Movimento dei Focolari

De Nicéia caminhando juntos rumo à unidade: um novo começo

Um webinar na quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024, oferecerá insights e reflexões sobre o Concílio de Nicéia e seu legado que ainda está vivo para os cristãos hoje.

O ano 2025 marca 1.700 anos desde o primeiro Concílio Ecumênico de Nicéia (325 DC). É um exemplo único de como tomar decisões comuns em tempos difíceis e provenientes de culturas diferentes. Foram então lançadas as bases da crença cristã: uma herança preciosa, testemunhada ao longo dos séculos pela vida e pela fé das Igrejas, que fermentou o caminho da civilização humana.

Em Nicéia também foi decidido como calcular a data da Páscoa cristã: o domingo seguinte à primeira lua cheia após o início da primavera. Posteriormente, a utilização de calendários diferentes diferenciou o dia da Páscoa entre o Oriente e o Ocidente, de modo que apenas ocasionalmente a data coincide (por exemplo, neste ano de 2024 há 15 dias de diferença). O 2025 será um ano em que todas as Igrejas celebrarão a Páscoa na mesma data.

Mas hoje essa comemoração assume uma importância mais ampla. Na verdade, vivemos numa era de conflitos e angústias. Um tempo que precisa de uma nova esperança. Um tempo que deve redescobrir a profecia de uma cultura da Ressurreição.

Um seminário web está programado para quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024, intitulado: “De Nicéia caminhando juntos rumo à unidade. Um novo começo.” O webinar pretende destacar como o Concílio de Nicéia foi o início poderoso deste testemunho comum para a Igreja com a força de um novo Pentecostes que ilumina toda a realidade e dá a força para se dedicar à prática da fraternidade universal.

O resultado é um forte apelo a todas as Igrejas, no Oriente e no Ocidente, para que façam um esforço adicional para chegar a um acordo sobre uma data comum para a Páscoa, dando origem a um novo começo de testemunho comum perante o mundo.

Na verdade, testemunhar a unidade e o reconhecimento mútuo de tradições distintas e ricas da única fé seria uma contribuição decisiva para a cansativa e dramática busca pela paz e para a conciliação desafiadora entre uma feliz coexistência global da humanidade e o direito à liberdade e à identidade de cada povo.

O webinar, preparado por estudiosos de diferentes Igrejas, pretende divulgar, numa linguagem acessível a todos, o enorme legado do Primeiro Concílio Ecumênico da Igreja: um legado que, recolhido e vivido, tem força para fazer a diferença ao longo do difícil tempo que vivemos.

Na abertura do evento, falarão o Patriarca Ecumênico Bartolomeu, o Cardeal Kurt Koch, Presidente do Dicastério para a Unidade dos Cristãos, o Dr. Jerry Pillay, Secretário Geral do Conselho Mundial de Igrejas e o Dr. Thomas Schirrmacher, Secretário Geral da Aliança Evangélica Mundial. A seguir, haverá a participação de representantes de diversas Igrejas.

O seminário será das 13h30 às 16h30. A tradução simultânea estará disponível em árabe, inglês, francês, alemão, italiano e espanhol.

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A força para não se render ao mal

Depois da agressão terrorista sofrida por Israel, do horror da violência desencadeada, da onda de medo que abalou os dois povos, da angústia pelos reféns e da suspensão pelo destino do povo de Gaza: notícias das comunidades dos Focolares na Terra Santa e um apelo mundial à oração e ao jejum pela paz, em 17 de outubro.

Deixamos as nossas casas e todos os cristãos se refugiaram nas igrejas”. Esta é a breve mensagem que recebemos esta manhã de alguns membros da comunidade dos Focolares em Gaza. São as últimas notícias que recebemos deles.

Segundo o padre Gabriel Romanelli, pároco da paróquia católica da Sagrada Família em Gaza, ainda vivem na Faixa 1017 cristãos e entre eles há vários aderentes do Movimento dos Focolares com quem a comunicação é cada vez mais esporádica e difícil.

E, apesar disso, nos últimos dias circulou uma mensagem de um deles para agradecer a todos pela proximidade e orações pela pequena comunidade de Gaza.

 “Vocês me deram a força para não me render ao mal”, escreve, “para não duvidar da misericórdia de Deus e acreditar que o bem existe. Em meio a todas as trevas, tem uma luz oculta. Se não pudermos rezar, rezem vocês. Nós oferecemos e assim é completo aquilo que fazemos. Queremos gritar ao mundo que desejamos a paz, que a violência gera violência e que a nossa confiança em Deus é grande. Mas se Deus nos chamasse para Si, tenham a certeza de que do céu continuaremos a rezar com vocês e a implorar com mais força para que tenha compaixão do seu povo e de vocês. Paz, segurança, unidade e fraternidade universal, é isso que desejamos e essa é a vontade de Deus e também nossa“.

Margaret Karram: em meio ao ódio, notícias da fraternidade

É preciso coragem para dizer isso hoje, quando o horror e a violência ocupam todo o espaço da mídia, mas estas não são as únicas notícias. Existem aquelas que são menos gritadas, mas que não podem ser silenciadas, como a rede mundial de oração que existe em todos os pontos da Terra, independentemente da crença religiosa e filiação, juntamente com gestos e palavras de fraternidade. Margaret Karram, presidente do Movimento dos Focolares, disse isso ontem no habitual briefing na Sala de Imprensa do Vaticano, fora do âmbito do Sínodo da Igreja Católica em curso, do qual participa como convidada especial.

Amigos judeus que conheço em Israel “, diz ela, “ligaram para mim, uma árabe-palestina, dizendo que estão preocupados com aqueles que vivem em Gaza. Para mim, é uma coisa muito bela. Todos conhecem as histórias negativas entre esses dois povos, mas muitas pessoas, muitas organizações trabalham para construir pontes e ninguém fala sobre isso. Só se fala em ódio, divisão, terrorismo. Criam-se imagens coletivas desses dois povos que não correspondem à realidade. Não podemos esquecer que ainda hoje muitas pessoas trabalham para construir pontes. É uma semente plantada, mesmo nesta hora difícil.”

Dos amigos judeus: formar uma comunidade de oração

Para confirmar isso, de uma cidade no distrito de Tel Aviv, um amigo judeu nos escreve:

Se estiverem em contato com os amigos dos Focolares em Gaza, enviem para eles o meu amor e proximidade. Espero que estejam todos a salvo. Hoje estou em casa com a minha família, as escolas estão fechadas e ficamos perto dos refúgios. Nos bate-papos aparecem continuamente apelos e ofertas de ajuda para as famílias que fugiram, para os soldados e suas famílias. Chegam também pedidos de ajuda para os enterros, para homenagear os mortos como devem ser honrados. Parece que todos os jovens foram chamados às armas e tememos por amigos e parentes. Tememos o que vem pela frente. Tento proteger meus filhos do medo, mas o nosso horror é insignificante em comparação com o que aconteceu com os nossos irmãos e irmãs no Sul. Penso nos meus amigos árabes em Israel, que correm para os refúgios como nós. Procuro rezar na mesma hora do meu amigo muçulmano, para que possamos ser uma comunidade de oração, embora muitas coisas nos dividam. Aprecio o desejo de vocês de estarem conosco, juntos, e as suas orações muito além das minhas palavras“.

O que podemos fazer?

Na conferência de imprensa, Margaret Karram exprimiu a dor e a angústia que sente pelo seu povo, por ambos os lados: “Eu me perguntei, o que estou fazendo aqui? Neste momento não deveria unicamente agir para promover a paz? Mas depois disse a mim mesma: também aqui posso associar-me ao convite de Papa Francisco e às orações de todos. Com estes irmãos e irmãs de todas as partes do mundo, podemos pedir a Deus o dom da paz. Acredito no poder da oração“. Ela depois falou da ação: “Chega de guerras!! VAMOS CONSTRUIR A PAZ!” que as crianças, adolescentes e jovens dos Focolares lançaram juntamente com a associação Living Peace [Viver a Paz]. Reúnem os seus coetâneos para rezar pela paz às 12:00 [meio-dia], todos os dias e em todos os fusos horários; depois propõem-se preencher o dia com gestos que construam a paz no coração de cada um e à sua volta; convidam a enviar mensagens de apoio às crianças, adolescentes e jovens da Terra Santa e os encorajam a pedir aos governantes de seus países que façam tudo o que puderem para obter a paz.

O Movimento dos Focolares também adere ao apelo do Patriarca Latino de Jerusalém, o Cardeal Pizzaballa, para um dia de jejum e oração pela paz, no dia 17 de outubro: “Que sejam organizados momentos de oração com adoração eucarística e o terço à Santíssima Virgem. As circunstâncias em muitas partes de nossas dioceses provavelmente não permitirão a reunião em grandes assembleias. Nas paróquias, comunidades religiosas e famílias, será possível se organizar com momentos simples e sóbrios de oração comum”.

Stefania Tanesini


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“Balanço de comunhão”: o diálogo constrói a paz

Participar / presidir / decidir

Sábado, 24 de junho, foi realizado em Loppiano (Incisa Valdarno, Florença, Itália) um seminário teológico intitulado “Participar/presidir/decidir. Raiz sacramental e dinâmica de comunhão no caminho do povo de Deus em missão”.

Mais de 100 estudiosos responderam ao convite do Centro Evangelii Gaudium (CEG) do Instituto Universitário Sophia, para elaborar uma proposta de revisão do direito canônico, com o objetivo de reequilibrar – como pede o documento-base (Instrumentum laboris) da XIV Assembleia do Sínodo dos Bispos – “a relação entre o princípio de autoridade, fortemente afirmado pela normativa vigente, e o princípio de participação”. Sendo que “não todas as discussões doutrinais, morais ou pastorais – assegura-nos o Papa Francisco – devem ser resolvidas com intervenções do magistério” (Es. ap. Amoris laetizia, n. 3), é decisiva a escuta do sensus fidelium de todo o povo de Deus (pastores e fieis) na variedade das culturas que o compõem. O diálogo entre teologia e direito é, portanto, animado por um processo sincero de inculturação, sem o qual existe um risco real de lançar as bases de uma violação prática dos princípios gerais enunciados pela Igreja. “A questão – observa o prof. Vincenzo Di Pilato, coordenador acadêmico do CEG – é exatamente esta: como tornar efetiva a participação ativa de todos os fieis dentro das nossas assembleias sinodais? Continuará apenas consultiva? Ou será também deliberativa? Isso significará chegar a uma tratativa por uma ‘concessão’ jurídica ou ‘reconhecer’ a capacidade de decisão do sujeito coletivo, da ação eclesial assim como emerge da eclesiologia do Vaticano II e do magistério pós-conciliar? E assim sendo, será necessária uma atualização do Código de Direito Canônico?”.

Na saudação inicial aos participantes, o cardeal Mario Grech, Secretário geral do Sínodo, evidenciou que o caminho sinodal entra numa nova fase: é chamado a tornar-se uma dinâmica generativa, e não simplesmente um evento entre outros. De fato, não se pode escutar o Espírito Santo sem escutar o povo santo de Deus, na “reciprocidade” que constitui o “Corpo de Cristo”. Neste liame de comunhão toma forma aquela metodologia especial da conversa no Espírito, bem descrita por ocasião da apresentação do Instrumentum laboris. Daqui a necessidade – por várias vezes acenada pelo card. Grech – de articular melhor o princípio da restituição. Em outras palavras, isso significa que a unidade do processo sinodal é garantida pelo fato que ele retorna ao ponto de onde partiu, à Igreja particular, e é um momento importante do “reconhecimento” do que amadureceu ao se escutar aquilo que o Espírito diz hoje à Igreja. O caminho sinodal parece colocar-se como um momento significativo da vida eclesial, capaz de estimular e ativar o entusiasmo criativo e de anúncio evangélico que vem da redescoberta da relação com Deus que inerva a relação entre os crentes, um sinal para um contexto cultural em que há um grito silencioso de fraternidade na busca do bem comum.

Na aula proferida pelo prof. Severino Dianich, “Os problemas da sinodalidade entre eclesiologia e direito canônico”, emergiu a recuperação da eclesiologia paulina do ‘ser corpo de Cristo’ e a valorização da co-essencialidade dinâmica dos dons hierárquicos e carismáticos. Para o prof. Alphonse Borras, por sua vez, tal reviravolta necessita de uma explicação canônica, que defina uma prática processual flexível, capaz de acompanhar os processos de decisão e de participação através dos vários organismos já existentes (conselho episcopal, presbiteral, pastoral diocesano, pastoral paroquial…).

O cardeal Francesco Coccopalmerio, ex-presidente do Conselho Pontifício para os textos legislativos, em sua palestra “Sinodalidade eclesial: existe a hipótese de uma rápida passagem do consultivo ao deliberativo?”, manteve-se na mesma linha. Na sua opinião, é possível encontrar uma definição clara de sinodalidade no direito canônico, entendida como “a comunhão de pastores e fiéis na atividade de reconhecer o bem da Igreja e na capacidade de decidir como implementar o bem identificado”.

Na conclusão do seminário, muitos propuseram que os resultados fossem disponibilizados através da publicação dos discursos. O CEG trabalhará para que isso seja feito até setembro, como mais um contributo para o próximo Sínodo.

Antonio Bergamo


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“Balanço de comunhão”: o diálogo constrói a paz

Prêmio Seelisberg 2023 para Joseph Sievers

No evento de abertura da conferência internacional do International Council of Christians and Jews (ICCJ) em Boston (EUA), domingo, 18 de junho, o Professor Joseph Sievers recebeu o Prêmio Seelisberg 2023. Nós o entrevistamos quando ele voltou a Roma.

O Prêmio Seelisberg se inspira e rememora o encontro inovador que ocorreu no pequeno vilarejo suíço de Seelisberg, de 30 de julho a 5 de agosto de 1947 para encarar os ensinamentos cristãos sobre a discriminação contra os judeus e o judaísmo. Esse evento é amplamente reconhecido como a inauguração da transformação nas relações entre judeus e cristãos.

O Prêmio Seelisberg é entregue todos os anos (desde 2022) pelo Conselho Internacional de Cristãos e Judeus (ICCJ), que nasceu na conferência de Seelisberg, e do Centro para a teologia intercultural e estudo das religiões da Universidade de Salzburgo.

São homenageadas pessoas que tiveram papeis importantes por meio de seus percursos de estudos e ensinamentos em promover a reaproximação entre judeus e cristãos.

O Professor Doutor Joseph Sievers (Prêmio Seelisberg 2023) nasceu na Alemanha e começou seus estudos na Universidade de Viena e na Universidade Hebraica de Jerusalém. Conseguiu um doutorado de pesquisa em História Antiga na Columbia University (1981) e uma Lic. Teol. na Pontifícia Universidade Gregoriana (1997). Deu aula em CUNY, Seton Hall Univ., Fordham Univ. e outras instituições nos Estados Unidos, na Itália e em Israel.

De 1991 a 2023, deu aulas de História e Literatura Hebraica do período helenístico no Pontifício Instituto Bíblico de Roma, onde foi professor ordinário. Além disso, de 2003 a 2009, foi diretor do Centro Cardinal Bea de Estudos Judaicos na Pontifícia Universidade Gregoriana.

Desde 1965 é membro do Movimento dos Focolares e colabora com o Centro para o Diálogo Inter-religioso desde 1996. Publicou diversos livros e muitos artigos, principalmente sobre a História do Segundo Templo (em particular Flavio Giuseppe) e as relações hebraico-cristãs. Com Amy-Jill Levine, editou The Pharisees (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 2021; tradução italiana Milano, San Paolo, 2021; tradução alemã prevista para 2024).

Professor Sievers, o que significou para o senhor ter recebido esse prêmio?

Foi uma grande surpresa e quando me pediram para contar sobre a minha experiência, senti uma imensa gratidão olhando para trás, repensando em todos os momentos, em todas as pessoas que encontrei, em todas as situações em que pude estar presente e, às vezes, ajudar. Uma gratidão e, ao mesmo tempo, uma responsabilidade pelo presente e pelo futuro.

No seu discurso na cerimônia de entrega do Prêmio, o senhor disse: “As dificuldades podem nos ajudar a nos entender melhor. As dificuldades podem nos unir”. Na sua longa experiência neste diálogo, o que foi mais difícil e o que foi mais surpreendente a ponto de dizer ainda hoje que “É possível fazer”?

Houve vários momentos difíceis, mas um que me lembro de modo particular é quando tivemos que organizar um encontro de diálogo em Jerusalém em 2009. Algumas semanas depois de um conflito, uma operação que deixou muitos mortos e feridos. Depois, no mesmo período houve a situação do bispo (Richard Nelson) Williamson que negava o holocausto. Havia dificuldades em todas as partes que tornavam difícil um diálogo aberto. Porém, conseguimos fazer esse encontro. Fomos adiante e foram momentos de comunhão muito fortes, espirituais, para além de todos os problemas. E você também me perguntou sobre as coisas que foram possíveis apesar das dificuldades? Certamente não foi fácil organizar um encontro sobre os fariseus e publicar um livro. Havia vários pontos em que me parecia que o caminho estivesse bloqueado. Ou por razões econômicas, ou porque alguém não concordava com o que queriam fazer, ou porque parecia impossível ter uma audiência com o papa para um encontro desse tipo… No entanto, colaborando, realmente teve uma colaboração, especialmente com uma colega judia, mas também com outros, foi possível resolver esses problemas para dar algo que fosse baseado em estudos sérios, mas se endereçasse a situações concretas também nas igrejas, nas paróquias. Com certeza, foi um acontecimento que não teve efeitos imediatos em todos os lugares, mas, por exemplo, um bispo me escreveu “agora devemos mudar todo o nosso ensinamento sobre os fariseus e o judaísmo nos seminários”. Isso já é alguma coisa.

De que modo fazer parte do Movimento dos Focolares influenciou essa experiência?

Sem o Movimento dos Focolares, provavelmente não teria entrado nessa área. Veio do Movimento o impulso de estudar as línguas da bíblia e disso veio todo o resto. Entrei no focolare justamente no dia 28 de outubro de 1965, era uma quinta-feira. Cheguei no focolare em Colônia (Alemanha) com a minha bicicleta, que veio no trem com as duas malas na mesma noite em que, em Roma, no Concílio, estavam aprovando Nostra aetate (Declaração sobre as relações da Igreja com as religiões não-cristãs). E para mim, isso sempre teve um grande significado, ligando o empenho no Movimento com aquele para o diálogo.

O senhor também foi chamado a colaborar oficialmente com o diálogo da Igreja Católica com os judeus…

Sim. Desde 2008, sou Consultor da Comissão para as relações religiosas com o judaísmo, comissão da Santa Sé. E participei de diversos encontros da ILC em Buenos Aires, Cidade do Cabo e ainda Budapeste, Madrid, Varsóvia, Roma…

E estão sendo dados passos para frente?

Um passo é já estar aberto a se encontrar, conversar e também superar as dificuldades no percurso. Às vezes, é melhor enfrentar tudo com um jantar juntos do que com cartas inflamadas. Estamos caminhando e com certeza ainda há muito a ser feito, é preciso expandir a rede. Ou seja, a maior parte dos cristãos e a maior parte dos judeus não estão envolvidos, às vezes, nem sabem que há esses relacionamentos, que há esse caminho juntos. Ainda há muito a se fazer para tornar isso conhecido e colocar em prática.

Uma coisa que aprendi bastante com o relacionamento com os judeus é que as perguntas, às vezes, são mais importantes que as respostas. Ou seja, eu não devo e não posso fingir ter todas as respostas e, portanto, não posso encarar o outro como alguém que encontrou todas as respostas e me dirigir a ele ou ela com um posicionamento de superioridade. Minha posição é ser um pesquisador junto do outro. É isso, de modo mais dramático quando se aborda o tema da Shoah, do Holocausto, que deve ser encarado mais cedo ou mais tarde.

Uma coisa essencial é observar, ser o mais sensível possível aos empenhos e às necessidades do outro. E também estar aberto, e, se errar, é possível recomeçar se a intenção for certa: entrar na ponta dos pés no ambiente do outro, não com um comportamento que diga “eu sei tudo”.

Como última coisa, ao receber esse prêmio, além de se sentir grato, há algum estímulo para Joseph Sievers?

Bem, sim. Por exemplo, há algumas perguntas abertas e isso me estimula a continuar confrontando. E talvez me dá um pouco de autoridade para poder abordar certas pessoas. Não sei se isso acontecerá, mas é também um estímulo para levar para frente esse trabalho, que não acabou, que nunca acabará, mas no qual qualquer passinho pode ser dado juntos.

Carlos Mana


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“Balanço de comunhão”: o diálogo constrói a paz

Indonésia, o diálogo como um estilo de vida

A viagem na Ásia e na Oceania de Margaret Karram e Jesús Morán, Presidente e Co-presidente do Movimento dos Focolares chegou ao fim. Aqui algumas notícias sobre o que viveram na última etapa: Indonésia

Panongan (Indonésia), 17 de maio de 2023 – São 8 horas na paróquia católica de Santa Odélia, cerca de duas horas de Jacarta. O arcebispo Ignatius Suharyo, cardeal da capital indonésia, convidou representantes do governo e das forças de segurança pública, da prefeitura, dos povoados e dos líderes religiosos muçulmanos, budistas e hindus para apresentar à Presidente e ao Copresidente do Movimento dos Focolares um projeto social pioneiro, realizado em ampla sinergia com todas as forças da sociedade civil mencionadas, para a cidade de Tangerang/Banten. Com mais de dois milhões de habitantes, essa é a terceira área mais populosa a oeste de Jacarta, a capital da Indonésia, que com todas as suas cidades-satélites atinge quase 30 milhões de habitantes. É uma área onde há grande desenvolvimento, mas também desigualdade econômica, e a população dos povoados é pobre, ocupa-se do cultivo de arroz, vive dos produtos da terra e das pequenas: avicultura, caprinocultura e bovinocultura. A paróquia está localizada em uma região de maioria muçulmana.

Padre Felix Supranto – “Romo Felix” para todos (“romo” significa “pai” em bahasa, o idioma oficial do país) é o dinâmico pároco de Santa Odelia e tem o dom de saber unir as pessoas. Ele dá as boas-vindas, com os muitos paroquianos que ao longo dos anos ele envolveu em vários projetos sociais.

“O diálogo que cultivamos aqui, com irmãos de diferentes religiões é concreto”, explica o cardeal, “ele está voltado às necessidades do povo. Há necessidade de casas, de criar oportunidades de trabalho, de fornecer água para os povoados. Estamos trabalhando para isso “juntos”, e é importante que a Presidente e o Copresidente do Movimento dos Focolares tenham vindo até aqui para ver o que poderia ser um modelo de diálogo também fora da Indonésia. O lema do nosso país é ‘unidade na diversidade’ e isso expressa muito bem quem somos e como enfrentamos os desafios”.

“Estamos honrados pela presença de vocês entre nós”, disse o Padre Felix a Margaret Karram e Jesús Morán, “para compartilhar o caminho que estamos percorrendo. Até o momento, construímos 12 casas para ajudar os pobres e é esse trabalho conjunto que nos torna irmãos, apesar das nossas diferenças.

O dia continua com uma visita a uma escola com crianças de 6 a 15 anos. Em vários vilarejos onde, graças aos fundos arrecadados, foi possível levar água, iniciar um pequeno rebanho de vacas, cabras e um viveiro de bagres, onde o valor agregado é justamente o envolvimento total de todos: instituições e habitantes locais. A visita à Madrassa – uma escola islâmica – é o último compromisso desse primeiro dia “no campo” que nos mostra o caráter comunitário e solidário, a verdadeira força desse país.

Bhinneka Tunggal Ika – somos diferentes, mas somos um só

Bhinneka Tunggal Ika, “Somos diferentes, mas somos um”, é de fato o lema da Indonésia, inscrito no brasão nacional que representa uma antiga divindade, a águia javanesa.

O país dos registros

Com suas 17.000 ilhas e mais de 300 grupos étnicos, cada um com sua própria e vibrante tradição cultural, a Indonésia é um país de muitas diversidades. E hoje, a população tem orgulho de se apresentar ao mundo como um exemplo de tolerância e coexistência entre diferentes culturas e religiões.

Um exemplo claro: a Mesquita Istiqlal (da Independência) em Jacarta é a maior do sudeste asiático. Ela está localizada em frente à catedral católica e, durante as principais festas cristãs, como o Natal, a mesquita oferece apoio, disponibilizando vagas no estacionamento para os fiéis cristãos e vice-versa para as festas islâmicas.

A Indonésia tem a maior biodiversidade do planeta, mas o desmatamento e a exploração de recursos ameaçam a preservação desses ambientes naturais com sérias consequências. A riqueza econômica não é distribuída com equidade e se estima que 27.000 famílias milionárias (0,1% da população) possuam mais da metade da riqueza do país.

Embora não seja fácil obter estatísticas exatas, a população atual é estimada em 273 milhões de habitantes, tornando a Indonésia o quarto país mais populoso do mundo. É o país com a maior população muçulmana do mundo (86,1%); os cristãos de várias igrejas representam 10,53%, e a religião é registrada na carteira de identidade.

Os focolarinos do Sudeste Asiático e do Paquistão

Jacarta, 19 de maio de 2023 – Olhando para os focolarinos da região do Sudeste Asiático e do Paquistão, que chegaram a Jacarta para se encontrar com Margaret Karram e Jesús Morán, vem à tona todo o potencial do continente asiático, ou seja, o possível encontro entre povos e culturas muito diferentes: da Tailândia a Myanmar, do Vietnã à Indonésia, Cingapura e Malásia. Muitos se conectaram pela internet, como os focolarinos do Paquistão, mas a distância não impediu uma comunhão profunda, na qual emergiram tanto os desafios da inculturação em cada país, quanto a força da unidade, capaz de alcançar as mais diversas áreas.

Havia uma grande atenção por parte de todos durante a sessão de perguntas e respostas com Margaret Karram, Jesús Morán, Rita Moussallem e Antonio Salimbeni (responsáveis pelo diálogo inter-religioso do Movimento dos Focolares). As focolarinas de Ho Chi Minh (Vietnã) perguntaram como difundir a espiritualidade da unidade nesta época em que é difícil despertar o interesse das pessoas, especialmente dos jovens. “Nessa viagem à Ásia e à Oceania”, explica Margaret, “percebi que o modo que adotamos até agora para apresentar a espiritualidade da unidade precisa mudar, porque a sociedade mudou. Todos nós vivemos tão “conectados” uns aos outros que precisamos encontrar uma maneira de apresentar as várias vocações, não cada uma por si, mas uma ao lado da outra. Talvez assim, quando nos encontrarmos como uma comunidade do Movimento dos Focolares no âmbito local, será Deus a falar ao coração de cada um, a chamar para percorrer os diferentes caminhos. Vejo que o que toca o coração das pessoas é a atenção pessoal, a construção de relacionamentos verdadeiros, feitos de amor desinteressado. Elas devem encontrar em cada um de nós um irmão, uma irmã, um amigo. Somente quando tivermos construído um relacionamento é que poderemos convidá-las a conhecer a espiritualidade do Movimento dos Focolares”.

“Às vezes temos a impressão de que não dispomos dos métodos adequados para despertar o interesse das pessoas pela espiritualidade da unidade”, continua Jesús nesta mesma linha, “mas cuidado para não ceder à tentação de se adaptar à corrente do mundo com o objetivo de ser aceito a qualquer custo. Temos que estar no mundo, porque ele é bonito, Deus o criou. Mas devemos sentir o contraste com o mundo; é algo cristão experimentá-lo, porque pertencemos a uma verdade, a verdade de Cristo, que vai para além do mundo”.

O diálogo como um estilo de vida

Jacarta, 20 de maio – Yogyakarta, 21 de maio de 2023 – “Desde fevereiro de 2021, nossa vida em Mianmar mudou completamente. Minha região é aquela em que o conflito é mais grave. Ninguém deveria ouvir as explosões de artilharia e bombardeios aéreos, isso não é humano. Enraizados em Deus e concentrados em viver no presente – porque não sabemos se existiremos amanhã – continuamos a levar amor e nova esperança ao nosso povo. A cada dia, compreendo mais e mais o convite de Jesus: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15,13)”.

Foi o que nos disse Gennie, birmanesa, que trabalha para uma agência humanitária que cuida de pessoas desabrigadas, mais de um milhão desde o golpe de Estado. O seu testemunho, entre tantos, nos falou sobre a vida e os desafios das comunidades do Movimento dos Focolares no sudeste asiático, no fórum “O diálogo como estilo de vida”, realizado em parceria com a Universidade Católica de Jacarta “Atma Jaya”.

Participaram 290 pessoas de várias partes da Indonésia e de diferentes países do sudeste asiático. Outras 300 pessoas vieram do Paquistão e de outros países.

No centro dos testemunhos está a cultura do diálogo que é vivida diariamente nessas terras, tornando-se um estilo de vida, até mesmo econômico, como conta Lawrence Chong, de Cingapura. Desde 2004, ele dirige uma empresa de consultoria de gestão com dois outros sócios, um metodista e um muçulmano, de acordo com os princípios da Economia de Comunhão. “Hoje estamos presentes em 23 países e nosso trabalho é provocar mudanças, interferir no sistema econômico e melhorá-lo, com base nos princípios da interdependência e do amor mútuo.”

Após a confraternização em que os vários povos abriram suas portas para a grande riqueza cultural e a variedade de tradições, Margaret Karram e Jesús Morán responderam a algumas perguntas e compartilharam suas primeiras impressões sobre essa viagem. “A Ásia é o continente onde o sol nasce, enquanto nós viemos da Europa, onde o sol se põe”, disse Jesús. “Na Ásia e na Oceania, encontramos uma Igreja muito viva, bem como a presença de diferentes religiões, e fomos inundados por essa luz que encontramos na profunda humanidade das pessoas. Encontramos muita esperança para a Igreja, para a Obra de Maria. E essa esperança não diminuirá se essas pessoas permanecerem fiéis a si mesmas. É claro que também vimos os problemas: pobreza, conflitos, guerras. Portanto, é verdade que o sol está nascendo nessas terras, mas também temos diante de nós um grande desafio: que o Evangelho também seja portador de uma mensagem de libertação para esses povos”.

O Núncio Apostólico, Dom Piero Pioppo, que veio celebrar a Santa Missa, nos fez os votos que a palavra da unidade e da comunhão possa florescer e se espalhar neste mundo que, dela, tem extrema necessidade.

As raízes do movimento na Indonésia

Em Yogyakarta, Margaret e Jesús também foram recebidos pela comunidade dos Focolares com a tradicional dança de boas-vindas. O encontro foi como que um passeio na riquíssima cultura e tradições javanesas e uma oportunidade para conhecer as raízes e o desenvolvimento do Movimento na Indonésia, onde, depois de várias viagens das Filipinas desde o final dos anos 1980, o focolare chegou em 2004, em Medan. Contudo, ninguém jamais esquecerá do ano 2006, do terrível terremoto que provocou milhares de mortes, com epicentro na ilha de Java, na região de Yogyakarta, onde hoje se encontra o focolare. Bapak Totok, um dos animadores da comunidade local, conta como o Movimento dos Focolares, com a população local, arregaçaram as mangas para ajudar a construir 22 “Pendopo” (centros comunitários, em 22 povoados) e um projeto social. Eles foram um sinal de paz e unidade, mesmo entre pessoas de diferentes credos religiosos.

Universidade Islâmica Sunan Kalijaga: em diálogo para promover a fraternidade

Yogyakarta, 22 de maio de 2023 – Com 20.000 alunos, a Universidade Sunan Kalijaga é um importante centro acadêmico nacional de estudos islâmicos e, desde 2005, conta também com um Centro Cultural para o Diálogo Inter-religioso.

Diante de 160 estudantes, docentes e membros da comunidade local do Movimento dos Focolares, Margaret Karram, com Rita Moussallem e Antonio Salimbeni, participaram do seminário “Em diálogo para promover a fraternidade”. Um tema que repercute aqui de modo muito especial, pois o diálogo “ultrapassa” as salas de aula das universidades ou os fóruns de estudo, pois ao mesmo tempo é o desafio e o fundamento da sociedade indonésia. A presença dos líderes do Movimento dos Focolares é importante”, explica a professora Inayah Rohmaniyah, “porque nos permite dar um passo a mais: não apenas olhar para a Indonésia, mas nos tornarmos juntos construtores de um mundo renovado pelos valores da fraternidade que estamos vivendo, aqui, hoje”.

As perguntas dos alunos se concentraram na estratégia do diálogo para integrar as diversidades culturais e religiosas, inclusive em situações de conflito social.

“Às vezes falamos muito sobre as dificuldades e pouco sobre as riquezas que essas diversidades trazem em si”, responde Antonio Salimbeni. “Antes de tudo, somos seres humanos, irmãos e irmãs, por isso é importante estar abertos, entender a religião do outro a partir de sua perspectiva; tentar pensar como pensa um muçulmano, como pensa um hindu, ver o mundo como o outro o vê.

A viagem termina, mas se abre um mundo

45 dias de viagem, 5 países visitados, vários milhares de pessoas encontradas – 1.500 só na última etapa na Indonésia. Depois de ter conhecido povos e culturas muito diferentes, de ter visto os desafios, mas também a vitalidade da Igreja em países onde o cristianismo é minoritário, de ter visto o diálogo entre pessoas de religiões diferentes que acontece diariamente e que é capaz de dar respostas concretas aos problemas sociais e econômicos dos povos; de ter compartilhado a vida das comunidades dos Focolares nessa parte do mundo, chega ao fim a primeira viagem oficial de Margaret Karram e Jesús Morán à Ásia e Oceania.

Não é fácil fazer um balanço imediato, mas a pergunta é oportuna. Margaret compartilhou algumas impressões das últimas reuniões públicas: “Sinto fortemente que Deus está pedindo ao Movimento, na Ásia em particular, mas também em todo o mundo, para dar um passo importante. O diálogo deve se tornar o nosso estilo de vida, o nosso modo de agir em todos os momentos. Não podemos continuar a agir como antes, olhando apenas para o nosso Movimento e realizando nossas atividades. Chegou a hora de sairmos, de trabalharmos com outras organizações, com pessoas de diferentes religiões, como já fazemos aqui. Então, corramos, não há tempo a perder!

Essa viagem me confirmou, mais uma vez, que a unidade e a paz no mundo são possíveis. Às vezes, olhando para o mundo atual, com as guerras e injustiças, eu duvidei. Mas em todos os países que visitamos, encontrei muitas pessoas comprometidas com na construção de uma sociedade diferente, na construção de pontes, mesmo com grande sacrifício. Foram elas que me deram a certeza de que juntos podemos fazer a diferença e dar nossa contribuição”.

Stefania Tanesini