Movimento dei Focolari

Chiara Lubich: a fraternidade se realiza somente com um amor especial

Hoje, 14 de março, dia em que recordamos a partida de Chiara Lubich para o Céu, publicamos algumas das suas palavras, pronunciadas durante o encontro do Movimento Político pela Unidade, em Berna (Suíça), em 4 de setembro de 2004. Uma reflexão sobre o tipo de “amor” necessário para que a fraternidade universal seja possível.

A fraternidade se realiza somente com um amor especial. É um amor dirigido a todos, como Deus Pai que manda a chuva e o sol sobre os maus e sobre os bons. Não é um amor dirigido somente aos parentes, aos amigos, a alguma pessoa, mas é dirigido a todos. Para isso, já é necessária exercitação. Se saíssemos dessa sala unicamente com o propósito de amar todas as pessoas que encontrarmos; possivelmente, se formos cristãos, vendo Cristo nelas, porque ele dirá: «A mim o f izestes», «a mim o fizestes», a meu ver já sairíamos ganhando, pois partiria daí a revolução cristã. Este amor, que é necessário para a fraternidade, não é tolerância, mas é também tolerante, não é solidariedade, mas é também solidariedade. É algo diferente, pois é o mesmo amor de Deus (nós, cristãos, dizemos: difundido no nosso coração pelo Espírito Santo). É um amor que toma a iniciativa. Não espera ser amado. Ele se lança e é o primeiro a amar. Ele se interessa pelas pessoas,… naturalmente não devemos turbá-las. É um amor que toma a iniciativa. Não espera ser amado. Em geral, nesse âmbito, esperamos sempre ser amados para poder amar. Ao invés, esse amor é o primeiro a amar. Por isso causa uma revolução. O nosso Movimento é obra de um carisma de Deus e não nossa. Por isso ele chegou aos últimos confins da Terra. Se partirmos daqui pensando em amar a todos e de tomar sempre a iniciativa no amor, sem esperar… Já se vive o Evangelho! Entendeu o que é o Evangelho? É isso!  Esse amor não é sentimental, não é um amor platônico, não é um amor superficial. É um amor concreto. Ele se faz um com a pessoa amada: se está doente, se sente doente com ela; se está alegre, se alegra com ela; se conquista algo, é também uma conquista sua. Como diz São Paulo: «Fazer-se tudo a todos», fazer-se pobre, doente com os outros. Partilhar: o amor é assim; ele é concreto. Portanto, é um amor voltado para todos, que entra primeiro em ação. É um amor que deve ser concreto.  Além disso, temos que amar os outros como a nós mesmos. Assim nos diz o Evangelho. Vejo a minha companheira, Eli, nesta sala. Ela, para mim, é como se fosse eu mesma, pois devo amá-la como a mim, Chiara. Eu devo amar Clara como a mim mesma. Esta senhora também, eu devo amála como a mim mesma, pois é o que pede o Evangelho. Também isso é incrível: quando é que se ama os outros como a si? De certo modo quase nos transferimos nos outros para amá-los. Se este amor for vivido por muitas pessoas, torna-se recíproco, pois eu amo Marius. Marius me ama. Eu amo Clara. Clara me ama. Este amor recíproco é a pérola do Evangelho. Jesus disse: «Eu vos dou um mandamento novo: amai-vos uns aos outros como eu vos amei». Ele disse que este mandamento é o seu e é novo. Ele sintetiza o Evangelho. É a base da fraternidade. O que podemos fazer para sermos irmãos uns dos outros mais do que nos amar e amar-nos como ele nos amou, a ponto a dar a vida por nós? É preciso considerar tudo isso.

Considerando como é este amor… Respondo ao senhor que me fez a pergunta. Como deve ser o nosso relacionamento com as pessoas? Deve ser em forma de diálogo. Eu devo ver no outro alguém com quem eu devo dialogar. Para dialogar, devo conhecê-lo. Então, devo entrar no outro. Não devo impor nada, mas tentar compreender o outro. Deixar que ele se exprima.[…]  temos que entrar no outro, deixar que o outro se abra, deixar que o outro fale e que sinta o vazio em nós, a capacidade de compreendê-lo. A nossa experiência é que o outro se sente amado. Por isso, espera com abertura o nosso discurso. O papa diz uma frase muito bela sobre o diálogo. Então, é preciso apresentar a nossa verdade, aquela que nós pensamos, mas que seja “um respeitoso anúncio”, isto é, um anúncio que respeita o pensamento do outro, que não quer angariar prosélitos, que não quer atacar ninguém. Este é o diálogo que deve ser feito… É a base da nossa vida, da fraternidade universal.

Chiara Lubich


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(Italiano) Oikoumene – da tutta la terra

(Italiano) Oikoumene – da tutta la terra

Na sexta-feira, 01 de março, na cidade histórica de Augsburg, na Alemanha, concluiu-se o 40º Encontro ecumênico dos Bispos amigos do Movimento dos Focolares. Eram 60 participantes provenientes de 26 países e pertencentes a 29 Igrejas cristãs. O título era “Dare to Be One. A call from Jesus to live the future, now”, e mais ainda a realidade do encontro. 

1518 – Em Augsburg (Alemanha), o cardeal romano Caetano, notável teólogo tomista, e o monge agostiniano Martinho Lutero, docente de Sagrada Escritura na universidade de Wittenberg (Alemanha), estavam discutindo sobre 95 teses sobre indulgências que Lutero propunha. Nada a fazer. Não se entendiam. Lutero, temendo pela sua vida, fugiu durante a noite.

1530 – A Dieta do Sagrado Império Romano conduziu o imperador Carlos V a Augsburg. Ele pretendia juntar protestantes e católicos, que estavam divididos. Na ocasião, Felipe Melanchton, teólogo amigo de Lutero, preparou a Confessio Augustana, uma confissão de fé redigida para chegar a um acordo. A tentativa falhou.

1555 – Durante uma Dieta posterior em Augsburg, é assinada a Paz religiosa que assegurou a coexistência entre católicos e luteranos. Cada príncipe do Império estabeleceu qual confissão seria seguida em seu território, uma decisão que se resumia na expressão latina cuius regio eius religio (a religião é de quem é a região).

1650 – Depois da guerra sangrenta dos 30 anos, que também atingiu Augsburg, foi sancionada a liberdade de expressão religiosa e a paridade entre protestantes e católicos em todas as repartições públicas. Nasceu o Alto Festival da Paz, que ainda hoje é celebrado no dia 8 de agosto.

Foi nesse lugar cheio de história, Augsburg, que, a convite do bispo católico de Bertram Meier, aconteceu, de 27 de fevereiro a 01 de março, o 40º Encontro ecumênico dos Bispos amigos do Movimento dos Focolares. Participaram 60 bispos de 26 países, pertencentes a todas as grandes famílias de Igrejas: ortodoxas, Igrejas ortodoxas orientais, anglicanos, metodistas, evangélicos, reformados, católicos de rito latino, armênio e bizantino. Nunca antes participaram tantos e de proveniência tão universal, que foi observada também pela prefeita da cidade, Eva Weber, quando recebeu os bispos no município.

Desde a chegada, foi tocante ver o relacionamento entre esses bispos, entre os quais estavam também duas mulheres, bispos de Igrejas nascidas da Reforma. Cada Igreja foi acolhida como é. Um espírito simples de fraternidade permeou os dias, sem subestimar as feridas e os pontos de desacordo entre as Igrejas que existem até hoje. Mas tudo foi sustentado por aquele pacto de amor recíproco que caracterizou desde o início esses Encontros e que os Bispos renovaram solenemente também este ano, prometendo compartilhar as alegrias e as cruzes um do outro. Nasceu uma sinodalidade ecumênica, como foi definido por vários participantes.

Dare to Be One. A call from Jesus to live the future, now (Ousar ser um. Um chamado de Jesus a viver o futuro agora) foi o mote do encontro e, mais ainda, do caminho do qual participaram também a presidente e o copresidente do Movimento dos Focolares, Margaret Karram e Jesús Morán. Foram três temas principais aprofundados, cada um ilustrado por experiências: o ecumenismo receptivo como metodologia ecumênica que leva a aprender um com o outro; o chamado comum a testemunhar o Evangelho em um mundo dividido em busca de paz; Jesus crucificado e abandonado como caminho para enfrentar a noite do mundo e responder de modo generativo.

E mais uma data: 31 de outubro de 1999. São 25 anos desde que a Federação Luterana Mundial e a Igreja católica assinaram justamente em Augsburg a “Declaração conjunta sobre a doutrina da justificação”, reconhecendo que, sobre esse ponto-chave da dissidência no século XVI, hoje não há mais motivo de separação. Uma oração ecumênica comemorou o evento histórico no lugar da assinatura: a igreja evangélica de Sant’Anna. No dia seguinte, uma mesa redonda aprofundou a importância. O reverendo Ismael Noko, na época secretário geral da Federação Luterana Mundial, ilustrou o caminho humilde e tenaz que tornou possível a assinatura e viu a sucessiva adesão de outras Comunhões Mundiais (metodista, reformada e anglicana). O doutor Ernst Öffner, na época bispo católico evangélico regional de Augsburg, contou como lutou-se, junto ao Bispo católico da época, para envolver a população e toda a cidade ficou em festa. O bispo católico Bertram Meier falou dos desafios e das oportunidades do caminho que está agora diante de nós.

Durante todo o encontro, sempre olhou-se de novo para as ameaças atuais à paz e à justiça. Sobre isso, foi muito importante a mensagem em vídeo sobre a situação que se vive na Terra Santa, mensagem esta enviada pelo cardeal Pizzaballa para os bispos participantes do encontro. Nesse contexto, duas realidades deram uma esperança particular: o desenvolvimento da rede ecumênica “Juntos pela Europa” que inclui cerca de 300 Movimentos e comunidades de várias Igrejas, e a visita à Mariápolis permanente ecumênica de Ottmaring (Alemanha), onde, há 56 anos, católicos e luteranos de diversos Movimentos testemunham a unidade na diversidade, um caminho não sempre fácil no qual, de cada crise, nasceram novos desenvolvimentos.

Para o futuro, mira-se no crescimento das redes locais, na ligação entre todos por meio de contatos online periódicos e newsletters, em vista de um próximo encontro internacional em dois ou três anos.

Hubertus Blaumeiser

Renascer todos os dias

Hoje, 1 de janeiro, celebramos o Dia Mundial da Paz e, nesta ocasião, propomos um pensamento de Igino Giordani (1894-1980) que recorda como viver em paz faria de cada dia um Natal.

Sendo que o Natal é considerado, pela maioria, como uma grande festa, mais suntuosa do que sagrada, é bom retornar sobre alguns dos aspectos temáticos deste evento, pelo qual a história do mundo foi partida em duas seções, uma antes, a outra depois. (…)

Um contraste que já caracteriza a originalidade infinita de um Cristo-Rei, que nasce de uma pobre mulher, num estábulo. Não parece realmente um Deus, e nem mesmo o mais suntuoso dos homens, mas o último deles, colocado, imediatamente, no nível da degradação mais apavorante. (…)

O início da sua revolução não prevê a soberba, mas a humildade, para atrair ao céu os filhos de Deus, a começar daqueles que comiam e dormiam no chão: os escravos, os desempregados, os forasteiros: a escória.

Nasce, com aquele infante, a liberdade e o amor: a sua liberdade é liberdade de amor. Esta é a imensa descoberta. (…)

A vida, na paz, consentiria fazer de cada dia um Natal.

E esta é a revolução de Cristo: fazer-nos renascer continuamente contra a maldição da morte. O máximo mandamento, portanto, é amar o homem, que é como amar Deus. Amar o outro até dar a vida por ele.

(Igino Giordani, Il Natale come rivoluzione, Città Nuova, Roma 1974, n.24, p.18)


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(Italiano) Oikoumene – da tutta la terra

Um patrimônio a ser aprofundado

Nos dias 10 e 11 de novembro de 2023 ocorreu em Bolonha o seminário “Escrever sobre Deus. Chiara Lubich e a tradição mística feminina da Idade Média ao século XX. Uma jornada com muitas vozes”. O padre Gianni Festa, que estava entre os promotores do evento, faz um balanço e traça perspectivas.

Uma polifonia de vozes que viaja através dos séculos. As protagonistas da tradição mística feminina e seus escritos estiveram no centro dos trabalhos do seminário que, nos dias 10 e 11 de novembro de 2023, reuniu em Bolonha (Itália), estudiosos de diversas áreas, desde teólogos até linguistas, de historiadores a especialistas em literatura e arquivistas. O seminário ofereceu aprofundamentos e reflexões a partir de textos de místicas, em particular dos anos 1900s. Figuras femininas diversas, emersas em sua singularidade e originalidade, mas também ligadas por traços comuns entre elas “falar e escrever sobre Deus”, traços que revelam o caminho do Espírito Santo e seu desdobramento por meio de uma pluralidade de vozes, diversas, mas em profunda harmonia. Falamos com o padre Gianni Festa, docente na Faculdade Teológica da Emília-Romagna e membro do Instituto Histórico Dominicano.

Anna Maria Rossi, Padre Gianni Festa

Padre Festa, a Faculdade Teológica da Emilia Romagna é promotora, juntamente ao Centro Chiara Lubich e ao Instituto Universitário Sophia, deste seminário, e o senhor, em particular, trabalhou muito para a realização dele. Qual é a sua impressão ao final dos trabalhos? Quais foram os aspectos mais interessantes que emergiram?
O primeiro aspecto interessante, isso é indiscutível, foi ter colocado, no âmbito desse seminário, a figura de Chiara Lubich, a sua teologia, a sua espiritualidade em um contexto muito mais vasto do que aquele no qual ela sempre foi lida ou interpretada. Ter ligado Chiara Lubich com a tradição da escrita feminina, seja medieval seja contemporânea, fez emergir aspectos do ensinamento teológico e espiritual dos escritos dela que realmente receberam uma luz nova. O segundo é a abertura da busca pela mística contemporânea feminina, que é um assunto pouco estudado, com exceção de grandes figuras sobre as quais também nós falamos, como Etty Hillesum, Simon Weil, Adrienne von Speyr. Mas a escritura mística do século XX das mulheres não é tão frequentada, tão estudada como a da Idade Média ou da primeira idade moderna, tivemos dificuldade em encontrar relatórios justamente porque é um campo ainda muito virgem. O terceiro aspecto importante foi a colaboração entre instituições acadêmicas que tiveram a oportunidade de falar, de dialogar, de encontrar-se e colaborar sobre temas de pesquisa teológica e esse “estar em comum” foi realmente importante e positivo.

Das relações, emergiram características peculiares das figuras aprofundadas, mas também aspectos comuns que emergem em seus textos e que unem as diversas místicas: do relacionamento com a escrita às características da linguagem, mesmo que sejam mulheres que viveram em épocas e contextos muito diversos. Como, segundo o senhor, essas experiências podem se tornar testemunho de vida e testemunho de Deus? Como podem falar ainda com o homem de hoje?
O que sempre me tocou quando estudava, em particular a Idade Média, foi a absoluta tenacidade da mulher em não retroceder a uma condição de inferioridade ou de marginalização, apesar dos preconceitos e exclusões. As místicas sempre quiseram afirmar o próprio relacionamento com Deus, dizê-lo, manifestá-lo. Comunicá-lo, “dizer Deus” e o modo que a mulher tem de dizer tem um efeito muito importante, muito atual também, sem cair na retórica, dentro do ensinamento do papa Francisco, os ensinamentos femininos que devem respirar com os ensinamentos masculinos, não porque sejam contrapostos, mas porque são os dois pulmões da Igreja, portanto eu diria que esse é realmente um aspecto importante.

Chiara Lubish: o que em seu “escrever sobre Deus” e do que emergiu dos trabalhos e da experiência mística dela são, segundo o senhor, mais característicos e originais no panorama do pensamento místico feminino?
Eu conhecia pouco de Lubich, mas duas peculiaridades, duas qualidades dos seus escritos, dos seus ensinamentos, depois de ter escutado também os relatórios me parecem ser hoje muito claros, quase inequívocos: in primis o profundo enraizamento dos escritos de Chiara dentro de uma tradição robusta. Disso não há dúvidas. Chiara Lubich não é ingênua em suas afirmações, em seus raciocínios e em seus escritos. Colhi essa cultura espiritual, teológica que se respira em seus escritos. Em segundo lugar, e talvez porque sou dominicano e, portanto, sou ligado também a figuras como Catarina de Sena, me tocou muito o aspecto eclesiológico, de comunhão, da sua espiritualidade. Esse é um elemento que observei também no contato com o Movimento dos Focolares mesmo, a comunhão, a união, a dimensão eclesial; um destaque da singularidade excessiva do sujeito a favor de uma partilha que está presente desde as primeiras experiências de Lubich.

Quais perspectivas de estudo e de pesquisa esse seminário pode abrir?
Com certeza é um passo em direção a uma abertura maior, uma ampliação dos estudos sobre a escritura feminina, dos séculos XIX e XX. Portanto, é necessário se equipar também no plano da instrumentalização linguística, teológica, para poder estudar essas figuras muito marginalizadas, muito esquecidas e pouco notadas. Também acredito que, com relação aos ensinamentos de Chiara Lubich, pode-se aprofundar melhor certos escritos dela, sob o perfil exegético, teológico e espiritual, como o texto do qual se falou continuamente durante o seminário, o “Paraíso de 49”, seria algo importante a se fazer.

por Anna Lisa Innocenti e Maria Grazia Berretta

Dizer Deus no feminino: Chiara Lubich e a linguagem mística

“Escrever sobre Deus: Chiara Lubich e a tradição mística feminina” é o título da conferência que acontecerá de 10 a 11 de novembro de 2023 em Bolonha (Itália).

Será um seminário dedicado ao que significa “dizer Deus no feminino” que terá lugar hoje, 10 de novembro e sábado, 11, na Salone Bolognini do Convento de São Domenico de Bolonha (Itália) intitulado “Escrever sobre Deus. Chiara Lubich e a tradição mística feminina da Idade Média ao século XX. Uma jornada com muitas vozes.” Promovido pela Faculdade Teológica de Emilia-Romagna (Fter) em conjunto com o Centro Chiara Lubich e o Instituto Universitário Sophia, este percurso visa oferecer insights e reflexões sobre a questão da linguagem mística com atenção ao misticismo do século XX e, especificamente, com atenção à linguagem das mulheres.

Uma verdadeira viagem “a uma página da história do misticismo feminino realmente pouco explorada” – afirma o padre Gianni Festa, professor dominicano da Fter, um dos promotores do evento.

De que maneira a linguagem pode testemunhar uma experiência tão íntima e profunda como aquela com Deus? Como é que os místicos, desde a tradição medieval até ao século XX, garantiram que a palavra preservasse esta experiência e como a devolveram ao mundo?

Todas estas são questões que serão examinadas no contexto do seminário, a partir de análises históricas, literárias e linguísticas, testemunham – como nos diz o Padre Gianni Festa – “que dizer Deus no feminino significa dizê-lo de uma maneira diferente e é por isso que a linguagem feminina, que fala de Deus, que fala da experiência mística, deve ser absolutamente compreendida”.

Uma dimensão que, através da intervenção de numerosos convidados e estudiosos, será explorada por ocasião desta conferência a partir da figura do século XX de Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares. “A experiência da Lubich – continua Padre Festa – estará ligada tanto a nível diacrônico a figuras importantes da tradição mística medieval como alguns doutores da Igreja, como Catarina de Sena ou Teresa de Ávila, mas sobretudo a outras experiências místicas e escritos do século XX, alguns mais conhecidos, como Etty Hillesum, Madeleine Delbrêl; outras menos conhecidas, como a irmã Maria, a grande amiga mística de Dom Primo Mazzolari. A questão da linguagem mística, da teologia subjacente ao misticismo feminino, será, portanto, explorada, e os caminhos individuais desta experiência serão certamente identificados.”

Para mais informações, entre em contato com a secretaria da Fter ou consulte o site do Centro Chiara Lubich. Para participar do evento, inscreva-se para os dois dias na seção “Eventos” do site do Fter.

Maria Grazia Berretta

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TVLUX Eslováquia entrevista Jesús Morán

Da espiritualidade da unidade à pastoral generativa da Igreja; do encontro entre os jovens e Jesus ao papel fundamental do Espírito Santo no Sínodo sobre a sinodalidade. Esses são alguns dos temas que Jesús Morán, copresidente do Movimento dos Focolares, abordou em uma entrevista à emissora de televisão eslovaca TVLUX, em 6 de outubro de 2023. As imagens nos foram gentilmente cedidas pela TVLUX.

Nestes dias, o sacerdote espanhol e copresidente do Movimento dos Focolares, Jesús Morán, visitou a Eslováquia. Ele conheceu vários bispos formadores e mais de 80 seminaristas em Nitra. Agora, está aqui no nosso programa. Seja bem-vindo. Quando dizemos Movimento dos Focolares, o que imaginamos? Qual o seu significado?

O Movimento dos Focolares é um movimento da Igreja Católica cujo centro é o carisma da unidade. O grande teólogo Von Balthasar disse que cada carisma da Igreja é como uma visão de todo o Evangelho a partir de um ponto de vista. Pois bem, o carisma da unidade é todo o Evangelho visto a partir do testamento de Jesus: “que todos sejam um”. Portanto, o centro, tudo o que o Movimento faz no campo eclesial, no campo civil, no campo social, tem a ver com a unidade. Nós almejamos a unidade – unidade de tipo evangélico, como emerge do Evangelho. Unidade, que é uma forma de vida comunitária. Na verdade, pode-se dizer que a Espiritualidade da unidade é a espiritualidade de comunhão, por isso, enfatizamos muito o amor mútuo, o encontro com o irmão. Superar as divisões em um contexto social mais amplo. Propagar a fraternidade universal, certamente, mas o centro é essa oração. Por isso, dizemos sempre que queremos viver na terra, na medida do possível, como se vive na Trindade, ou seja, que a Trindade é comunhão de amor.

A fundadora do seu movimento foi Chiara Lubich, que é bem conhecida aqui na Eslováquia. Desde o início, a liderança do movimento é sempre ocupada por uma mulher, o Presidente é sempre uma mulher, é por isso que você é copresidente. Por que é assim?

Creio que tem a ver com o nome oficial do Movimento na Igreja, porque somos Movimento dos Focolares ou Obra de Maria. Na realidade, nos estatutos aprovados pela Igreja, fala-se de Obra de Maria. Por isso enfatizamos muito o princípio mariano da Igreja, que é um princípio materno, generativo, que revela uma Igreja acolhedora. Obviamente, o princípio mariano é melhor expresso pelas mulheres. Essa é a ideia. Devemos pensar que a Igreja é mariana, ou seja, Maria é o modelo da Igreja. O Vaticano II disse isso muito claramente: Maria é mãe da Igreja. Nesse sentido, queremos ser um reflexo dessa realidade. A presidência feminina, além de destacar a mulher, o que é um sinal dos tempos, almeja sobretudo evidenciar esse princípio mariano, um princípio tão necessário hoje. Parece ser muito necessário, lembrando aquilo que papa Francisco sublinha, ou seja, uma Igreja mais próxima do povo, uma Igreja em saída, uma Igreja menos clerical, menos masculina. Pois bem, tudo isso tem a ver com a presidência feminina do Movimento dos Focolares. Tem a ver com Maria, acima de tudo.

Você veio à Eslováquia não só para conhecer os membros do Movimento dos Focolares, mas também os nossos bispos, sacerdotes, seminaristas. Esse encontro aconteceu em Nitra. Quais sentimentos o encontro com nossos sacerdotes despertou em você?

A verdade é que estive com o bispo de Nitra e com outros bispos de várias dioceses, que participaram do encontro com seminaristas de 5 dioceses. Eu me senti muito acolhido, antes de tudo, muito acolhido. Depois, na sala, vi pessoas que seguiam Jesus, vi realmente muita pureza nos seminaristas, muita seriedade. Também alguns, depois do encontro e depois do jantar, quiseram aprofundar o que eu havia dito. Quiseram conversar comigo e percebi nas perguntas uma necessidade, uma urgência de querer ser sacerdotes em sintonia com os tempos atuais. Um sacerdote hoje que vive autenticamente o Evangelho, antes de tudo. Fiquei muito, muito edificado.

Você deu bastante ênfase à pastoral generativa, do que se trata?

A pastoral generativa é um conceito que vem em evidência nos últimos tempos. Especialmente no Ocidente, uma vez que estamos testemunhando – poderíamos dizer assim – um declínio da Igreja em termos numéricos. Antes, as igrejas estavam cheias, as pessoas participavam dos sacramentos. Muitas pessoas recebiam o batismo, faziam a primeira comunhão. Agora isso diminuiu drasticamente. Então, a questão é: o que está acontecendo? Parece que os métodos utilizados com sucesso durante tantos anos ou séculos não funcionam mais. Então, temos que pensar novamente na pastoral? A pastoral da geratividade não é uma nova pastoral, é como ir à origem da pastoral; e a origem de toda pastoral está em Jesus. E como Jesus evangelizou? Ele é o Evangelho vivo, e evangelizou por meio de encontros pessoais muito profundos. Ou seja, se olharmos para os Evangelhos, sempre que Jesus encontra alguém acontece algo significativo para a pessoa. Vemos isso com Nicodemos, com Zaqueu, com Mateus, com o centurião, com a mulher samaritana, com a mulher hemorrágica, com a mulher cananeia. Sempre acontece alguma coisa. Jesus gera algo no outro. Devemos passar do que se chama pastoral de enquadramento, que é o que tivemos de tipo quantitativo – quantos batizados, quantos se casaram este ano nesta paróquia – para uma pastoral que busca a qualidade, qualidade e não tanto quantidade. Perceber o que está acontecendo nas nossas paróquias. Existe vida cristã nas nossas paróquias? Buscar uma maior fecundidade, e não apenas os resultados. Essa é a pastoral generativa. Portanto, enfatiza muito o encontro com o outro: para encontrar o outro não é preciso esperar que ele venha pedir um sacramento, é preciso ir ao encontro do outro. Portanto, a pastoral generativa muda a ideia do Pastor, muda também a ideia dos cristãos. Sem dúvida são necessários apóstolos que gerem, mas acima de tudo é necessária uma comunidade. acolhedora. Deve continuar acontecendo aquilo que acontecia com Jesus: as pessoas participam da comunidade e ali alguma coisa acontece. Elas são tocadas por algo. Isso, em resumo, é o que temos conversado com os seminaristas.

Será que os jovens de hoje procuram a vida e o que eles precisam é que lhes levemos essa vida, que é a vida com Jesus?

Sem dúvida. Acho que… sempre pensei que Jesus nunca abordava as pessoas com doutrina. Ele estava sempre em busca de um encontro pessoal, depois ensinava. Embora vejamos Jesus ensinando, percebemos que Ele dedicou muito tempo a esses encontros pessoais. Por isso acredito que os jovens de hoje procuram a vida. A doutrina tem que ser baseada na vida e no encontro com Ele, para que possam aceitá-la. Caso contrário, o cristianismo se torna apenas algo ligado à moral ao ensinamento, mas o cristianismo não é isso. O cristianismo é um encontro com Cristo.

Esses jovens que você encontrou em Nitra são os futuros pastores da nossa Igreja. Como podem ser os pastores de que necessitamos neste tempo e para que não caiam no clericalismo de que tanto fala o Papa Francisco?

Acredito que um Pastor de alguma forma tem que, mais do que pastorear – que é uma palavra que até mesmo o Papa Francisco usa quando fala em italiano, ele a usa assim em espanhol – ele tem que amar. Primeiro amar, depois pastorear. Se alguém se coloca na posição de pastorear, se coloca numa situação de superioridade como se tivesse que ensinar. Depois, por outro lado, o pároco hoje tem que amar primeiro os paroquianos, tem que amar todos os fiéis. E assim ele é um pastor. Esse é verdadeiramente um Pastor, é assim que ele tem autoridade sobre os outros. Isso é fundamental. É o que disse antes: não buscar tanto os resultados, mas a fecundidade. Outra coisa. Hoje o pastor tem que estar muito atento para não anunciar a si mesmo. Ele anuncia Cristo, portanto, tem que estar profundamente inserido em Cristo, profundamente em Cristo. Um pastor isolado, que não vive em uma comunidade cristã, que não vive o amor mútuo com os outros, dificilmente poderá comunicar o amor que Jesus proclamou na sua vida.

Você disse uma palavra que me fez pensar que isso acontece não só com os sacerdotes, mas também com os cristãos que vivem profundamente a sua fé, porém, às vezes esquecem que não são eles que salvam as pessoas, mas é Jesus.

Exato. Isso é importante. É por isso que enfatizo muito a comunidade. São Paulo, na primeira carta aos Coríntios, alerta contra o personalismo, quando alguns dizem que são de Apolo, outros dizem que são de Paulo, outros que são de Pedro… Não, somos todos de Cristo, mas Cristo vive na comunidade, na comunidade paroquial. Na comunidade, Ele está presente na Eucaristia, que é mistério de comunhão. Isso é fundamental. Muitas vezes caímos no erro de anunciarmos a nós mesmos com as nossas ideias, em vez de deixar que seja Cristo a falar.

A Eslováquia é considerada um país bastante conservador, agora no momento do Sínodo que se realiza em Roma, no Vaticano. Existem vários movimentos que querem avançar e outros que retrocedem. Como manter todo o bem, mas também avançar com a novidade e o bem?

Fiquei muito impressionado com o que o papa Francisco disse anteontem, na primeira sessão do Sínodo. Insistiu muito que o protagonista do Sínodo é o Espírito Santo. E o Espírito Santo está além desses esquemas que são humanos. Um cristão, enquanto cristão, não é conservador nem progressista, é uma pessoa nova, é uma nova criatura. Lemos isso nestes dias na Carta de São Paulo aos Gálatas. É o Espírito Santo quem nos torna novas criaturas, com a nossa mentalidade. Permanecemos com a nossa mentalidade, aquilo que somos. Acredito que temos que superar esses dualismos que não são bons para a Igreja. O Espírito Santo sempre gera novidades. Ele, está na origem de todos os carismas, de todas as novidades da história da Igreja. Ao mesmo tempo, tudo o que o Espírito Santo promove na Igreja vem do Pai. Portanto, Ele também está ancorado na origem. Isso nos diz que é necessária uma maior presença do Espírito Santo na Igreja. Essa é a única maneira de superar esses dualismos que não nos fazem bem.

Muito obrigado. Obrigado ao padre Jesús Morán pela presença no nosso programa.

Obrigado por me receberem.

Muito obrigado a todos e até o próximo programa.

Ver o vídeo (ativar legendas em português)