros acreditarão que o Evangelho é capaz de gerar uma sociedade nova.

Não podemos guardar para nós o dom recebido: “Ai de mim, se não anunciar o Evangelho” (Cf. 1Cor 9,16b), somos chamados a repetir com Paulo. Se nos deixarmos guiar pela voz interior, descobriremos possibilidades sempre novas para comunicar: falando, escrevendo, dialogando. Que o Evangelho volte a brilhar por meio das nossas pessoas, nas nossas casas, nas nossas cidades, nos nossos países. Florescerá uma vida nova também em nós; a alegria crescerá nos nossos corações; o Ressuscitado resplandecerá mais… e Ele nos considerará “grandes no seu Reino”.

Isso é demonstrado, de modo excelente, pela vida de Ginetta Calliari. Tendo chegado ao Brasil em 1959, com o primeiro grupo do Movimento dos Focolares, ela fica chocada pelo forte impacto causado pelas graves desigualdades do País. Intensifica a vivência do amor mútuo, vivendo as Palavras de Jesus. Dizia: “Ele nos abrirá o caminho”.  Com o passar do tempo, ao seu redor se desenvolve e se consolida uma comunidade que hoje conta centenas de milhares de pessoas de todas as categorias e idades, desde moradores de favelas a pessoas de classes privilegiadas, que se colocam a serviço dos mais pobres. Assim, puderam surgir obras sociais que, em várias cidades, conseguiram transformar o cenário das favelas. Um pequeno “povo” unido a demonstrar que o Evangelho é verdadeiro: esse foi o dote que Ginetta levou consigo quando partiu para o Céu.
 
Chiara Lubich

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