Movimento dos Focolares

Julho de 2001

Santa Teresinha do Menino Jesus dizia que é melhor falar “com Deus” do que “de Deus”, porque no diálogo com os outros sempre pode se infiltrar o amor próprio. Ela tem razão. Mas, para dar um testemunho aos outros, precisamos também falar de Deus.
No entanto, é certo que, acima de tudo, devemos amar a Deus com aquele amor que é a base da vida cristã e que se exterioriza na oração, na atuação da sua vontade.
Portanto, falar com os próximos, sem dúvida; mas sobretudo falar com Deus.
Mas falar como?
Simplesmente recitando as orações de todo cristão, mas também examinando, durante o dia, por meio de alguma oração-relâmpago, se o nosso coração está realmente voltado para ele, se é ele o ideal da nossa vida; se lhe damos de fato o primeiro lugar no nosso coração; se o amamos sinceramente com todo o nosso ser.
Refiro-me àquelas orações breves que são aconselhadas especialmente às pessoas que vivem no mundo e não dispõem de tempo para rezar demoradamente. São como flechadas de amor que partem do nosso coração em direção a Deus, como dardos de fogo: são as assim chamadas “jaculatórias” que, etimologicamente, significam exatamente dardos, flechas. Elas são um meio excelente para reconduzir continuamente o nosso coração a Deus.
Na liturgia eucarística deste mês, na Igreja Católica, encontramos um versículo estupendo, que pode ser considerado uma jaculatória e que ilustra bem o nosso caso:

«És tu, Senhor, o meu único bem»

“És tu, Senhor, o meu único bem”.
Façamos a experiência de repeti-lo durante o dia, sobretudo quando os diversos apegos ameaçarem desviar o nosso coração para coisas, para pessoas ou para nós mesmos. Digamos: “És tu, Senhor, o meu único bem, não aquele objeto, nem aquela pessoa, nem eu mesmo; tu – e nada mais – és o meu único bem”.
Experimentemos repeti-lo quando a agitação ou a pressa quiserem nos levar a não fazer bem a vontade de Deus do momento presente: “És tu, Senhor, o meu único bem; portanto, a tua vontade – e não aquilo que eu quero – é o meu bem”.
Se a curiosidade, o amor próprio ou as mil atrações do mundo estiverem para comprometer o nosso relacionamento com Deus, digamos-lhe com todo o coração: “És tu, Senhor, o meu único bem; e não estas coisas, com as quais a minha avidez e o meu orgulho desejariam satisfazer-se!”.
Experimentemos, então, repeti-lo com freqüência. Experimentemos repeti-lo quando alguma sombra ofuscar a nossa alma, ou quando a dor bater à porta. Será um modo de nos prepararmos para o encontro com ele.

«És tu, Senhor, o meu único bem»

Estas simples palavras nos ajudarão a ter confiança nele, nos exercitarão a conviver com o Amor. Assim, sempre mais unidos a Deus e plenificados por ele, colocaremos e recolocaremos as bases do nosso verdadeiro ser, feito à sua imagem.
Desse modo tudo correrá bem na vida, no sentido certo. Então, sim, quando falarmos, o que dissermos não serão apenas palavras ou, pior ainda, tagarelice: também as palavras serão “dardos” capazes de abrir os corações, para que eles acolham Jesus.
Façamos, então, a experiência de colher todas as ocasiões para pronunciar essas simples palavras. No final do dia teremos certamente a confirmação de que elas tornaram-se um remédio, um tônico para a nossa alma e – como diria santa Catarina de Sena – fizeram com que o nosso coração se tornasse uma chama viva.

Chiara Lubich

 

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Junho de 2001

Não pense que, só pelo fato de caminhar pelas estradas do mundo, você pode olhar tranqüilamente todos os cartazes e comprar nas bancas de jornais ou nas livrarias qualquer publicação, indiscriminadamente.
Não pense que, só pelo fato de viver no mundo, você pode adotar qualquer estilo de vida que ele oferece: as experiências fáceis, a imoralidade, o aborto, o divórcio, o ódio, a violência, o furto.
Não, não. Você vive no mundo. Quem é que não percebe?
Mas você é um cristão, portanto não é “do mundo”.
E isso implica uma grande diferença. Isso o classifica no grupo das pessoas que se nutrem não com as coisas do mundo mas com tudo aquilo que a voz de Deus exprime no seu íntimo. Essa voz existe no coração de cada homem e faz você entrar – se souber escutá-la – num reino que não é deste mundo, onde se vive o amor verdadeiro, a justiça, a pureza, a mansidão, a pobreza, e onde vigora o autodomínio.
Por que é que muitos jovens se tornam discípulos de religiões orientais para encontrar um pouco de silêncio e para descobrir o segredo de certos grandes líderes espirituais que, pela longa mortificação do próprio “eu inferior”, revelam um amor que impressiona todos aqueles que deles se aproximam?
É a reação natural à confusão do mundo, ao barulho que predomina fora e dentro de nós, que não deixa espaço ao silêncio necessário para ouvir a voz de Deus.
Mas, será mesmo necessário ir ao Oriente, se já faz dois mil anos que Cristo lhe disse: “Renuncie a si mesmo… renuncie a si mesmo”?
O mundo investe contra você como um rio na cheia, e você deve seguir contra a correnteza. O mundo, para o cristão, é como uma mata cerrada, na qual ele deve olhar com cuidado onde pisa. E onde deve pisar? Nas pegadas que o próprio Cristo deixou, quando passou por esta terra: essas pegadas são as suas palavras. Hoje ele repete a você:

«Se alguém quiser seguir-me, renuncie a si mesmo…»

Com isso você talvez fique exposto ao desprezo, à incompreensão, ao ridículo, à calúnia; você ficará isolado. Esta frase o convidará a estar disposto até mesmo a passar por um vexame, a abandonar um cristianismo só de moda.
E mais ainda:

« … tome sua cruz cada dia e siga-me».

Querendo ou não, qualquer existência humana é amargurada pela dor. Também a sua. E pequenas ou grandes dores aparecem todos os dias.
Quer evitá-las? Você se rebela? Reage com impropérios? Neste caso, você não é cristão, não é cristã.
O cristão ama a cruz, ama a dor, embora em meio às lágrimas, porque conhece o seu valor. Não foi por acaso que, entre os inúmeros meios que Deus tinha à sua disposição para salvar a humanidade, Ele escolheu a dor.
Mas lembre-se que, após ter carregado a cruz e ter sido pregado nela, Ele ressuscitou.
A ressurreição será também o seu destino se você, em vez de desprezar o sofrimento causado pela sua coerência cristã e por todas as outras circunstâncias da vida, souber aceitá-lo com amor. Então você poderá comprovar que a cruz conduz, já aqui na terra, a uma alegria jamais experimentada; a sua vida interior começará a crescer; o Reino de Deus em você tomará consistência e o mundo de fora, aos poucos, desaparecerá diante dos seus olhos, como se fosse um cenário de papelão. E você não terá mais inveja de ninguém.
Assim você poderá considerar-se realmente discípulo de Cristo.

“Se alguém quiser seguir-me, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia e siga-me”.

E você se tornará luz e amor, aliviando as inúmeras chagas que dilaceram a humanidade de hoje, como Cristo a quem você seguiu.

Chiara Lubich

 

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Maio de 2001

Jesus está dirigindo aos apóstolos suas solenes e veementes palavras de despedida, garantindo-lhes, entre outras coisas, que haveriam de vê-lo novamente, porque ele se manifestaria àqueles que o amam.
Judas Tadeu (não o Iscariotes) pergunta-lhe então por que ele haveria de se manifestar somente a eles e não em público. O discípulo desejava uma grande manifestação externa de Jesus que pudesse mudar a história e que seria, na sua opinião, mais útil para a salvação do mundo. Com efeito, os apóstolos pensavam que Jesus fosse o profeta tão esperado dos últimos tempos, que, ao aparecer, deveria revelar-se diante de todos como o Rei de Israel e instaurar definitivamente o Reino do Senhor, assumindo a liderança do povo de Deus.
Porém Jesus responde que a sua manifestação não se daria de modo espetacular e externo. Seria uma simples mas extraordinária “vinda” da Trindade ao coração do fiel, vinda que se realiza lá onde existe fé e amor.
Com esta resposta Jesus deixa claro de que modo ele vai estar presente no meio dos seus, depois da sua morte, e explica como será possível manter o contato com ele.

«Se alguém me ama, observará a minha palavra e meu Pai o amará; nós viremos a ele e faremos nele a nossa morada».

De certo modo, ainda, a sua presença nos cristãos e no meio da comunidade pode acontecer desde já e não só após a morte. Portanto, não é necessário esperar o futuro. O templo que acolhe essa presença não é tanto um templo feito de paredes, mas o próprio coração do cristão, que se torna, assim, o novo tabernáculo, a morada viva da Trindade.

«Se alguém me ama, observará a minha palavra e meu Pai o amará; nós viremos a ele e faremos nele a nossa morada».

Mas como o cristão pode chegar a isso? Como conter em si o próprio Deus? Qual o caminho para entrar nesta profunda comunhão com ele?
O caminho é o amor para com Jesus.
Um amor que não é mero sentimentalismo, mas que se traduz em vida concreta e, mais precisamente, na observância da sua Palavra.
É a este amor do cristão, comprovado pelos fatos, que Deus responde com seu amor: a Trindade vem morar nele.

«Se alguém me ama, observará a minha palavra e meu Pai o amará; nós viremos a ele e faremos nele a nossa morada».

“… observará a minha palavra”.
E quais são as palavras que o cristão é chamado a observar?
No Evangelho de João, a expressão “as minhas palavras” muitas vezes é sinônimo de “os meus mandamentos”. O cristão, portanto, é chamado a observar os mandamentos de Jesus. Estes, porém, não devem ser entendidos como uma coletânea de leis. Pelo contrário, é preciso vê-los todos sintetizados naquilo que Jesus ilustrou com o lava-pés: o mandamento do amor recíproco. Deus ordena que o cristão ame o outro até a doação total de si mesmo, como Jesus ensinou e fez.

«Se alguém me ama, observará a minha palavra e meu Pai o amará; nós viremos a ele e faremos nele a nossa morada».

E como poderemos viver bem esta Palavra? Como chegar ao ponto em que o próprio Pai nos amará e a Trindade virá habitar em nós?
Atuando com todo o nosso coração, com radicalismo e perseverança, justamente o amor recíproco entre nós.
É principalmente nisto que o cristão encontra também o caminho daquela profunda ascese cristã que o Crucificado exige dele. Com efeito, é estando ali, no amor recíproco, que florescem no seu coração todas as virtudes e é ali que ele pode corresponder ao chamado à própria santificação.

Chiara Lubich

 

Abril de 2001

Estas palavras, dirigidas por são Paulo à comunidade de Colossos, revelam a existência de um mundo no qual reina o amor verdadeiro, a comunhão completa, a justiça, a paz, a santidade, a alegria; um mundo onde o pecado e a corrupção já não podem ingressar, um mundo onde a vontade do Pai é realizada com perfeição. É o mundo ao qual Jesus pertence. É o mundo que ele, passando pela dura prova da paixão e morte, abriu totalmente para nós com a sua ressurreição.
E nós não somente somos chamados a pertencer a esse mundo de Cristo, como já pertencemos a ele, por efeito do batismo.
Mas Paulo sabe que, apesar da nossa condição de batizados – e, portanto, de ressuscitados com Jesus -, a nossa atual presença no mundo nos expõe a inúmeros perigos e tentações, e principalmente àqueles “apegos” nos quais necessariamente caímos se não tivermos o coração em Deus e nos seus ensinamentos. Apegos que podem se relacionar com as coisas, com as criaturas e conosco mesmos: as próprias idéias, a saúde, o próprio tempo, o repouso, o estudo, o trabalho, os parentes, as próprias consolações ou satisfações… coisas essas que não são Deus e que, portanto, não podem ocupar o primeiro lugar nos corações.
É por isso que Paulo nos exorta:

«Se, pois, ressuscitastes com Cristo, procurai as coisas do alto (…). Pensai nas coisas do alto, e não nas da terra».

E o que são essas “coisas do alto”? São aqueles valores que Jesus trouxe à terra e por meio dos quais se distinguem os seus seguidores. São o amor, a concórdia, a paz, o perdão, a integridade, a pureza, a honestidade, a justiça etc.
São todas aquelas virtudes e riquezas que o Evangelho oferece. Com elas e por meio delas os cristãos se mantêm na sua realidade de ressuscitados com Cristo. Por meio delas podem ficar imunizados contra a influência do mundo, a concupiscência da carne, o demônio.
Mas em que consiste esse “procurar as coisas do alto” na vida de cada dia? E como se faz para manter o coração ancorado no Céu, embora vivendo em meio ao mundo?
Deixando-nos guiar pelos pensamentos e pelos sentimentos de Jesus, cujo olhar interior estava sempre dirigido ao Pai e cuja vida refletia, em cada instante, a lei do céu, que é uma lei de amor.

«Se, pois, ressuscitastes com Cristo, procurai as coisas do alto (…). Pensai nas coisas do alto, e não nas da terra».

Neste mês, em que celebramos a santa Páscoa, um modo prático para viver esta frase será motivar todas as múltiplas ações do dia com aquela “arte de amar” que as torna preciosas e fecundas.
Por exemplo, ao tratar com os que estão ao nosso lado, procuremos fazer a eles o que gostaríamos que fosse feito a nós; procuremos “fazer-nos um” com eles, assumindo sobre nós as dores e as alegrias de todos.
Não podemos esperar que os outros dêem o primeiro passo em nossa direção, quando o que está em jogo é a concórdia da família e a harmonia no ambiente em que vivemos. Somos nós que devemos começar.
E, uma vez que não é humanamente fácil viver tudo isso, pelo contrário, às vezes parece impossível, será necessário dirigir o olhar para o alto e pedir ao Ressuscitado aquela ajuda que ele não pode nos recusar.
Assim, olhando para as “coisas do alto” a fim de vivê-las aqui na terra, poderemos levar o reino dos céus àquele pequeno ou grande universo que o Senhor nos confiou.

Chiara Lubich

Março de 2001

Esta frase se encontra no final da chamada parábola do filho pródigo – que certamente você conhece – e quer revelar-nos a grandeza da misericórdia de Deus. Ela conclui todo um capítulo do Evangelho de Lucas, no qual Jesus narra outras duas parábolas para ilustrar o mesmo assunto.
Lembra-se do episódio da ovelha desgarrada, em que o dono do rebanho procura aquela que se perdera, deixando as outras noventa e nove no deserto?
Lembra-se também da história da dracma perdida e da alegria da mulher que, após encontrá-la, chama as amigas e as vizinhas para se alegrarem com ela?

«Mas era preciso festejar e alegrar-se porque este teu irmão estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi reencontrado».

Estas palavras são um convite que Deus dirige a você, e a todos os cristãos, para rejubilar-se com ele, para festejar e participar da sua alegria pela volta do homem pecador que antes estava perdido e depois foi encontrado. E, na parábola, são estas as palavras dirigidas pelo pai ao filho mais velho que havia compartilhado toda a sua vida mas que, após um dia de trabalho duro, se recusa a entrar em casa, onde se festeja a volta de seu irmão.
O pai vai ao encontro do filho fiel – assim como foi ao encontro do filho perdido – e procura convencê-lo. Mas é evidente o contraste entre os sentimentos do pai e os sentimentos do filho mais velho: de um lado o pai, com seu amor sem limites e com sua grande alegria, da qual gostaria que todos participassem; do outro lado o filho, cheio de desprezo e de ciúmes de seu irmão, que ele não reconhece mais como irmão. Com efeito, falando dele, diz: “Este teu filho, que devorou teus bens”.
O amor e a alegria do pai pelo filho que voltou evidenciam ainda mais o rancor do outro, rancor que indica um relacionamento frio – diríamos até falso – com o próprio pai. A este filho importa o trabalho, o cumprimento do seu dever; mas ele não ama o pai como um verdadeiro filho. Ao contrário, mais parece que lhe obedece como a um patrão.

«Mas era preciso festejar e alegrar-se porque este teu irmão estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi reencontrado».

Com estas palavras Jesus denuncia um perigo em que também você pode incorrer: viver apenas para ser uma “pessoa de bem”, baseando sua vida na busca da perfeição e criticando os irmãos “menos perfeitos” que você. Na verdade, se você estiver “apegado” à perfeição, construirá o seu ego, ficará cheio de si mesmo, cheio de admiração pela própria pessoa. Será como o filho que permaneceu em casa, e que enumera ao pai os seus méritos: “Há tantos anos que eu te sirvo e jamais transgredi um só dos teus mandamentos”.

«Mas era preciso festejar e alegrar-se porque este teu irmão estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi reencontrado».

Com estas palavras, Jesus censura aquela atitude segundo a qual a relação com Deus estaria fundamentada apenas na observância dos mandamentos, porque essa observância não é suficiente. Disso também a tradição judaica está bem consciente.
Nesta parábola Jesus põe em evidência o Amor divino, mostrando como Deus, que é Amor, dá o primeiro passo em direção ao homem sem levar em consideração se ele merece ou não; Deus quer que o homem se abra a ele para poder estabelecer uma autêntica comunhão de vida. Naturalmente, como você pode entender, o maior obstáculo diante de Deus-Amor é justamente a vida daqueles que acumulam ações, obras, enquanto Deus quer simplesmente o seu coração.

“Mas era preciso festejar e alegrar-se porque este teu irmão estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi reencontrado”.

Com estas palavras, Jesus convida você a ter, diante do homem pecador, o mesmo amor sem limites que o Pai tem para com ele. Jesus o convida a não julgar segundo a sua própria medida o amor que o Pai tem para com qualquer pessoa. Convidando o filho mais velho a compartilhar a sua alegria pelo filho encontrado, o Pai pede também a você uma mudança de mentalidade: na prática, você deve acolher como irmãos e irmãs também aqueles homens e mulheres pelos quais nutriria apenas sentimentos de desprezo e de superioridade. Isto provocará em você uma verdadeira conversão, porque o purifica da sua convicção de ser “mais perfeito”, evita que você caia na intolerância religiosa e o faz acolher como puro dom do amor de Deus a salvação que Jesus lhe proporcionou.

Chiara Lubich

 

Fevereiro de 2001

Nunca lhe aconteceu receber um presente de um amigo e sentir a necessidade de retribuir? Retribuir, não tanto por obrigação, mas por um verdadeiro amor, cheio de gratidão? Provavelmente sim.
Se isto acontece com você, imagine então com Deus, com Deus que é Amor. Ele retribui sempre todo bem que fazemos ao nosso próximo em seu nome. É uma experiência que os cristãos verdadeiros fazem constantemente. E sempre é uma surpresa. Nunca nos acostumamos com a criatividade de Deus. Poderia citar mil, dez mil exemplos, poderia escrever um livro a este respeito. Você veria como é verdadeira a imagem evocada pela frase “Recebereis uma medida boa, calcada, sacudida, transbordante”, para explicar a magnanimidade de Deus, a abundância com que ele retribui.
“Já anoitecera em Roma. E, num minúsculo apartamento, um pequeno grupo de moças que procuravam viver o Evangelho – eram os primeiros tempos do Movimento – preparava-se para dormir. Nesse momento toca a campainha. Quem seria, àquelas horas? Um senhor estava à porta, em pânico, desesperado: no dia seguinte seria despejado de sua casa, com toda a família, porque não podia pagar o aluguel. As jovens se entreolharam e, de comum acordo, abriram a gaveta onde guardavam o que tinha sobrado de seus ordenados. Deram tudo àquele homem, sem raciocinar. Naquela noite dormiram felizes. Alguém haveria de pensar nelas.
Mas, ainda não despontou o dia e já toca o telefone. 'Estou indo até aí de táxi' – era a voz daquele homem.
Estranhando por ele vir de táxi, as moças esperam. O rosto do hóspede revela que alguma coisa havia mudado: 'Ontem à noite, logo que cheguei em casa, me entregaram uma pequena herança que eu nem sonhava em receber. O coração me diz que devo dar a metade para vocês'. A importância correspondia exatamente ao dobro daquilo que elas generosamente haviam doado”.

«Dai, e vos será dado; será derramado no vosso regaço uma boa medida, calcada, sacudida, transbordante».

E você, já fez essa experiência? Se ainda não, lembre-se de que é preciso doar desinteressadamente, sem esperar nada em troca, a quem quer que lhe peça algo.
Experimente. Não para ver o resultado, mas porque você ama a Deus.
Você poderá dizer: “mas eu não tenho nada.”
Não é verdade. Se quisermos, temos verdadeiros tesouros: o nosso tempo livre, o nosso coração, o nosso sorriso, o nosso conselho, a nossa cultura, a nossa paz, a nossa palavra para convencer aquele que tem bens a partilhá-los com os que não têm…
Você poderá replicar: “mas não sei a quem doar.”
Olhe ao seu redor: você se lembra daquele doente no hospital, daquela mulher, viúva, sempre sozinha, daquele colega tão desanimado porque não se saiu bem na escola, daquele jovem desempregado sempre triste, do irmãozinho que precisa de ajuda, daquele amigo na prisão, daquele aprendiz inseguro? É neles que Cristo espera você.
Assuma o comportamento novo do cristão – do qual o Evangelho está todo impregnado – que é o “antifechamento”. Renuncie a colocar a sua segurança nos bens da terra e apóie-se em Deus. É assim que você mostrará a sua fé nele, a qual logo será confirmada pela retribuição que chegará às suas mãos.
E é lógico que Deus não se comporta assim para enriquecê-lo ou para nos enriquecer. Ele o faz para que outros, muitos outros, vendo os pequenos milagres do nosso dar, façam o mesmo.
Deus faz assim porque, quanto mais tivermos, mais poderemos dar. A fim de que, como verdadeiros administradores dos bens de Deus, façamos circular tudo na comunidade ao nosso redor, até que se possa dizer a nosso respeito o que se dizia da primeira comunidade de Jerusalém: “Não havia nenhum indigente entre eles”. Você não sente que desse modo contribui a dar um espírito autêntico à revolução social que o mundo espera?
“Dai e vos será dado”. Certamente Jesus pensava em primeiro lugar na recompensa que teremos no paraíso; mas tudo o que acontece nessa terra já é um prelúdio e uma garantia disso.

Chiara Lubich