Movimento dos Focolares

Julho de 2002

Estas palavras de Jesus são tão importantes que o Evangelho de Mateus as menciona duas vezes. Elas mostram claramente que a economia de Deus não é igual à nossa. Os seus cálculos são sempre diferentes dos nossos, como, por exemplo, quando dá ao “operário da última hora” a mesma diária paga àquele que trabalhou desde a primeira hora.
Jesus pronunciou estas palavras para responder aos discípulos que lhe perguntavam por qual motivo falava a eles abertamente, enquanto que aos outros se dirigia em parábolas, de maneira velada. Jesus doava aos seus discípulos a plenitude da verdade, a luz, justamente porque eles o seguiam, porque para eles Jesus era tudo. A eles, que tinham aberto o próprio coração a Cristo, que estavam plenamente dispostos a acolhê-lo, que já tinham Jesus (“a quem tem…”), ele se dá em plenitude (“…será dado ainda mais, e terá em abundância”).
Para compreender este modo de agir do Mestre, pode ser útil lembrar outra frase semelhante, citada pelo Evangelho de Lucas: “Dai e vos será dado. Uma medida boa, socada, sacudida e transbordante será colocada no vosso regaço”. Nas duas frases, de acordo com a lógica de Jesus, ter (“a quem tem será dado”) equivale a dar (“a quem dá será dado”).
Tenho a certeza de que também você já experimentou esta verdade do Evangelho. Quando você socorreu uma pessoa doente, quando consolou alguém que estava triste, quando confortou com sua presença alguém que se sentia só, você não experimentou uma alegria e uma paz que não se sabe de onde vêm? É a lógica do amor. Quanto mais alguém se doa, tanto mais se sente enriquecido.
Então poderíamos traduzir da seguinte maneira a Palavra de Vida deste mês: a quem tem amor, a quem vive no amor, Deus dá a capacidade de amar ainda mais, dá a plenitude do amor até o ponto de fazê-lo ser como ele que é o Amor.

«Pois a quem tem será dado ainda mais, e terá em abundância; mas a quem não tem será tirado até o pouco que tem.»

Sim, é o amor que nos faz ser. Nós existimos porque amamos. Se não amamos – e cada vez que não amamos – não somos, não existimos (“será tirado até o pouco que tem”).
Então nada nos resta senão amar, sem reservas. Só assim Deus poderá se entregar a nós. E com ele virá a plenitude dos seus dons.
Vamos doar concretamente a quem está perto de nós, na certeza de que, fazendo assim, estamos doando a Deus. Doemos sempre: um sorriso, a nossa compreensão, o perdão, a escuta; podemos doar a nossa inteligência, a nossa disponibilidade; doar o nosso tempo, os nossos talentos, as nossas idéias, a nossa atividade; doar as experiências, as capacidades, os bens, partilhando-os com os outros, de modo que nada se acumule e tudo circule. O nosso doar abre as mãos de Deus que, na sua providência, nos plenifica de maneira superabundante para que possamos continuar doando – doando sempre mais – e continuar recebendo; assim poderemos responder às imensas necessidades de muitos.

«Pois a quem tem será dado ainda mais, e terá em abundância; mas a quem não tem será tirado até o pouco que tem.»

O maior dom que Jesus quer nos fazer é a sua própria presença: ele deseja estar sempre em nosso meio. Esta é a plenitude de vida, a abundância com a qual ele nos quer preencher. Jesus se entrega aos seus discípulos quando estes o seguem unidos. Esta Palavra de Vida, portanto, nos lembra também a dimensão comunitária da nossa espiritualidade. Podemos fazer desta Palavra a seguinte leitura: todos aqueles que tiverem o amor recíproco, todos os que viverem a unidade, terão a presença do próprio Jesus entre eles.
E receberemos ainda mais. Aquele que tem – quem tiver vivido no amor e, portanto, tiver recebido o cêntuplo nesta vida -, receberá ainda por cima o prêmio: o Paraíso. E terá em abundância.
Aquele que não tem – quem não tiver recebido o cêntuplo, por não ter vivido no amor – nem sequer poderá desfrutar futuramente do bem e dos bens (parentes, propriedades) que tiver tido na terra, porque, no inferno, outra coisa não haverá a não ser sofrimento.
Portanto, amemos. Amemos a todos. Amemos a tal ponto que também o outro, por sua vez, se ponha a amar e o amor se torne recíproco. Então teremos a plenitude da vida.

Chiara Lubich

 

Junho de 2002

A atitude de Jesus era tão nova diante da mentalidade comum que, muitas vezes, por assim dizer, escandalizava as pessoas de bem. Como aconteceu quando ele convidou Mateus a segui-lo e depois foi almoçar com ele. Mateus era um cobrador de impostos. Por causa do seu ofício, o povo não só não gostava dele mas o considerava um pecador público, um inimigo a serviço do Império Romano.
Por que – questionam os fariseus – Jesus come com um pecador? Não é melhor manter distância de certas pessoas? Essa pergunta torna-se para Jesus uma ocasião de explicar que ele quer ir ao encontro justamente dos pecadores, assim como um médico vai ao encontro dos doentes; e ele conclui dizendo aos fariseus que procurem estudar o significado da palavra de Deus pronunciada no Antigo Testamento pelo profeta Oséias: “Desejo a misericórdia e não o sacrifício”.
Por que Deus quer de nós a misericórdia? Porque deseja que sejamos como ele. Devemos assemelhar-nos a ele assim como os filhos se assemelham ao pai e à mãe. Ao longo de todo o Evangelho, Jesus nos fala do amor do Pai para com os bons e os maus, para com os justos e os pecadores. Deus ama cada um, não faz distinções e não exclui ninguém. Se ele tem alguma preferência, é por aqueles que, aparentemente, menos merecem ser amados, como é o caso do filho pródigo da parábola.
“Sede misericordiosos – explica Jesus – como vosso Pai é misericordioso”: esta é a perfeição.

«Ide, pois, aprender o que significa: 'Desejo a misericórdia e não o sacrifício'.»

Também hoje Jesus dirige a cada um de nós o convite: “Ide, pois, aprender…” Mas, ir para onde? Quem poderá nos ensinar o que significa ser misericordioso? Uma única pessoa: só ele, Jesus, que foi à procura da ovelha perdida, que perdoou aos que o tinham traído e crucificado, que deu sua vida pela nossa salvação. Para aprendermos a ser misericordiosos como o Pai, perfeitos como ele, precisamos olhar para Jesus, que é a plena revelação do amor do Pai. Ele disse: “Quem me viu, viu o Pai”.

«Ide, pois, aprender o que significa: 'Desejo a misericórdia e não o sacrifício'.»

Por que a misericórdia e não o sacrifício? Porque o amor é o valor absoluto que dá sentido a todo o resto, também ao culto, também ao sacrifício. Com efeito, o sacrifício mais agradável a Deus é o amor concreto para com o próximo, que encontra a sua expressão mais alta na misericórdia.
Misericórdia que ajuda a ver sempre novas as pessoas com as quais vivemos a cada dia, na família, na escola, no trabalho, sem nos lembrarmos mais dos seus defeitos, dos seus erros; que não nos leva a julgar mas a perdoar as injustiças sofridas. Mais ainda: a esquecê-las.
O nosso sacrifício não consistirá tanto em fazer longas vigílias e jejuns, dormir no chão, mas em acolher sempre no nosso coração qualquer um que passe ao nosso lado, seja ele bom ou mau.
Foi isso que fez um senhor que trabalhava no setor de recepção e caixa de um hospital. O seu povoado tinha sido inteiramente incendiado pelos seus “inimigos”. Um belo dia viu chegar um homem com um parente doente. Pelo seu sotaque descobriu logo que se tratava de um dos “inimigos”. Ele estava assustado; não queria revelar a sua identidade para não ser mandado embora. O caixa não lhe pediu os documentos e lhe ajudou, apesar de ter que se esforçar para superar o ódio que há tempo remoía dentro dele. Nos dias seguintes teve a possibilidade de dar-lhe assistência em diversas ocasiões. No último dia de internação o “inimigo” foi pagar a conta e disse ao caixa: “Preciso lhe confessar uma coisa que você não sabe”. E ele: “Desde o primeiro dia sei quem é você”. “E por que você me ajudou, se eu sou um 'inimigo' seu?”
Assim como aconteceu com ele, também para nós a misericórdia nasce do amor que sabe sacrificar-se por quem quer que seja, conforme o exemplo de Jesus, que chegou ao ponto de dar a vida por todos.

Chiara Lubich

 

Maio de 2002

O evangelista Mateus começa o Evangelho lembrando que aquele Jesus cuja história ele está prestes a narrar é o Deus-conosco, o Emanuel, e termina a narração com as palavras citadas acima, com as quais Jesus promete que ficará sempre conosco, mesmo depois de ter voltado para o Céu. Até o final dos tempos Ele será o Deus-conosco.
Jesus dirige essas palavras aos discípulos depois de lhes ter confiado a missão de ir pelo mundo inteiro para levar a sua mensagem. Ele estava bem consciente de que os mandava como ovelhas em meio aos lobos e de que eles haveriam de sofrer contrariedades e perseguições. Por isso não queria deixá-los sozinhos nessa missão. E assim, justamente no momento em que está partindo, promete que vai ficar! Os discípulos não o verão mais com os olhos, não ouvirão mais a sua voz, não poderão mais tocá-lo, mas Ele estará presente no meio deles, como antes, ou melhor, mais do que antes: porque, se até então a sua presença se localizava num lugar bem determinado (em Cafarnaum, ou junto ao lago, ou na montanha, ou em Jerusalém), de agora em diante Ele estará em todo lugar onde estiverem os seus discípulos.
Jesus pensava também em todos nós, que haveríamos de viver a vida complexa do dia-a-dia. Sendo Ele o Amor feito homem, deve ter pensado: “Eu gostaria de estar sempre com os homens; gostaria de partilhar com eles todas as suas preocupações, gostaria de aconselhá-los, gostaria de caminhar com eles pelas ruas, entrar nas casas, reavivar a alegria deles com a minha presença”
Foi por isso que Ele decidiu permanecer conosco e fazer-nos sentir a sua proximidade, a sua força, o seu amor.
O Evangelho de Lucas narra que os discípulos, depois de terem visto Jesus subir ao Céu, “voltaram a Jerusalém cheios de grande alegria”. Como é possível isso? É porque eles tinham experimentado o quanto são verdadeiras aquelas suas palavras.
Também nós sentiremos uma imensa alegria, se acreditarmos realmente na promessa de Jesus: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos.”

«Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos»

Estas palavras – as últimas que Jesus dirige aos discípulos – assinalam o fim da sua vida terrena e, ao mesmo tempo, o início da vida da Igreja, na qual Ele está presente de muitos modos: na Eucaristia, na sua Palavra, nos seus ministros (os bispos, os sacerdotes), nos pobres, nos pequeninos, nos excluídos… em todos os próximos.
Nós costumamos dar destaque a uma presença especial de Jesus, aquela que Ele mesmo nos indicou, sempre no Evangelho de Mateus: “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, lá estou eu no meio deles”. Desta forma Jesus quer ter a possibilidade de tornar-se presente em toda parte.
Se vivermos tudo o que Ele mandou, e de modo especial o seu mandamento novo, poderemos experimentar esta sua presença inclusive fora das igrejas, em meio às pessoas, lá onde vive o povo, em todo lugar.
A parte que cabe a nós é manter o amor mútuo, de serviço, de compreensão, de participação nas dores, nos anseios e nas alegrias dos nossos irmãos; aquele amor que é típico do cristianismo, que tudo cobre, que tudo perdoa.
Procuremos viver assim, para que todos tenham já nesta terra a possibilidade de se encontrar com Jesus.

Chiara Lubich

Abril de 2002

No Evangelho de João, “ver” Jesus tem uma importância fundamental. Representa a prova evidente de que Deus se fez realmente homem. Logo na primeira página do Evangelho lemos o testemunho apaixonado do Apóstolo: “E a Palavra se fez carne e veio morar no meio de nós. Nós vimos sua glória”.
Ouvimos ecoar, de modo especial depois da ressurreição de Jesus, o grito de alegria daqueles que o viram. Maria Madalena o anuncia: “Eu vi o Senhor”, do mesmo modo como os apóstolos: “Vimos o Senhor”. Também o discípulo que Jesus amava “viu e acreditou”.

Somente o apóstolo Tomé não viu o Senhor ressuscitado, porque não estava presente no dia de Páscoa, quando Jesus apareceu aos outros discípulos. Todos tinham acreditado porque tinham visto. O próprio Tomé – conforme ele mesmo disse – acreditaria, se visse, como os outros viram. Oito dias depois de ressuscitado, Jesus, pegando-o na palavra, apresentou-se-lhe para que também ele acreditasse. Vendo-o vivo diante de si, Tomé explode numa profissão de fé que é a mais profunda e completa jamais pronunciada em todo o Novo Testamento: “Meu Senhor e meu Deus”. Então Jesus lhe disse:

“Creste porque me viste? Bem-aventurados os que creram sem ter visto!”

Também nós, como Tomé, gostaríamos de ver Jesus. De modo especial quando nos sentimos sós, na provação, sob o peso das dificuldades… De certo modo nos identificamos com aqueles gregos que se aproximaram de Filipe e lhe pediram: “Senhor, queremos ver Jesus”. Às vezes pensamos: como teria sido bom viver no tempo de Jesus: poderíamos tê-lo visto, tocado, escutado, ter falado com ele… Como seria bom se ele pudesse aparecer também a nós, tal como apareceu a Maria Madalena, aos Doze, aos discípulos….
Eram eram realmente felizes os que estavam com ele. O próprio Jesus o afirmou numa bem-aventurança referida pelo Evangelho de Mateus e de Lucas: “Felizes são vossos olhos porque [me] vêem”. No entanto, a bem-aventurança que Jesus indicou a Tomé foi outra:.

«Bem-aventurados os que creram sem ter visto!»

Jesus pensava em nós, que não podemos mais vê-lo com estes nossos olhos, mas que, por outro lado, podemos vê-lo com os olhos da fé. Além do mais, a nossa condição não é tão diferente daquela dos que viviam no tempo de Jesus. Também naquela época não era suficiente vê-lo. Quantos, mesmo vendo-o, não acreditaram nele. Os olhos do corpo viam um homem. Eram necessários outros olhos para reconhecer nele o Filho de Deus.
Além disso, muitos dos primeiros cristãos não viram Jesus pessoalmente, e viviam aquela bem-aventurança que também nós somos chamados a viver hoje. Na primeira carta de Pedro lemos, por exemplo: “Sem terdes visto o Senhor, vós o amais. Sem o verdes ainda, credes nele. Isto será para vós fonte de alegria inefável e gloriosa, pois obtereis aquilo em que acreditais: a vossa salvação”.
Os primeiros cristãos tinham entendido muito bem de onde nasce a fé da qual Jesus falava a Tomé: nasce do amor. Crer é descobrir que somos amados por Deus, é abrir o coração à graça e deixar-se invadir pelo seu amor, é abandonar-se completamente a esse amor, respondendo ao amor com o amor. Se você ama, Deus entra em você e ali dá testemunho de si mesmo. Ele ensina um modo totalmente novo de olhar a realidade que nos cerca. A fé nos faz ver os acontecimentos com os mesmos olhos de Deus, faz descobrir o plano que ele tem para cada um de nós, para os outros, para toda a criação.

«Bem-aventurados os que creram sem ter visto!»

Um exemplo luminoso desse novo modo de olhar as coisas com os olhos da fé é o de Teresinha do Menino Jesus. Uma noite, por causa da tuberculose que haveria de levá-la à morte, teve uma golfada de sangue. Ela poderia ter dito: “Tive uma golfada de sangue”. Ao passo que ela disse: “Chegou o Esposo”. Porque acreditou, mesmo sem ter visto. Acreditou que naquela dor Jesus vinha visitá-la e a amava: o seu Senhor e o seu Deus.
A fé nos ajuda a ver tudo com olhos novos, assim como ajudou Teresa do Menino Jesus. Ela soube traduzir aquele acontecimento em “Deus me ama”; da mesma forma também nós podemos traduzir qualquer acontecimento da nossa vida em “Deus me ama”, ou: “És tu que me vens visitar”, ou ainda: “Meu Senhor e meu Deus”.
No paraíso veremos Deus tal como ele é; porém, já desde agora a fé nos alarga o coração para as realidades celestiais, e nos faz entrever tudo com a mesma luz do céu.

Chiara Lubich

 

Março de 2002

Nesta pérola do Evangelho que são as palavras dirigidas à Samaritana junto ao poço de Jacó, Jesus fala da água como do elemento mais simples, que, no entanto, se revela o mais almejado, o mais vital para quem tem familiaridade com o deserto. Ele não precisava explicar muita coisa para dar a entender o que significa a água.
A água da fonte serve para a nossa vida natural, enquanto que a água viva, da qual Jesus fala, se destina à vida eterna.
Assim como o deserto floresce somente depois de uma chuva abundante, também as sementes plantadas em nós com o batismo só podem germinar se forem regadas pela Palavra de Deus. E a planta cresce, lança novos rebentos e assume a forma de uma árvore ou de uma linda flor. E tudo isso porque recebe a água viva da Palavra, que desperta a vida e a mantém por toda a eternidade.

«Todo o que bebe dessa água, terá sede de novo; mas quem beber da água que eu darei, nunca mais terá sede: porque a água que eu darei se tornará nele uma fonte de água jorrando para a vida eterna»

As palavras de Jesus dirigem-se a todos nós, os sedentos deste mundo: aos que estão conscientes da própria aridez espiritual e ainda sentem os tormentos da sede, bem como aos que nem sequer sentem mais a necessidade de matar a sede na fonte da verdadeira vida e dos grandes valores da humanidade.
Mas, no fundo, é a todos os homens e às mulheres de hoje que Jesus dirige um convite, revelando onde podemos encontrar a resposta aos nossos porquês e satisfazer plenamente as nossas aspirações.
Depende de todos nós, portanto, alimentar-nos de suas palavras, deixar-nos embeber da sua mensagem.
De que forma?
Reevangelizando a nossa vida, confrontando-a com as suas palavras, procurando pensar com a mente de Jesus e amar com o seu coração.
Cada momento no qual procuramos viver o Evangelho é uma gota daquela água viva que bebemos.
Cada gesto de amor ao nosso próximo é um gole daquela água.
Sim, porque aquela água tão viva e preciosa tem isso de especial: jorra no nosso coração cada vez que o abrimos ao amor para com todos. É uma fonte – a fonte de Deus – que libera água na mesma medida em que seu veio profundo serve para saciar a sede dos outros, com pequenos ou grandes atos de amor.

«Todo o que bebe dessa água, terá sede de novo; mas quem beber da água que eu darei, nunca mais terá sede: porque a água que eu darei se tornará nele uma fonte de água jorrando para a vida eterna»

Já entendemos, portanto, que, para não sofrermos sede, devemos doar a água viva que recebemos d'Ele dentro de nós mesmos.
Muitas vezes bastará uma palavra, um sorriso, um simples sinal de solidariedade, para nos dar novamente uma sensação de plenitude, de satisfação profunda, um jorro de alegria. E se continuarmos a doar, esta fonte de paz e de vida dará água cada vez mais abundante, sem jamais se esgotar.
Existe também outro segredo que Jesus nos revelou, uma espécie de poço sem fundo do qual podemos beber. Quando dois ou três se unem em seu nome, amando-se com o próprio amor de Jesus, Ele está no meio deles. É então que nos sentimos livres, uma só coisa, plenos de luz; e torrentes de água viva jorram do nosso seio. É a promessa de Jesus que se realiza, porque é d'Ele mesmo, presente em nosso meio, que jorra aquela água que sacia por toda a eternidade.

Chiara Lubich

Fevereiro de 2002

Essa é a resposta de Jesus à primeira das três tentações que ele sofreu no deserto, depois de ter jejuado “quarenta dias e quarenta noites”. E é a mais elementar das tentações, a fome.
Justamente por isso, o tentador aproveita a ocasião para propor a Jesus que se utilize de seus próprios poderes para transformar as pedras em pão. Que mal existiria no fato de satisfazer uma necessidade própria da condição humana?
Jesus, porém, percebe a armadilha que está por trás daquela proposta: a sugestão de instrumentalizar Deus, pretendendo que Ele se coloque somente a serviço das nossas necessidades materiais. No fundo, o tentador quer levar Jesus a uma atitude de autonomia e não de abandono filial ao Pai.
Eis, portanto, a resposta de Jesus, que é também uma resposta a todos os nossos porquês diante da fome no mundo, e também à reivindicação cada vez mais dramática de milhões de seres humanos que necessitam de alimento, de casa, de roupas. Ele, que alimentará as multidões com o milagre da multiplicação dos pães, e que fundamentará o juízo final também no ato de dar de comer aos que têm fome, nos diz que Deus é maior que a nossa fome e que a sua Palavra é o nosso principal e essencial alimento.

«Está escrito: 'Não só de pão é que se vive, mas de toda palavra que sai da boca de Deus'.»

Jesus apresenta a Palavra de Deus como pão, como alimento. Este pensamento, esta comparação de Jesus nos ajuda a entender como deve ser o nosso relacionamento com a Palavra.
Mas, afinal, como podemos nos alimentar da Palavra?
Se, antes de ser o que é, o grão é semente, depois se torna espiga e finalmente pão, assim a Palavra é como uma semente plantada em nós que deve germinar; é como um pedaço de pão que é comido, assimilado, transformado em vida da nossa vida.
A Palavra de Deus, o Verbo pronunciado pelo Pai e que se encarnou em Jesus, é uma presença de Deus entre nós. Cada vez que acolhemos e procuramos colocar a Palavra em prática é como se nós nos alimentássemos de Jesus.
Se o pão nos alimenta e nos faz crescer, a Palavra nos nutre e faz crescer o Cristo em nós, nossa verdadeira personalidade.
Uma vez que Jesus veio à Terra e se fez nosso alimento, não pode ser mais suficiente um alimento natural como o pão. Precisamos do alimento sobrenatural que é a Palavra para crescer como filhos de Deus.

«Está escrito: 'Não só de pão é que se vive, mas de toda palavra que sai da boca de Deus'.»

A natureza deste alimento – a Palavra – é tal que se pode dizer dele o que se diz de Jesus na Eucaristia que, quando dele nos alimentamos, ele não se transforma em nós, mas somos nós que nos transformamos nele, porque somos, de certo modo, assimilados por ele.
Portanto, o Evangelho não é um livro de consolação onde nos refugiamos unicamente nos momentos dolorosos, mas sim o código que contém as leis da vida, leis que não devem ser apenas lidas, mas assimiladas, “comidas” com a alma e, assim, elas nos fazem semelhantes a Cristo em cada momento da vida.
Podemos nos tornar outros Jesus atuando plenamente e ao pé da letra a sua doutrina. As suas Palavras são Palavras de um Deus, cheias de uma força revolucionária, inimaginável.
Logo, devemos nos alimentar da Palavra de Deus. E, assim como hoje o alimento necessário para o corpo pode ser concentrado numa única pílula, também nós podemos nos alimentar de Cristo vivendo a cada momento uma única Palavra do Evangelho, porque em cada uma de suas Palavras Jesus está presente.
Existe uma Palavra para cada momento, para cada situação da nossa vida. E é a leitura do Evangelho que poderá nos revelar cada uma delas.
Então, por amor a Deus, vivamos agora o amor ao próximo que é um concentrado de todas as Palavras.

Chiara Lubich